A prometida do rei escrita por Vindalf


Capítulo 12
Capítulo 12




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Tudo em Erebor tendia a ser não apenas grande, mas também grandioso. Então não deveria ser surpresa alguma que o salão de audiências do Rei Sob a Montanha fosse absolutamente enorme. Havia um trono, mas o Rei Thorin os esperava junto a uma mesa posta especialmente para a reunião.

Bena ficou tensa. Ela não vira o rei desde aquela manhã desastrosa. Ele pareceu mais magro e havia olheiras profundas em seu rosto. Culpa a atingiu como uma dor física. Seria ela a responsável por aquele sofrimento?

— Por favor, meus amigos — ele saudou —, sentem-se.

Eles se sentaram à mesa, Bena mantendo a cabeça baixa. Havia documentos espalhados pela mesa, e parecia que eles tinham interrompido uma reunião do conselho.

O rei parecia agitado, talvez até nervoso. Bilbo quis saber, preocupado:

— Thorin, o que está havendo? Por que nos chamou?

Parecendo ainda mais ansioso, o monarca disse:

— É melhor esperarmos até-

Foi interrompido pela porta se abrindo. Balin entrou, trazendo Dís, Fíli e Kíli.

— Estão todos aqui, ótimo — disse o khuzd (anão) de cabelos brancos, ao se juntar aos hobbits. — Agora podemos começar.

Dís quis saber:

— O que há, Thorin?

Ele pediu:

— Por favor, irmã, sente-se. Chamei todos vocês para que pudesse dizer a todos ao mesmo tempo. Também quis evitar que ouvissem de outra pessoa.

Fíli indagou:

— Ouvir o quê, Thorin?

Ele suspirou e anunciou gravemente:

— Vou encerrar a corte.

Ondas silenciosas de choque atravessaram todos no salão, exceto Bena, cuja culpa apenas aumentou. Kíli quebrou o silêncio e indagou:

— Quê? Por quê?

Dís estava estarrecida:

— Thorin, o que está fazendo?

O rei ignorou todos para dirigir-se a Lobélia:

— Lady Lobélia, eu sinto muito. Pedi a Balin que separasse uma compensação compatível por todo o inconveniente, e espero que não haja ressentimentos sobre esse acontecimento desafortunado.

A agora ex-prometida do rei encarou-o com uma expressão de pura surpresa e confusão. Bena se sentia capaz de desmaiar a qualquer momento por falta de ar, pois não conseguia respirar.

O rei voltou-se para o hobbit mais velho:

— Bilbo, meu amigo, eu quero-

O Baggins Sênior pôs-se de pé num só movimento, zangado como um hobbit poderia ficar:

— Não me venha com essa conversa "Bilbo, meu amigo"! Thorin, o que se passa nessa sua cabeça dura? O que pensa que está fazendo, seu anão idiota? Eu arrastei minha prima desde o outro lado da Terra Média para ajudar você e agora você rompe o noivado?!

O rei tentou dizer:

— Bilbo, por favor, deixe-me expli-

Bilbo não estava disposto a ouvir:

— Nós viemos aqui ajudar vocês! Você sequer pensou no seu reino? Ou para você isso tudo foi apenas uma grande piada, um embuste? Você brincou com os sentimentos de minha prima, Thorin!

Lobélia pôs-se a soluçar baixinho, e foi quando aquilo tudo tornou-se demais para Bena. Ela estava cheia de culpa, e pôs-se de pé, gritando, entre lágrimas:

— Eu sinto muito! Eu sinto muito mesmo! Tudo isso é culpa minha!

Se as coisas estavam confusas antes, elas pioraram três vezes mais.

A balbúrdia era tão alta que todos pareciam falar ao mesmo tempo, e Bena tinha os olhos cheios de lágrimas ao correr para o rei e implorar:

— Por favor, por favor, Majestade, não faça isso. O senhor ama Lobélia tanto, não desista desse amor por causa da minha insensatez! Prometo-lhe deixar Erebor assim que as estradas liberarem! Eu iria embora ainda hoje se pudesse, eu juro!

— Srta. Verbena, por fav-

Ela estava à beira de um ataque de nervos, e não o deixou terminar:

— Fui irresponsável, totalmente irresponsável! Por favor, não julgue minha prima por meu comportamento inconsequente! Não interrompa o noivado, eu imploro.

Bilbo tentou indagar:

— Bena, do que está falando? Que comportamento inconsequente?

— Como isso é sua culpa? — indagou Lobélia.

O rei sacudiu a cabeça com determinação, e Bena pôde ver a emoção nos olhos azuis quando ele fitou os olhos dela:

— Eu sinto muito, mas não posso continuar com a corte.

Lágrimas escorriam pelas faces de Bena, e ela suplicou:

— Por favor, Majestade!...

Rei Thorin deu alguns passos na direção de Bena e disse numa voz clara, cheia de afeto, com um meio sorriso:

— Não posso continuar com a corte quando estou totalmente apaixonado por você, minha querida Srta. Verbena.

Neste momento, todos os presentes coletivamente prenderam a respiração, tamanho choque. Todos os ruídos no salão cessaram. Olhos arregalados, voz miúda, Bena sussurrou, sem ar:

— N-Não brinque comigo...

— Não estou brincando. — Thorin deu mais dois passos na direção da moça. — E você também se sente assim, a menos que eu tenha sonhado com aquele beijo naquela manhã.

O rei ergueu uma sobrancelha interrogativamente e Bena corou, respondendo:

— Não... Não foi. Um sonho, digo. Não foi apenas um sonho...

Thorin sorriu aquele sorriso perfeito, com os olhos brilhando, e o coração de Bena quase parou. Ele pegou uma das pequenas mãos dela entre as dele, sem parar de sorrir. A moça não mexeu um único músculo, sem sequer respirar, incapaz de olhar para qualquer outro lugar que não seus olhos, procurando uma explicação, presa num estranho sentimento misto de encantamento, descrença e terror.

Então o silêncio foi rompido.

Que beijo? Que manhã? Que sonho? — Bilbo voltou a ficar vermelho. — Raios partam! Será que alguém pode me dizer o que está acontecendo aqui?

Dís sorria e, com lágrimas nos olhos, respondeu:

— Amor, Mestre Baggins. É isso que está acontecendo aqui.

Os olhos de Bilbo ficaram impossivelmente arregalados, Lobélia ficou boquiaberta (de novo), e os príncipes se alternavam entre surpresa e alegria, enquanto a mãe deles ostentava um dos maiores sorrisos do salão. Balin parecia um avô orgulhoso.

O casal ignorou o que se passava à sua volta, envolvidos demais nos intensos sentimentos para prestar atenção em qualquer outra coisa. Os olhinhos de Bena estavam focados em Thorin, apenas Thorin, que segurava sua mão, sorrindo para ela com adoração.

Thorin disse, em voz baixa:

— Fico feliz que aquele beijo não tenha sido um sonho. Porque ele foi um beijo muito melhor do que todos os beijos que tivemos nos meus sonhos.

Bena estava custando a acreditar que aquilo tudo não era um sonho.

— Você sonhou em beijar... a mim?

— Muitas, muitas vezes — foi a resposta. — Você não?

Ela respondeu, e não era muito mais que um suspiro:

— Não. Eu não... ousava sonhar.

A mão livre da moça alcançou a face do rei, e ela adorou a sensação da barba espessa sob seus dedos. Era áspera, bem como ela imaginava. Thorin fechou os olhos e pressionou a bochecha contra a mão dela, quase ronronando como se fosse um gato.

Os demais continuavam em silêncio, observando a cena desenrolar-se bem diante de seus olhos. Baixinho, Balin indagou a eles:

— Por que não deixamos que tenham um momento de privacidade? Podem vir por aqui, por gentileza.

Bilbo ainda estava confuso com esses novos acontecimentos, e Dís prometeu explicar tudo a ele, uma vez que todos estivessem na sala do gabinete. Kíli e Fíli estavam claramente relutantes em sair dali, e Lobélia ainda parecia tão chocada que ela mal reagiu.

Quando a porta da sala do gabinete se fechou, uma série de eventos se sucedeu: os olhos de Thorin se abriram e ele puxou Bena para junto de si, pressionando seus lábios nos dela. Como ele era muito mais alto que Bena, ela tinha que ficar na ponta dos pés para alcançar seus lábios.

Thorin envolveu-a em seus braços num abraço tão protetor e possessivo que Bena sentiu como se eles fossem um só. Os lábios macios e quentes incendiavam seu corpo, e ela podia quase sentir seu corpo inteiro formigar com apenas um único beijo.

Quando os lábios se separaram, Bena estava sem fôlego e esforçou-se para chamar:

— Thorin...

Ele sorriu para ela, pedindo:

— Diga novamente.

— Dizer o quê?

— Meu nome. Diga.

— Thorin? — Ela estava intrigada. — Por quê?

Ele explicou:

— Você nunca disse meu nome. Só me tratava por Majestade. Também sonhava em ouvir sua voz dizendo meu nome.

A moça sentiu seu coração se inchando de puro amor.

— Oh, Thorin...

Ele sorriu para ela, olhos cintilando. Bena estava maravilhada ao perceber como Thorin sorria com os olhos. Aquilo o deixava ainda mais encantador a seus olhos.

— Achei que estivesse apaixonado por Lobélia. Disseram-me que você a amava muito.

— Sim, estou apaixonado, mas é por você. Pensei que jamais fosse ter alguma chance, porque você disse não ser capaz de se casar com um rei.

— Titio tinha razão: ele sempre disse que eu só me casaria por amor. E então eu teria que me apaixonar por esse rei. E eu me apaixonei.

Thorin agarrou-a pela cintura e ergueu-a do chão. Bena deixou escapar um gritinho de susto, embora seu desejo fosse de gritar de pura felicidade. Então ele a colocou sentada no topo da mesa.

— Pronto — disse ele. — Agora podemos nos beijar de maneira apropriada.

Era verdade. Eles estavam quase na mesma altura, olho no olho. Bena estava explodindo de alegria, e disse, acariciando a barba dele novamente:

— Estou seriamente tentada a acreditar que isso tudo é apenas um sonho. Após todo esse tempo em que fui obrigada a esconder o que sentia...

Thorin a encarou, sua mão fazendo carícias no braço dela:

— Eu também. Estava enlouquecido de frustração. Primeiro não via nenhum sinal de interesse de você, depois temi que você pudesse se interessar por um dos filhos de minha irmã. Você me surpreendeu com aquele beijo, surpreendeu mesmo.

— Eu surpreendi a mim mesma! — Ela enrubesceu. — Eu nunca tinha feito nada tão ousado antes. Eu estava aterrorizada que você me achasse uma louca e desmanchasse o casamento com Lobélia por minha causa. Na verdade, foi o que aconteceu.

Ele olhou dentro dos olhos de Bena, e ela podia jurar que ele tinha poder de enxergar dentro de sua alma. Ele quis saber:

— Você teria deixado eu me casar com sua prima sabendo que me amava?

— Achei que você a amasse, então poderia ser feliz com ela. E ela é tão bonita, tão instruída. Tudo que eu desejava era sua felicidade. Nunca acreditei que tivesse uma chance. Nunca ousei ter esperança de que você pudesse olhar para mim com algo mais do que afeição, como se eu fosse algum tipo de cachorrinho. — Ela estendeu a mão para ele, olhos irradiando felicidade. Ele pegou a mão estendida. — Nunca imaginei que você pudesse me amar também.

Thorin beijou a mão dela gentilmente.

— Confesso que houve momentos em que eu poderia jurar que você era capaz de ver minhas mentiras: eu me sentia terrível por cortejar sua prima quando eu queria tão desesperadamente que você fosse minha rainha. Infelizmente, como meu povo costuma dizer, a palavra do Rei Sob a Montanha é escrita na rocha. Não havia nada que eu pudesse fazer.

Bena então se lembrou e se alarmou, indagando:

— Mas Thorin: e quanto ao acordo de comércio?

Ele respondeu:

— Paz, meu amor, pois eu troquei palavras com o Thain do Shire, e tudo está bem também com o tratado entre nossos povos - se não houver objeções de todas as partes envolvidas com esse novo arranjo, pode haver troca da noiva sem prejuízo para o tratado. Portanto, Srta. Verbena Baggins, a senhorita me daria a honra de se casar comigo e tornar-se Rainha Sob a Montanha?

O sorriso dela era capaz de iluminar sozinho o interior da montanha:

— Oh, Thorin, sim! Sim!

Eles se beijaram mais uma vez, Thorin puxando-a contra si. Bena sentia o corpo dele, sólido e firme, envolvendo-a, dando-lhe uma sensação de lar.

— Oh, meu amor... Isso é maravilhoso!

Ele usou dois dedos para segurar o pequeno queixo dela antes de dizer, com seus olhos azuis cintilantes:

— Agora só o que temos que fazer é pedir sua mão para Bilbo. Não prevejo nenhum prob-

Um ruído ensurdecedor interrompeu-o. A porta para a sala do gabinete se abriu e uma voz irada gritou, reverberando na sala imensa:

— Quais são as suas intenções com a minha garotinha, seu anão?!

Bilbo Baggins invadiu a sala do trono, seguido por Lobélia e o resto dos Durins. O hobbit estava transformado. Bena nunca vira seu tio tão enraivecido antes, nem quando ela dera uma surra no seu priminho Peregrin por tentar olhar por baixo da saia dela, o danadinho.

Thorin tentou acalmá-lo:

— Bilbo, eu-

Bilbo estava irascível:

— Não me interessa se você é o todo-poderoso monarca de Erebor ou se você é o rei sob a maldita montanha! Verbena está sob minha responsabilidade desde que era uma meninota, e para mim ela é a filha que eu nunca tive! Nem vou mencionar minha prima Lobélia, com quem você tinha prometido se casar! Então é melhor você se explicar para mim, Thorin Oakenshield!

Bena pulou da mesa para o chão, chamando:

— Titio, por favor!

Ele a admoestou:

— Bena, você fica fora disso! Isso é entre mim e Thorin!

O rei lembrou:

— Eu já ofereci minhas desculpas e compensação a Lady Lobélia. É minha intenção pedir-lhe a mão da Srta. Verbena em casamento.

Com ar indignado, Bilbo quis saber:

— Isso é um jogo para você? Não se divertiu o bastante com uma menina hobbit, e agora Sua Majestade requer outra moça hobbit para mantê-lo entretido?

— Titio por fav-

— Bilbo — disse Thorin gravemente —, entendo que deva estar aborrecido. Nenhum de nós planejou nada disso. Eu tinha total intenção de me casar com Lady Lobélia, mas não pude fazer isso: não quando a Srta. Verbena me mostrou que meus sentimentos por ela tinham reciprocidade.

Bilbo praticamente rugiu:

— E como eu vou saber que você não vai mudar de ideia de novo? Vai magoar seu coração!

Bena implorou:

— Tio, piedade! Thorin e eu descobrimos estar apaixonados. Nós realmente nos amamos.

— Bena, eu falei que isso é entre mim e Thorin!

— Não! — gritou ela, e sua voz fina ecoou no salão espaçoso. — É a minha vida. Eu o amo como a um pai, tio. Mas eu estou apaixonada por Thorin. Você sempre me disse que eu só me casaria por amor, não disse? Bom, você tinha razão. E eu gostaria de sua bênção para nossa união.

Bilbo olhou para a jovenzinha que ele considerava sua garotinha, ofegante de emoção:

— Bena... Você é tão jovem...

Ela sorriu para ele:

— Quando a primavera chegar, eu terei idade. Você sempre será meu único pai, e eu sempre o amarei. Mas agora quero me entregar a seu amigo, um de quem você sempre falou com profunda admiração, amizade e respeito. Se faz objeções a meu casamento com ele, só posso pensar que a objeção é contra mim.

— É claro que não, criança! — Bilbo falou, escandalizado. — Qualquer homem que se casar com você será muito afortunado.

Bena indagou:

— Não concorda que Thorin Oakenshield merece um casamento por amor? Ainda mais um casamento tão importante, que beneficiará tanta gente, não somente aqui em Erebor, mas também igualmente no Shire?

Bilbo encarou a filha adotada como se a visse pela primeira vez. Então ele sorriu, entre orgulhoso e admirado:

— Você começa a ficar esperta demais para uma pessoa tão nova, jovenzinha.

Bena sorriu de volta, dizendo:

— Eu puxo à minha família. Ouvi dizer que Bagginses são muito inteligentes.

Bilbo a abraçou fortemente, sussurrando:

— Oh, minha menina... Thorin é um homem de muita sorte.

— Então você concorda?

— É claro que sim.

— Então está decidido — disse Balin, com um imenso sorriso. — A corte já começou.

De repente, Lobélia exclamou:

— Esperem! E quanto ao acordo de comércio com o Thain do Shire?

Balin explicou:

— Tivemos entendimentos com o Thain. Não haverá nenhum prejuízo ao tratado de comércio se as pessoas envolvidas não levantarem objeções à troca de noivas.

— Nesse caso, senhor — disse a moça hobbit de maneira desafiadora —, temo que o senhor tenha um problema. Porque eu sou uma das principais pessoas envolvidas e eu certamente levanto objeções a essa sua decisão!


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Notas finais do capítulo

A seguir: Lobélia, dá um tempo!

(por favor não me matem)



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