Half Body — Interativa escrita por Meire Connolly


Capítulo 21
Aquele que é morto vivo.


Notas iniciais do capítulo

OLÁ AMORAS DO MEU CORAÇÃO, COMO VOCÊS ESTÃO? Eu vou bem, bem, bem, bem, muito ansiosa por FINALMENTE estar conseguindo postar esse capítulo, enquanto escuto uma música que me lembra muito a Britt Robertson, por motivos dela estar no trailer onde toca a música. By the way, a música se chama Waiting Game. É muito boa. E agora estão escutando Macarena no quintal lá em casa.

Meu tio vai morar em Belo Horizonte (porque eu sou a rainha em mudar de assunto em questões de segundos), e fica muito longe da cidade onde moramos (onde no caso mora a mãe e irmã dele, e a filha de um casamento que não deu certo, e na região também que mora os primos e tios, e blá, blá). Enfim, ele vai morar lá, e estão fazendo uma festa de despedida, e ai minha mãe (que é a irmã dele) começou a chorar, só que eu tenho algum problema, porque se eu a vejo chorar, eu choro também. Ai eu comecei a chorar, e comecei a pensar que futuramente será eu. Se eu conseguir passar na faculdade federal ou estadual, ou vou embora da minha cidade, mas vou para longe, não poderia voltar todo o final de semana. E nossa, isso me deixou tão abalada, que, ai gente, eu não consegui parar de chorar só de ficar pensando na possibilidade de ir embora, porque de certa forma, eu não quero ir embora. Mas eu tenho que estudar. Porque se você não faz uma boa faculdade, tu tem que ter muita sorte e bom para se tornar um jogador de futebol, ou um ator, caso contrário, é pobreza para você (generalizando, e nada contra esse pessoal, só dizendo).

Mas, enfim, vou parar de falar, caso contrário vou começar a a chorar novamente, e eu definitivamente não quero chorar novamente, porque eu odeio com todas as minhas forças chorar, especialmente se tiver alguém me olhando. Felizmente estou sozinha no meu quarto.

Okay, agora eu parei.

Eu teria postado mais cedo, adoraria ter postado hoje mais cedo, but, but, a senhorita aqui esqueceu completamente, e depois eu fiquei focada em assistir Criminal Minds, e baixar The Flash para a minha irmã. Gente, a propósito, vocês assistem Criminal Minds? Ou, é MUITO perfeito, sério, vocês não fazem ideia, nossa, é incrivelmente incrível e perfeito, e porra te faz pensar muito. E se isso acontecesse comigo? E se eu perdesse alguém parente querido de um dia para o outro? E se invadissem minha casa? E se me sequestrassem? São vários pensamentos, e nossa, eu passei a dar muito mais valor nas coisas que tenho, e nas pessoas que ainda tenho ao meu redor, especialmente na minha avó que fez 81 anos dia 26. Assistam! Além de que tem o Matthew Gray Gubler, e na minha opinião, não existe ser mais incrível que ele. Além de que o Spencer é maravilhoso, gente. Assisto a série por conta dele, e da JJ (mentira, todos lá são incríveis, Derek, Penelope, Rossi, Aaron, Emily, Blake, e até mesmo a Erin que eu mal conhecia eu gostava. Adoráveis, assistam!).

Mas ééééééé, o que dizer mais? Ah sim, eu pretendo mudar a forma como titular os capítulos. Não sei se vocês perceberam, mas eu sempre escrevo "O dia que" "A noite que" "A tarde que" "A madrugada que", ao iniciar um capítulo. Pretendo seguir o estilo de Friends e começar com "Aquele que" ou "Aquela que", sabe, algo assim. Só avisando para vocês não estranharem a mudança de titular (se alguma de vocês já chegaram a notar os títulos).

Outra coisa: o banner está uma bosta, sério, mas eu fiquei com preguiça de fazer algo mais elaborado, admito, e também fiquei com preguiça de mudar, então vai ficar esse mesmo.

E boa leitura, espero que gostem de ler esse bônus do Arthur tanto quanto eu gostei de escrevê-lo.

P.s.: ficou um pouquinho grande, viu? Sorry about that.
P.s.²: por conta do tamanho, a revisão foi feito as pressas, e talvez pode conter vários erros, então apenas desconsiderem.



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Twenty-one

History.

21. Aquele que é morto vivo.

Teresa abriu a porta do quarto do Príncipe com um baita receio de encontrar poças de vômitos espalhados — como estava se tornando algo frequente. Entretanto, assim que entrou, pode ver somente um quarto extremamente bagunçado, e um Príncipe enrolado em cobertores. Suspirou aliviada, agradecendo a Deus por aquilo. Cuidar de Príncipe Arthur nunca estivera em seus planos, mas a Rainha Joanna não conseguia confiar em nenhuma outra pessoa para cuidar de seu Príncipe (ao menos, era isso que ela havia falado a Teresa).

— Príncipe — chamou aproximando-se da cama, evitando pisar em cima de alguma roupa jogada pelo quarto do chão. Perto da cama avistou uma camisinha usada, e fez cara de nojo. Olhou a cama, e não se sentiu surpresa ao constatar que não havia ninguém com Arthur. O Príncipe nunca dormia com outras meninas. Ele transava. — Príncipe Arthur — o tom de voz aumentou, mas Arthur pareceu nem se mexer.

Teresa bufou, dando uma rápida olhada em seu cronograma e checando que poderia ficar ali naquele quarto por apenas cinco minutos. Pensou em jogar água no rapaz, como Joanna havia falado para a mulher fazer quando Arthur não acordasse, entretanto, recusou a ideia. O menino acordaria muito bravo.

— Príncipe Arthur! — a voz aumentou consideravelmente, mas Arthur apenas resmungou, e Teresa quis lhe bater. Olhou em volta, e foi até o guarda roupa do menino, pegando uma camisa branca, e voltando para perto do moreno. Com cuidado, enrolou a mão direita na blusa, e bateu no braço nu no rapaz, chamando pelo seu nome.

Teresa não contou, mas tinha em mente que havia sido na vigésima vez que Arthur gritou para a mulher calar a boca e sair dali. Mas a loira não se ofendeu. Era tão típico de Arthur aquilo que ela havia se acostumado totalmente. Mas, já estava irada. Haviam se passado quatro minutos, e Teresa já sabia que não o acordaria em um minuto com aquele método.

Foi até o banheiro, encontrando-o tão bagunçado quanto o quarto, e voltou com um copo cheio de água, tacando na cabeça do Príncipe, que rapidamente sentou-se na cama, puxando o ar para dentro de seus pulmões, mais assustado que qualquer outra coisa. Teresa quis rir da situação, mas se limitou a apenas riscar um item da sua lista e voltar seus olhos a Arthur, que lhe encarava com um olhar que — supostamente para ele deveria ser um olhar mortal — não dava medo na mulher.

— Vadia — o rapaz sussurrou, passando a mão no rosto logo em seguida.

— Oh, muito obrigada, Príncipe Arthur — Teresa respondeu, a ironia tão presente em sua voz, que qualquer um notaria. Mas Teresa não ligava se o Príncipe ligaria para aquilo sim, ou não. Eles já estavam acostumados a não serem totalmente cordiais um com o outro (o Príncipe, principalmente). — Mas agora o senhor tem que se levantar, pois seu dia será cheio, considerando que faltam apenas três dias para o anúncio das Selecionadas — falou ao menino, que fechou os olhos com força.

— Ótimo Teresa — Arthur respondeu, contra gosto. Normalmente, o menino apenas a mandaria se foder e voltaria a dormir. Entretanto, aquele dia era realmente especial para Arthur, e ele realmente teria muita coisa para fazer. — Eu já vou me levantar, pode sair — ordenou, retirando as várias camadas de cobertor, sentindo uma leve dor de cabeça.

Teresa — estranhando um pouco, nunca vira Arthur lhe obedecer tão facilmente — esperou alguns segundos, e esperaria mais, até ver o rapaz adentrar ao banheiro, mas preferiu dar meia volta e sair dali. Arthur poderia estar dormindo nu, e ela não ficaria surpresa ao vê-lo nu.

Assim que levantou totalmente, Arthur foi em direção ao banheiro, sentindo seu corpo dolorido, e suas costas com uma leve ardência. Anotou mentalmente nunca mais trazer uma garçonete, principalmente das que trabalham nas baladas do norte londrino.

Não demorou muito no banho, pois queria logo tomar o café e resolver seus problemas do dia — principalmente aquele em que o menino tinha que enfrentar todos os dias: seus pais. Arthur ainda não conseguia entender como não havia fugido do Castelo. Talvez porque adorava o luxo e a mordomia que tinha ali dentro, tendo tudo de graça, e fazendo basicamente tudo o que bem entendesse, mandando em todos.

Assim que o rapaz adentrou ao salão de jantar, basicamente perguntou o porquê daquela mesa tão gigantesca, e o porquê de não tomarem café da manhã em uma mesa pequena. Eram só os três: Thomas, Joanna e Arthur (que não aparecia hora ou outra). O moreno não se surpreendeu ao constatar que Joanna não estava sentada ao lado de Thomas, como deveria ser, afinal, havia duas cadeiras na cabeceira, e Joanna sempre sentava ao lado de Thomas quando recebiam visitas. Mas Arthur sabia que os dois não se amavam, como um casal de verdade deveria se amar.

Sentou-se na cadeira que estava afronte de Joanna, não se importando se seus pais — se é que Arthur poderia chamá-los assim — não lhe deram bom dia, com um grande sorriso amistoso. Não existia carinho naquele Castelo, especialmente quando se envolvia os três.

— Arthur, você deveria tentar ao menos me escutar uma vez na vida! — Joanna gritou, batendo a mão fortemente na mesa, e Arthur ergueu com os olhos para a mulher, encarando-a com desprezo, e tentando entendê-la. — Rapaz, eu te falei para não sair noite passada — argumentou. — E mesmo assim, o que você fez? Saiu!

O Príncipe ignorou. Era tão obvio que toda essa preocupação e mandatos de Joanna eram falsos, e somente para passar a aparência de mãe preocupada com o filho problemático. Felizmente, Arthur não caia mais nessa. Somente ignorava, pois sabia que a mulher só estava fingindo, e que ela sabia que Arthur continuaria sendo Arthur, e não mudaria por conta do tom de voz ter mudado.

— Arthur, não me ignore enquanto eu falo com você! — Joanna gritou, mas sua voz saia calma, polida; e o Príncipe apenas deu uma grande mordida no bolo de laranja (seu favorito). — Filho, eu só quero o seu bem — a Rainha replicou, e o moreno quase (quase) acreditou, e perguntou a si mesmo se Joanna estava tendo aulas de teatro com Thomas.

— Ao menos a festa foi boa? — Thomas indagou, com aquele típico sorriso de: conte-me tudo. Se fosse algum tempo atrás, Arthur provavelmente sentaria ao lado de Thomas, com um grande sorriso no rosto, e falaria ao homem tudo de bom que havia acontecido na noite. Mas isso seria algum tempo atrás. Não naquele momento.

— Sempre são — o Príncipe sussurrou, e Thomas aumentou seu sorriso, dando uma breve olhada a Joanna, que bufava e cruzava os braços, tentando entender porque o moleque sempre respondia a Thomas, mas nunca a ela.

— Oh, que bom que você se divertiu na festa, filho, mas que tal agora nos concentrarmos no que realmente importa? — a voz da Rainha estava um tanto quanto irônica, Arthur conseguiu perceber isso, e também estava aguda, como se ela estivesse forçando a si mesma a ficar calma, e não surtar na frente daqueles dois, e dos três mordomos recostados na parede próximos a janela.

— Claro, mamãe, porque não? — Arthur indagou num tom irônico também, e observou Joanna forçar o sorriso, enquanto colocava as mãos sobre a mesa, de forma calma, e pacifica demais. É, ela definitivamente teve aulas de teatro com o Thomas. — Oh, mentira, eu tenho que ir agora. Sabe como é, vida de Príncipe, nah, bem complicada — a voz do rapaz saiu rápida, enquanto o moreno levantava-se da mesa, colocando mais um pedaço de bolo nas mãos. — Na verdade você não sabe — apontou para a Joanna, e depois abriu um sorriso enorme que assustou a mulher. — Mas meu pai sabe — apontou para o homem, que arqueou uma sobrancelha. — Então você entende que agora eu tenho muitas coisas para fazer, e vai me perdoar por ter saído da mesa antes de vocês dois.

E com um sorriso brilhante — que estava definitivamente assustando Thomas — o rapaz saiu da sala mordendo o bolo de laranja — que meu Deus, que delícia — enquanto pensava no seu plano, e em como poderia passar o resto daquele tarde absolutamente no tédio.

— Não se esqueça da reunião com o Conselho! — ouviu a voz de Joanna, e então seu sorriso desmanchou quando saiu do salão.

Oh, havia completamente esquecido daquela maldita reunião. Arthur não via necessidade em fazer uma reunião com o Conselho Real para decidir quem seriam seus Conselheiros. Porra, ele demoraria mais de um mês para assumir, e tinha certeza de que poderia escolher seus Conselheiros em questão de um, ou dois dias. O Príncipe não era um rapaz lento, era rápido, e gostava das coisas rápidas, diretas, já.

Arthur nunca fora muito paciente.

[...]

— E colocar Joseph Luccius como Conselheiro Master? Você está louco? — o gordo de fios totalmente brancos (que dava até uma coisa legal no cabelo, Arthur havia gostado, quem sabe descoloriria o seu?) exasperou-se, balançando seus braços, ao mesmo tempo em que mexia todo o seu corpo de uma forma totalmente desengonçada, que faria o menino rir se ele não estivesse com tanta raiva daquele homem (era tanta raiva que nem ver sua gordura balançar como gelatina não o fazia abrir nem um sorriso).

Se bem que o Príncipe concordava que Joseph Luccius não daria um bom Conselheiro Master.

Qual é, ele seria um bosta.

— Okay, e você quer por quem? — o que era mais calado dentre todos ali, Lucas (Arthur achava que era esse o nome dele ao menos, o rapaz era horrível com nomes) falou num tom de voz calmo, e todos puderam perceber que toda aquela exaltação do gordo de cabelo branco era bobagem e infantilidade demais (que afinal, qual era o seu nome?). — O Joe é sim, uma boa opção. Ele consegue cativar as pessoas, suas ideias são boas, além de que ele está sempre disposto a fazer acontecer — Lucas continuou na sua posição defesa, e Arthur arqueou uma sobrancelha para o homem, que não viu.

Ah, ele estava com o Joe naquela festa de ontem, Arthur lembrou-se observando os olhos daquele homem brilhar. É por isso que quer colocar Joe numa possível de alto nível.

Ah, eram pessoas gananciosas, e Arthur estava tão acostumada com aquelas pessoas que nem se incomodava mais. Pessoas daquele jeito sempre iriam existir. Não que Arthur estivesse reclamando. Ora, ele era uma pessoa gananciosa, e ás vezes conseguia ser gananciosa demais. Tão gananciosa que conseguia colocar seu plano para rodar alguns dias antes da Seleção realmente acontecer.

— Nós não deveríamos mudar — outro homem (que o Príncipe não fazia ideia de quem era; verdade seja dita, ele não conhecia ninguém ali, nunca havia se interessado em fazer tal ato). — O Conselho está bom assim, com pessoas experientes e que realmente sabem o que fazer em vários momentos, sejam de crises, guerras, ou paz. Eu tenho certeza de que a Vossa Majestade Rei Thomas concorda com o meu ponto de vista — o homem concluiu, e deu uma breve olhada em Thomas, que estava sentado em uma das cadeiras, com os olhos para baixo.

— É, é, claro — Thomas respondeu, mas não abanou a mão como sempre fazia, ou então sequer olhou para o pessoal ali presente. E Arthur sabia muito bem que Thomas estava mexendo em seu celular (provavelmente combinando sua próxima Caçada), principalmente porque Joanna revirou os olhos após dar uma breve olhada no marido. Era tão perceptível que aqueles dois não se amavam, como ninguém conseguia ver isso?

— Eu concordo com o Filipe — o gordinho (não, gordinho era um elogio para aquele homem) de fios totalmente brancos ralhou, apontando para o último conselheiro que havia falado, que agora Arthur sabia que chamava Filipe (mas ele provavelmente esqueceria depois). Obviamente ele concordava. Todos ali sabiam que se Arthur fosse escolher seus conselheiros, o gordo definitivamente não estava na lista.

— Eu acho que devemos mudar, dar novos ares — Joanna mostrou sua voz pela primeira vez naquela sala. O que de certa forma, fez o Príncipe a encarar desconfiado. O rapaz sabia muito bem que a Rainha não tinha voz dentro do Conselho, especialmente um Conselho formado somente por homens.

Arthur não se considerava um machista — para ele, as mulheres eram peças raras da natureza, que serviam para te seduzir, te deixar louco, e também para a reprodução —, mas ele sabia que a maioria dos Conselheiros ali era machista. O Príncipe sabia que Joanna ia para as Reuniões com o Conselho desde quando havia assumido como Rainha. E ele também sabia que os Conselheiros gostariam de expulsá-la da Sala de Reuniões desde quando ela havia ido pela primeira vez.

Mas eles não poderiam fazer isso, porque ela era a Rainha. E ela poderia mandar matá-los com um simples gesto com a mão. E todos ali sabiam disso.

Por isso quando ela falou, alguns rápidos e até despercebidos olhares foram trocados, antes do gordo máster se virar para a mulher com um sorriso extremamente falsamente dócil.

— Rainha, às vezes mudar não seja a melhor opção — o gordo replicou, e por mais que sua voz soasse até de forma dócil, mas falsa, Joanna não sorriu. Seus lábios ficaram numa linha séria por alguém ter sido contraditório a ela. — Eu posso lhe assegurar isso. Estou no Conselho desde o Reinado do Rei Daniel, e consegui ver que mudanças nem sempre trazem bons ares para o local.

Depois de ter terminado seu mini discurso, o gordo rapidamente virou seu rosto, e bebeu toda a água que estava no seu copo. Era perceptível que ele estava nervoso, principalmente porque o copo balançava em suas mãos totalmente tremulas.

Arthur observou Joanna abrir um mínimo sorriso, antes de dar uma cotovelada em Thomas, e depois todos escutarem um barulho agudo — que o Príncipe sabia que era o celular de Thomas caindo no chão. O Rei, parecendo levemente atordoado, olhou para sua esposa que lhe dava um sorriso de quem dizia: mostre seu poder garanhão — ao menos era isso que Thomas pensava, já que era muitas vezes, na verdade: aja como um Rei, estúpido —; e depois colocou um ar sério no rosto e olhou para todos os Conselheiros.

— Certo, eu acho que o Conselho não está bom assim, e acredito que já deixei isso muito claro — o monarca começou, e logo Arthur quis sorrir pela cara de assustado da grande maioria dos Conselheiros. — Conseguimos muitas vitórias, mas infelizmente não ganhamos todas as batalhas — os olhos azuis de Thomas fitaram cada Conselheiro, com seu ar majestoso de Rei. — Por isso eu acredito que o melhor para o meu filho seja uma nova mudança.

— Mas Vossa Majestade — o tal de Filipe que parecia ser chato demais, para Arthur, falou com a voz um tanto quanto embargada. Até parecia que ele iria começar a chorar ali mesmo. Arthur até quis rir.

— Psiu, mas nada — o Rei ergueu uma mão, com tanta autoridade que assustou até Joanna, mas a mulher apenas limitou-se a sorrir orgulhosa de seu marido. Ele era um bom aluno. — Eu sou um Rei, e você é um mísero... Você, ninguém importante — encostou as costas na cadeira e então seus olhos azuis foram até Arthur, que encarava tudo aquilo com um misto de diversão. — Meu filho vai escolher o Conselho dele, vocês vão somente escutar, e opinar somente quando ele quiser ouvir.

Assim que Thomas terminou, todos os olhos foram em direção ao rapaz, que ainda tinha um sorriso divertido no rosto, e os olhos brilhando. Alguns conselheiros — incluindo Filipe e o gordo — fitaram o rapaz com certo desprezo, por ver seus pés em cima da mesa, e sua postura totalmente antiquada para um futuro rei.

— Ah, qual é! — Arthur esbravejou, tirando os pés de cima da mesa, e olhando a todos. — Sério mesmo que vocês vão parar de discutir justamente agora que as coisas estavam ficando boas? — indagou um tanto quanto incrédulo. Thomas mordeu o lábio inferior para não rir, enquanto Joanna fitava o menino com desgosto. — Quer saber? Tô cansado, vou dormir.

E num simples gesto, o futuro Rei se foi.

[...]

Não demorou muito para o Príncipe ser incomodado novamente. A loira de olhos azuis que mais pareciam cinza logo encontrou Arthur caminhando tranquilamente por um dos enormes corredores do Castelo; e logo gritou pelo seu nome, sem utilizar Príncipe, Vossa Alteza, ou qualquer outra coisa que se usem para referir a um membro da realeza — fato que irritou enormemente ao moreno.

— Nossa Senhora do Carmo — a loira exclamou, parando ofegante.

— Teresa — Arthur chamou com a voz calma e polida. A mulher o olhou, mas logo em seguida seus olhos foram em direção a uma prancheta que segurava. — Eu sou o Príncipe, você não pode apenas me chamar de Arthur — afirmou, mas a loira apenas assentiu, e escreveu algo na prancheta. O moreno estava quase pedindo para ela anotar que deveria sempre chamá-lo de Vossa Alteza, que era até mais bonito que Príncipe.

— Você tem Doutor Simon as seis, e sua aula de História Política as sete, e o Joseph está te procurando também — a mulher logo informou ao Arthur, que revirou os olhos ao ouvir o nome do pseudo amigo. Ele provavelmente estaria o procurando para ir a alguma festa. Vá a festas com o Príncipe, não pague nada. — E a Vossa Majestade sua mãe pediu para que você a encontrasse daqui a meia hora — prosseguiu, e seus olhos fitaram Arthur, que revirava os olhos. — Não revire os olhos, Arthur! — Teresa esbravejou, e o garoto a fitou com raiva. — Recados dado, agora tenho coisas para fazer. Por favor, não se esqueça.

E sem mais aviso prévio, Teresa saiu dali quase correndo. Arthur observou a mulher sair, perguntando a si mesmo quem seria Teresa — porque ele não lembrava o sobrenome dela — do lado de fora do Castelo. Mas logo ignorou essa pergunta que não lhe cabia e saiu dali também.

Andou por alguns minutos — no máximo dois — até ser interrompido por Joseph que tinha um olhar sério, coisa que Arthur admiraria no pseudo amigo.

Sorrindo divertido, e com vantagem do loiro ainda não o ter visto, gritou:

— Joseph, fique parado que eu vou tirar uma foto!

O nobre rapidamente estancou assustado, mas não demorou dois segundos para colocar um sorriso divertido no rosto, e tirar aquela faceta anti Joe.

— Eu sei, minha beleza deve ser admirada toda hora — o loiro provocou, aproximando-se de Arthur, que apenas revirou os olhos antes de cumprimentar o rapaz. — E onde você estava, eu te cacei pelo castelo inteiro!

— Você com certeza não me procurou em nem um sétimo do Castelo — o Príncipe provocou, sabendo muito bem que Joseph não era o maior inteligente, e muito bem que ele não faria nem ideia de quanto seria um sétimo.

Como suposto, Joe bufou.

— Certo, pare de falar de números, porque você sabe que de números é só se for da quantidade de garotas que eu peguei — riu divertido, mas o moreno sabia muito bem que no fundo o nobre se remoia por não conseguir entender todas aquelas frações, e qualquer outra coisa que se remetesse a ter um senso mais avançado na escola. Joseph, por mais que tivesse estudo e completado todo o ensino médio, não se lembrava nem da metade.

Arthur forçou uma risada.

— Certo, porque estava me procurando? — mudou de assunto, antes que começasse a falar da História da Inglaterra e Joe saísse dali magoado (não que Arthur ficasse chateado ao ver o amigo sair dali magoado, mas ai ele ficaria curioso em saber o que o rapaz queria falar).

— Oh, eu estava querendo saber se você estava a fim de festa hoje a noite — o rapaz comentou empolgada, e Arthur apenas assentiu, como se pedisse para que o loiro continuasse. O Príncipe sabia muito bem que Joseph não estava o chamando somente porque eles eram “amigos”, mas também, e principalmente, porque quando se tem companhia o Príncipe, as coisas saem quase de graça. Se não for de graça. — Sabe a Cristina? A Lourenzo? — indagou.

— Aquela que você engravidou? — o moreno indagou contendo uma pergunta mais descarada. Joseph assentiu lentamente, fazendo uma careta de quem diz: pois é, cara. Arthur lembrava-se muito de Cristina e de sua quase morte ao abortar o fruto de sua transa sem camisinha com Joseph.

— Bom, ela nos chamou para a festa, aniversário dela — remendou rapidamente. — Na verdade não foi bem ela, foi mais a mãe dela, mas considerando que depois ela me mandou uma mensagem dizendo que eu poderia ir, ela nos chamou — sua voz saiu rápida, e Arthur sabia que era porque o loiro não gostava de se lembrar da menina.

— Joe, sendo sincero, você tem certeza de que quer ir a essa festa? — o Príncipe colocou a mão no ombro do pseudo amigo, que deu de ombros, retirando a mão de Arthur dali. — Digo, você engravidou a menina, e por sua culpa ela quase morreu.

— É, é, eu sei — Joe repetiu frustrado, e cruzando os braços. — Mas, poxa, Arthur, é uma festa, e nós não perdemos festa — enfatizou fitando o Príncipe, que respirou fundo, colocando as mãos nas têmporas e massageando levemente. Estava com dor de cabeça? Mas tinha tomado o remédio.

— É, mas é uma festa da menina-

— Okay, eu já entendi isso para de repetir, porra! — Joseph esbravejou, e Arthur fechou os olhos.

Era fato: se fosse a esta festa, seu plano poderia ser arruinado. E Arthur definitivamente não queria que seu plano fosse arruinado. Havia levado anos para conseguir o montar nos mais simples detalhes, e conseguir detalhá-lo com tamanha dignidade que havia ficado com orgulho de si mesmo. Não seria uma mísera festa que estragaria tudo.

— Eu só não estou com vontade de ir, Joe — respondeu, abrindo os olhos, e erguendo o rosto para poder fitar o loiro, que arqueou uma sobrancelha, com um sorriso malicioso. — É sério, eu já fui na festa ontem, e minha mãe realmente não quer que eu saia o tempo todo, principalmente agora que minha Seleção está se aproximando — deu de ombros, com sua mentira totalmente esfarrapada.

Joe não era inteligente, mas ele não era estúpido.

— Ah, fala a verdade, Arthur, você obedecer sua mãe e não querer ir a uma festa? — indagou rindo, e logo colocando uma mão por sobre a barriga. — Nossa, acho que estamos em uma Terra diferente, calma ai que eu vou ver se a Teresa quer ficar comigo agora — falou ainda rindo, mas o Príncipe franziu as sobrancelhas. Porque diabos Joseph havia citado Teresa?

— Mas é verdade — mentiu.

— Não, não é não — Joseph contrapôs, logo parando de rir, e sorrindo de forma divertida. — Que tal você me falar a real verdade? — indagou, arqueando uma sobrancelha. — Ah já sei! É uma menina — supôs, e Arthur já estava preparado pra dizer que não, que estava falando a verdade, quando decidiu entrar no jogo do amigo.

— É, é uma menina — mentiu, dando de ombros. — Ela é bem reservada, e eu estou tentando-a por dias — admitiu, e Joseph o fitou incrédulo.

— Arthur, você não segue a regra de não ficar insistindo em uma menina? — o loiro perguntou, parecendo ainda mais incrédulo, e Arthur teve de revirar os olhos para a pergunta. A regra foi criada quando ambos ainda tinham em torno de seus quinze anos, e Joseph recebeu vários não de uma menina que era até feia para os padrões dele. Após isso, os dois decidiram que não iriam ficar insistindo em uma garota. Que era perca de tempo.

— Ahn, por essa valeu a pena quebrar — continuou com sua mentira, e observou o pseudo amigo passar a mão pelo queixo, onde possui uma barba rala. Arthur gostaria de deixar sua barba crescer, mas além dela demorar a crescer, Joanna nunca deixava o rapaz ficar com barba, por mais mínima que seja. — E então, nós combinamos de nos encontrar em um lugar reservado, sabe? Sem ninguém.

— Leva ela na festa! — Joseph deu a ideia, e Arthur quis bater na testa do rapaz. Qual a parte do “lugar reservado” ele não havia entendido? — Vai ser super legal, e eu tenho certeza de que vai ter um quarto para vocês dois — falou com aquele sorriso pervertido que só Joseph Luccius conseguia dar.

— Melhor não, Joe — o moreno balançou a cabeça negativamente, enquanto fitava o menino lhe encarar com um ar suspeito. — Tenho certeza de que ela não vai se sentir confortável, e provavelmente nem eu vou — explicou, e deu de ombros. Mas o loiro não pareceu muito convencido.

— Ela vai adorar, Arthur, tenho certeza! Ir a uma festa com o Príncipe da Inglaterra? — indagou rindo. — E você não a deve conhecer tão bem assim para saber o que ela gosta, e o que ela não gosta — afirmou com um olhar desconfiado. Arthur desviou o olhar do amigo, sabendo que havia sido pego nesta. Ele (e Joe também) nunca chegava ao ponto de conhecer uma menina além de seu nome, seu status e sua idade (e olha que às vezes o nome nem precisava).

— Okay, eu vou falar com ela para irmos à festa — desistiu. Joseph provavelmente não iria desistir enquanto Arthur não dissesse que iria a maldita festa de aniversário da tal Cristina. O Príncipe tinha quase certeza de que Joseph só foi permitido a ir nesta festa se levasse Arthur, um monarca na festa de uma simples nobre. — Depois você me passa o endereço.

— É esse Arthur que eu conheço — o loiro comemorou, dando pequenos tapinhas nas costas do moreno, que sorriu forçado, começando a se afastar a passos lentos. — Ok, eu te mando uma mensagem com as informações certas — seu tom de voz aumentou, e Arthur passou a andar mais rápido, culpando-se mentalmente por talvez estar estragando o plano de sua vida.

[...]

Quando deu seis horas, e o sino da Capela de São Jorge ecoou por todo o castelo, e parte de Londres, Arthur deu os passos acelerados até a sala do Doutor Simon ali no Castelo. Ele não tinha uma, mas após ser contratados pelos Reis, e as sessões se tornarem algo extremamente rotineiro, o médico ganhou sua própria sala no Castelo, com direito a receber outras pessoas do Castelo ali.

Arthur sabia que o psicólogo não suportava atrasos, porque isso desequilibrava totalmente a sua agenda e o seu dia; entretanto, o moreno não se preocupava em chegar cinco minutos atrasados, dez, ou em várias ocasiões, quinze minutos. Arthur chegaria mais tempo atrasado, mas a verdade era que gostava das sessões com Simon, e quanto mais atrasado chegava, menos tempo ficava com o homem.

— Eu acho que você nunca vai conseguir chegar pontualmente nas nossas sessões — Simon comentou casualmente assim que viu o Príncipe entrar em sua sala, com cara de poucos amigos.

— Um dia quem sabe — Arthur devolveu, sentando-se na poltrona indicada, e colocando os pés na mesinha de centro que havia ali, sem se preocupar com o olhar bravo de Simon sobre si. Ambos já estavam acostumados um com o outro.

— Como passou a semana? — Simon perguntou, e após isso iniciaram uma conversa que se estendeu por longos trinta e cinco minutos. Arthur adorava sentar-se ali e ficar conversando com o homem. Sentia que com ele poderia falar tudo o que lhe viesse a mente, tudo o que queria dizer, mas não podia porque lhe era proibido por ser um Príncipe.

— A verdade é que eu estou de saco cheio da minha vida — admitiu após a longa conversa sobre como fora a semana de Arthur. — Ser um Príncipe enche o saco, Simon, eu estou cansado de ser o Príncipe Arthur e fazer bosta nenhuma.

— Mas você é o Príncipe, Arthur, pode fazer várias coisas — Simon contrapôs, não entendendo a confissão do jovem. — Você tem dinheiro, tem disponibilidade. Você pode mudar a Inglaterra — o brilho do olhar de Simon até animou Arthur a desistir do plano, mas logo o menino balançou a cabeça negativamente e suspirou.

— Você não entenderia Simon, minha vida é regrada, e eu sei que você vai dizer que não só pela pessoa que eu sou — acrescentou rapidamente, fazendo o psicólogo nem abrir a boca. — Eu não posso ser quem eu bem entender. Eu não quero ser somente o rapaz que fica com várias meninas numa noite e depois sai se gabando por isso — admitiu. — E também não quero ser o Príncipe perfeito de uma nação. Mas parece que eu não posso ser um meio termo entre ambos. Se eu for o certinho, qualquer erro será notícia por uma semana, e todas as minhas boas ações serão apagadas. Se eu for o errado, todas as notícias boas vão para fundo do poço, e qualquer boa intenção que eu tiver é vista como interesse da minha parte — suspirou, fitando o psicólogo que lhe olhava atento. — Você me entende?

Simon assentiu, porque de certa forma, estava começando a entender. Nunca havia visto por esse lado de Arthur. Nunca havia visto o lado de ser o Príncipe, na verdade, nunca havia visto o outro lado além de ser rico e poder fazer o que bem entender.

— A Inglaterra depende de uma imagem concreta — Simon sussurrou para Arthur, que apenas assentiu, passando a mão pelo rosto, e então apoiando os cotovelos em suas pernas, colocando o queixo nas mãos fechadas. — Todo mundo precisa de uma imagem concreta — reformulou, e Arthur sorriu.

— É por isso que as coisas vão mudar — falou a Simon, que fitou o menino com interesse. — Meu plano vai funcionar hoje a noite, e eu vou fazer de tudo para que ele dê certo, Simon, de tudo, eu te juro.

— Que plano, Arthur? — Simon começou, fitando o menino com apreensão nos olhos. Os planos de Arthur nunca foram para uma coisa boa, e Arthur sempre contava com grande antecedência para o psicólogo. Ele era seu confidente. — Arthur, qual plano? — forçou, com a voz mais forte, mas o moreno o ignorou.

— Nossa sessão já acabou? Eu preciso ir para a minha aula de História Política com aquele chato do Herbes, entende? — indagou com a voz aguda, e de certa forma, para Simon, pareceu que Arthur voltou a ser o antigo Arthur, Príncipe que a Inglaterra conhecia, não o Arthur, amigo de Simon. Por isso o psicólogo o dispensou.

E o Príncipe realmente foi para a Biblioteca Privada ter aula com seu tutor, Professor Herbes alguma coisa — Arthur definitivamente não lembrava o sobrenome do cara. Na verdade, não sabia se o sobrenome dele era Herbes. Mas ignorava esse fato. Não precisava saber, afinal.

Entretanto, Arthur realmente quis colocar seu plano em ação naquele momento, já que aquela aula estava mais chata do que qualquer outra que ele já havia tido. Herbes — porque Arthur se recusava a chamá-lo de Tutor ou Professor — falava sobre como a Inglaterra conseguiu se reconstituir após a 3ª Guerra Mundial, com a ajuda dos países do antigo Reino Unido, que se auto apoiaram, para no fim darem uma nova cara a Inglaterra, e também a uma medida adotada conhecida como liberalismo prático — quando Arthur teve essa aula pela primeira vez sentiu-se um máximo, e saiu da Biblioteca super feliz, com um ótimo aprendizado na mente.

Mas agora? Agora sentia um puro tédio lhe invadir o corpo. Até conversar com Joseph — que era um sem cultura — era melhor que ficar ali. Por isso apenas ficou desenhando nas páginas de seu caderno sem nenhuma anotação, e estava pouco se lixando para o que Herbes pensaria.

— Chega, Arthur! — o homem gritou, assustando ao Príncipe, que após se recompor, fitou o homem com raiva. Qual era o problema desse pessoal em somente chamá-lo de Arthur? Cadê o respeito? — Você nem sequer está fingindo prestar atenção!  — bradou, o rosto tomando uma coloração vermelha aos poucos. Arthur olhou para o homem com cara de pouco caso. — Como você quer aprender, quer se tornar um bom Rei se nem prestar atenção na aula você presta? — gritou, e Arthur levantou-se nervoso pelo modo que Herbes lhe dirigiu a palavra.

— Escuta aqui, Herbes, ou qualquer que seja o seu nome! Eu sei a porra dessa matéria toda, e eu sou o seu Príncipe, você não tem o direito, ou autoridade de falar comigo desse jeito — esbravejou, e logo vendo que Herbes o fitava com um olhar raivoso, não surpreso como o Príncipe queria, prosseguiu. — A Inglaterra só conseguiu ser reconstituída com a ajuda dos países do antigo Reino Unido, que atualmente estão totalmente diferentes e mudados. Além de que ela adotou o liberalismo prático, estimulando a produção de obras públicas, para ter emprego, que produz renda, que faz com que as pessoas consumem e tudo volta aos eixos.

Herbes o fitou incrédulo, e Arthur sorriu para o homem, enquanto pegava seu caderno e a caneta azul barata. O Príncipe deu uma piscadela para o mais velho e então saiu dali, divertindo-se ao máximo. Fato era: sentia-se ao máximo. Deveria fazer isso mais vezes. Não só com Herbes, ele provavelmente nunca mais daria bronca em Arthur, se continuasse com seu emprego.

Após sair dali, Arthur continuou caminhando no corredor, em direção ao quarto. Tinha que se aprontar para a festa da tal Cristina, e ainda por cima dar uma desculpa a Joe de que sua menina não poderia ir mais à festa, porque ela não queria ir a lugares com muita gente.

Entretanto, sua caminhada logo foi interrompida, quando o Rei Thomas virou o corredor e topou com o filho. O monarca sorriu ao ver o mais novo e logo se aproximou.

— Hei, Arthur! — saudou, e Arthur apenas levantou a mão, não colocando um sorriso no rosto. — Tem planos para a noite, filho? — indagou, e o Príncipe apenas assentiu, não mudando sua feição. — O que é? — Thomas forçou ao perceber que o rapaz não responderia por vontade própria.

— É só a festa de uma nobre — o moreno informou ao pai, sendo muita vontade realmente de ficar contando para o homem sobre a festa da menina que mal conhecia. — O usual — acrescentou com a voz mais baixa.

— Hum... — Thomas passou a mão pelo queixo, enquanto fitava o filho a sua frente. — Você anda seguindo todas as regras que eu lhe passei? — o monarca perguntou, uma ponta de curiosidade em seus olhos.

Arthur quis rir, e dizer que não precisava mais delas, mas apenas forjou um sorriso.

— Sim.

Thomas abriu um grande sorriso, mostrando todos os seus dentes branquinhos, que poderiam muito bem iluminar uma sala escura. O Príncipe desmanchou seu sorriso enquanto o mais velho lhe dava batidinhas em seu ombro.

— Esse é o meu garoto — comentou, e Arthur assentiu levemente, sentindo-se levemente ridículo por estar sendo chamado de garoto.

Já era um homem, e às vezes se perguntava se era um homem mais maduro que seu pai, que parecia o tratar como se ele tivesse 14, 15 anos. Felizmente (e Arthur agradecia muito por isso) as pessoas crescem, e o Príncipe da Inglaterra estava incluso nisso. Não era mais um menino de 14 anos, que estava sempre ao lado do pai lhe contando quantas garotas pegou, e em quais festas ia, pedindo dicas, e anotando todas as regras que Thomas lhe havia passado.

— Precisa de alguma coisa para a sua gaveta? — Thomas perguntou após alguns segundos de puro silêncio.

— Oh, não, não, eu estou bem com ela — Arthur rapidamente respondeu. Verdade seja dita: odiava aquela gaveta. Só mantinha as coisas lá dentro porque não usava. Ok, vez ou outra ele usava, mas era raro abrir aquela gaveta. Sentia-se um moleque, e Arthur odiava se sentir um moleque. Ele deixava camisinhas e chicletes dentro da sua gaveta da cômoda.

— Tem certeza? — Thomas reforçou, e o Príncipe assentiu forte.

— Certeza cem por cento, absoluta, não preciso de ajuda — concluiu, e Thomas logo entendeu, pois retirou sua mão do ombro do filho, com uma cara não tão mais animada.

Arthur até ficaria com dó do pai, ao perceber que talvez ele poderia estar querendo se aproximar do rapaz, ajudar-lhe e voltarem a serem aquela dupla dinâmica e adorável de pai e filho, que deixava Arthur feliz naquela época. Entretanto, era inteligente demais para entender que não era nem para ele estar ali, porque sentiria dó de alguém que não sentiu dó sua quando mais novo?

— Eu tenho que ir — o mais novo adiantou-se, já saindo de perto do mais velho, que apenas assentiu, colocando as mãos nos bolsos da calça social azul.

— Boa festa — desejou, e Arthur assentiu, começando uma caminhada mais rápida até seu quarto. Não queria ser interrompido novamente, fosse por Teresa, fosse por qualquer outro.

Mas não demorou muito, escutou a voz de Joanna ao fundo, gritando por seu nome, e o mandando parar. Arthur continuou caminhando por uns dez segundos, quando sabia que seria impossível ele fingir que não estava escutando.

— Arthur! — Joanna bradou quando parou ao seu lado.

— Eu estou com pressa, o que foi? — o rapaz foi direto, fitando aquela que chamava de mãe.

A loira lhe olhou de forma incrédula, e Arthur sabia muito bem o motivo.

— Arthur, olha o jeito que você fala comigo — falou, sua voz calma, mas nervosa. Arthur revirou os olhos.

— Só fala, ok? Eu tenho muitas coisas para fazer, e eu tenho total certeza de que você também está cheia de coisas para fazer — soltou, com certa irritação da Rainha a sua frente.

— Você anda muito mal educada ultimamente. Não respeita seus pais, não respeita ninguém! Como quer ser um Rei desse jeito? — Joanna indagou com a voz fina. Arthur ignorou. Ele conseguia respeitar as pessoas. Mas somente as pessoas que para ele, mereciam seu respeito. E era realmente difícil encontrar essas pessoas. — Você precisa urgentemente de aulas de etiqueta. Ou melhor, terá aulas de etiqueta. Eu tenho certeza de que Amelia não se importara em começar as aulas mais cedo.

Arthur riu.

— Eu? Com aulas de etiqueta? — riu novamente, mas Joanna continuou séria. — Sério, não vai mudar minha vida, e só vai me deixar mais mal humorado — explicou, logo parando de rir. — Se eu sou mal educado do jeito que você fala, isso é por culpa da educação de você e do Thomas. Uma criança tem sua personalidade moldada até os sete anos. Saiba que vocês dois foram os principais para me deixarem assim — com a voz séria, e raivosa, Arthur apontou para Joanna, e o Príncipe pode ver perfeitamente os olhos da mulher faiscarem de raiva.

Porque ela sabia que era verdade. De que Arthur havia sido se tornado o que era, porque em parte, não tivera uma educação dada pelos pais. Toda educação que recebera fora por meio de tutores, e de professores graduados, mas nunca de seus pais. Eles não queriam perder tempo educando uma criança. Ambos sabiam disso.

— Você sabe, eu não sou o educado, — brincou, começando a andar para seu quarto. — Escolha errada.

[...]

Chegar a festa foi rápido, pelo ponto de vista de Arthur. Joseph foi sozinho com seu carro e motorista, e Arthur preferiu ir de carruagem para a festa. Não só pelo fato de que poderia ajudar melhor no seu plano, mas também para esbanjar e mostrar quem era da realeza ali. Ah, ele adorava fazer isso.

O motorista e segurança de Arthur — que ele sempre esquecia o nome dele, porque ele tinha um nome muito complicado, por isso o chamava de Jorge — havia ficado ao lado de fora do salão, na carruagem, enquanto o Príncipe havia adentrado a festa somente com um envelope em mãos. Não havia comprado um presente para a nobre, só pego um envelope e colocado algumas notas de dinheiro — e olha que para Arthur isso já era muito. Mal conhecia aquela Cristina, e o que conhecia era o que Joe havia lhe contado — que bem, não era grande coisa.

— Príncipe Arthur, mas que honra! — uma mulher com várias rugas no rosto, um cigarro nas mãos, e totalmente enfeitada com jóias se aproximou do rapaz. Arthur rapidamente forjou um sorriso, ao mesmo tempo em que escondia seu nojo ao estar perto de um cigarro aceso. Ela sabe o mal que isto faz?

— Olá, senhora — cumprimentou, pegando a mão vazia da mulher e depositando um singelo beijo ali. Arthur poderia ter fama de metido, egocêntrico, ou qualquer outra coisa que diziam por ai, mas ele também tinha fama de educado (ora, como ele conseguia levar tantas meninas para cama?).

— Cris me falou que você viria, mas não acreditei nela — a mulher comentou soltando uma curta risada, e Arthur apenas concordou, torcendo para que ela não colocasse aquele cigarro na boca e fizesse aquela fumaça sair pelos lábios dela por algum motivo. A fumaça deveria entrar pela sua faringe, quem sabe assim ela se tocava do malefício?

— Bem, ver para crer — Arthur comentou ainda com um sorriso no rosto, e a mulher riu.

— Ela está por ai — virou-se para o salão, com várias pessoas andando de um lado para o outro, com as luzes apagadas, e somente com aquelas luzes coloridas de boates. — Quer que eu o ajude a procurar? — indagou voltando-se para Arthur.

— Oh não, minha senhora — prontamente negou. Quanto mais longe ficasse daquela mulher, melhor. Não queria ser um fumante passivo naquela noite. Especialmente naquela noite. — Eu vou procurá-la e aproveito para encontrar meu amigo, Joseph — incrementou, e a mulher abriu um grande sorriso ao ouvir o nome do nobre, como se o adorasse. Arthur estranhou, já que Joe quase fez a filha dela morrer.

Mas não comentou nada, apenas saiu dali — sem antes receber dois beijos em cada bochecha da mulher que ele não sabia o nome, e se sentir extremamente incomodado, porque ela o tratava com intimidade, e eles definitivamente não tinham intimidade. Quem mandou ser um Príncipe saído? Agora ninguém te respeita direito, bobão, pensou consigo antes de avistar Joe ao canto, com uma taça em mãos, e uma careta.

Arthur logo se aproximou do rapaz, com um sorriso brincando em seus lábios. Encontrar Joseph sério, ou simplesmente não se divertindo em uma festa era quase a mesma coisa que Joanna lhe abraçar — e olha que ela nunca fazia isso, nem mesmo quando havia visitas, o máximo de carinho da mulher para com o rapaz fora um aperto de mão.

— Joe, você anda muito sério ultimamente — Arthur gritou assim que estava perto demais de Joe. O loiro apenas revirou os olhos, colocando um pequeno sorriso no rosto, e bebendo todo o conteúdo da taça num gole só. Logo estava pegando mais duas taças de uma mesa próxima, e entregando uma a Arthur.

O Príncipe até pensou em rejeitar, mas ir a uma festa sem beber, era quase a mesma coisa que ir andar de cavalo sem ter uma sela.

— É realmente estranho estar na festa da Cristina — o nobre comentou, e Arthur soltou uma gargalhada, sem receio dos pensamentos do pseudo amigo. Era normal isso acontecer, e de certa forma, o moreno adorava se divertir à custa de Joe (ou qualquer outra pessoa, mas Joe era fácil de enganar usando palavras difíceis e números).

— Eu te falei.

— E onde está a sua garota? — o rapaz logo perguntou dando uma breve olhada ao redor de Arthur, que soltou um leve suspiro pelos lábios secos, antes de bebericar um pouco do vinho que estava na taça de vidro. Era um bom vinho, mas nada se comprava ao Gentler, que vinha diretamente da Itália.

— Eu falei que ela não gostaria de ir para um lugar com muitas pessoas — o Príncipe respondeu, fingindo-se estar mal humorado perante aquela situação. — E muitas pessoas mesmo — constatou dando uma breve olhada ao redor. Se colocasse mais algumas pessoas ali dentro, ele provavelmente se sentiria sufocado e sairia dali.

— Sua garota é uma boba — Joseph comentou amargo, e logo Arthur lhe deu um olhar bravo (não postar xingando “sua garota”, mas principalmente por estar agindo com toda aquela intimidade. Tudo bem, eram amigos. Mas não aquele ponto). Joseph logo percebeu, e bebeu mais um pouco do vinho, fazendo uma careta. — Puta que pariu, isso daqui é horrível — exclamou devolvendo a taça a mesa. — E desculpe falar daquele jeito, é só que, é uma festa, quem perde uma festa? — riu nervoso, mas Arthur nada falou.

— A propósito, qual é a Cristina mesmo? — o moreno indagou olhando ao redor. Quanto mais cedo entregasse o envelope a menina, melhor seria. Não teria de segurar aquilo, e poderia ir embora mais cedo para por seu plano em ação. Seria até bom. Uma última noite com festa.

Joseph rapidamente apontou — descaradamente mesmo, ele não tinha vergonha, e acreditem, nem Arthur — para uma mulher ao longe, com um vestido prateado, e um cabelo azul. Arthur fitou Joseph.

— Ela não tinha esse cabelo quando ficamos — o loiro rapidamente se defendeu, e Arthur percebeu o porquê dele estar ali perto da mesa de bebidas (e não era só por conta da mesa de bebidas estar ali), mas também porque assim ele tinha uma ótima visão de Cristina. O moreno perguntou a si mesmo se Joe só quis vir a essa festa para encontrar uma Cristina decadente, magra, feia, e com uma péssima visão.

— Eu tenho certeza de que ela está bem melhor de quando vocês ficaram — o Príncipe comentou, fingindo-se estar distraído com aquilo, mas sabia muito bem que havia atingido o ponto fraco de Joe: seu ego. O loiro ficou sério, ainda olhando a mulher, enquanto Arthur ia em direção a mesma se deliciando com aquilo.

A festa no final das contas, não havia sido chata, ou monótona. Arthur nunca estava sozinho, principalmente e unicamente porque era o Príncipe da Inglaterra, e por mais que a grande maioria parecia ter uma intimidade inexistente com o moreno, ele apenas deixava passar, já que isso acabaria mesmo de qualquer (por mais que ele realmente gostaria de saber o motivo dessa intimidade que todos estavam tendo com ele).

O Príncipe havia entregado o envelope a nobre, que agradeceu dando-lhe dois beijinhos em suas bochechas, e rindo de forma simpática, para depois lhe oferecer uma taça do “melhor vinho desta festa e exclusivo”, como havia dito, e sair por ai, desfilando — porque era dessa forma que Arthur a estava vendo andar — até uma mesa que parecia ter um monte de presentes.

Depois Arthur foi até uma das mesas de comida que havia por ali, saboreando aquele vinho que realmente era muito gostoso — mas não mais que o Gentler — quando foi interrompido por um grupo de jovens que parecia serem mais novos e estavam muito empolgados para simplesmente conversar com o Príncipe. Uma das meninas ali até falou que estava pensando em se inscrever para a Seleção do Príncipe, e Arthur apenas riu, incentivando-a a se inscrever.

— Para quem teria uma noite de sexo animal, você parece estar se divertindo muito — Joseph comentou aproximando do Príncipe, que apenas riu para o loiro, com puro prazer. Joseph, de certa forma, sentiu-se profundamente incomodado com aquela risada. Ele não era totalmente bobo, e sabia muito bem que o ‘amigo’ divertia-se a suas custas. Mas ele era o Príncipe. E existiam grandes (enormes) vantagens em ser o amigo (ou ao menos fingir ser) do Príncipe.

— E para quem falou que iria ser super divertido, você parece bem emburrado — Arthur riu, bebericando mais um pouco do vinho exclusivo, que logo ganhou a atenção de Joe.

— Como você está conseguindo beber isso? É horrível! — indignado, e descrente, Joe fez uma careta, e logo ouviu mais risadas do rapaz ao seu lado. Fitou o amigo, que logo virou a taça toda, e balançava a taça de vidro em mãos.

— Oh, Joe, eu sou um exclusivo — gabou-se, dando uma leve encostada no ombro do amigo, que apenas revirou os olhos, bebendo um pouco da sua cerveja (e isso estava fazendo Jose sentir-se puramente humilhado, já que naquela porra de festa não havia outras bebidas alcoólicas além daquele vinho horrível e da cerveja). — O que você claramente não é — Arthur comentou enquanto um garçom enchia a taça do Príncipe com o vinho.

— Você não pode dizer isso — Joe comentou amargo, e estava pronto para começar um discurso que provavelmente seria ignorado pelo Príncipe, mas o mesmo começou a falar.

— Eu só não posso, como já falei — respondeu, e logo virou o taça novamente, bebendo todo o vinho que estava ali dentro, deixando Joe atônito, como ele consegue? — Oh, e nossa, aquela mulher ali está olhando diretamente para mim — comentou, entregando sua taça para o loiro, que logo a pegou, e fitou o Príncipe que saiu sorrindo charmosamente em direção a mulher.

Joseph apenas suspirou, deixando a taça em uma mesa próxima e dando mais uma volta no salão.

[...]

Arthur decidiu que era hora de ir embora quando percebeu que já eram duas horas da manhã, e ele estava começando a ficar alterado — por mais que o rapaz fosse forte em relação às bebidas alcoólicas e começava a sentir o efeito somente da ressaca, ele não era imbatível, e sabia que uma hora ou outra começaria a agir como um estúpido bêbado.

E ele definitivamente não precisava disso no momento.

Por isso, apenas deixou sua taça de vinho em uma das mesas, logo após se despedir de duas garotas que estava com ele, e foi em direção a saída, sem ao menos alar tchau para Cristina ou Joe — Arthur sabia que não precisava disso. Não demorou muito para encontrar sua carruagem (encontrar uma carruagem no meio da rua era definitivamente uma das coisas mais fáceis ali), e foi em direção a mesma, sendo prontamente recebido por Jorge.

— Mas já? — o homem indagou, fitando o Príncipe com olhos semicerrados. — Nem amanheceu ainda — comentou quase que num tom sarcástico demais para Arthur.

— Eu vou embora a hora que eu quero, Jorge, você só tem que ficar calado e me levar para onde eu quiser — respondeu amargo, abrindo uma das portas da carruagem.

— O meu nome não é Jorge, é-

— Eu não ligo — Arthur gritou dentro da carruagem, fechando a porta com força logo em seguida.

O segurança bufou irritado. Qual era o problema daquele mimado em chamá-lo por seu verdadeiro nome? Qual é, Narcissus nem era um nome tão feio assim, certo? Era bonito, ele gostava. O Príncipe até o poderia chamar de Nar, se ele preferisse. Mas não, tinha que chamá-lo de Jorge. Porque Jorge, afinal?

Antes de abrir a boca e perguntar para o rapaz, o homem bateu as rédeas. Arthur provavelmente o ignoraria, ou seria grosso, como sempre fora.

O Príncipe, por outro lado, estava nervoso dentro da carruagem. Eram raros aqueles momentos em que se sentia verdadeiramente nervoso, e que ficava se remoendo internamente, e mexendo em suas roupas sem parar. Simon havia falado que isso era normal, sentir-se nervoso, e era mais normal ainda tentar se distrair para o nervosismo passar. Que Arthur não deveria se sentir em hipótese nenhuma anormal, ou diferente. Mas aquele era o Príncipe da Inglaterra, e ele sentia um grande e enorme estúpido ao sentir-se desse jeito.

— Vamos mais rápido, eu estou passando mal! — gritou para o segurança a sua frente, e logo o moreno sentiu um solavanco ao tempo em que a carruagem aumentava a velocidade. Seus olhos vagaram por toda a estrada rápida que passava ao seu redor. Ao menos estavam num local deserto. Era impossível ver algum movimento nas estradas que ligavam a cidade até Londres. E isso ajudaria muito no plano do jovem.

Narcissus continuaria com aquela velocidade quando no meio da estrada avistou um homem parado. Com uma das mãos fez um gesto para ele sair do caminho, mas o homem parecia estar fixo ali, por isso logo o segurança teve de forçar uma parada brusca da carruagem, já que entrar para aquele mato ao redor da estrada única não ajudaria muito.

— Hei, senhor, saia da estrada! — gritou. Aqueles poucos postes de iluminação também não ajudava muito na visualização do homem a sua frente, que estava encapuzado, e segurava uma espada em mãos. — Saia da frente! — gritou novamente, mas o homem não se mexeu.

Narcissus suspirou, descendo da carruagem, e desembainhando sua espada, pronto para atacar aquele homem encapuzado a sua frente. Tão logo quanto desceu, o rapaz escutou a porta da carruagem se abrir, e rapidamente virou seu corpo para Arthur, que caia no chão vomitando. Narcissus gemeu.

— Príncipe, por favor, volte para a sua carruagem — pediu, com a voz baixa, e voltando seu corpo para o encapuzado. Narcissus ergueu a espada. — Hei, senhor, que tal sair do meio da estrada? Você está atrapalhando o trânsito! — gritou novamente, e viu o encapuzado retirar o capuz, dar uma longa olhada para trás de Narcissus (e logo o segurança soube que Arthur ainda estava no chão), e então dar um sorrisinho virando seu rosto para o mais velho.

— Eu não quero — o ex encapuzado respondeu, dando um passo na direção do segurança, que ergueu a espada. Narcissus havia feito um juramento de proteger Príncipe Arthur, mesmo que isso significasse duelar com homens desconhecidos. Sentiu uma gotícula de suor em sua pele, e rapidamente sentiu-se estúpido o suficiente para suar de nervoso naquele frio da madrugada.

— Porque não quer? — indagou tentando enrolar o homem o mais rápido possível. Quanto mais enrolasse-o, mais chance Arthur teria de fugir daquele lugar, correndo, nem que fosse. Estavam perto do castelo, Narcissus conseguia avistá-lo de onde estava. O Príncipe só teria de correr. Ele conseguiria fazer isso, certo?

— Eu só quero fazer uns negócios — o homem deu de ombros, dando outro passo na direção do segurança.

— Que tipo de negócios?

— Uma troca — explicou. — Você me dá o moleque, e eu te dou grana. Você foge, vive feliz com sua família, se tiver, e nunca saberão do que aconteceu aqui — finalizou com um sorriso convencido.

A proposta era tentadora, Narcissus sabia disso. Fugir com dinheiro, dar uma vida melhor para sua mãe, e sua filha? Oh, Narcissus nunca quis tanto algo em sua vida. Mas não podia.

— Eu fiz um juramento — retrucou. Arthur poderia ser ruim, mimado, chato, mas Narcissus sabia que ele tinha um bom coração bem lá no fundo. Bem lá no fundo mesmo, ele era uma boa pessoa. O segurança sabia disso. Só precisava mostrar isso ao rapaz. — Não posso fazer essa troca. Então que tal sair do meio do caminho?

— Eu tentei ser uma boa pessoa — o homem respondeu, já logo atacando o segurança.

Narcissus estava preparado, por isso logo conseguiu frear o ataque do homem desconhecido, colocando a espada contra o seu rosto, e chutando a barriga do mesmo. Entretanto, aquele homem também era um bom esgrimista, e logo estava atacando novamente. E a briga prosseguiu por uns cinco minutos, até o homem desconhecido a Narcissus lhe chutar na barriga, e num simples e até mesmo ridículo gesto, lhe retirar a espada, e no segundo de distração chutar novamente sua barriga derrubando o segurança no chão.

Narcissus arfou enquanto sentia a ponta da espada em sua garganta. Prendeu a respiração, rezando para que Deus cuidasse de sua filha, e de sua mãe. Nada poderia acontecer com aquelas duas mulheres, que por mais que fossem fortes, eram frágeis.

— Não o mate, não o mate! — Arthur apareceu no campo de visão de Narcissus, com as mãos em sinal de defesa, e a camisa suja. Narcissus fitou o Príncipe com certo orgulho, enquanto o homem fitava o Príncipe com raiva.

— Ele vai ser uma testemunha — retrucou, e Narcissus fitou os dois com certo receio. Eles estavam conversando normalmente mesmo como se fossem conhecidos? Espera, Arthur conhecia aquele homem?

— Não, ele não vai — o Príncipe negou com a cabeça, e depois deixou um suspiro escapar pelos lábios. — Olha, eu preciso dele, ok? Essa estrada aqui começa a ficar movimentada a partir das cinco e meia, e ele precisa me levar para o Castelo antes disso. Se você o matar, isso vai dar errado — acusou.

— Eu posso te levar ao Castelo — o homem afirmou com força, ainda apertando a ponta da espada contra o pescoço de Narcissus, que parecia ficar cada vez mais tonto com aquela conversa. Não estava entendo nada do que aqueles dois estavam conversando, e também não entendia o porquê dos dois conversarem.

— Eles vão te matar — Arthur apontou, e o homem suspirou. — Só o apague, bata em sua cabeça, faça qualquer coisa, mas não o mate — ordenou com a voz firme, e Narcissus admirou o rapaz. Nunca havia visto Arthur tão firme daquele jeito.

O homem suspirou, e então tirou a espada do pescoço de Narcissus, que respirou aliviado, ofegante. Mas seu alívio não durou muito, pois logo sentiu uma dor agonizante na cabeça, e começou a ver tudo rodado até finalmente fechar os olhos e não ouvir ou ver mais nada.

[...]

Não demorou muito para que Narcissus acordasse. E quando acordou, preferiu nunca ter acordado. Sua cabeça doía, seu corpo doía, e sinceramente, a neve ao seu redor parecia ter se acumulado. Espirrou com força, e logo colocou-se sentado, lembrando-se aos poucos do que havia acontecido. Com um desespero crescente em seu corpo, levantou-se ainda cambaleando e foi procurar pelo Príncipe.

E pela primeira vez em toda a sua vida de segurança, não queria ter achado o corpo do rapaz.

Arthur estava deitado no asfalto frio, neve acumulando em seu corpo, entretanto, mesmo com a neve branca, o segurança conseguiu ver perfeitamente a grande quantidade de sangue em sua barriga. Desesperou-se mais do que estava, correndo em direção ao menino. Avistou a espada de bronze ensanguentada ao seu lado, e desatou a chorar. Não só pela morte do jovem futuro rei da Inglaterra, mas também por si mesmo. Narcissus sabia muito bem que seria morto após apresentar o herdeiro morto.

E chorou, chorou, chorou até perceber que ficar ali não resolveria em nada. Daqui algum tempo o sol começaria a aparecer, e ele definitivamente não poderia ser visto ali com o herdeiro morto. Com cuidado, pegou-o em seus braços, sem se preocupar em sujar-se de sangue, e o colocou na carruagem cuidadosamente. Fechou a porta dando uma última olhada no rapaz, e então partiu para o Castelo.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam? O que acharam desse Arthur? Eu não sei se vocês conseguiram notar, mas o nosso querido Arthur aqui possui mais de uma camada de personalidade. Eu não sei se vocês concordar comigo naquele negócio de ter que obrigatoriamente ser um Príncipe de uma personalidade: ou você zoneia, ou você é perfeito. Mas, sei lá, eu tava pensando, e é bem assim com algumas pessoas. Considerando que ele se tornará Rei, quis deixar isso claro. O Arthur, afinal de contas, não era só um mimado egocêntrico e idiota, por mais que parte dele fosse. Ele era bem mais que isso. Yep.

Em relação ao Doutor Simon, ele aparecerá mais para frente. Seria bem ridículo se os Reis ainda deixassem o Simon ter as consultas com o Arthur (que agora na verdade é o Afonso. Ele logo perceberia que teria algo de errado com o Príncipe). E eu definitivamente não sei escrever duelos de espada, admito. Foi mal pessoal, eu nunca tive esse dom. E o que acharam dessa relação da Teresa com o Arthur? Achei bem algo tipo irmãos que se odeiam, sabe? Exceto que aqui eles não são irmãos, e no fundo não se amam. Odeiam um ao outro, isso é fato, e não vai mudar. Fim de papo. Conseguiram sentir pequenos indícios no capítulos? Hum? E para quem ainda não reparou, esse foi o dia do Arthur antes da morte dele. O dia da sua morte. Eu quis retratar todas as relações que haviam pedido. Bem, cá está.

Espero, mesmo que vocês tenham gostado, de verdade. Porque deu um mó trabalhão escrever esse capítulo e ainda pensar nos pequenos detalhes sem revelar algo grande. Mas enfim.

Agora mudando totalmente de assunto, vocês já chegaram a ler "A Herdeira" da Kiera Cass? Gente, mas que livro do inferno! Até agora eu estou num momento muito amor e ódio com esse livro, sério. Eu só gosto dele por conta de alguns personagens, como o Henri, Erick, Oden, Kaden, Ahren, até gostei da America nesse livro (e olha que eu não gostava dela na trilogia, sério, eu sou dessas que gosta de todos menos a protagonista). Já entenderam que eu não gostei da Eadlyn? Gente, mas que menina chata! "Ah, mas ela não é chata!" É sim! Nossa, eu achei-a insuportável, sério, se eu fosse um dos meninos lá, agiria igual a um deles que simplesmente deu um pé na bunda dela. Como eles podem gostar dela? TODOS lá merecem alguém melhor, principalmente o Henri, PRINCIPALMENTE O HENRI. Ele é muito amorzinho, impossível não gostar. Ain, eu não gosto dela. E se no final ela ficar com o Kile, vai ser muito America e Maxon 2.0 EU NÃO QUERO UMA AMERICA E MAXON 2.0 Mas que bosta!

Mas enfim, deixando de lado minha irritação (e também o fato de que aquele livro é o primeiro de que tem a Seleção e envolvida e eu definitivamente não shipo ninguém ali - exceto Ahren e Camille - porque todos merecem alguém melhor que a Eadlyn, definitivamente), e vamos focar nas interativas.

Eu estava pensando em começar a escrever uma outra interativa, que mexeria com bruxas, anciões, nativos e reinos (seriam os povos da minha fanfic), e sério, estou me empolgando mais que o necessário, e estou pensando em postá-la antes de HB acabar. Minha intenção era terminar HB e depois começar a postar outra fanfic, mas o fato é que estou tão ansiosa para essa fanfic, e eu tenho um medo danado de não querer postá-la depois. Mas enfim, vocês se inscreveriam se eu postasse uma nova fanfic interativa? Ah, mas do que? Ainda não tenho certeza em qual categoria, mas se inscreveriam? Só me falem isso. (Nela teria o Matthew Gubler ~insira um coração aqui~)

É isso meninas, por agora. Espero que tenham gostado do capítulo (é o que, a quinta vez que eu falo isso?), e que fiquem por perto, cometem, digam o que acham do Arthur agora, e enfim, essas coisas essenciais para mim (inclusive, a Bia me mandou uma MP esses dias atrás -- inclusive, obrigada novamente, Bia, levantou meu astral -- falando sobre teorias e ideias para a fanfic. E eu adorei tanto isso, que gostaria de saber se vocês tem algumas teorias, pode ser tanto na fanfic, quanto no universo geral. E se tiverem ideias para a fanfic, pode falar -- mesmo que isso não signifique que eu vá aderir a ideia).

É isso, beijos a todas vocês, e uma boa Pasárgada, até mais ver o//



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