Três Formas de Amar escrita por Mi Freire


Capítulo 38
Fim.




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.... Uma semana depois ...

 Eu já estava de volta em casa. Minha vida seguia normalmente. Aula pela manhã e trabalho a tarde. Mas faltava algo. E eu sabia exatamente o que era. Quem era. E ainda não estava fácil ter que lidar com aquilo sozinha. Fiz inúmeras pesquisas, mas não obtive nenhum resultado.

Não, eu ainda não tinha me conformado e não ia me conformar tão cedo. Eu precisava do Lucas. Eu nunca estive tão certa quanto a isso. Ele não vai se livrar de mim tão fácil. Eu vou fazer de tudo para descobrir onde ele está. E vou atrás dele e ele vai ouvir a verdade. Nem que depois de tudo ele tenha que me dizer que não me quer mais e que agora ele tem certeza de uma coisa: nós nunca vamos ficar juntos.

 .... Um mês depois ...

Não tenho mais ideias para gravar vídeos. E parei de vez de ir aos treinos de boxe. Yuri continua me mandando informações sobre a sua nova vida. E eu estou feliz por ele. Yuri e a ex-mulher, Pamela, estão tentando uma reconciliação pelo bem do filho deles. Mas Yuri me garantiu que não estava fazendo aquilo por obrigação só por causa daquela criança. Ele estava mesmo disposto a tentar de novo com a ex-mulher, pois talvez nunca tivesse deixado de ama-la.

E ao contrário do que as pessoas podem imaginar, eu não fiquei desapontada ao ouvir isso. Yuri merece ser feliz ao lado do seu amor verdadeiro e do seu filhinho. Todos nós merecemos por mais imperfeitos que sejamos. E eu não o culpo. Pois enquanto estávamos juntos eu também amava outra pessoa mesmo que ainda não soubesse disso.

Mas eu também o amei, mesmo que de forma diferente. Ele foi uma pessoa muito especial na minha vida e ao lado dele eu aprendi muitas coisas. Principalmente que não devemos subestimar as pessoas, pois todas elas tem um lado mesmo que escondido e secreto capaz de surpreender qualquer um. Eu nunca vou esquece-lo e quero que sejamos amigos mesmo que a distância. Quero acompanhar o crescimento do filho dele e ter a certeza de que ele foi e será muito feliz ao lado da mulher que ele ama.

É, as vezes a vida prega algumas pegadinhas na gente.

... Dois meses depois ...

 Alguns dias atrás eu me esbarrei com a Helena pelas escadas do prédio. Ela estava levando Scott para passear e assim que me viu não deixou de me alfinetar.

− É, pelo jeito somos duas solteironas agora. Deveríamos apoiar um a outra e aproveitar esse momento.

E ela riu, mas eu não.

− Não, nós não vamos ser amigas de novo, pois nós nunca fomos. – Foi tudo que eu disse antes continuar subindo para o meu apartamento para mergulhar na minha própria solidão.

Poucos dias depois, quando resolvi levar o lixo lá para baixo, eu a vi aos beijos e amassos com um cara qualquer em frente ao prédio.

É, pelo jeito não somos duas solteironas.

Eu sou.

Helena não mais.

E provavelmente eu serei por um bom tempo, pois não há ninguém que eu quero mais do o Lucas.

Um dia desses eu estava dando uma olhadinha na internet quando vi a foto do Kevin com a sua banda. A notícia no site dizia que eles estavam fazendo muito sucesso por todo o país. Um show atrás do outro. Uma mulher atrás da outra.

É, pelo jeito algumas coisas nunca mudam.

Mas sabe de uma coisa? O Kevin merece esse reconhecimento. Apesar de ter atropelado tudo pela frente para viver seu sonho de ser um grande músico, ele foi bastante corajoso ao deixar tudo para trás.

Algumas pessoas também deveriam ter essa coragem.

                       ... Três meses depois ...       

Foi mais rápido do que eu pensava e a coleção de roupas que eu mesma desenhei foi lançada. A festa de inauguração da nova coleção foi um sucesso total. E mais uma vez eu me senti uma celebridade. Tive que tirar muitas fotos, dar autógrafos e algumas entrevistas para a TV e revistas.

Sara e o papai compareceram para celebrar ao meu lado. Ainda assim faltava uma pessoa para tudo estar completo. Mas eu não me deixei abalar por isso. Era um dia importante para mim e eu não queria chorar. Deveria apenas sorrir.

A história em quadrinhos do Lucas sobre mim também estava vendendo muito e algumas vezes eu receberia ligações importantes para fazer partes de alguns eventos. Eventos que ele nunca estava presente. Mas que mesmo com a dor no peito eu tentava dar a volta por cima e apenas sorrir.

Fazia aquilo por ele. Ele mais do que ninguém merecia.

Eu estava ficando cada vez mais reconhecida em muito pouco tempo. Não parava de receber e-mails e ligações de negócios. O número de inscritos no meu canal, de visitantes no meu blog e seguidores nas minhas redes sociais deram um grande salto, o que obrigou a produzir mais conteúdo para o canal, mas agora para minha sorte, eu tinha meu próprio editor de vídeos, um cara super bacana e inteligente chamado Enzo, que a princípio tentou ter algum tipo de envolvimento comigo, mas a partir do momento que eu fui sincera com ele e disse que meu coração pertencia a outra pessoa, ele parou de tentar e nós nos tornamos apenas bons amigos.

... Quatro meses depois ...

 − Nossa, querida, esse apartamento está de pernas para o ar. – Disse Sara durante uma de suas visitinhas.

Meu pai não pôde vir por causa do trabalho.

− É, eu sei. Minha vida está uma loucura ultimamente. Eu mal tenho tempo para arrumar as coisas por aqui.

Sara rapidamente começou a dar uma geral em tudo, apesar de eu dizer a ela que não precisava. Pois eu estava pensando seriamente em contratar uma pessoa para isso.

Mas ela fez questão.

− E você, teve alguma noticia do Lucas? – Ela era a única fonte de informação que eu tinha dele no momento.

Mas ela não gostava quando eu insistia no assunto.

− Manu...

− Desculpa, desculpa. Não vou mais insistir nisso.

Mas não era verdade. Eu sabia. E ela sabia disso também. Eu ainda continuava tentando encontrar o Lucas de todos os jeitos possíveis. Pensei muito em contratar um detetive, mas achei que seria demais e desisti da ideia.

Minha vida estava sim se encaminhando em uma direção surpreendente, mas sempre que eu estava em casa sozinha e tinha muito o que fazer, eu deixava tudo de lado e ficava um bom tempo na minha cama, deitada, esperando o tempo passar e a vida me surpreender.

Como a porta estava sempre aberta dava para ver o quarto do Lucas em frente. O quarto continuava vazio, apenas com algumas coisinhas que ele deixou para trás e nunca veio buscar. De vez em quando eu entrava lá e ficava deitada em sua cama, chorando por horas e sentindo o seu perfume que estava sumindo cada vez mais depressa.

Não era a coisa mais inteligente a se fazer, eu sabia muito bem disso. Mas não podia evitar. Pois foi a forma que encontrei de me sentir pertinho dele de alguma forma.

Só que eu estava me cansando disso. Me cansando de esperar a vida me dar algumas respostas.  Era demais para mim. Difícil de suportar. Uma dor que eu não desejava para ninguém e que eu só queria que passasse logo.

− Eu não quero mais te ver assim. É de partir o coração! – Disse Sara me olhando com compaixão um pouco antes de ir embora. – Eu tenho uma coisa para você.

Ela depositou dentro da minha mão um pedaço muito pequeno de papel.

− Faça bom proveito. – Ela me deu um beijo, um abraço e se foi, me deixando ali parada, sem saber como reagir.

Antes de tudo eu desabei sobre a minha cama e quando criei coragem para abrir o papelzinho, encontrei um endereço ali anotado com sua linda caligrafia.

Aquilo só podia ser uma coisa: o endereço de onde o Lucas se encontrava.

Levantei-me depressa, peguei uma mochila, joguei algumas peças de roupa dentro e alguns produtos de higiene pessoal, peguei meu celular e chaves do carro e do apartamento.

Meu coração parecia querer sair pela boca.

Antes de dar partida, coloquei o endereço no GPS e segui com o carro por algumas horas até o litoral.

Três horas depois eu parei em frente uma casa muito bonita e grande, feita de madeira e vidro bem próxima do mar.

O céu já estava escurecendo quando criei coragem para descer do carro que deixei do outro lado da rua e caminhei até a casa sem saber se era o lugar certo ou não.

Bati na porta um pouco apreensiva.

E se fosse o Lucas a pessoa a abrir a porta e se quando ele me visse ele a fechasse imediatamente?

Era um risco a ser correr.

− Oi. – Surgiu na minha frente uma garotinha muito bonita com os cabelos ondulados de um tom castanho-claro. Seus olhos eram cor de caramelo e ela tinha um sorriso muito doce, apesar de estar lhe faltando dois dentes da frente. – Eu sou Anabel e você deve ser a Manuela, acertei?

 Como é que ela sabia?

Então eu estava mesmo no lugar certo pelo que parece.

− Entra! – Ela me puxou pelo braço muito amigavelmente. E eu estava até um pouco assustada. – O Lucas, meu irmão, falou muito de você. Vem, ele está lá fora.

Passei pela sala muito arrumadinha onde um garotinho de cabelos loiros estava jogando videogame. Quando me viu ele virou-se para trás e acenou alegremente.

− Oi. Meu nome é Paulo. E eu sou o melhor amigo da Anabel. E você deve ser a Manuela. Você é muito linda, sabia?

− Obrigada.... Eu acho...

− Bom, é só você seguir em frente e vai encontrar ele lá fora.  - Disse Anabel me fazendo olhar para ela.

As coisas estavam acontecendo rápido demais. 

Eu quase perguntei o porquê que ela não me acompanhava até lá, pois eu nem conhecia a casa e estava um pouco envergonhada. Mas ela voltou correndo para o sofá, para perto do melhor amigo e eles voltaram a jogar videogame como se nada tivesse acontecido.

Segui corredor a dentro, olhando para os lados, quando dei de cara na cozinha, onde um homem estava preparando uma massa sobre a mesa e ele era a replica idêntica do Lucas, só que mais velho.

− Manuela?! – Ele arregalou os olhos ao me ver. – Oi, como vai você? – Ele limpou as mãos no avental, se aproximou e me estendeu a mão agora limpa. – Eu sou o...

− Pai do Lucas.

− Sim. Prazer, eu me chamo Túlio. – Ele sorriu. – É uma honra conhece-la. O Lucas falou muito de você, sabia?

Pelo visto o Lucas falou muito sobre mim para todo mundo que eu desconhecia. Eu não sabia se isso era algo bom ou ruim. Mas a minha maior surpresa era saber que todo esse tempo ele estava na casa do pai. O mesmo pai que ele disse que nunca, nunca, queria ter algum tipo de contato por tê-lo abandonado quando ele era só um garotinho.

Pelo visto ele tiveram muito tempo para se entender.

− O Lucas está lá fora. Fique à vontade.

Eu continue um pouco nervosa até chegar aos fundos. Mesmo de longe eu avistei o Lucas, que estava sentado no limite onde o concreto se encontrava com a areia da praia.

Ele estava ainda mais lindo com seus cabelos castanhos bagunçados por causa da brisa do final de tarde e ele usava uma camiseta branca e uma bermuda azul e estava descalço, com os pés enterrados na areia.

Ele estava de costas, por isso não me viu de imediato.

 E ele estava concentrado, desenhando alguma coisa em seu caderno apoiado sobre o colo. Deveria estar muito inspirado. Mas também não tinha como não estar com aquela vista do mar e do horizonte todo alaranjado.

Me aproximei devagar, sentindo o coração querer saltar do peito. Era tão surreal encontra-lo depois de tanto tempo.

− Lucas...

Minha voz quase não saiu, mas ele deve ter me ouvido, pois virou-se depressa para trás e ergueu o olhar na minha direção.

Minhas mãos tremiam tanto!

Quando ele se deu conta de que era eu mesma ali e não só uma visão, ele abriu o sorriso mais apaixonante de todos e fez todos os músculos relaxarem de uma vez só.

Sentei-me ao seu lado.

− Oi. – Disse ele sem tirar aquele sorriso do rosto.

− Oi. – Respondi de volta, abaixando a cabeça para não deixar transparecer o rubor que tomava conta do meu rosto.

− O que você faz aqui? – Ele levantou meu rosto, me fazendo olhar diretamente dentro dos seus olhos.

− Eu vim atrás de você. – Admiti. Queria ser franca com ele desde o início. Queria que recomeçássemos do zero.

− Nossa! – Ele soltou um risinho, desviando os olhos por um rápido instante. – Nem dá para acreditar!

Abri a boca para acrescentar mais alguma coisa, quando fui surpreendida com seus braços que agora me envolviam.

Eu não vou chorar! Eu não vou chorar! Eu não vou!

− Eu senti a sua falta. – Disse ele assim que me soltou.

− Eu também senti muita a sua falta.

Você nem imagina o quanto...

− Lucas, eu tenho tantas coisas a dizer...

− Pois então diga.

Disse ele com aquele sorriso no rosto que eu queria socar até destruir todos os dentes perfeitos e ao mesmo tempo tê-lo para sempre na minha memória.

− Me perdoe. Antes de você sair de casa eu disse coisas horríveis. Mas quero que você saiba que elas não eram verdade. Eu só estava um pouco perdida e confusa e com medo e aquela foi a forma que eu encontrei para te afastar.

− Eu sei...

− Não, Lucas. Escuta! Mas eu não queria que você se afastasse. Não pra valer. E muito menos que você fosse embora e nunca mais me desse notícias. Você sabe o quanto eu sofri nesses meses? – Agora eu estava mesmo muito brava com ele e lhe dei um tapa no braço. – Custava muito ao menos ligar para dizer que você estava bem? Você não faz ideia do quanto eu chorei nesses últimos meses. Não faz ideia do quanto eu sofri e de tudo que aconteceu na minha vida.

− Eu sinto muito, Manu. Mas eu faço ideia sim. Sinto muito. – O filho da mãe estava sorrindo ainda. Que tipo de doença mental ele tem? – A verdade é que eu precisava desse tempo. Mas não pense eu deixei de me importar com você. Porque isso nunca vai acontecer. Eu continuei assistindo seus vídeos, te acompanhando nas redes sociais, eu li todas as entrevistas que você deu e vi todas as fotos que você tirou nos eventos. Você não podia me ver, mas eu estava lá o tempo todo acompanhando cada passo seu.

− Eu queria poder te matar agora, sabia?

Ele riu.

− Mas eu não sei se quero te matar primeiro ou te dar um beijo. - Completei.

Ele deixou de sorrir por alguns instantes, pois certamente não esperava que eu fosse dizer aquilo.

Nem eu mesma esperava dizer aquilo.

Simplesmente saiu.

Eu abri a boca para contornar a situação e dizer que eu estava apenas brincando. Mas eu sabia que isso não era verdade também. E também não tive tempo de inventar uma desculpa esfarrapada, pois o Lucas colocou a mão no meu rosto e passou o dedo nos meus lábios agora fechados.

Ele se inclinou o rosto para perto de mim, diminuindo qualquer distância entre nós e muito seriamente percorreu os olhos claros por todo o meu rosto até chegar na minha boca.

Eu já não estava mais aguentando aquela expectativa toda quando ele enfim uniu nossos lábios e me deu o beijo que parecia que eu estava esperando a vida toda.

− Eu te amo. – Sussurrei ao abrir os olhos e encontrar os dele fitando os meus. – Eu sempre te amei. Me desculpe por ter demorado tanto para perceber isso. Me desculpe por ter fingindo o contrário e me desculpe por ter te ferido tanto. Eu só espero que não seja tarde demais para recomeçarmos.

− Nunca será tarde demais para você, Manu. – Ele novamente me beijou e esse beijo foi mais demorado e mais apaixonante e mais carinhoso, mais suave, mais tudo.

− Então, você se acertou com seu pai. – Observei quando nos deitamos no chão e passamos a olhar para o céu que agora estava completamente escuro e as primeiras estrelas começaram a surgir.

− Pois é. E você viu a minha irmãzinha? – Ele virou a cabeça para mim e eu senti quando seus dedos se entrelaçaram com os meus e tudo se suavizou no meu peito.

− Eu vi! E vi também que ela tem um melhor amigo. – Eu sorri para ele e ele sorriu de volta como se tivesse entendido o que eu quis dizer. Como poderia não entender?

Parece que o jogo virou não é mesmo?

− Só espero que ele cuide bem da minha pequena.

− Se ele for como você pode ter certeza de que ela será a garota mais sortuda desse mundo.

Ele se apoiou no cotovelo para ficar mais pertinho de mim.

− O que você estava desenhando quando eu cheguei aqui?

Peguei o caderno que ele tinha deixado ali do lado.

− Você.

− Eu?

− É, veja você mesma.

Abri o tal caderno com cuidado e vi que ali tinha vários desenhos meus. Todos muito diferentes, mas com um detalhe muito especial: o olhar de uma pessoa observadora e apaixonada. Que era capaz de recriar uma pessoa cheias de defeitos como eu e torna-la perfeita, preciosa e única.

− Você me desenhou todos os dias?

− Sim, desde que cheguei aqui.

− Mas porquê?

− Porque eu amo você e sentia sua falta e queria estar de alguma forma conectado a você e não tornar essa distância tão dolorosa quando já estava sendo para mim.

− Você é inacreditável, sabia? – Toquei seu rosto e abri um sorriso. – Repete isso, de novo, por favor.

 − Qual parte?

− Todas elas, desde o início.

Ele abriu um novo sorriso também.

Aquele sorriso me cativou desde o início e eu tinha certeza que me manteria presa até o fim.

... Alguns anos depois ...

Se tem uma coisa que eu aprendi ao longo do tempo é que existe várias de você amar uma pessoa. Por exemplo, você ama seu cachorro de uma forma diferente da qual você ama os seus pais. Não dá para comparar. Não dá para escolher qual é o maior. E você nem deveria, apenas se permitia sentir o sentimento mais incrível desse mundo.

Muitas pessoas podem dizer que eu não amei o Kevin. Mas eu amei. Do meu jeito eu amei. Amei ele quando eu era jovem demais para entender esse sentimento e amei ele algum tempo depois, quando eu achava que já era madura para entender esse sentimento. Mas eu não era. E nunca fui.

Só que a nossa história não aconteceu em um momento certo. Nós não estávamos preparados. O Kevin e eu tínhamos muito que aprender ainda e precisamos quebrar a cara um do outro para nos darmos conta disso. Ou então nossa história nunca deveria ter acontecido. Não dá pra saber.

Algumas coisas são incertas.

Eu também amei muito o Yuri. Pois ele esteve ao meu lado em todos os momentos que eu achei que estava sozinha, antes mesmo de nos tornarmos alguma coisa. Mesmo quando nós nem éramos amigos. Eu o amei porque ele era cara incrível e acabou me surpreendendo bastante no final.

Mas então porque eu o deixei partir?

Porque era o certo a se fazer por mais que eu o amasse naquele momento. Nem sempre o que prevalece são os seus desejos ou as suas vontades.  Com o tempo eu aprendi isso. Muitas vezes você precisa colocar o sentimento do outro na frente dos seus. E o Yuri tinha um sonho. Ele queria ser pai e ele conseguiu ser, então eu abri mão de estar com ele, para poder permitir que ele estivesse com seu bem mais precioso: seu filho.

E por fim, eu não só amei o Lucas, como eu o amo até hoje e com me dei conta de que o amor que eu sentia por ele era o único que iria prevalecer por muito tempo.

Você deve estar se perguntando o que aconteceu com a gente depois daquele reencontro e é com imensa alegria que eu digo que nós estamos juntos até hoje. Nossa vida mudou muito com os anos, mas não o que sentimos um pelo outro nunca mudou e nem vai mudar.

Como eu posso te tanta certeza disso?

Simples: depois de tudo que passamos e vivemos, após tantas dificuldades, desencontros, brigas você ainda duvida que exista algo que a gente não possa enfrentar?

Porque eu não duvido.

Eu acredito no nosso amor, na nossa história, em todas as palavras que foram ditas ou que ainda são ditas vinda do fundo dos nossos corações e das nossas almas.

Eu quero o Lucas. O meu Lucas. Eu sempre quis o Lucas, mesmo sem saber, mesmo sem entender, mesmo quando eu tentava me convencer do contrário e escolhia estar com outras pessoas para ignorar tudo que eu sentia por ele e que na época parecia tão errado.

Mas não é errado amar tanto assim uma pessoa.

Não é errado parecer ridículo por desejar estar com essa pessoa até você serem velhinhos.

Uma das coisas que me fez ter certeza do quanto isso era real foi a capacidade do Lucas amar uma pessoa como eu tão repleta de defeitos, incertezas, maluquices e dramas. Com todos meus erros, instabilidade e descontrole. Ele sempre me aceitou do jeitinho que eu sou. Por mais que as pessoas não entendam. Mas o que elas poderiam entender sobre isso? Se somos nós que sentimos. É o que está dentro de nós e não delas.

As pessoas sempre veem defeito em tudo, menos nelas mesmas.

Eu sou humana, eu também cometo um milhão de erros. Assim como o Lucas, meu pai, a Sara. Mas o que conta de verdade é capacidade de lidarmos com isso nos piores momentos e então é quando a gente sabe quando alguém gosta mesmo de você. Quando ela é capaz de aceitar você do jeitinho que é. Sem retirar ou acrescentar.

− No que você está pensando, meu amor? – Eu ainda estremecia ao ouvir a voz dele tão próxima ao meu ouvido.

Estava sendo um ano de concluir algumas metas: sendo uma delas conhecer juntos novos lugares mundo a fora.

− Em você. No que mais eu pensaria? – Virei-me de frente para ele e o enlacei com meus braços.

Estamos no alto de uma montanha na Irlanda. Está muito frio aqui em cima. Mas o lugar é lindo. Quase mágico. Cheio de verde ao redor. O mar bem distante lá em baixo. E o céu cheio de nuvens. A sensação é de paz. De infinito.

− Espere um minuto. – Ele pediu.

Lucas pegou a câmera fotográfica de dentro da mochila e tentou tirar uma foto nossa para deixar marcando esse grande momento.

E para que também, mais tarde, pudéssemos compartilhar tudo com os nossos seguidores, já que agora o canal e o blog pertenciam a nós dois. O foco já não era mais só moda, maquiagem e beleza. Atualmente nós falávamos sobre absolutamente tudo, principalmente dicas de viagens, relacionamento e experiências pessoais.

Depois que ele guardou a câmera na mochila eu o abracei forte.

E com a boca próxima ao seu ouvido eu sussurrei o que eu estava guardando há muito tempo:

− Eu quero me casar com você, Lucas. 

Lucas me olhou surpreso.

Tirei a luva de uma das mãos e a enfiei no bolso do casaco, lá de dentro eu peguei uma caixinha com um anel.

Tudo no que eu mais pensava ultimamente era no quanto eu queria o Lucas para a vida inteira. O que tínhamos agora ainda não era o bastante. Eu queria que isso fosse oficial. Que fosse ainda mais concreto e completo. Foi uma decisão fácil de tomar. Mas eu estava muito nervosa nesse exato momento. Queria que fosse perfeito. Pois ele sempre fez tudo por mim. Estava mais que na hora de fazer alguma coisa grandiosa por ele também.

Por nós.

− E então, o que você me diz? – Perguntei, tensa.

Ele abriu um sorriso grandioso.

− Meu sonho sempre foi você, Manuela.

Quando seus lábios se uniram aos meus para finalizar aquele momento tão esperado, eu senti que por mais que não merecesse algumas vezes, eu com certeza era a mulher mais sortuda desse mundo por ter um homem como Lucas ao meu lado.

Não só como tenho agora, não só como tive no passado, como também terei para toda vida.


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Notas finais do capítulo

É claro que não poderia faltar esse final clichê. Espero que tenham gostado pelo menos um pouco. Eu me esforcei muito para concluir essa história. Escrevi tão depressa e algumas vezes confesso que não estive muito satisfeita comigo mesma. Por ter criado uma personagem que fosse capaz de ser tão odiada ou mal interpretada. Eu só queria que ela fosse real, como todas nós. E um pouco diferente das tantas outras que eu já criei. Enfim, cometem e me digam o que acharam com toda sinceridade. E mais uma vez agradeço por tudo. Pela paciência e pela compreensão. Quem tiver interesse, dá uma olhada na minha nova história, chama-se "Tudo de Mim". BEIJOS!