Três Formas de Amar escrita por Mi Freire
− O que aconteceu com a sua testa? – Yuri perguntou assim que abriu a porta e me viu parada ali.
− Helena não está por aqui ou está? – Tentei olhar, mas ele era alto demais. Preenchia todo meu campo de visão.
− Não, ela não está. Porque? – Ele me deixou passar e eu entrei, me sentando no sofá ao lado de Scott.
− Ela me acertou com o controle remoto quando eu tentei defender o Lucas no meio de uma briga.
Yuri riu, se divertindo com a situação.
Vendo assim de fora até que era mesmo engraçado.
− Mas o que realmente houve? – Perguntou ele.
− Eles terminaram. – Dei de ombros.
− Por isso ela anda toda estranha e chorosa pelos cantos. Nem parece a mesma. Coitadinha! Deve estar arrasada.
− Eu não me importo! Ela bem que mereceu. E olha o que ela fez comigo! Isso não parece certo ou parece?
− Não, mas ela meio que se vingou depois de você quase ter tentado matá-la.
− Você está a defendendo, é isso mesmo?
Cruzei os braços em frente ao peito.
− Não, Japonesa. – Yuri voltou a rir. – Só estou querendo dizer que qualquer homem deve ter o máximo de cuidado possível quando estiver ao lado de qualquer uma de vocês.
Eu sorri.
− Ei, eu não sou perigosa!
− Talvez um pouco.
− É, talvez. Mas você me treinou!
− Não para você tentar matar as pessoas.
Foi a minha vez de rir.
− É, talvez eu tenha ido longe demais. Mas ela provocou!
− Não foi ela quem escreveu aquelas coisas no seu vídeo.
− Como você pode ter tanta certeza?
Ele sentou-se ao meu lado e passou a mão nos pelos curtos de Scott.
− Helena não seria tão baixa.
− Mas ela é. Acredite.
Yuri pensou por um momento.
− Quanto a isso, eu queria me desculpar pelo que eu disse aquele dia.
Espera aí.
É isso mesmo que eu acabei de ouvir?
Ele estava se desculpando e reconhecendo a culpa?
− Repete, por favor.
Yuri abriu um sorriso sacana.
− Você já ouviu.
− Não! Por favor, apenas repita.
Ele suspirou, vencido.
− Apenas me desculpa, está bem?
Eu sorri também.
− Eu desculpo.
Me virei melhor para ele e joguei meus braços em volta de seu pescoço, puxando-o para um beijo.
− Eu senti falta disso. – Confesso, enquanto ele me olha.
− Mas você não respondeu minhas mensagens!
− Eu sei. Eu estava um pouquinho brava com você.
− Só porque eu disse aquelas coisas?
− Porque você não me entendeu. Não me apoiou e naquele momento eu precisava que você dissesse algo que pudesse fazer eu me sentir melhor!
− Mas a gente nem sempre pode ter tudo que quer, Japonesa.
− Eu sei, eu sei. – Reviro meus olhos. – Mas você só precisava ter dito que entendia.... Que estava ao meu lado....
− E eu estou! Mas isso não significa necessariamente que eu me sinta confortável com tudo isso.
Me afasto subitamente.
− O que você quer dizer com isso?
− O que quero dizer é que no tempo em que estamos juntos, quando não estamos tão ocupados demais fazendo aquelas coisas, você está sempre mexendo no celular, gravando vídeos, vendo fotos, lendo comentários, respondendo comentários...
− Mas isso é o meu trabalho, Yuri! – Interrompo-o.
− Sim, eu sei. E entendo. Mas não me sinto confortável. Não quero ser exposto. Não quero ninguém se metendo na minha vida e sabendo de coisas sobre mim, sobre nós.
− Mas as pessoas têm curiosidades!
− Eu sei, Manuela. Eu sei. Só entenda que eu não consigo lidar com tudo isso. Não consigo!
Já entendi. E tudo bem. Ele tem todo direito do mundo de não se sentir confortável com o meu estilo de vida. Mas ele me conheceu assim e mesmo assim ficou comigo. Então porque só agora está se queixando? Poderíamos ter resolvido tudo isso antes e não ter permitido que as coisas chegassem tão longe.
Agora parece um pouquinho tarde para isso.
Mas não tenho coragem de dizer isso a ele. Não quando eu prezo tanta a sinceridade, a honestidade. E é o que ele está sendo comigo agora: totalmente aberto.
− Mas e agora? O que vamos fazer? – Pergunto, aflita. – Não posso mudar isso. Faz parte do que eu sou. Posso evitar de fazer certas coisas quando estou com você, mas...
− Para mim isso já é o bastante. – Ele me interrompe, passando a mão no meu braço. – Vamos apenas tentar, está bem? Garanto que os poucos aprenderemos a nos adaptar melhor um ao outro e tudo dará certo.
É, talvez ele tenha razão.
Mas não consigo pensar nisso agora. Não enquanto ele deposita beijinhos provocantes no meu ombro nu.
− Vamos para o meu quarto. – Ele sussurra no meu ouvido. – Eu estou louco por você.
Sorrio e o sigo até o seu quarto.
Passamos o resto da tarde enroscados um no outro e isso me faz esquecer as coisas por um momento. Mas não o bastante para esquece-las completamente. Sinto que se não dizer isso agora, eu nunca mais terei coragem.
− Preciso te dizer uma coisa. – Confesso enquanto o observo brincar com as pontas onduladas dos meus cabelos.
− Então diga. – Ele sorri voltando os olhos verdes calorosos para mim. – Estou ouvindo.
− Talvez eu sinta algo muito especial por você. – Digo de uma vez antes que perca toda a coragem.
Yuri continua me olhando com aquele sorrisinho.
− Só talvez?
− Não. – Sorrio timidamente. − Eu realmente sinto algo especial por você.
Ele se apoia nos cotovelos e me olha mais de perto. Agora sem tirar os olhos da minha boca.
− Diga de novo. – Pede ele com um sussurro.
Quero bater nele, mesmo que de brincadeira, e pedir que por favor pare de me provocar assim.
Mas não consigo.
O momento é muito especial.
− Eu estou me apaixonando por você. Melhor assim?
Yuri não responde em palavras e sim com um beijo ardente que me faz flutuar.
− Muito melhor assim. – Diz ele após se afastar. – Porque eu também estou louquinho por você.
Sua confissão, mesmo que já esperada por ele ter mencionado o assunto antes, me faz pensar que estamos caminhando mais a fundo agora. Talvez para um futuro relacionamento mais sério e nada de amizade com benefícios e relacionamento aberto, apesar de eu não estar saindo com mais ninguém e duvido que ele esteja.
− Você está saindo com mais alguém, Yuri?
− Que tipo de pergunta é essa? – Ele pergunta, rindo.
− Sei lá... Curiosidade.
Enrosco minhas pernas ainda mais as dele.
− Não, Japonesa. Não fiquei com ninguém depois que eu e você começamos isso.
− E o que necessariamente significa isso para você? – Pergunto com um sorrisinho.
− Eu ainda não sei. Mas é algo bom. Algo que eu nunca senti antes.
− Sabe, eu também não. – Nós nos beijamos outra vez, só que rapidamente.
− Mas e amar... Você já amou muito alguém antes?
− Acho que sim. – Digo. – Não tenho muita certeza. Provavelmente amei muito o meu ex-namorado, mas ele não merecia tudo que eu sentia. E você?
− Se eu já amei alguém? – Ele perguntou e assenti. – Não sei se foi bem amor o que eu senti pela minha ex-mulher. No começo acho que sim. Mas será mesmo que o amor é capaz de acabar um dia? Acho que não.
− Eu não sei.... A vida é realmente surpreendente e extraordinária. Me afastou de tantas pessoas que eu pensei que levaria para sempre comigo e me aproximou de outras que eu nem imaginava conhecer assim como.... Você. - Suspirei, pensativa em minha própria filosofia. − Mas nem tudo que acaba tem um final. Talvez o amor ainda esteja lá, escondido em algum lugar.
Voltei para casa já era noitinha.
Lucas estava vendo TV.
− Lucas, você alguma vez já se sentiu desconfortável com o meu trabalho e as coisas que eu faço por ele?
Joguei-me ao seu lado sem tirar meus olhos dele.
− Não. Eu amo fazer parte do seu mundo. Quanto mais eu entro nele, mas conectado eu me sinto a você. – Diz ele com um sorriso admirável. – Mas porque a pergunta?
− Nada não. Eu só queria saber mesmo. – Olho para a TV e vejo o que ele está assistindo.
Não parece nada muito interessante.
− O que você fez para o jantar? – Pergunto ao me levantar e ir em direção a cozinha.
− Estava só esperando você chegar. – Ele vem logo atrás de mim. – Eu fiz frango. Mas preciso de ajuda com a salada.
Ajudei-o a finalizar o jantar e depois fomos comer.
− Como você se sente? Agora que é um homem livre. – Pergunto mesmo de boca cheia.
Não me importo de parecer ridícula na frente do Lucas.
− Eu me sinto... Bem.
− E ela, voltou a te procurar?
− Não ainda. E espero que continue assim.
− Eu também espero. Não quero vê-la nunca mais!
Lucas sorri e termina de comer, depois ele leva o dedo cuidadosamente até a minha testa e dar uma apertadinha.
− Como está isso?
− Melhor a cada dia.
− Vamos trocar o curativo?
Colocamos os pratos e copos sujos na pia para serem levados depois. Eu me encaminho até o sofá e espero o Lucas pegar a caixinha de primeiros-socorros sobre o armário.
Depois ele vem até mim e se senta com a caixinha no colo.
Com muita delicadeza ele tira o pequeno curativa da minha testa, limpa o local e coloca um curativo novo.
Fico calada, atenta a seus movimentos.
Impressionada com a facilidade que ele tem em cuidar tão bem de mim.
− Você já pensou em ter filhos, Lucas?
Ele dá risada, estranhando minha pergunta repentina.
− Um dia. Talvez. Mas para isso preciso primeiro encontrar uma grande parceira.
− Você vai encontrar. Tenho certeza. Mas, quantos filhos você pretende ter?
Ele se encosta no sofá.
− Dois. Primeiro um menino, assim ele poderá sempre cuidar de sua irmãzinha mais nova.
− Assim como você cuida de mim?
− Manu, nós não somos irmãos!
− Poxa! Assim você me magoa.
Ele dá mais uma risada.
− Quero dizer, não somos irmãos de verdade. Você sempre soube disso, não soube?
− É claro que sei! Mas gosto de pensar que sim. Você não?
− Às vezes sim. As vezes não. Não é que eu não goste de você, mas é que, sei lá, ser irmãos é uma coisa séria.
− Mas é claro que é! Por isso gosto de pensar que você é o meu irmão de verdade.
− Mas você não queria ter um irmão antes!
− Mas isso foi quando antes de te conhecer, bobinho.
Ele sorriu, mas não senti muita convicção. Talvez fosse algo em seu olhar que me dizia que algo estava errado.
− Eu queria te dizer uma coisa faz muito tempo. – Ele se inclinou na minha direção e ficou mais perto.
Não sei bem porque, mas meu coração começou a bater um pouquinho mais depressa.
− E o que é? - Pergunto com a voz fraca.
− Eu.... É que eu...Bom, como eu posso dizer isso? Eu...
Ele parou por um instante.
A coisa deveria ser mesmo muito importante, pois poucas vezes eu vi o Lucas tão nervoso na vida.
− Lucas, fala de uma vez! – Brinquei.
Mas ele não riu, muito menos sorriu.
Estava mesmo muito nervoso e tenso.
Comecei a ficar preocupada.
− E então, o que é?
Ele desvia o olhar e balança a cabeça.
− Deixa para lá. Não é nada importante. Eu te digo outro dia. – Ele se levanta, levando a caixinha de primeiro-socorros com ele.
− Não vai me dizer que você vai ser pai. – Vou atrás dele e digo a primeira que coisa que me vem à cabeça só para quebrar a tensão.
− Não, boba. – Ele finalmente riu, ainda de costas. Colocou a caixinha em cima do armário e depois se virou para mim. – Eu não vou ser pai. Se eu não estou preparando nem para te dizer algumas coisas, imagine para ser pai.
Sorri, satisfeita.
O velho Lucas estava de volta.
Lucas foi dormir mais cedo aquela noite e como eu não tinha nada para fazer fui dormir também. Ou pelo menos tentei.
Fiquei acordada um bom tempo, pensando no que será que o Lucas tinha para me dizer e pareceu tão importante.
Porque ele estava tão nervoso?
Porque não conseguiu dizer nada?
Será que já tinha encontrado uma nova garota e não sabia como dizer por não saber como eu reagiria?
Eu não sei.
Mas não consegui tirar o olhar de aflição dele da minha mente.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
O próximo capítulo terá uma grande surpresa. Finalmente algumas coisas serão ditas.