Simples Desejo escrita por Nah


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!!



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Só se passou um dia e eu já sentia todos os meus músculos reclamarem por estar tanto tempo inerte. Alexandre realmente estava exagerando. Minha cabeça já não doía, devido há tantas horas que passei dormindo – era o que me restava fazer.

Encaro o armário de vestidos em meu quarto e nos segundos seguintes estou trocando meu robe por um vestido casual. Calço botinhas e escovo os cabelos, deixando-os soltos. É quase o almoço, e sei que encontrarei Margaret na cozinha. E é pra lá que eu vou.

A me ver, Margaret arregala os olhos.

– Menina Rosie, você deveria estar na cama.

– Não aguento mais ficar deitada, Margaret. Já estou me sentindo melhor. – ela faz uma careta desagradável.

– O senhor Herman não gostará disso.

– O senhor Herman está exagerando. – me aproximo dela, interessada em sua ocupação. – O que está fazendo?

– Polindo a prataria.

– Te ajudarei então.

Ela até tenta pestanejar, mas não dou o braço a torcer. Enquanto a ajudo com a prataria, posso notar seus olhares e sorrisos para mim.

– Você faz isso muito bem, mas realmente não precisa, minha senhora.

– Estou acostumada a fazer este tipo de coisa.

Margaret franze o cenho. - Você não é como nenhuma das mulheres que já vieram aqui.

– Muitas antes de mim? – pergunto, sem entender o porquê de meu interesse.

Ela apenas sorri sem jeito e balança os ombros. Sim, muitas. Afasto o pensamento. Pego as pratarias e as levo para serem guardadas em um armário de vidro.

– Por qual motivo você acha que vamos nos casar? – continuo, querendo saber se a verdade de que ele me sequestrou está nos ouvidos de todos.

– Bem, acredito que ele está encantado na senhora, e a pediu em casamento. A senhora aceitou, certo? – sorrio, sem saber o que dizer. – Você é o assunto na cidade.

Paro para observá-la polindo as ultimas pratarias, suas mãos se movendo com habilidade. – Eu? Por quê?

– Sabe, o senhor Herman nunca pareceu que iria casar-se um dia. Houve muitas mulheres, mas nenhuma ficou. Pelo fato de estar sempre solteiro, ele é bastante requisitado.

– O senhor Herman é tão importante assim?

– Ele é um importante marquês. – isso explica muita coisa.

– Ele é tão novo.

– Sim, apenas 24 anos.

– Sabe onde ele está agora? – tento parecer desinteressada.

– Acredito que resolvendo negócios na cidade.

Ouço o bater de uma porta e passos em seguida. Alexandre surge à cozinha, como em resposta a minha pergunta. Acredito que não me nota, pois entra na cozinha com o olhar perdido, enquanto tira seu chapéu.

– O almoço está pronto, Margaret? Estou com muita fom... – sua frase morre a me ver, assim como suas ações. Seu rosto, agora, com raiva. – O que você está fazendo aqui?

– Não comece. Estou cansada de ficar naquela cama.

Ele me olha incrédulo. – E eu estou cansado de você desobedecendo minhas ordens. Para a cama, Rosie!

– Não. – cruzo os braços, o enfrentando.

Alexandre abre a boca para falar algo, mas acaba por fecha-la. Em um movimento rápido, me ergue e joga-me sobre o ombro. Solto um gritinho, surpresa e sem acreditar no que ele está fazendo.

– Ponha-me no chão, Alexandre.

Ele me ignora, e continua nos guiando em direção as escadas. Vejo de relance Margaret sorrir com carinho para nós. Ela nos aprova juntos?

Em meu quarto, Alexandre fecha a porta atrás de nós. Faz com que eu desça de seu ombro, lentamente, de modo que todo o meu corpo desliza pelo seu. Quando meus pés tocam o chão, nossos rostos estão a centímetros um do outro, nossos olhos conectados. Eu tento quebrar o contato, mas não consigo me mover – mal consigo piscar –, meu corpo não responde, apenas reage ao seu chamado.

Ele abaixa seu olhar até minha boca e sorri, daquele jeito lascivo, e sei que fez isto de proposito. Afasto-me, cruzando os braços.

– Você é um ogro. – ele continua a sorrir, achando graça de algo desconhecido para mim.

– Acho que você já pode começar com os preparativos do casamento.

Bufo. – Quero distancia disso.

– Não está animada para nosso casamento, querida? – ele despeja todo sarcasmo na palavra e eu quero bate-lo.

– Estou animada para o fim dele.

Alexandre solta uma risada. – Para seu infortúnio, isso não ocorrerá.

– Realmente. Para ter um fim, precisa ter um começo. E, acredite senhor Herman, esse casamento não terá.

Alexandre dá um passo em minha direção, o olhar desafiador para mim. Eu recuo imediatamente.

– E o que você irá fazer? Fugir? – cada palavra dita de tal forma que deixa claro sua descrença nisso.

– Jamais revelarei meus planos.

Ele ri, enquanto dá passos pelo quarto, me fazendo pequena diante de sua presença. Sinto-me como uma presa e ele o predador, estudando cada movimento meu a fim de dar o bote perfeito.

Preciso sair daqui.

– Sei que não tens um plano, Rosie. – ele para e me encara com astucia. – Não tente fugir. Eu te pegarei de qualquer jeito, e isso só desgastará mais a nossa convivência. E como você irá passar o resto de sua vida comigo, eu espero que ela seja a melhor possível.

Balanço a cabeça, incrédula, sem saber se rio ou se choro.

– Por que está fazendo isso? Você não me ama – certamente me odeia – e irá sacrificar toda a sua vida para estar ao meu lado? Podendo ter qualquer mulher que quiser, por que está fazendo isso?

– Por que falas tanto em amor? Quantos casais lá fora você acha que se casaram por amor? Você poderia contar nos dedos.

Sei que meu rosto transborda tristeza, mas não me preocupo em esconder. – Eu serei um deles.

– Você não tem escolha, Rosie.

Pisco apenas uma vez, e isso é o suficiente para derramar as lagrimas que eu nem sabia que estavam ali. Sinto-me de repente desesperada, e avançando sobre Alexandre, agarro seu braço.

– Pare com isso. Por favor. Deixe-me ir, eu preciso do Hugo. Aquelas crianças do orfanato precisam de mim.

Nega com a cabeça. – Se eu não me importasse contigo, te deixaria ir.

– Você não se importa. Só está fazendo isso por causa da sua vingança estúpida. – eu grito. Realmente grito. Sem me importar com o que ele pensará, com o que os outros pensarão.

Continuo a chorar incessantemente, balançando a cabeça em negativo diversas vezes. Alexandre pega a mesma entre as mãos, e, me aproximando dele, aperta-me contra seu peito. Escondo meu rosto em seu pescoço e penso que deveria me afastar, mas não consigo. Sinto apertar ainda mais seu abraço quando eu retribuo o mesmo. Eu choro e ele apenas afaga-me as costas. Ficamos assim por imensuráveis minutos.

Tenho a vaga sensação de que ele deita-me à cama, mas antes que eu possa debruçar-me sobre esse pensamento, sou vencida pelo sono.

*

Sinto algo balançar-me o ombro. Abro os olhos, encontrando Margaret próxima à cama.

– Desculpe te acordar, minha senhora. Mas acredito que deva descer para receber a senhora Thomas.

Pisco os olhos diversas vezes, confusa. – Receber quem?

– Senhora Thomas. Acredito que está aqui pelos preparativos do casamento.

Ah, não. Alexandre. – Eu não quero ir.

Margaret olha para mim e pela sua expressão sei que não sabe o que fazer. Suspiro grosseiramente. O que faço com esse homem?!

Levanto da cama, decidida a descer, mas apenas para dispensar os serviços da senhora Thomas. Esse casamento não acontecerá e essa será a primeira prova disto que darei a Alexandre.

Desço a escada acompanhada por Margaret, que me conduz até o grande salão onde geralmente tenho aulas da senhora Bauer. Nela uma mulher que aparenta estar na casa dos 40 anos de idade e um jovem rapaz me aguardam.

– Olhe só para você! Será uma bela noiva. – ela se aproxima de mim, agarrando ambas as minhas mãos. Abro a boca para tentar me pronunciar, mas ela continua. – Eu sou Judith.

Judith é, digamos que, espalhafatosa. Em seu vestido enorme em diversos tons de verde cheio de babados e camadas de pano, o jeito como ela se expressa e fala só deixa isso mais evidente. Tento diversas vezes falar, mas ela apenas não para de dizer como tornará tudo uma maravilha e em como meu casamento será o melhor dia da minha vida. Se ela soubesse...

Em algum momento ela para – para meu alivio – e pergunta meu nome.

– Rosie.

– Oh, Céus, que nome mais lindo. Combina com você. – ela aperta meu rosto entre suas mãos de um jeito bem escandaloso. – Agora chega de falatório. Vamos ao trabalho. Erick, os vestidos.

O homem que está a acompanhando surge com diversos vestidos de noiva e os coloca a minha disposição.

– Uau. – é tudo que consigo dizer diante de roupas tão belas. Perco-me em cada tecido, em cada seda, cada bordado. Brilhos e grandes camadas do mais macio tecido deixam tudo ainda melhor.

Eu tento, realmente tento, acabar com aquilo tudo, dizer que não haverá casamento. Mas o jeito exuberante de Judith e como ela me apresenta àquele mundo acabam por me envolver. Passo o restante da tarde assim, perdida naquele mundo, imaginando como seria feliz estar fazendo tudo àquilo por amor.

Em algum momento, Judith se retira do salão, deixando-me sozinha com Erick. Permaneço absorta em um sapato, na tentativa de não precisar olhar para o homem. Ele tem me cortejado durante toda à tarde, descaradamente.

– Acredito que este combine mais contigo. – ele mostra-me outro sapato, e eu sorrio ao perceber que ele é realmente mais lindo ainda. Levanto-me para pega-lo, e arregalo os olhos ao sentir que Erick tocou meu rosto com as pontas dos dedos.

Eu me afasto, mas não rápido o suficiente para impedir que Alexandre veja e joga-se para cima de Erick.

– Mantenha suas mãos imundas longe da minha noiva. – Alexandre vocifera, enquanto agarra a gola da camisa de Erick com brutalidade, a raiva emanando de cada poro. Erick parece um cachorro assustado e nada faz. Com medo de que Alexandre faça alguma besteira, avanço sobre ele, tentando puxa-lo para longe.

– Ei, para com isso Alexandre! – puxo-o com mais força, enquanto ele continua a fulminar Erick com o olhar. – Vamos, vem comigo.

Com algum esforço consigo fazê-lo ceder. Erick permanece sem reação, enquanto nos vê sair do salão. Arrasto Alexandre até próximo à escada. Ele ainda está furioso.

– O que você pensa que estava fazendo? – o confronto, ele aumenta sua carranca.

– Como assim o que eu penso? Ele estava tocando a minha noiva. Deveria voltar agora e quebrar sua cara.

Seguro seu braço antes que ele tome alguma atitude. – Não precisa disso tudo, Alexandre. Jamais deixaria aquilo se prolongar.

– É claro que precisa. Você é minha.

Sorrio, tentando sufocar um risinho. – Está com ciúmes, senhor Herman?

Ele me olha parecendo incrédulo, como se eu tivesse o insultado. – Com toda certeza que não.

Meu sorriso aumenta quando arqueio as sobrancelhas, o desafiando. Tenho a leve impressão de que ele irá explodir a qualquer momento.

Soltando-se com força de meu aperto em seu braço, ele dispara pela escada, praguejando, enquanto o observo do limiar da escada – meu sorriso crescendo cada vez mais.


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