"GABRIEL ESTEVE AQUI"

Em letras grandes, vermelhas e garranchadas no rosto do Winchester mais novo, além de um bigode longo e enrolado na ponta desenhado até as bochechas.

Ele só havia notado aquilo quando se viu no espelho do banheiro. Ele iria estrangular Gabriel assim que o visse. Ah, mas ia mesmo.

Limpou o rosto, esfregando as mãos tão forte que quase se tornou uma esfoliação.

–- Hello swettie -- uma voz feminina chamou sua atenção para a porta.
Sam ficou em choque, se apoiou no batente da pia, a procura de sua arma.

Droga, havia esquecido ela no quarto.

–- Quem é você?

A mulher era loira, robusta, baixa, usava roupas um pouco mais folgadas que o porte dela, mas que não tiravam seu ar de peste, estava recostada sobre o portal da porta. Ela sorriu pra ele.

–- Oh Sammy, fique calmo, já se esqueceu de mim? Não sabia que se esquecia das coisas tão fácil assim, swettie, principalmente das brincadeiras que preguei quando era Trickster.

–- Trickster?

Ela alargou o sorriso.

–- Me chamam de Gabriel.

Sam arregalou os olhos.

–- O q-que aconteceu com você? Você era um cara, ontem mesmo, eu vi. Eu te carreguei pro quarto, você era um-

Gabriel apoiou as mãos na cintura fina.

–- É, é. Longa história sabe. O resumo é que o feitiço se voltou contra o feiticeiro... Ou seria anjo? -- ele fingiu que não viu uma veia saltar na testa do outro e continuou seu monólogo sobre como deveria mudar esse ditado, enquanto esperava o Winchester perder a linha.

–- Que idéia foi essa de desenhar na minha cara?

Sam apontou indignado para seu próprio rosto e Gabriel segurou uma risada.

–- Ah, isso? Eu estava procurando o banheiro desse lugar - é realmente muito grande, vocês deveriam botar plaquinhas de informação -, quando achei seu quarto. Você 'tava dormindo - como uma pedra, devo acrescentar -, eu tava entediado, tinham marcadores em cima da mesa... Não foi muito planejado, só deu vontade de fazer, então eu fiz.

Ele deu de ombros e Sam arqueou as sobrancelhas, não acreditando na cara de pau dele.

–- Assim? De repente? -- o loiro assentiu tediosamente olhando as unhas, enquanto o outro massageava as pálpebras -- Eu mereço.

Talvez o dia não tivesse começado bem, Sam considerou voltar para cama e fingir dormir, só para ver se ajudaria.

Gabriel sorriu, os lábios se curvando em perfeita malícia.

–- Então, Sammy... Como foi m-

–- Gabriel? Você está bem? O que aconteceu?

Outra voz feminina apareceu, para a surpresa de Sam. Dessa vez uma mulher de cabelos negros, grandes, um pouco mais alta que Gabriel. O arcanjo se animou ao vê-la, já Sam, surpreendeu-se, aquela não seria...

–- Cassy! To vendo que nem você escapou desse estado... Tem doces?
Sam definitivamente não estava entendendo nada. Ele olhava de um para o outro, tentando captar alguma coisa da conversa.

–- Com licença? Será que da pra alguém me explicar o que raios está acontecendo aqui? Ou é muito incômodo?

Gabriel fingiu parecer pensar e quando Sam estava quase realmente se irritando, Cas interveio, com as feições sérias:

–- Gabriel, você nos deve uma explicação. Não só do que esta acontecendo, mas o que você fez também.

Gabe sorriu, apertando a bochecha de Castiel.

–- Ora, que fofo. -- ele botou um dedo entre as sobrancelhas dele -- Mas desfaça essa cara, isso da rugas.

Uma veia saltou na testa de Cas.

–- Você é meu irmão, mas hoje eu definitivamente não estou para brincadeiras. Graças ao seu feitiço, eu estou me sentindo mais estranho que eu me sentia da última vez que virei humano. Eu quero saber o que está acontecendo comigo.

Gabriel revirou os olhos.

–- Isso se chama TPM.

Sam abriu a boca, mas não saiu nenhum som. Eles haviam esquecido completamente dele. Eles estavam realmente tendo aquele tipo de conversa ali?

–- Eu não compreendo.

Gabe sorriu, decidindo se explicava aquilo a fundo ou não.

–- Digamos somente que você teve azar. Se você fosse um anjo, isso não aconteceria, mas parece que não é tão simples assim, né? -- Gabe sorriu ironicamente -- Você trocou pra esse corpo durante um período mensal em que a mulher fica sensível as coisas, isso acontece antes ou durante um outro período que acontece com ela.

Cas curvou a cabeça, o loiro pareceu se divertir com isso. Antes que ele continuasse explicando, Sam o cortou.

–- Isso não é hora para esse assunto. Eu ainda estou aqui sabiam? E estamos em um banheiro, se não notaram.

Gabe sorriu.

–- Oh swettie, não precisa ficar desconfortável, eu não ia realmente terminar esse assunto aqui. Vamos para a cozinha, Cas. Depois eu explico as coisas pra você, ok? -- ele se virou para Sam -- Estamos esperando lá, sim? Não me faça esperar muito ou vou começar sem você, eu não vou repetir a explicação duas vezes. E lembre-se, não gosto de ficar esperando, swettie, nem mesmo por você.

Gabriel piscou para ele e saiu de lá, levando Cas consigo.

Sam olhou seu reflexo no espelho, e jogou água no rosto, só pra confirmar de que tudo era real, aquilo não podia estar acontecendo, provavelmente era uma das situações mais estranhas que já havia visto. Mas, suspirando, ele se deu conta que isso era só o começo, ainda tinha muita coisa mal explicada.

Sam secou o rosto, se preparando mentalmente para o que estava acontecendo.

Chegou na cozinha, dando de cara com seu irmão, Castiel e Gabriel sentados na mesa. Cas ao lado de Gabe, que estava de frente para Dean, encarando ele com uma cara de diversão. Já Dean não parecia se divertir tanto assim. O arcanjo, ou ex-arcanjo, passou os olhos para si e disse, tentando bancar o sério:

–- Então Sammy, por onde vamos começar?

Dean revirou os olhos.

–- Que tal começar nos dizendo como essa palhaçada toda começou?
Gabriel fez o favor de revidar a resposta com mais uma gracinha, que irritou o Winchester mais velho, o que não era um desafio, vamos concordar.

–- Chega, os dois! Parecem duas crianças! Fiquem quietos!

Surpreso, Sam viu Castiel levantar e bater na mesa, chamando a atenção dos dois, que olharam assustados para aquela figura pequena tentando passar autoridade. Mas qualquer coisa que algum dos dois estava pensando em retrucar sumiu quando sentiram Cas os encarar duramente.

Sam viu, naquele momento, que realmente não seria algo fácil conversar com eles, mas talvez, só talvez, ele teria um aliado bom o suficiente para ajudá-lo.