Cá estou eu indo para a casa do Téo, iremos pescar e, dessa vez eu não quis chamar minha irmã Dóris, ela é tagarela demais, e até que vai ser bom eu passar um tempo sozinho com o Téo, ele é da mesma idade que eu e entende mais das coisas do que a Dóris, e nós podemos conversar sobre nossos assuntos sem tem que parar a cada minuto para explicar para Dóris, o que seria inútil, já que ela é toda esquecida.

Chego à casa de Téo e entro sem bater na porta, é bem cedo, os pais dele ainda devem estar dormindo, não quero incomoda-los, quando entro em seu quarto dou um berro, Téo está só de cueca, ele se assusta comigo e dá um berro também.

– Mateus, não sabe bater na porta não?- Ele está zangado comigo.

– Desculpa Téo- Eu estou com os meus olhos fechados, devo estar vermelho de tanta vergonha, ainda bem que o Téo não consegue ver minha cara- Eu não quis fazer barulho pra não acordar seus pais.

– Mas você falhou nisso pelo visto- Ele deu uma risada- Nós dois gritamos, e a final, por que você gritou?

– Porque você está só de cueca- Minha cara queima de tanta vergonha- Eu pensei que você estaria já arrumado.

– É meio difícil um cego se arrumar sozinho- ele dá uma risada irônica.

– Onde está o Pedro? Ele deveria estar aqui- Estou meio indignado, foi um pouco de irresponsabilidade dele deixar o Téo sozinho.

– Ele foi viajar a trabalho- Téo responde- Está tendo uma espécie de surto de doença entre os cachorros do vilarejo vizinho e ele foi lá pra ajudar.

– Ah sim- Me sinto culpado de ter achado o Pedro irresponsável- Mas por que você não acordou teus pais?

– Não quis incomodar- Ele fala meio triste- Eles já me ajudam o dia inteiro.

– Ah sim- falo meio triste também, os pais do Téo são dois anjos mesmo.

Téo está dando uns gemidos de frustação e eu me atrevo a abrir os olhos, ele está com dificuldades de botar as calças.

– Mateus, você poderia me ajudar?- Ele pergunta com certa tristeza na voz.

– Como disse?- Falo totalmente espantado

– Me ajuda a botar minhas calças e o cinto?- Ele repete totalmente inocente- Se não quiser não tem problema.

–NÃO- Eu dou outro berro- Eu ajudo, é claro.

Estou com muita vergonha, minha cara deve estar mais vermelha do que um tomate, estou tomando todo o cuidado do mundo pra não tocar em nada que não devo tocar, o que tornou a tarefa de colocar o cinto em Téo praticamente impossível, mas no final deu tudo certo.

–Obrigado Mateus- Ele sorri pra mim- Você é meu melhor amigo mesmo, não sei o que seria de mim nessas horas sem você.

– De nada Téo- Dou um sorriso totalmente bobo- Você também é meu melhor amigo.

A camisa ele mesmo botou sozinho, e eu ajudei ele com o sapato, amarrei pra ele e agora vamos para a cozinha para Téo comer pelo menos uma fruta de café da manhã.

Téo comeu algumas torradas e uma maçã, agora iremos finalmente pescar.

No caminho Téo e eu vamos conversando e brincando.

Chegando ao lago do Haras, pego minha vara e Téo pega a dele, nossa pesca tem que ser muito silenciosa, não queremos espantar os peixes. Já devem ser umas dez da manhã, pegamos dois peixes só, foi um dia ruim até para pesca, em dias bons conseguimos pegar cinco, às vezes até seis.

Está muito quente hoje, parece que o verão chegou mais cedo, estou suando muito, na hora em que eu penso em ir deitar embaixo de uma árvore Téo pergunta:

– Vamos nadar no lago?- Faz um tempão que a gente não nada, a pergunta me deixou animado.

Vamos sim- estou muito feliz, a água deve estar geladinha, muito melhor do que ficar deitado na sombra. Téo tira sua blusa e eu também, damos as mãos e pulamos juntos, a água está muito gelada, definitivamente o calor passou. Tenho que ficar perto de Téo, caso se acontecer algo eu estarei por perto para ajuda-lo.

Mateus me deixa subir nas tuas costas?- Ele pergunta com um sorriso.

– Mas pra que Téo? – Pergunto com certo rubor nas bochechas.

– Quero sentir o vento- Ele sempre tem dessas de querer sentir as coisas- Você me deixa subir?

– Claro que deixo- Não irei negar isso ao Téo, nunca nego nada a ele.

Ele sobe em minhas costas e começa a rir que nem um bobo, ele ama essa sensação de sentir as coisas, acho isso lindo, Téo apesar das dificuldades da sua vida ele nunca deixa de sorrir e ser feliz, nunca deixa de me alegrar, deve ser por isso que eu o amo tanto.