Tudo o que Dean pôde dizer aquela hora foi esse "você"... Ele estava tão devastado, que não associou logo de cara quem era aquele rapaz de olhos verdes quase iguais aos seus, só que um ou dois tons mais claros... Ele estava em uma espécie de transe, ele nada ouvia ou sentia, quer dizer ele sentia sim, mas apenas um desepero imenso tomar conta dele por não ter mais o seu amigo. Ao longe, ele ouvia vagamente a voz de Sam tentando acordá-lo, mas Dean não queria saber de mais nada... Ele foi voltando aos poucos a realidade, quando uma frase de sam o trouxe por completo:
– Vovô? Henry? É você? - Sam o olhava incrédulo.
– Não Samuel, eu não sou o seu avô. Ele apenas me emprestou o corpo dele para que eu viesse ajudá-los e protegê-los. - responde o rapaz.
Ao analisar as feições dele, Sam logo vê as diferenças. Assim com Henry, ele tinha uma forte presença, mas os olhos diferiam dos azuis originais de seu avô. Eram verdes, como os seus e os de Dean, porém mais claros, cristalinos, que ao mesmo tempo transmitem conforto e proteção, irradiam também força e decisão. Ele estava quase se apresentando, quando Dean o reconheceu:
– Miguel! - Dean agora exalava raiva - Veio tripudiar de nós? Ver o nosso sofrimento?
Miguel espera pacientemente que Dean coloque pra fora tudo o que está sentindo, pois Miguel sabe que guardar certas coisas, nos deixam mais amargos para com tudo e todos. Até mesmo quando Dean veio pra cima dele com os punhos fechados e socando o seu peito, ele não fez menção nenhuma de se proteger. No fundo, ele sabia que merecia isso.
– Está feliz? O seu irmão, meu melhor amigo, morreu! Morreu como um herói e vocês ligam pra isso? Não! Nenhum dos pomposos alados sequer se dignou a vir nos ajudar, ajudar o irmão mais corajoso, que errou é verdade, mas fez de tudo para consertar seus erros! Que parou a merda do apocalipse que eles começaram! Que me salvou de mim mesmo, que via a bondade que eu insistia que não existia em mim! Que caiu de todas as formas porque ele acreditava em mim...
Nessa frase, a voz de Dean quebrou. As lágrimas descendo por seu rosto, rolando pelas suas bochechas infladas de desepero até cair no sobretudo que ele estaca segurando, como se isso trouxesse Castiel de volta. Ele para de bater em Miguel, apoiando seus pulsos fechados no peito daquele anjo que está usando a casca de seu avô e abaixa a sua cabeça soluçando.
Miguel fita aquele rapaz tão forte e decidido, quebrado a sua frente, que o seu intinto de irmão mais velho faz um gesto que ele julgava que poderia acalmar Dean um pouco: ele o abraça com força, acariciando seus fios loiros, tentando através desse abraço, transmitir conforto e paz que o jovem Winchester tanto precisa.
Sam apenas observava a explosão de Dean. Mas ao ver o irmão quebrado daquela forma, ele quase interferiu, quando viu uma cena que liberou as lágrimas que ele estava segurando pela perda de Castiel - o abraço que Miguel deu em Dean e mais ainda quando Dean aceitou o abraço, soluçando. Ali, Sam entendeu de imediato o que Miguel queria fazer. Ele sendo o mais velho, se preocupa com seus irmãos e vendo Dean daquela forma, ele fez o que qualquer irmão mais velho faria, consolaria o mais novo.
Miguel pronunciava algumas palavras estranhas, em enoquiano provavelmente, acalmando Dean. Logo, ele se liberta do abraço de Miguel, encarando-o. Ambos olhos verdes se encontraram e Dean percebe que Miguel realmente queria ajudar. Ele tenta esboçar um sorriso, mas o cansaço de tudo o que aconteceu o pega de uma vez, fazendo-o desmaiar, sendo amparado por Miguel. Sam ainda tenta ajudar Miguel, que apenas olha para Sam, meneando a cabeça em uma negativa.
Pegando Dean no colo, ele sinaliza a Sam para se aproximar e segurar sua mão. Cautelosamente, Sam o faz e Miguel apenas sorri. O que veio a seguir, foi um momento muito lindo, mesmo que Sam irá negar até o fim de sua vida. Miguel abre suas asas. Dois pares de asas, maravilhosamente brancos, que irradiavam uma luz perolada que acalentava e fazia a dor diminuir em Sam.
Não sabendo se era cansaço, Sam envolve Miguel em um abraço, em total abandono e confiança ao arcanjo, adormecendo em seguida, que sem dificuldade segura os dois e os leva ao seu refúgio, ao lugar que eles chamam de lar.
Chegando ao bunker, Miguel os coloca com delicadeza na cama de um quarto, que pela decoração, era de Dean. A intensidade do dia deixa Miguel com um nó em sua garganta. Antes eles eram petulantes, não respeitando os anjos. Mas vendo-os confiar plenamente nele, despertou uma emoção diferente ao arcanjo.
Proteção. Eles poderiam não ser profetas, mas mesmo assim Miguel decidiu ser o protetor máximo deles. Quem tentasse pôr as mãos neles, na criação de seu Pai, seus irmãos, iria sentir a ira celestial a fundo...
Miguel se retesou ao pensar nisso. Eles eram filhos do seu Pai também, o que fazia deles seus irmãos... O pensamento não causou repulsa a Miguel, apenas orgulho. Mas ele precisava agir. Tocando a testa de ambos, ele os coloca em um sono de descanso, livre de pesadelos e volta ao céu. Encontrando Josué, ele expõe um plano que certamente deixou Josué estupefato...