Shikashi!! escrita por Uma Qualquer


Capítulo 19
Jingle Bad


Notas iniciais do capítulo

Vocês estão prontas pra fazer merda crianças?



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Então chegou dezembro, e com ele vieram as temidas provas do segundo período, que deixavam a escola toda a beira de um ataque de nervos. Os Kagamines, sendo os pequenos gênios que são, eram dos poucos que nem esquentavam a cabeça; por outro lado eu me descabelava pra estudar e dar conta dos mangás, assim como o Kaito e a Gumi. As provas foram realizadas uma semana antes do feriado e quando acabaram, senti que minha alma tinha sido sugada temporariamente pelos estudos.
Mas então chegou o glorioso feriado, a véspera de Natal. Era hora de pôr a prova a teoria do Len e ver em quantos pedacinhos o meu coração era capaz de ser esmigalhado, porque o que tá ruim sempre pode piorar.


O dia tinha amanhecido coberto de neve e com perspectivas de uma noite bem gelada. Bom, eu ia precisar mesmo esfriar a cabeça mais tarde... Enfim, não dava mais pra adiar, certo?
Hora de ir pra forca.
Minha mãe me levou pra fazer as últimas compras da ceia. Íamos ter bastante visita em casa naquela noite, já que meus tios e os trezentos filhos deles estariam conosco. É, aqueles que nos hospedaram durante o incidente das baratas (irrrc!).
— Você podia ter chamado a sua amiga – mamãe dizia enquanto escolhia vinhos na prateleira do supermercado. – Ela e aquele irmão bonitão...
Revirei os olhos diante dos risinhos dela. – Aff mãe, eles vão cear em casa. A namorada dele vai estar lá também.
— Ah é? Bem que eu imaginei que ele já fosse comprometido...
— Pois é.
— Mas e aquele garoto de echarpe azul? Por que não convida ele?
— Porque se alguém mais entrar naquela casa hoje à noite, ela vai explodir – respondi.
Mamãe fez um biquinho diante do meu mau humor e eu acabei suspirando. – Olha, vou dar uma conferida nos chocolates e já volto.
— Aproveita e traz mais cinco panetones!
Enquanto eu me espremia pra passar entre os corredores apinhados de gente que fazia compras de última hora, pensei por um momento no Kaito, e em como devia ser deprimente uma festa de Natal naquela mansão imensa e vazia. Será que os empregados tinham folga no Natal e o Kaito ficava sozinho, ou com o mordomo dele? Imagina não ter família nenhuma pra te dar presente ou pelo menos te fazer companhia... E eu ali, reclamando dos meus trezentos primos e tudo mais. O mundo era mesmo injusto.
Quando cheguei na seção de bombonière o Kaito foi completamente varrido dos meus pensamentos. A Gumi estava diante da prateleira de barrinhas de chocolate, escolhendo sabores, enquanto a Yukari estava ao lado dela, uma cesta de compras numa das mãos.
As duas estavam de mãos dadas.
— Miku-chan – Yukari exclamou ao me ver, e a Gumi rapidamente soltou a mão dela.
— Oi... – respondi, me aproximando hesitante das duas.
— Fazendo as últimas compras também? – a Gumi perguntou, tranquila como sempre. – Acabei deixando pra cima da hora... Você viu o tamanho das filas nos caixas?
— É, eu vi – murmurei.
Por algum motivo não conseguia parar de encarar a Yukari, e ela acabou baixando o olhar. A Gumi percebeu e me deu um sorriso.
— A Luka-san vai estar lá em casa hoje à noite, e eu não queria ficar segurando vela – disse. – Como você vai estar ocupada e os pais da Yukari estão viajando, achei que ia ser legal ela ficar com a gente.
— Hm... É mesmo. – "Praticamente um encontro duplo", pensei.
— Bom, acho que já temos chocolate o bastante pra fazer a torta – Yukari comentou, antes que o clima ficasse mais constrangedor.
— É mesmo – Gumi conferiu a cesta e virou-se pra mim. – Mas você ainda vai passar por lá hoje à noite, certo?
— Ah, claro... Vou sim.
Me despedi das duas e saí do corredor, um tanto desanimada.
A Gumi me escondendo o lance com a Yukari, eu tendo que me declarar pra o Gakupo com a noiva dele por perto...
Aquela noite não tinha como acabar bem, de jeito algum.




Pus um vestido escuro, meia-calça escura e grossa, casaco e luvas pretas. Sabe como é, pretinho básico vai bem com tudo, especialmente se você está prestes a ficar de luto. Acrescentei uns lacinhos de cor laranja nas marias-chiquinhas pra quebrar o clima fúnebre, passei um pouco de perfume e consultei o celular. Tinha uma mensagenzinha, da Rin.
[Feliz Natal e boa sorte Miku-chan! ♥ ♥ ♥]
Sem ânimo pra responder, larguei o celular e desci as escadas. Minha mãe estava atacada na cozinha, ajudando minha tia a servir o jantar a todos os convidados enquanto meus primos menores corriam pela casa inteira.
— Vou dar uma passada na casa da Gumi – avisei a mamãe.
Ela deu uma boa olhada em mim e ergueu a sobrancelha. – Por que está toda de preto, menina?
— É mais quentinho.
— Parece que tá indo pra um enterro, credo. – Ela apanhou a bolsinha de trocados dela no bolso do avental e meteu algumas cédulas na minha mão.
— Pra que isso? – perguntei confusa. – Já tô com meu cartão do metrô aqui...
— Oras, vai chegar na ceia dos outros de mão vazia? Vai parecer que foi lá só pra comer.
— Mãe, eu nem vou demorar – falei impaciente. – Não vou comer nem nada.
— Mesmo assim, é de bom tom que a visita leve algo para o jantar, nem que seja um vinho barato.
— Eu sou de menor, não posso comprar bebidas. Além do mais, acho que não tem nada aberto a essa hora da noite...
— Deve ter alguma confeitaria ou loja de conveniência, é só procurar. Anda menina, deixa de problema e seja uma pessoa educada. E tome cuidado, as ruas estão cheias de neve. Não chegue muito tarde!
— Eu já disse que não vou demorar...
Saí de casa zonza com as recomendações da mamãe. Sério, acho que o grande pesadelo dela seria alguém lhe dizer que a única filha dela é uma mal-educada.
Havia bastante gente circulando pelo centro da cidade. As decorações natalinas piscavam aqui e ali, nas fachadas dos prédios, nas marquises das lojas. Na praça havia um coro de estudantes cantando músicas natalinas, e havia pinheiros enfeitados por todos os lados. Procurei alguma loja aberta que vendesse doces ou algo do tipo, e então vi um café em frente à praça, com vários tipos de torta na vitrine. Perfeito!
Em todos os lugares parecia ter algum sininho tocando. Dentro do café o cheiro era delicioso e o ar tão quentinho e confortável que nem me importei em esperar um pouco mais até ser atendida. Pedi duas fatias de torta de nozes e esperei mais um pouco, observando os clientes conversando nas mesas, sem pressa de voltar ao frio da rua e chegar ao meu árduo destino...
Mas eu não podia ficar escondida no café o resto da noite, né. Suspirando desolada, fechei a porta atrás de mim e voltei para a praça.
Por algum motivo, na noite de Natal vários casais se reúnem em demonstrações públicas de afeto. Havia até uma seção no parque destinada a eles, bem iluminada e especialmente decorada. Os casais riam e trocavam carinhos entre si, e eu sentia vergonha e inveja só de pensar em olhar pra eles... Mas precisava chegar ao outro lado da praça pra seguir meu caminho em direção à casa dos Kamui, e não tava a fim de contornar a praça, quando podia simplesmente cortar caminho por ela. Então, respirei fundo e passei pela seção dos namorados.
Minha mão apertava forte a alça da sacola do café, enquanto eu pisava duro e não olhava pros lados, seguindo em frente obstinadamente. Os casais obviamente tinham mais com o que se preocupar do que uma trouxa solitária passando por eles, então nem me notaram. Passei por alguns bancos ocupados sob uma teia de luzes piscantes coloridas, um pinheiro gigante cercado por mais bancos (também ocupados), alguns grupos e duplas que estavam de pé mesmo, e outros aparentemente de passagem. Não reparava muito neles, e me esforçava pra não reparar. "É feio olhar", minha mãe sempre diz. E não vamos começar a desperdiçar quinze anos de boa educação logo agora, certo?
Meu único e maior temor era, por acaso, acabar esbarrando no único casal que eu realmente esperava não ver naquela praça. Gakupo e a futura Kamui Luka-san (isso se ela quiser mudar o sobrenome, algo que não tenho muita certeza). Mas era besteira, eles deveriam estar em casa a uma hora daquelas. Pro meu infortúnio eterno.
Já estava alcançando o limiar da praça e respirava aliviada; mais um casal e pronto, liberdade. Eles estavam entretidos debaixo de uma árvore, que infelizmente ficava bem no centro do meu campo de visão. Tentando achar um jeito de desviar sem que me notassem, reparei numa coisa que me fez parar na mesma hora.
Cabelos roxos e longos.
Mas a pessoa não era alta como o Gakupo. Tinha a minha altura e porte físico, era uma garota mais ou menos da minha idade. E junto com ela, outra garota, de cabelos curtos e verdes. Tinham as testas coladas uma na outra e sorriam cúmplices, e provavelmente teriam se beijado, se o som da minha sacola caindo no chão não tivesse interrompido as duas.


 


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Notas finais do capítulo

Primeiramente: a você que leu até aqui, meu muito obrigada!! Segundamente, todo meu carinho e gratidão tanto aos comentadores de sempre, quanto aos que marcam presença por aqui sempre que podem. As últimas reviews me levaram pro céu, eu só caí de lá porque tinha uns compromissos pra resolver. E aí chegamos no terceiramente: me desculpem por ainda não ter respondido, a facul ta apertando nesse finzinho de período e a fic só não vai atrasar porque uma parte dela já tá pronta. Ainda assim eu sinto muito mesmo, sei que vocês se dedicam bastante na hora de comentar o que acharam da história, então não se preocupem que vou responder a vocês assim que estiver tudo bem por aqui. E você que está lendo pela primeira vez ou é um fantasminha camarada que nunca se manifestou, incorpore-se na caixa de reviews! Vou demorar uns dias mas vou trocar uma ideia contigo sim, e vai ser um prazer, assim como com todos os leitores ♥
Em suma, mais uma vez valeu o apoio! Espero que tenham gostado do cap mesmo ele sendo curtinho assim. Eu nem quis fazer omake pra não quebrar o clima porque o próximo capítulo vai ser tenso ao extremo, então se preparem²!
Beijas pessoas, e te maisinho :*****