Três Formas de Amar escrita por Mi Freire


Capítulo 21
O encontro perfeito.




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Finalmente sexta-feira.

Eu tinha acabado de gravar um vídeo com cerca de quinze minutos para o canal mostrando algumas comprinhas que eu tinha feito recentemente em alguns sites gringos e que tinham chegado ontem pelo correio.

O pior de gravar vídeos assim é que depois tenho que arrumar toda a bagunça que eu fiz no meu quarto. Mas antes de começar a organização eu fui até a cozinha ver se tinha alguma coisa para comer porque eu estava faminta e não tinha comido nada depois do café da manhã.

E já eram três e meia da tarde.

Estava aguardando meu pão com presunto e queijo dar aquela esquentadinha no micro-ondas quando ouvi a porta de abrir. Helena entrou. Eu ainda não entendia porque ela insistia em aparecer aqui essas horas, sendo que o Lucas só chegava do trabalho no finalzinho da tarde.

Mas tudo bem, eu já estava começando a me acostumar com isso. Ela agia como se já fosse dona da casa, mas hoje eu não deixaria que isso me aborrecesse. Peguei meu pão quentinho e fui para o meu quarto comer tranquilamente, longe dos olhares curiosos de Helena.

− Preciso bater um papinho com você. – Disse ela entrando no meu quarto no exato momento em que eu iria trancar a porta.

− Não sei se você percebeu, mas eu estou um pouquinho ocupada, Helena. Pode ser depois?

− Não, não pode. – Ela caminhou pelo meu quarto, atenta a tudo. Principalmente a bagunça espalhada no chão e sobre a cama. – É coisa rápida, eu garanto.

Então ela se sentou, sem eu nem ter convidado.

Continue em pé, ali parada perto da porta comendo meu pão. Não que eu estivesse com medo dela e preparada para correr dali a qualquer momento. Eu não queria ficar tão perto assim dela. Ela não me transmitia mais confiança.

− É sobre o Lucas.

Suspirei fundo.

Lá vem.

− Você acha que eu sou boba, ou o que? – Disparou ela com seu tom de voz completamente alterado.

Era evidente que ela estava tentando me passar medo, mas isso não ia rolar. Não comigo.

Ela quem deveria sentir medo de mim.

− Do que você está falando? – Perguntei antes de dar mais uma mordidinha no meu querido pão.

− Não se faça de idiota, Manuela. – Ela se levantou rapidamente e caminhou na minha direção com passos firmes e me fuzilou com os olhos. – Eu sei que você está tentando roubar o Lucas de mim.

Quase me engasguei.

− Tá louca?

− Louca, eu? Não, você que está. Não ouse tentar rouba-lo de mim, Manuela. Não vai funcionar.

− Rouba-lo de você? Assim como você tentou rouba-lo de mim? Por favor, Helena. Para que tá feio.

Ela riu diabolicamente.

− Não pense que eu sou estupida, querida. Você acha que eu não percebi que você é louquinha por ele? Eu soube isso desde o primeiro momento. Esse papinho de que somos "apenas" melhores amigos e irmãos é tudo conversa fiada.

Meu deus! De onde essa louca tirou essa história?

− Tá, e o que mais você acha que sabe, Helena?

− Não brinca comigo, Manuela. – Ela fazia cara feia. Só faltava agora roscar igual a um cão bravo. – Fica longe do Lucas, para o seu próprio bem. Eu não sei se você já se ligou, mas ele me ama e é por isso que estamos juntos. Tudo que ele vê em você é uma irmãzinha frágil e fraca.

Cerrei meus punhos.

Ah, não.

Dessa vez eu iria dar um soco na cara dela.

− Que foi? Ficou chateada porque você gosta dele mais do que um irmão? – Ela continuou me provocando e eu me controlando para não bater nela. – Coitadinha! – Ela riu. – Sabe, as vezes eu tenho pena de você. E uma certa repugnância por você fantasiar coisas com seu próprio irmão!

Dito isso ela passou por mim com cara de nojo e saiu não só do meu quarto, mas também do meu apartamento.

Eu juro que cheguei muito perto de bater nela. Só não fiz isso porque não queria mostrar que ela estava ganhando ou me atingindo com suas histórias malucas.

Essa mulher é louca e o Lucas tem que saber disso.

Esperei pacientemente o Lucas chegar em casa. Dessa vez eu não ia deixar barato. Eu ia contar tudo a ele! Cada palavra que ela me disse e torceria para que ele enfim se desse conta de que ela não era a mulher certa pra ele

Lucas chegou mais tarde do que eu esperava.

Ele me deu um beijinho na testa e foi direto tomar um banho, pois disse estar extremamente cansada.

Fiquei com dó. E até pensei em deixar essa conversinha para depois. Mas como é que eu ia conseguir dormir com aquilo na cabeça?

Esperei ele tomar um banho, trocar de roupa e comer alguma coisa. E só então eu me aproximei devagar.

− Que foi? – Ele ergueu os olhos do prato vazio e me olhou nos olhos. – Que cara é essa, Manu?

− Preciso te dizer uma coisa. – Sentei-me ao seu lado na bancada sem coragem de encara-lo. – E você precisa acreditar em mim mesmo que pareça que eu estou tentando arruinar seu relacionamento com a Helena de todas as formas.

− O que foi que aconteceu dessa vez? – Ele inclinou-se para mais perto. – Fala logo, Manu!

− Helena veio me fazer uma visitinha essa tarde. Ela me encurralou dentro do meu próprio quarto e começou a dizer coisas absurdas sobre mim e sobre nós dois.

− Que tipo de coisas? – Ele franziu o cenho.

− Ela me pediu para eu parar de tentar roubar de você dela e depois veio com uma história maluca de que eu era apaixonada por você e que ela sentia nojo de mim por fantasias coisas com meu próprio irmão. Sem contar que ela disse que tinha pena de mim também. Porque tudo que você via em mim era uma irmãzinha fraca e frágil.

Lucas deu uma risada curta.

− Isso não é verdade!

− Qual parte? Você não acha que estou mentindo, ou acha? Eu não inventei tudo isso, Lucas. – Olhei para ele horrorizada. − Pergunte você mesmo a ela, se quiser.

− Não, não é isso. Estou falando da parte de você ser apaixonada por mim. – Ele desviou o olhar.

− Quer dizer que de tudo que eu falei você só prestou atenção nessa parte? Fala sério, Lucas. Não! É claro que não. Eu não sou apaixonada por você!

− É claro que não! – Ele deu o mesmo riso fraco de antes. – Isso seria loucura, não é mesmo? Afinal, somos irmãos!

− Então você acredita em mim? – Perguntei, fazendo ele olhar de novo para mim. – Sua namorada é maluca!

− Ela não seria capaz de dizer essas coisas horríveis...

− Mas ela disse! Ela as cuspiu na minha cara. E foi muito maldosa. Eu não tirei isso da minha imaginação, Lucas!

− Eu sei, Manu. Calma. – Ele colocou sua mão sobre a minha. – Fica calma.

− Ficar calma? – Puxei minha mão com tudo. – Como é que eu posso ficar calma, Lucas? Essa mulher é maluca! E ela pensa coisas horríveis sobre mim que jamais seriam possíveis.

− Mas se isso é mesmo verdade você não deveria ficar tão perturbada se você sabe que é mentira.

Fechei meus olhos e suspirei profundamente.

− Esquece. – Levantei-me ao abrir os olhos novamente. − Finge que eu nunca te disse essas coisas.

Marchei de volta para o meu quarto.

Se o Lucas prefere não enxergar o que está bem adiante dos seus olhos não sou eu quem vai mudar isso.

Substituo meu shortinho jeans e minha regatinha por meu pijama de coelhinhos e vou direto para minha cama.

A bagunça continua espalhada por toda parte, mas não sou muito a fim de limpar e arrumar isso hoje.

Tudo que eu preciso agora é de uma longa noite de sono.

− Surpresa! – Abro meus olhos assustada e vejo que o Lucas teve a infeliz ideia de me acordar cedo em um sábado que eu poderia dormir até depois do meio-dia.

E porque diabos ele está segurando um cupcake com velinhas acessas? Pelo que eu me lembro ainda não é o meu aniversário. Será que ele também ficou maluco?

− O que isso significa, Lucas? – Sento-me ainda meio desorientada.

− Hoje é um dia especial. – Ele senta-se ao meu lado todo sorridente e satisfeito consigo mesmo. – Vamos lá. Assopre as velinhas e faça um pedido.

− Mas...

− Hoje cedo seu canal finalmente completou 300 mil inscritos. Temos muito a comemorar!

Isso é sério?

Antes de apagar as velinhas eu pego meu celular sobre o criado-mudo e vou direto no meu canal no Youtube.

Não é que ele tem razão?

Somos agora 300 mil inscritos!

Abro o mais sorriso que eu já dei nas últimas semanas.

Inclino-me, assopro cada velinha, fecho os olhos rapidamente e faço um pedido: que o canal e o blog continuem crescendo cada vez mais e não pare nunca mais.

− Você deveria ir se arrumar. – Lucas coloca o cupcake sobre o criado-mudo. – Temos que sair daqui a pouco.

− É mesmo? E para quê?

− É uma surpresa. – Ele está sorrindo daquele jeito que só pode significar uma coisa: ele está aprontando.

Depois de comer meu bolinho e ele insistir tanto, eu vou tomar um banho e vestir algo apresentável. Opto por um vestidinho verde cheios de florzinha com a saia toda rodadinha e mais justo na cintura e para os pés rasteirinhas.

Faço babyliss nos cabelos e capricho sempre na maquiagem. Para hoje escolhi um batom matte vinho.

− Estou pronta!

Lucas está me esperando na sala vestido calça caqui, uma camiseta azul-marinho e sapatos preto.

Ela está me filmando com o meu próprio celular.

− Eu não estou entendo nada, Lucas. – Dou uma risada sem entender porque ele está tão animado.

− Vamos lá ou vamos chegar atrasado. – Ele pega as chaves do carro e descemos de mãos dadas.

Ele está tão cheiroso!

Eu adoro seu perfume. É tão suave.

Lucas usa o mesmo perfume desde os quinze anos e o cheiro é tão característico e combina tão perfeitamente com ele que não consigo imaginar nenhum outro cara usando o mesmo perfume.

− Lucas, quer me falar o que está acontecendo? – Pergunto de uma vez.

Já estamos dentro do carro faz dez minutos e ele não me disse nada. Mas também não para de sorrir.

− Estamos quase chegando. – Ele garante.

Chegamos um parque na cidade vizinha. Um parque muito grande, cheios de arvores, onde normalmente amigos e familiares vêm para fazer piquenique ou andar de bike ou skate.

Assim que descemos do carro Lucas volta a pegar a minha mão e me guiar.

Será que vamos ter uma tarde de lazer?

Não faço ideia! Estou começando a ficar tensa.

Adentramos o parque e eu olho para todos os lados atenta a qualquer pista. Mas não vejo nada que possa me dar respostas. Somente quando vamos nos aproximando do único prédio no meio de tanto verde que serve como auditório, é quando vejo a multidão de pessoas à minha espera.

Assim que me vêm as pessoas começara a gritar enlouquecidas, tirar fotos mesmo de longe, sorriem, acenar. É como se eu fosse uma celebridade importante.

− O que é isso? Quem são essas pessoas?

− Eu organizei seu primeiro encontro com seus leitores. Bom, espero que tenha gostado. Aproveita!

Ele ficou ali parado, distante, e eu sabe-se lá como caminhei sozinha em direção aquelas pessoas.

Eu não sabia ao certo o que estava sentindo. Era uma mistura de satisfação, alegria e nervosismo.

Não dava para acreditar que o Lucas tinha preparado tudo isso sem eu saber ou desconfiar de nada.

Como foi que ele conseguiu?

E ninguém me disse nada!

− Vocês são uns traidores, sabia? – Foi a primeira coisa que eu disse antes de ser abraçada por todos os lados.

Eram pelo menos umas cem pessoas.

E era a primeira vez que nós tínhamos esse tipo de contanto tão íntimo e pessoal. Cara a cara. Longe do computador ou do celular. Olho no olho. Pele com pele.

A sensação era das melhores.

No começo eu estava tão nervosa por estar rodeada de tantos olhares, mas eles eram tão especiais e bons para mim, que logo me fizeram ficar mais à vontade. E eu fui relaxando até sentir que éramos amigos há muito tempo.

Tirei muitas fotos, recebi vários abraços e elogios, ouvi tantas coisas que me fizeram chorar e perceber que meu trabalho valia a pena cada sacrifício, ganhei inúmeros presentes e cartinhas e até dei autógrafo.

Até então eu não tinha noção do quanto eu era querida ou conhecida na internet. Até então eles eram só números e agora estava diante de mim, sorrindo, me olhando com admiração. E aqueles números de repente tinha rostinhos queridos que eu queria apertar só para ter certeza de que eram reais.

A maioria do pessoal tinha a minha idade ou eram alguns anos mais novos. Não sei quantas vezes ouvi o quanto eu era bonita e o quanto eles queriam ser iguais a mim um dia. A responsabilidade era imensa. Saber que de alguma forma pessoas se inspiravam em mim e me tinham como espelho e exemplo.

Foi demais para o meu coração. Eu chorei sem vergonha de borrar a maquiagem. E o Lucas, o cretino do Lucas, ficou só de fora, filmando tudo com o seu celular.

Quando ele finalmente se aproximou foi como se tudo estivesse completo. Lucas passou o braço em volta da minha cintura, beijou minha bochecha e se virou para o pessoal com o sorriso mais bonito que eu já tinha presenciado.

− Lucas! – Algumas meninas o abraçaram e tentaram tirar fotos com ele.

Lucas foi todo educado e gentil com cada uma delas.

Era como se ele tivesse nascido para aquilo.

− Vocês são tão fofos juntos. – Disse uma menina baixinha com o cabelo loiro quase branco.

− Vocês se combinam tanto! – Disse outra com os cabelos cacheados e volumoso. A coisa mais linda!

Elas queriam tirar fotos de tudo, inclusive de nós dois juntos. Lucas e eu apenas nos entreolhávamos, achando graça de tudo. Já estávamos acostumados com esse carinho nas redes sociais, mas pessoalmente era mais forte.

Eu fiquei ali conversando com eles, tentando dar atenção ao máximo de pessoas que eu conseguia, mas as cinco da tarde eu já não aguentava mais minhas pernas. Minha bochecha doía de tanto sorrir para fotos. Sem contar que eu estava faminta, não comi quase nada o dia todo.

Lucas e eu tivemos que nos despedir, mas eu garanti que faria mais encontros como esse em outros lugares.

Ao final do dia eu estava radiante. Explodindo de tanta alegria. Completamente realizada e agradecida.

A parte mais difícil foi enfiar as inúmeras sacolas de presentes e cartinhas no carro. Eu ganhei muita coisa!

Não esperava por nada disso.

− E aí, gostou? – Lucas se virou para mim antes de ligar o carro para irmos embora.

O céu havia ganhado um novo tom de azul mais escuro, misturado com tons de laranja e rosa.

Era impressionante.

− Eu amei a surpresa! – Sorrimos um para o outro. – Obrigada, Lucas. Hoje você me fez a garota mais feliz de todas pela oportunidade de conhecer alguns dos meus leitores.

Ele pegou a minha mão e beijou.

− Você merece, Manu.

Um beijinho na mão não era o bastante. Eu tinha que senti-lo. Ter certeza de que ele era real e estava ali fazendo parte de um dos dias mais especiais da minha vida.

Me aproximei dele com toda a dificuldade que existia entre nós com aquela separação de bancos. Puxei-o para mais perto e enlacei-o com meus braços.

− Saiba que você é um dos principais motivos da minha alegria. – Digo com dificuldade, com a mão em seu rosto.

Ele também leva sua mão quente e macia até o meu rosto e me puxa devagar. Sem tirar os olhos cor de caramelo dos meus. Por um momento eu fico nervosa e umedeço os lábios. Acho que ele vai me beijar. Mas porque deveria?

Só porque ele fazia por mim o que ninguém mais fazia?

Fecho os meus olhos, tentando bloquear tais pensamentos. É ridículo. As palavras de Helena me afetaram mais do que deveria e me fizeram acreditar no que não existia. Eu não sentia nada pelo Lucas além de carinho e amor de amigos e irmãos. Então porque eu estava sentindo essa coisa tão estranha dentro do estomago?

Lucas apenas depositou um beijinho na minha testa. Foi quando abri meus olhos e tive a certeza do quanto eu era boba por ter imaginando certas coisas. Era mais do evidente que o que ele sentia por ele era o mesmo que eu sentia por ele. Nada além disso. Nada além de bons amigos e grandes irmãos.


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Notas finais do capítulo

Sei que vocês vão ficar irritadas por a Manu ser tão bobinha e cega. Mas entendam! É dificil pra ela, imaginem só. Deve ser uma coisa muito louca. Vocês não acham?