Legami Di Amore escrita por Tahii


Capítulo 34
Spada e bastoni


Notas iniciais do capítulo

OLÁ, OLÁ, OLÁ!

Pela graça de Merlin chegamos ao penúltimo capítulo e eu não poderia estar mais derretida. Obrigada a todos que estão acompanhando até aqui, aos comentários do último capítulo e a toda paciência com esses valetes, reis e damas ksksksks Passamos dos 100 favoritos, estamos pertinho dos 500 acompanhamentos, MUITO OBRIGADA! E, claro, Nathalianath obrigada pela linda recomendação! De verdade, muito obrigada ♥

Vamos à algumas explicações antes de começarmos.

No cap anterior vimos que a prisão do Al é, na verdade, um plano do Ernesto para fazer o "convidado de honra" aparecer. Nas cartas de Roxanne ficou faltando um valete aparecer. "Nada fez sentido para ele, até perceber que uma importante peça lhe havia sido tomada"

Oito de ouro (ciclo), valete de paus (?), três de espada (mentira), dama de ouro (?), rei de ouro (?), dois de espada (conflito), rei de copas (Scorpius), valete de espada (Ryan), oito de ouro (ciclo)

"— Os oitos de ouro simbolizam o ciclo em que essas cartas se encontram. Três de espada é mentira, dois de espada é conflito — Roxanne suspirou enquanto abria os olhos, fazendo um movimento circular com o ombro na tentativa de aliviar sua tensão. — O valete de paus tem conflitos com a dama de ouro e com o rei de ouro, e está ajudando o valete de espada em algo contra o rei de copas."

O capítulo terminou no Ernesto aparecendo na casa dos Weasley, certo? Vamos ver o que aconteceu para ele decidir ir lá.

Todos os flashbacks (de trechos passados) estarão em itálico!

Boa leitura ♥

► PLAYLIST
https://www.youtube.com/watch?v=tNx1y8AXZxw&list=PLm_bv0SbG68UdaGyxvje2S6Vyd79Z5tmc

*Spada e bastoni = Espada e Paus



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Algumas horas antes de ir à casa dos Weasley, naquele mesmo dia, Ernesto se encontrava em sua sala na Seção dos Aurores. Ele girava de um lado para o outro com a cadeira de rodinhas, tentando se distrair com algo capaz de fazer o tempo passar mais rápido. 

Deixou o quartel muito tempo depois que os Weasley foram embora, mas sequer dormiu mais do que duas horas inteiras, acordando de madrugada com o pensamento a mil. Às seis da manhã já estava em sua sala, colocando algumas papeladas em dia e esperando o valete aparecer à porta; ao meio dia deu algumas garfadas no almoço para enganar seu estômago, às duas e meia da tarde mordiscava os cantos das unhas, preocupado por nada acontecer e já ter se passado quase vinte e quatro horas do antídoto de Rose Weasley. Teria dado um passo em falso contra si mesmo? 

Parecia óbvio em sua mente: o grande valete de paus, o traidor, era alguém próximo de Scorpius, e provavelmente seria uma das primeiras pessoas a ser contatada sobre o que houve com o garoto Potter. Havia duas opções: ou ele permaneceria com McLaggen ou enxergaria uma oportunidade quase única para conquistar uma pena mais branda. Torcendo para que esse valete fosse minimamente inteligente e de caráter duvidoso, Ernesto manteve o olhar fixo, e ligeiramente perdido em devaneios, no teto. Já passava dez minutos das três horas quando ouviu batidas na porta. 

— Entre — endireitou-se na cadeira, o estômago acidificando pela ansiedade. 

— Tem um rapaz querendo falar com você, Ernie — a secretária do quartel, uma senhora quase idosa, abriu passagem para uma figura desconhecida pelo Macmillan. Alto, de pele negra, olhos cor de mel e uma feição de quem estava quase entrando numa combustão sem volta. 

— Obrigado, Amelia — levantando-se, estendeu a mão para o rapaz. — Por favor, sente-se. Em que posso ajudar, senhor...? 

— Zabini. 

— Em que posso ajudar, senhor Zabini?

— Eu tenho uma confissão. 

Confissão? — repetiu, mordendo o interior de sua bochecha. 

— Sei que há um inquérito aberto sobre o envenenamento de Rose Weasley, e que Alvo Potter foi detido por um possível envolvimento — Ernesto assentiu, atento à forma como os os dedos inquietos do rapaz batucavam os braços de seu assento. — Tenho algumas coisas para contar. 

— Pois bem, sou todo ouvidos — o auror estendeu a mão, fazendo um objeto retangular saltitar até sua mesa. Era um gravador, pequeno e semelhante a uma caixinha de música; gostava de chamá-lo carinhosamente de caixa de pandora, por sua capacidade de gravar a voz e, posteriormente, reproduzir quando aberta. 

— A única forma que Alvo se envolve com tudo isso é pela posse de alguns objetos que foram usados. 

— Quais?

— Asfódelo, presas de cobra em pó, capa da invisibilidade. 

— Esses objetos foram furtados de Alvo Potter?

— Sim. Eu os peguei de seu malão. Dividimos o dormitório em Hogwarts desde o primeiro ano, e ele sempre guardava suas coisas lá dentro, desde roupas até objetos minúsculos, papéis, tudo. O malão é enfeitiçado para caber tudo isso. E desde que ele começou a se interessar por poções, ele guarda os ingredientes que consegue com Slughorn e com o professor Longbottom. 

— Eu odeio você, Adam Zabini, odeio — Alvo grunhiu dolorosamente ao abrir o seu baú no dormitório, e praticamente sozinho. Scorpius estava terminando de ajeitar sua gravata para irem tomar café da manhã, enquanto que o Potter remexia o baú em busca de sabe-se lá o quê.

Ao chegarem no grande salão, Alvo foi tirar satisfação com Adam por causa da bagunça gigantesca em suas coisas, e Scorpius apenas se sentou para colocar algo em seu estômago.

— Você costumava abrir esse malão com frequência?

— Consideravelmente. O Alvo é muito meticuloso com as coisas de poções dele, mas com o restante não muito, então ele sempre acabava guardando algo meu e, quando eu ia pegar, acabava revirando o malão. 

— E você pegou com qual finalidade?

— Para fazer uma troca com Ryan McLaggen. 

— Vocês são amigos?

— Não diria amigos, mas inevitavelmente conhecidos — o garoto se remexeu na cadeira, cruzando as pernas. Suspirou pesadamente. — Ele e Scorpius sempre tiveram as diferenças deles, mas em geral eu nunca o detestei por isso. O meu problema foi que, durante um tempo, eu me encontrava com a irmã do Alvo e um dia o McLaggen viu, deveria estar observando há um tempo… E como não queríamos que ninguém soubesse, tive que ir falar com ele e, obviamente, ele trocou o silêncio por dois ingredientes que eu não fazia ideia de onde conseguir, mas quando lembrei do malão do Alvo, peguei. Ele poderia ter conseguido esses ingredientes de qualquer jeito, foi apenas azar meu estar no lugar errado e na hora errada. 

— Esses ingredientes foram encontrados na poção que causou o quase aborto de Rose — Ernesto constatou, em voz baixa, estreitando o olhar. — Foi você quem adulterou a poção?

— Tão dedicado. Já disse como tenho orgulho de você? — o tom maldoso denunciava a voz. Scorpius virou-se para a porta com uma cara de pouquíssimos amigos.

— Decidiu virar meu guarda-costas, McLaggen? 

— Pelo o que eu bem sei, seu papai ainda não comprou Hogwarts pra você, Scorp, então eu posso circular por onde eu quiser — Ryan sorria em postura aristocrática, com as mãos para trás e uma expressão de paisagem em sua cara lisa. — Lembro-me bem da última vez que estivemos aqui. Foi tão produtivo.

— Por que não fala logo o que quer e dá o fora? — rolou os olhos, enjoado. Seus ouvidos quase sangraram com a risada desafinada do rapaz.

— Queria apenas matar a saudade desse lugar, Scorpius, estou bem nostálgico ultimamente. Mas vejo que você está bem ocupado com essa sua poçãozinha, melhor deixá-lo concentrado em apreciar os ingredientes do Slughorn e sair daqui para que essa coisa não exploda em mim — o Malfoy nada respondeu, apenas cerrou os olhos ao vê-lo dar alguns passos para trás. — Não se atrase para o jantar, a sonserina não está tão boa esse ano.

De repente, sumiu.

Scorpius ficou aliviado por não ter que aguentar as baboseiras descabidas do McLaggen. Sentou-se em uma banqueta ao lado do caldeirão e ficou assistindo-o a poção mexer em sentido anti-horário até Alvo voltar com a pétala de narciso, o que não demorou muito.

— Não. Deve ter sido ele. 

— Você sabia o propósito de Ryan?

— Também não. Eu fui o último a saber que Rose estava grávida, e quando vi já tinha feito merda. 

— VÁ ATRÁS DO ALVO PARA IREM PARA A ALA HOSPITALAR! — o Malfoy gritou do fim do corredor, deixando apenas um grande ponto de interrogação na feição de Adam.

— SCORPIUS! — a voz de Alvo acordou os três nos respectivos devaneios. — O que aconteceu?

— Não sabemos — respondeu simplesmente, passando a mão pelo rosto. — Hemorragia, possível aborto, envenenamento. Não sei.

— Aborto? — Adam perguntou praticamente para si mesmo.

— Quando houve toda a movimentação após ela passar mal na aula de Herbologia, eu comecei a ligar os fatos, mas eu nunca fui o melhor em poções, e também não pensei que ele estivesse por trás de alguma coisa, ou que queria alguma coisa. 

— Em que momento percebeu que aqueles ingredientes pudessem ter ligação com ele?

— Quando Alvo notou que tinha sido alterada. 

— Foi alterada — ele tocou a próxima pétala em cima da bancada. Havia despertado, enfim, a atenção dos dois rapazes. — Mas eu não... — ele tocou a pétala com o dedo indicador e o polegar, em busca de uma textura diferente. Alvo aproximou a pétala da boca e a soprou, foi quando percebeu partículas de pó grudando nas lentes de seu óculos. — Asfódelo e provavelmente presas de cobra em pó.

— Hã? — Adam franziu o cenho, desentendido.

— São da poção do morto vivo — analisou Scorpius, também tocando a pétala.

— Alguém adulterou, e deve ter enfeitiçado para mexer em sentido anti-horário durante a noite.

[...]

— Rose está grávida, então? Era isso que tinha para me contar? — perguntou o Zabini quase que em um sussurro carregado de julgamentos. Scorpius assentiu. — Por Merlin.

— Depois disso, eu fui atrás do Ryan — pigarreou, suspirando em seguida; as orbes castanhas estavam fixas na pequena caixinha gravadora. — Não foi um bom dia. As coisas estavam estranhas entre eu e o Alvo, e ele acabou distorcendo a história. 

— Em que sentido?

— Eu estava chateado por não saber que Rose estava grávida. Scorpius contou para ele primeiro, quando aconteceu tudo eu estava completamente perdido. Até Ryan já sabia, por isso foi atrás de mim. 

— Claro, Alvinho. Vê se não faz merda — o sorriso cínico de Adam Zabini fez o Potter revirar os olhos antes de sair em direção ao seu usual lugar de encontro com a namorada, algum corredor vazio do terceiro andar. — Inacreditável como a Alice ainda atura ele.

A verdade era que Adam se sentia ligeiramente traído devido ao fato do Malfoy sempre contar as coisas à Alvo, e Alvo retrucava dizendo que a única preocupação do Zabini era dar em cima de sua irmã mais nova e por isso ficava alheio à coisas que realmente importavam, porque o mundo girava em torno do seu umbigo e ele era incapaz de considerar os problemas dos outros como equivalentes ou piores do que os seus — além de ser um bagunceiro com as coisas que não lhe pertencem. Scorpius dizia que os dois estavam agindo como crianças e tudo continuava da mesma forma.

— Então, o Ryan já sabia que Scorpius estava com Rose. Ele passa um bom tempo da vida supervisionando tudo que o Scorpius faz, então… Acabou me usando para conseguir os ingredientes e, depois, apenas colocou combustível numa fogueira já acesa. Ele percebeu que eu estava puto por não saber das coisas e conseguiu me convencer, ao longo dos dias, que eu não pertencia ao elo entre Scorpius e Alvo. 

— E o que você fez?

— Entrei na história dele. Ryan é bem convincente quando quer e os dois não estavam ajudando em nada, sempre pra lá e pra cá cheio de segredos e coisas que eu não sabia. 

Algumas batidas na porta precederam o virar da maçaneta, interrompendo Roxanne. Aparentemente um pouco perdido, a figura de Adam apareceu. 

— O que fazem aqui? — ele perguntou com o cenho franzido.

— O que você faz aqui! — Alvo retrucou, sem olhá-lo. — Não me diga que Lilian está com você ou, pior, que você está com outra garota. 

— A sala está ocupada, de qualquer modo — Roxanne completou, aproximando-se mais de Alvo para cobrir um pouco da visão do caldeirão. 

— Apenas vim avisar que Alice está te procurando. 

— Fale para ela esperar — a voz dele tinha uma certa irritação, que fez Adam respirar fundo.

— Não sou correio, Potter. 

— Nesse dia, você realmente foi avisar ele? — Ernesto interrompeu, fazendo-o negar com a cabeça.

— Precisava saber onde ele e Scorpius estavam para não estragar… O encontro da Torre do Relógio. 

— Fale disso. 

— Depois que eu e os garotos nos distanciamos um pouco, fiquei mais próximo de Ryan e comecei a ajudar ele com algumas coisas que pedia, por exemplo… Contar como a Rose e o Scorpius estavam. Quando eu percebi o que ele estava fazendo, pensei que não teria mais volta, sabe? Como chegar para o Scorpius e dizer que eu ajudei o McLaggen a quase fazer a Rose subir pro céu? Não dava! — ergueu as duas mãos, aumentando o tom de voz gradativamente, parecendo frustrado. — Então, eu segui, esperando um momento de sair fora de uma forma menos danosa. 

— Como diminuir sua pena? — o auror sorriu de canto. — Foi uma boa lógica. Continue. 

— Então, o encontro na Torre do Relógio consistia nele entregar de volta para a Rose o colar que o Scorpius deu para ela no natal. Eu sabia desse colar porque estava com eles. Aí entra outro problema. 

— Outra pessoa, você quer dizer? Lílian, suponho.

— Lílian — assentiu. — Foi ela quem pegou o colar no dormitório da Rose e me deu. 

Despertou de seus devaneios quando ouviu um pequeno ranger. Olhou para o lado e viu que em cima da cômoda de Rose, uma caixinha se movia lentamente de volta ao seu lugar. Por sorte ou azar, a caixinha deslizou para o lado, caindo no chão aberta e deixando todo seu conteúdo a mostra. Brincos, anéis e o colar que Scorpius havia dado para Rose no Natal. As primas trocaram um olhar significativo, e, lentamente, Roxanne empunhou sua varinha, apontando para o nada. 

— Estupefaça! — ela proferiu, não tendo nenhum efeito. Sentiu seu corpo arrepiar conforme movia seu olhar em direção à porta. — Revelio! — a única coisa que aconteceu foi que a porta rangeu. 

Em passos lentos, Roxanne a abriu e olhou para os lados. Quando pisou, descalça, para fora da porta, um insight lhe fez levar a mão ao chão, sentindo o pesar de uma capa. Ao endireitar-se, desvirou o tecido e viu que era a capa de invisibilidade do tio Harry, que provavelmente estava sob posse de Alvo. Deu alguns passos, com Dominique atrás de si. Tudo estava consideravelmente quieto e vazio. A porta do dormitório do quinto ano se abriu, e Lily Luna pôs a cabeça para fora. 

— O Gilbert passou por aí? 

— Acho que sim — ela respondeu, escondendo a capa atrás de suas costas. — Deve ter descido para o salão comunal. 

— Gato arteiro — reclamou. — Não vou salvá-lo caso o Pirraça o encontre. 

— Como a convenceu?

— Dizendo que Scorpius estava pedindo. Ela pegou e eu entreguei para o Ryan. Não sei o que ele fez com aquilo lá, mas estou ciente que fez mal para a Rose, porque a Lilian me contou o que aconteceu. 

— Ela te questionou sobre isso?

— Sim, no final das férias. E eu disse o mesmo que para você. Ryan pediu e eu dei, por que era o que eu tinha que fazer no momento.

— Ela sabe dessa relação de vocês?

— Não. Contei pra ela um dia antes dela embarcar para Hogwarts, parece que a Roxanne perguntou se ela conversava com o McLaggen. 

— Foi você quem perguntou o endereço da casa dos Weasley, deduzo.

— Sim, eu disse que iria falar com o Scorpius, já que ele está lá. Ela me contou isso também, porque eu não falo com os garotos desde… A formatura. 

— Entendo. Posso fazer uma pergunta indelicada?

— Claro.

— O que Lilian acha de tudo isso?

— Ainda não está claro para ela, mas foi o suficiente para terminar comigo através de uma carta alguns dias depois. Não estávamos necessariamente namorando, mas… Enfim. 

— Certo. Então o senhor furtou os dois ingredientes que adulteraram a poção, ajudou Ryan a conseguir o colar de Rose, forneceu informações essenciais… Algo além disso?

— Sim — Ernesto arqueou as sobrancelhas, surpreso. — Talvez isso possa ajudar você. Ryan me disse que faria uma visita quando o bebê nascesse, porque precisava dar um presente para ele. 

— Presente? Que presente?

— Eu não sei, mas não esperaria nada menos do que um artefato de magia negra. Ele disse algo sobre ter que ser rápido.

— Adam… Quando você ficou sabendo do plano dele?

— Plano? Eu nunca soube inteiro. Depois que percebi que precisava ajudar ele para depois ajudar o Scorpius e o Alvo, tentei me aproximar, mas os detalhes ele nunca contou. Essa visita ele comentou quando me pediu o endereço, então suponho que seja por esses dias. 

— Não sabe o propósito dele?

— Hm, não. Ryan é uma pessoa estranha, nunca gostou de Scorpius e tem uma tendência a fazer coisas só para demonstrar um suposto poder. 

Adam precisou de mais alguns minutos para terminar de falar, e já passava das cinco horas da tarde quando Ernesto foi à casa dos Weasley conversar com Scorpius. Notificou Ronald e Harry sobre o garoto Zabini, delinearam um plano para o McLaggen e, mesmo embasbacado com tudo que ouvira, o auror tentou passar para o garoto Malfoy o panorama geral da situação para tentar minimizar os efeitos colaterais. Fitando os olhos acinzentados cheios de lágrimas, porém, não teve tanta certeza de que isso seria, de alguma forma, possível. Por mais perto que estivessem do fim, poucas coisas seriam capazes de apagar o trajeto até ali. 

Scorpius, por sua vez, sentia-se frustrado, traído, ingênuo e demasiadamente perdido. Em seu entendimento não conseguia mais delimitar as próprias convicções claramente. Estava preocupado com Alvo, precisava dele para conversar, para dividir a tormenta de seus pensamentos e buscar uma luz para lhe guiar ao fim daquele túnel sem perder a razão; mas ele estava longe. Queria Rose normal, ou pelo menos que a esperança de que tudo se resolveria fosse fortificada; mas ela também estava longe. E, céus, ele não fazia ideia do quão longe. O Malfoy teve forças para ouvir o que Ernesto tinha a dizer, conversar com Ronald e Hermione, ver Roxanne desmoronar em ódio, e esperar por Ryan McLaggen apenas porque sua vontade de ter de volta Alvo e Rose eram maiores do que os seus medos, ressentimentos ou qualquer outro anseio. 

Às nove horas daquela noite, a casa dos Weasley parecia vazia por tamanho silêncio. Ronald, Hermione e Roxanne estavam no andar de cima junto com Rose, ainda adormecida, e Leo. Segundo Ernesto, Zabini havia se prontificado a dizer para o McLaggen que os pais da garota não estariam, o que renderia uma boa oportunidade para ele levar o tão estimado presente. A emboscada poderia ou não funcionar, Adam poderia ou não estar mentindo, mas todos seguiram os passos do plano. 

Durante quatorze minutos, Scorpius permaneceu sentado numa poltrona da sala, quieto, olhando a porta e esperando seu desagradável não-convidado; o coração batendo forte como se quisesse sair do peito, as mãos suando frio, os pés inquietos, a respiração falha. Pegou-se fechando os olhos por instantes sem fim, sendo desperto para a realidade quando um barulho de aparatação precedeu o ruído que preencheu os ouvidos, arrepiando-lhe dos pés à cabeça. Ao abrir a porta, o sorriso de Ryan McLaggen lhe recepcionou. 

— McLaggen — saudou com a voz arrastada, direcionando os olhos para a caixa quadrada que ele segurava. — A que devo a honra? 

— Gosto da forma como a ironia combina com você, Scorpius. Vim trazer um presente para o seu pequeno tesouro. Não vai me convidar para entrar? — lutando contra seus verdadeiros desejos, Scorpius lhe cedeu passagem. O máximo que ele havia chegado era até a ponta da escada no fatídico dia que levara as malditas tulipas azuis para Rose, o que não o impediu de dar passos largos até a sala e sentar-se no canto de um dos sofás marrons. — Bela casa, mas não se compara a sua mansão em Wiltshire, é claro. Tem ficado por aqui? 

— Por que pergunta como se já não soubesse? — inquiriu, voltando à poltrona que antes estava acomodado. Ryan riu, deixando a caixa no assento ao lado. — Afinal, duvido que alguém tenha te contado sobre o nascimento de Leo. Deixamos de ter amigos em comum há um tempo.

— A imprensa cumpre essas lacunas sociais, Scorpius, não é como se você tivesse fodido uma sangue-ruim qualquer, hum? Ela é a filha dos heróis. Não é? As pessoas estão comentando, acredito que seu avô Lucius deve estar muitíssimo contente com a ruína de vocês. 

— Ruína? — repetiu, fitando-o diretamente nos olhos castanhos brilhantes de uma certa alegria patológica.

— Não acha que seja a palavra adequada? Onde está Rose? E o bebê? Quero muito conhecê-lo — desconversou, indo para o seu objetivo primordial enquanto passava a mão pelo braço do sofá. 

— Rose está tomando banho e receio que não poderá ver Leo, conseguimos fazer ele dormir a muito custo — mentiu. O olhar de Ryan parecia brilhar, tão incisivo quanto suas palavras.  

— Posso esperar que ela termine, então. Está tudo bem com vocês? Parece um pouco abatido… Você e Rose estão com problemas? 

— Problemas? — fora a vez de Scorpius rir. — Devo dizer que a hipocrisia combina com você, McLaggen, embora não seja algo que me agrade profundamente. 

— Zelar pela vida dos meus amigos se tornou um crime, Scorpius? 

— Você me considera um amigo? 

— Claro que sim. Por que acha que estou tão empenhado em te ensinar essa valiosa lição? — pendeu a cabeça sobre o ombro, achando graça da súbita austeridade no rosto pálido do Malfoy. — Amigos de verdade permanecem para sempre. Talvez não entenda isso, ainda mais com dois estrupícios como Potter e Zabini. 

— O que está dizendo? — inquiriu, remexendo-se na poltrona, incrédulo pela calma dele em proferir tais coisas desconexas. 

— Eu entendo que não deve estar sendo fácil para você aceitar que seus grandes amigos te traíram, mas você vai ter que começar a aceitar isso cedo ou tarde. Não é tão inteligente quanto pensa que é, no final das contas. Realmente espero que possa aprender algo com tudo isso. 

— Aprender o quê? — inclinou-se sobre os joelhos, prestando mais atenção do que nunca na tranquila feição de Ryan. — A manter distância de pessoas como você? 

— Não podemos descartar pessoas, Scorpius — negou com a cabeça, apoiando o queixo na mão fechada em punho. — Alguém já te disse isso alguma vez? 

O ar faltou ao Malfoy na medida em que percebeu que não fazia ideia dos absurdos que poderiam estar perambulando pela mente perversa daquele rapaz. Franziu o cenho, temeroso, e sentiu as pontas dos dedos gelarem. 

— É um hábito seu, eu receio, poder jogar coisas foras e comprar novas, mas a vida real não funciona assim e eu estou te mostrando isso na prática. Você não acha que foi muito cômodo para você se tornar melhor amigo do Potter? — perguntou com falsa cautela. 

— Por que teria sido? 

— Ah, claro, eu me esqueci da sua incapacidade de se colocar no lugar do outro. Eu, Scorpius, particularmente não achei cômodo por ter ficado de fora da sua nova bolha colorida, muito menos por ter a nossa amizade arruinada. 

— Os méritos são seus, não entendo o que Alvo tem a ver com isso. 

— Claro que não entende. Sua capacidade de compreensão não vai muito além do seu próprio umbigo. Nem cogito a hipótese de você se lembrar por que deixamos de ser amigos.  

— Porque você é um idiota e ficou com a Amber mesmo sabendo que eu gostava dela. 

— Você estava muito ocupado com o Potter para lembrar da minha existência, não achei que isso seria algo de outro mundo. Você tem preferências excepcionais para garotas, Scorpius, devo dizer. Não pensei que você se importaria dela trocar você por mim, de qualquer forma — deu ombros. — Como eu disse, não podemos descartar pessoas. Mas você não entendeu isso na época. E, vejamos bem a realidade… Do que adiantou virar amigo do Potter se ele está envolvido no envenenamento da garota que você… Engravidou? Não vamos nem falar do Zabini, hum? Um grande traíra que fodeu você por causa da irmã do Potter… Eu vi um beijo deles, uma vez, ameacei dar com a língua nos dentes e ele já quis barganhar comigo. Por causa de uma garota. Grande amigo! Você foi o menos inteligente da história. 

— Por ter escolhido eles? 

— Por não ter me escolhido. 

— De que planeta você é para achar que tudo continuaria normal depois de- 

— De amassos descompromissados com uma garota que você achava que gostava? Pensei que superaríamos, afinal, você estava passando boa parte do tempo com o Potter e esse era o maior dos problemas. 

— Você armou esse escarcéu só porque eu e o Alvo viramos amigos? 

— Péssimo tirando conclusões, como de costume — suspirou desolado, passando a mão pelo cabelo. — Quis te ensinar uma lição, Scorpius. O que aconteceria com você caso perdesse os seus grandes amigos, sua namoradinha, seu… Filho? Fiquei chocado quando descobri que a Rose estava grávida, nunca achei que você seria burro a esse ponto. 

— E o que você acha que eu faria depois de perder tudo? — Ryan demorou alguns instantes para responder, não desfazendo seu olhar satisfeito. — Voltaríamos a ser próximos?

— Longe de mim ter amizade com um tipinho fraco como você, Scorpius. Sem ofensas — ergueu os braços. — Ver você levando um pé na bunda, sendo traído, com uma cara um pouco pior do que essa sua agora… Nossa, seria muito bom, eu ficaria muito feliz, se quer saber. Você se sentiria trocado, usado, um lixo, da mesma forma que eu me senti depois de ser excluído da sua vidinha. Você acha que é divertido ouvir falar de alguém que você detesta o tempo todo? Capitão do time de quadribol, o melhor em História da Magia, o que as garotas acham mais bonito, até o Slughorn passou a te bajular depois que virou amigo do Potter. Ou acha que participou do clubezinho dele por causa da sua família? Pelos seus dotes em poção? Me poupe. 

— Está esperando que eu te parabenize pelo esforço? Por ter quase matado Rose? Por ter quase matado o meu filho? Hum? Ou você também não é o responsável e isso tudo não passa de uma falta de perspectiva da minha parte? 

— Culpado — ergueu os braços, sorrindo. — Ou melhor, eu não seria nada sem os seus valiosos amigos. Não se esqueça disso. Mas não ache que eu queria matar a Weasley. Eu queria, na verdade, que ela se apaixonasse por mim e te deixasse a ver navios, talvez de uma forma um pouco mais dramática do que aconteceu com a Amber. Mas, infelizmente, acredito que o seu bastardinho impediu o total efeito da poção... Nada que não possamos ajustar, é claro. Ah, por favor, não esqueça de agradecer o Zabini por ter furtado os ingredientes do Potter, não teria conseguido sem eles. Quer dizer, teria… Foi apenas uma forma de mostrar para você que seus amigos são meio… Corrompidos. 

— Você quase matou um bebê, McLaggen, o único corrompido por aqui é você. 

— Não é como se fizesse uma grande diferença na sua vida ter ou não um filho, Scorpius. Seria um favor, praticamente, e agora você poderia estar chorando por ser abandonado — a ideia fez com que os olhos de Ryan vibrassem. — Mas, eu posso conviver com um enteado tranquilamente, não se preocupe. 

— Repete o que você disse — grunhiu ao se levantar, fazendo-o sorrir mais ainda. 

— O quê? Enteado? Ah, Scorpius, você acha mesmo que ela não vai se render aos efeitos da amortentia? Ele pode ter conseguido impedir o efeito quando estava dentro dela, mas agora ela não vai ter a magia dele e as coisas ficarão mais fáceis. Cedo ou tarde ela vai perceber que — ele se levantou pela aproximação do Malfoy, enfiando as mãos nos bolsos da calça enquanto sustentava o sorriso de canto — você pode ser descar-

De uma só vez e usando toda a força que tinha em seus braços trêmulos, Scorpius acertou o rosto de Ryan com um soco, sentindo o próprio corpo estremecer ao ver o canto da boca sangrando. Ele não revidou. Tocou a própria ferida, contorcendo o rosto numa careta pelo gosto metálico impregnante. Sorriu para o Malfoy, desafiando-o. 

— Não acho que Rose vai gostar de ver isso — ponderou, virando o rosto para a escada. — Sabe que eu tenho sido mais importante do que você, então… Já é tarde para você tentar consertar alguma coisa, o estrago já foi feito. 

"Tarde" talvez fosse a palavra mais marcante da trajetória de Scorpius pelo seu irreverente hábito de postergar a tomada de consciência de fatos impossíveis de serem tratados como secundários. Ele demorou para perceber que amava Rose, demorou para perceber o que estava acontecendo em frente aos próprios olhos, demorou para tomar uma atitude. Quer dizer, não tomou. Aceitou, passivo, todos os golpes desferidos contra seu coração; não havia preparado uma maldita armadura para se defender, não pensou ser necessário, ingenuamente acreditava que seria salvo pelo mesmo culpado de lhe colocar nessa maldita cilada onde quase perdera as pessoas que davam razão a sua existência. Amor. O amor era culpado. Poderia ter amado menos, chorado menos, sofrido menos. Estaria bem, as pessoas em sua volta estariam bem, e a vida seria menos irritantemente dramática. Seria muito pedir, àquela altura, para viver em paz? 

Não ganharia nada esfolando a cara de Ryan no chão, mas não poderia se privar de pôr para fora toda angústia que atormentava seu coração frágil desde o dia em que começou a sentir seus resquícios de vida esvairem pelo vão dos dedos. Talvez se todo o contexto não fosse tão vulneravelmente manipulável, não teriam chegado àquele ponto, àquela horripilante visão de um futuro onde não estaria com Rose, com seu filho, apesar de ter feito o que lhe estava ao alcance. Durante toda a tormenta, Scorpius não desapareceu, não se ausentou da culpa, dos erros, dos desentendimentos, das tristezas e das responsabilidades; ele ficou, simplesmente, onde achou que poderia zelar pelos que haviam tomado seu coração e, com ele, todo seu juízo. Já era claro que faria de tudo por Rose, e embora não soubesse se era possível, parecia amá-la cada dia mais, principalmente quando tinha em seus braços a adorável concretização de toda aquela força intensa que os manteve ligados mesmo sendo tão pequeno, tão indefeso, tão singelo. Se não fosse pela magia de Leo, Rose poderia não ter aguentado a poção adulterada, todas as doses de amortentia, o colar encantado, o labirinto que haviam se metido por excesso de juventude. 

Quando a risada de Ryan o despertou, Scorpius imediatamente lhe deferiu outro soco, e outro, e outro. Segurou a camiseta com força para jogar o maldito verme no chão, chutou suas pernas antes de abaixar-se para continuar golpeando-o. Poderia continuar ali até vê-lo largado, inconsciente, e o teria feito caso não fosse afastado à força por Ronald. Sua visão estava turva, a garganta seca, as mãos trêmulas sujas de sangue, a mente desorientada girando num loop em que mal conseguia reconhecer o Weasley. Ouvia o alto e incessante choro de Leo no andar de cima, o burburinho dos aurores recém chegados. A última coisa que se forçou a prestar atenção fora nas algemas conjuradas nos pulsos de Ryan McLaggen. 




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Notas finais do capítulo

Oito de ouro (ciclo), valete de paus (ADAM!!), três de espada (mentira), dama de ouro (Lily), rei de ouro (Alvo), dois de espada (conflito), rei de copas (Scorpius), valete de espada (Ryan), oito de ouro (ciclo).

Acredito que a explicação do Adam deve ter sido bem didática e espero que tudo tenha se encaixado para vocês hihihi ♥ Quem ficou feliz com o McLaggen apanhando levanta a mão!!!! KKKKKKKKKKKKKKKKKKK aiaiai!

Ainda não terminei de escrever o último cap, porém ainda temos algumas peças para encaixar, não é mesmo?

Espero que tenham gostado! Me contem o que acharam, vamos organizar as ideias na cachola!!

Um grande beijo para vocês! ♥

Ps. Postei uma história nova sobre o nosso querido e lindo Alvo Potter. Quem quiser dar uma olhadinha hihihi

https://fanfiction.com.br/historia/795735/Sorte_no_Azar/