Sentado na mesa da cozinha tomando um chá, espero a chegada de Naruto com meus pedidos. Sakura ainda está no quarto, dormindo eu acho. Já faz algumas semanas que estamos “isolados” aqui, literalmente. Shino, Nagato e Deidara ficam monitorando o perímetro da casa, checado as câmeras e me passando as informações. Os momentos que temos juntos são raridade e, desde modo, tenho apenas Sakura como companhia 24h.

Nesse tempo que passamos aqui, nos aproximamos e muito. Não posso negar isso. Aos poucos me adaptei a sua presença, as conversas no café da manhã. Comecei a apreciar essas conversas, apreciar bastante. Moro sozinho desde que entrei para a ANBU e a maior parte do tempo, eu passo sozinho. Não me incomodava, pois já tinha me acostumado com isso, mas, desde os últimos acontecimentos e eu ter acabado como guardião de minha vizinha, nunca parei para pensar em como eu era, como eu sou, solitário.

“Você sempre será solitário” diz a voz na minha cabeça.

Talvez ela esteja certa. Talvez eu esteja fadado ao isolamento, no das contas.

A campainha toca. Deve ser Naruto com minhas coisas, espero.

— Como vai Teme? – gritou Naruto socando meu braço.

— Ai idiota.

—Trouxe sua encomenda e umas coisinhas mais. – diz entrando na sala colocando as sacolas na mesa.

Ele está igual a última vez que o tinha visto. Seus cabelos loiros desarrumados, olhos brilhantes especulativos e sorrindo como um idiota. Continua o pé no saco de sempre.

— Como vão as coisas aqui? Cadê a Sakura?

— Vão bem, nenhuma novidade. – Minto – E no departamento?

— Tudo um saco, a não ser pelo Sensei.

— O que tem o Kakashi?

— Cara ele pirou. Não quer saber mais de nada. – ele bebe meu café.

— Como assim?

— Ele passa o dia todo lendo Icha Icha Paradise.

O que? Não acredito que ele está de novo caminhando para seu lado pervertido. Da última vez foi quase impossível traze-lo de volta.

— Como você deixou isso acontecer Naruto? – vocifero. - Deixei tudo em suas mãos caralho.

— Eu não tenho culpa. Ele já é adulto e eu tenho mais o que fazer. – retruca.

Olho para ele incrédulo. Tenho mais o que fazer? Que porra é essa. É só eu ficar fora que tudo vira uma zona?

— Não me olha com essa cara Sasuke.

— Não? – pergunto friamente.

— Não. Eu fiz o que eu pude.

— Fez mesmo?

— Fiz sim e mudando de assunto, onde ela está?

Onde está quem?

Temos assuntos urgentes para tratar e ele quer mudar de assunto. Minha vida está um caos. Com certeza um caos.

— Acho que está dormindo. – Lembrei que ele se referia a Sakura.

— Então vamos acorda-la.

Ele anda na direção oposta ao quarto, indo para a biblioteca. Ai meu Deus como ele é lerdo.

— Naruto. – O chamo e ele para olhando para mim. – O quarto é daquele lado. – Indico com um movimento de cabeça.

— Mas aquele é o seu quarto e a Saku.... – Ele para de falar e me olha espantado. Depois o espanto passa e dá lugar a um olhar que eu conheço bem, bem até demais.

— Ela está dormindo na sua cama, Teme? – indaga com uma voz manhosa e um olhar que diz Você é um putão Uchiha.

Que coisa ridícula. Saio andando na frente e ele começa a gritar freneticamente um monte de baboseiras que, para minha sanidade, não me dou o luxo de ouvir.

— Sasuke, você não fez o que eu estou pensando não ne. – diz ele, parando na minha frente impedindo que eu continuasse.

Que chatice. Olho para ele com aquela cara de Não é da sua conta e continuo a ir para o quarto tirando ele da minha frente. Ai agora tenho que lidar com mais essa.

— Cara eu não acredito que você fez isso.. – Grita vindo atrás de mim. – Seu putão desgraçado.

— Cala a boca. – Grito de volta.

Abro a porta do quarto e vejo que Sakura não está mais na cama. Ela deve ter ido para o banheiro. Pego a colcha para estender e vejo que a sangue nos lençóis, muito sangue.

— Uau, que beleza de quarto. – Naruto solta um assobio correndo os olhos pelo local.

Vou até o banheiro procurar por Sakura, pois aquele sangue todo me deixou preocupado, muito preocupado. Meu Deus.

Quando abro a porta, não acredito no que os meus olhos veem e eu oscilo. Sakura está caída, recostada contra a parede, pálida e com as pernas e o chão cobertos de sangue.

— Caralho. – Corro e me sento no chão, colocando ela em meu colo. Ela está tão pálida, tão fria e seu rosto angelical está contraído numa expressão de dor, coberto de suor.

— Sakura. Sakura está me ouvindo. – Digo pegando seu rosto. Ela abre os olhos, mas é como se eles não me enxergassem, ela não me via.

— Sa... su... ke..- sua voz sai num fio, entrecortada pelo folego.

Tão fraca. Ela está tão fraca e frágil. Meu coração se aperta. O que está acontecendo?

— Naruto, liga pra emergência. – Grito tentando reanima-la um pouco. – Rápido Naruto.

— O que está acontecendo.... Merda – Naruto chega no banheiro e se assusta com o que vê.

— Liga rápido, por favor. – Digo. Estou desesperado.

— Não vai dar tempo. Vamos, Sasuke, rápido. – Ele pega Sakura nos braços e sai com ela do banheiro.

Me levanto e o sigo. Ela a colocou na cama e estava no telefone falando com não sei quem. Corro até ela e a pego. Merda, merda, merda. O que está acontecendo caralho.

— Pega um cobertor no closet, ela está muito fria. – Digo.

Sem demora, Naruto chega com um cobertor e enrolo Sakura nele. Seus cabelos estão grudados no rosto molhado de suor. Olho para os lados e a cama está toda manchada de sangue. O sangue dela.

— Vamos rápido Naruto. Ela está perdendo muito sangue. – Minha voz sai desesperada. Estou entrando em pânico.

Tem tanto sangue, tanto sangue. Suas pernas brancas como marfim estão completamente manchadas pelo rio de sangue saindo de dentro de si. Nunca vi nada igual.

— Para onde? – Naruto interrompe a ligação, olhando para mim perplexo.

— Para o hospital. Liga para o Shino e diga para nos esperarem nos carros. Estamos indo. – Pego Sakura nos braços e saio com ela as pressas do quarto indo para o carro.

Com as mãos cobertas de sangue, Naruto pega algumas coisas no closet e me encontra na sala.

— Eles já estão prontos. – Diz abrindo a porta para mim.

A tempestade nos acaricia o rosto quando saímos para fora. Cubro o rosto dela com o cobertor e entramos depressa dentro do carro.

— Para onde senhor? – Pergunta Shino, sentado no banco do motorista.

— Para o hospital, rápido. – digo acariciando o rosto de Sakura.

Naruto está sentado no banco do carona e me olha com preocupação e sorri amarelo ao dizer:

— Vai ficar tudo bem.

— Promete? – digo exasperado, apertando Sakura contra meu corpo. Não posso perde-la. Não agora.

Ele me olha com pena e um misto de esperança. Eu devo estar um caco.

No meu colo, Sakura murmura algo que não consigo ouvir. A aconchego ainda mais no meu colo e dou um beijo demorado em seus cabelos.

— Vai ficar tudo bem anjo. Tudo bem. – Digo tentando acalma-la. – Vai ficar tudo bem.

No fundo, bem no fundo, estou dizendo isso mais para mim do que para ela. Tenho que me acalmar, tenho que manter a calma para poder ajuda-la, para não a perde-la. Eu não posso perde-la e não vou.