Shikashi!! escrita por Uma Qualquer


Capítulo 18
Hoje a festa é sua


Notas iniciais do capítulo

Todos nossos sonhos serão verdade... Não, pera



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/658967/chapter/18

A casa de karaokê tinha algumas salas destinadas a pequenas festas. Uma sala dessas tem o tamanho de uma sala de aula, mas com poltronas confortáveis junto às paredes no lugar de carteiras, e uma tela de projeção onde ficaria o quadro-negro. No centro da sala fica uma mesa grande, e ao redor dela, espaço suficiente pras pessoas circularem e dançarem.
Ah, e um globo de discoteca também. Tenho certeza que minhas aulas seriam bem mais legais com um globo de discoteca no meio da sala!
Enfim, divagações à parte. A reserva das tais salas de festa custava o olho da cara, mas como agora eu era uma assistente de mangaká assalariada, o céu era meu limite! Tá, o salário era meu limite. Mas eu tinha o bastante pra alugar a sala por uma noite inteira! Ok, não sobrou quase nada pros presentes e pro resto da festa, mas eu nem precisei gastar tanto. A Gumi adorou a ideia e nem ligou de se apertar um pouco pra conseguir uma grana a mais. Economizamos bastante comprando o bolo e outros petiscos com a Cul, que nos cobrou bem barato (porque convidamos ela e o clube de culinária inteiro pra festa). O Gakupo contribuiu com os refris. A música ficava por conta do karaokê, e pra decoração, só precisei encher as paredes com os artistas de k-pop preferidos da Rin e as flâmulas do time de vôlei preferido do Len. Voilà!
Ok que no fim do mês eu não tinha dinheiro pra um palitinho de Pocky's. Mas o que a gente não faz pelos amigos, né?

 

 

 


Convidei por volta de trinta pessoas, de modo que a sala ficou lotada. Minha recomendação no convite era que mantivessem segredo absoluto sobre a festa, o que quer dizer que logo a escola inteira ficou sabendo, inclusive os Kagamine. Mas os dois adoraram assim mesmo, então estava tudo bem.
Acho que a surpresa da festa foi a Sadako, digo, a Luo-chan atacando de dj. Ela por acaso tinha uma pickup e perguntou se eu não ia precisar de música adicional na festa. E bem, como eu sabia que o pessoal não ia ficar cantando a noite inteira e que alguma hora alguém ia querer dançar, achei uma boa pedida. Até porque a Luo-chan animou a festa pra caramba e o melhor, não cobrou nada!
— Todo mundo já chegou – a Gumi me mostrou a lista dos convidados enquanto esperávamos em frente ao karaokê.
— Ótimo – apontei pro outro lado da avenida, onde os Kagamine tinham acabado de descer no ponto de ônibus. – Avise o pessoal pra eles se prepararem e apague as luzes.
— Certo. Ah, pega aqui – ela me estendeu duas faixas de tecido preto.
— Valeu!
A Rin chegou na frente, parecendo uma princesinha com sua bata de seda verde-claro sobre o jeans. O Len até que estava bonitão, de calça escura e camisa social branca. Mas pela cara fechada dele, acho que a foi a Rin que tinha forçado ele a se vestir direito uma vez na vida.
— Pra que isso? – ele resmungou quando amarrei a venda ao redor dos olhos dele. – A gente já sabe da festa...
— Shh, calado, senhor aniversariante. Já que a festa não é mais surpresa, me dê ao menos o prazer de ver a sua cara quando chegar lá!
Ele bufou irritadinho, enquanto a Rin choramingava.
— Vai borrar o meu rímel, Miku-chan...
— Vai nada. Vou deixar bem folgado. Assim, tá vendo?
— Não tô vendo nada...
— Perfeito!
Peguei nas mãos dos dois e fui guiando eles pelo corredor. A Gumi esperava do lado de fora da porta e ao nos ver, fez sinal pra mim e entrou rapidamente.
— Vê se olha por onde anda– o Len ainda reclamava. – Se você quebrar meu outro braço...
— PARABÉEEEENS PRA VOCÊEEEEES...
Puxei as vendas dos dois ao mesmo tempo. Estavam diante do bolo de aniversário deles, com velinhas acesas em forma de L e R. Mesmo no escuro dava pra ver as carinhas abobadas dos irmãos, enquanto todo mundo cantava parabéns.
— É disso que eu tô falando – tirei uma foto deles com o celular disfarçadamente, e voltei a bater palmas. – Vou guardar essa fofura toda pra posteridade!
Depois dos parabéns o bolo foi cortado, uma sessão de fotos se iniciou (e se estendeu por uns minutos, porque eu tinha convidado o fã-clube Kagamine inteiro) e os presentes foram abertos. Eu nunca tinha visto aqueles dois sem graça de tão felizes na vida; tinham até dado um tempo na atuação dos irmãos tsundere.
Meus presentes pra eles foram um conjunto de presilhas cintilantes pra Rin e um par de munhequeiras pro Len. Coisa bem modesta, mas eles me abraçaram até eu sufocar. Entre um monte de coisas a Rin ganhou uma laranja de pelúcia, o Len ganhou fones de ouvido novos e ambos receberam um par de jaquetas com as cores combinando (dadas pelo fã clube Kagamine).
Então, a festa estava indo às mil maravilhas. Havia pessoas dançando aqui e ali, enquanto algumas conversavam animadas nas poltronas. A Rin estava nas nuvens porque tinha ganho um colar lindo do Kaito, e embora eu soubesse que ela estava tentando com todas as forças não interpretar isso como algum tipo de sinal, era evidente que só poder conversar com o Kaito estava deixando a noite dela mil vezes melhor.
É, eu sinto a sua dor, Rin-chan.
Me certifiquei de que todos estavam bem servidos, levei um prato de doces pra Luo na pickup e dei uma olhada na festa. A luz do globo refletia em vários pontinhos por toda a sala, dando um ar mágico ao local. Sim, estava tudo perfeito.
Mas estava faltando alguém.
Vi a Gumi falando com a Yukari junto à porta, muito entretidas. Me armei de coragem, convencida de que não estaria interrompendo nada, e fui até elas.
— Gumi, – perguntei – o Gakupo não vai poder vir?
— Oh, não – ela falou, parecendo muito consternada de repente. – Esqueci de te avisar. Ele me deixou responsável pelas bebidas, porque talvez não saísse do trabalho a tempo pra festa.
— Mas ele ainda pode vir, certo? Tenho certeza de que o Len e a Rin gostariam muito...
— Então... – a Gumi segurou minhas mãos, me olhando em tom de confidência. – Acontece que a Luka chamou ele pra jantar hoje à noite!
Senti o rosto inteiro enrijecer; fiz tanta força pra sorrir que até doeu.
— Ah... Que máximo isso... Legal mesmo.
— Né – a Gumi prosseguiu animada. – Eles já estavam se falando normalmente, mas nada de reatarem. Mas já que ela tomou a iniciativa, acho que isso vai mudar hoje à noite!
Sorri dolorosamente em apoio. Ela então apanhou o celular, que estava vibrando em seu bolso.
— Olha, falando no diabo – ela riu. – Espera só um pouco, Miku!
Enquanto ela falava com o Gakupo, vi a Cul se aproximar de nós. Tinha uma bandeja vazia nas mãos e nos olhava ansiosa.
— Hatsune – murmurou pra mim, espiando a Gumi. – O irmão dela não vem?
Me virei pra ela interessada. Qual o interesse da Cul no Gakupo? Então lembrei do festival escolar e tudo fez sentido.
— Ele tá jantando com a ex-namorada nesse momento – afirmei categórica.
Ela ficou branca feito cera. – Ex... Ex-namorada?
— Não por muito tempo.
Tive que ser curta e grossa, infelizmente. Mas era melhor desfazer as ilusões dela, ou íamos ter que criar um grupo de apoio pra garotas iludidas com o Gakupo. Um 'Trouxas Anônimas'.
— Ok– ela se afastou emburrada.
— O que deu nela? – Yukari perguntou curiosa. – Não estava com cara de muitos amigos.
— Acho que é a cara normal dela – respondi.
A Gumi tinha acabado de desligar o telefone e agarrou minhas mãos outra vez, agitadíssima.
— Miku-chan...
— O que foi? – perguntei preocupada. Tinha acontecido alguma coisa?
— ...Eles vão se casar!






De repente, me pareceu difícil de respirar naquele lugar irradiando felicidade. Eu sorri pra Gumi o sorriso mais doloroso da minha vida, arranjei uma desculpa qualquer e dei o fora dali.
O ar gelado da rua bateu em meu rosto como um novo insulto. Pisquei devagar, ouvindo o rumor dos veículos na avenida como um som bem distante. Então me apoiei de costas na parede do prédio, o olhar perdido, os pensamentos vazios. A dor em meu peito me parecia a única coisa real naquele momento.
— Noite ruim?
Só então percebi que o Len estava bem ao meu lado.
— L-Len-kun – exclamei alarmada. – Aconteceu alguma coisa?
— Ah, nada – ele sorriu tranquilo, voltando o olhar pra rua. – Vim tomar um pouco de ar, só isso.
— Ah, tá – respondi aliviada. – Pensei que tivesse algo de errado na festa.
— Não, a festa tá perfeita. Valeu mesmo, Miku-chan.
Sorri de leve e baixei os olhos, fitando as pontas dos meus pés. Pelo menos, tinha dado tudo certo...
— Elas estão juntas, não é – ouvi ele dizer num murmúrio. – Gumi-chan e Yukari-senpai.
— Não sei – respondi, meio perturbada. – Quero dizer, a Gumi não me contou nada.
— Mas elas parecem estar juntas, não?
Me virei pra ele. – Você ainda gosta da Gumi?
Len balançou a cabeça. – Queria poder dizer que não... Mas sabe como é.
É, eu sabia.
— Vai ver elas só parecem estar juntas, porque você tá morrendo de ciúmes delas – opinei.
— Pode ser.
Ficamos em silêncio, contemplando o neon dos outdoors e o movimento noturno das ruas. Meus pensamentos pareciam voltar a trabalhar agora, de modo que a dor no peito diminuiu um pouco.
— O Gakupo e a Luka vão se casar.
— Oh – ele murmurou. – Sinto muito, Miku-chan.
— Len... ­– olhei pra ele aflita. – Eu tenho mesmo que me declarar pra ele? Só saber que nunca vamos ficar juntos já não é tristeza bastante pra mim, eu preciso mesmo passar por essa humilhação?
— Por isso eu disse que sinto muito, Miku-chan – ele respondeu. – Você precisa.
Franzi a testa, confusa.
— Sabe, eu ainda gosto da Gumi– Len contou. – Gosto mesmo, e me sinto estranho vendo ela com a Yukari. Sinto inveja da Yukari. Mas, se eu não tivesse me declarado pra Gumi antes, se eu não tivesse arrancado isso do meu peito pra ela, eu estaria bem pior agora.
— Então... Se eu me declarar pro Gakupo, ao menos vou me sentir um pouco melhor depois?
— Acho que sim.
— E não vou sentir só vergonha e frustração eterna?
— Não mais que agora, imagino. Mas se você contar, mesmo que o Gakupo não te corresponda, ele vai reconhecer que você sente algo por ele. Seu sentimento vai ser real. E não é mais fácil lidar com coisas reais do que as coisas que só estão na sua cabeça?
Uau. Quando foi que o Len virou esse projeto de psicólogo?
— Tá – eu sacudi a cabeça levemente. – Então basicamente você quer que eu me declare porque deseja o melhor pra mim?
— Digamos que sim.
— E quer mesmo que eu acredite que isso ainda é vingança por você não poder jogar no campeonato de vôlei desse ano?
— Hmm, depende – ele riu. – Quer mesmo que eu acredite que a festa de hoje não foi pra me amolecer e fazer com que eu desista da aposta?
Revirei os olhos. Era mesmo impossível de lidar com aquela peste.
— Pra sua informação eu não tive segundas intenções, tá – resmunguei. – Queria gastar meu primeiro salário em alguma coisa especial, por isso pensei no aniversário de vocês.
— Comovente – ele assentiu. – Só por isso, vou pagar todos os lanches que você quiser até o fim do ano.
— Que ótimo, eu estava mesmo pensando em dar uma passada no Mc Donalds depois daqui...
— Ei, nem tenta abusar de mim hoje. Ainda sou aniversariante, lembra?
Sorrimos um pro outro. De repente a rua parecia gelada demais, e a festa cheia de gente e barulho e as comidas deliciosas da Cul era um lugar bem mais convidativo.
— Então é melhor voltarmos, senhor aniversariante, ou você vai perder toda a festa.
— Verdade – ele me estendeu o braço, como um perfeito cavalheiro. – Ainda não ouvi você cantando hoje, senhorita promotora de festas.
— Nem vem. Já tenho micos demais pra um ano inteiro, e o Natal ainda nem chegou.
— Então, vai mesmo deixar pra cima da hora?
— Você me deu um prazo, certo?
Ele me olhou como quem diz 'você é quem sabe', enquanto eu pegava o braço que ele me oferecia.




Omake!

— Como assim, você é dj?
Len encarava abismado uma Tianyi muito vermelha atrás da pickup (ela tinha dado um intervalo na música para os convidados usarem o karaokê).
— É que... Meu pai trabalha com isso, eu sempre gostei e ele me ensinou. Eu sei que é estranho, pra uma menina e tudo mais...
— Estranho? – Len deu um sorriso empolgado. – Não cara, isso é muito daora! Então, o seu pai te ensinou a fazer mixagem?
Tianyi pareceu aliviada por Len não a achar esquisita por ser dj. Contou a ele como arranhou dezenas de vinis do pai, entre muitas outras coisas. E pelo resto da noite, o Len até esqueceu que a Gumi e a Yukari estavam na festa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Uma mãe escritora e um pai dj... Seria meu sonho? *-*
Esse cap foi especial pra todos que leem a fic, junto com meu muito obrigada a vocês por acompanharem até aqui. Aos leitores fantasminhas (aproveitem e ganhem vida comentando aqui!), assim como a Minoran, Laurien, De Morango Bolo, Gably Chan, todos que marcam presença com reviews lindas, e a Any Rebel que recomendou a fic, meu muito obrigada a todos! Vocês são uns amorzinhos ♥ ♥ ♥
Os próximos caps vão ser um pouco tensos, mas prometo que tudo vai terminar bem. Beijas a todos, e a você que leu até aqui, té maisinho :****