O que o destino aprontou dessa vez? escrita por Aquariana


Capítulo 77
Capítulo 77 - À Beira Mar


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores. Como vão?
Bem... Chegamos, não é?
Último capítulo, meus caros. Como combinado.
Sabem uma coisa curiosa? Eu lembro da música que ouvi quando escrevi o primeiro capítulo desta história, (Stubborn Love - The lumineers), e coincidência ou não, me dei conta de que estou ouvindo ela nesse exato instante, justamente no último capítulo.
Tocante, não? Nos dois sentidos. Ô piada ruim hein, Aquariana?!
Boa leitura e até as notas finais.



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Era um dia quente, como na maioria dos dias naquele estado. Os seis amigos estavam sentados na areia da praia, dando boas vindas ao vento e ao mar que avançava cada vez mais com o aumento das marés. Uma cena um tanto familiar.

Lá estavam Elídio Sanna, Luana Bell, Eduardo Nunes, Daniel Nascimento, Luana Bizzocchi e Anderson Bizzocchi. Todos em perfeita harmonia, aproveitavam a praia e as férias finalmente. Estavam em um lugar um pouco afastado das demais pessoas, onde podiam falar alto, gargalhar e agir como qualquer bando de loucos agiria. 

— E aí? Quem vem comigo até o mar? – Exclamou Anderson. Como um coro, Edu e as “Luanas” concordaram de imediato. O quarteto levantou-se e correram até lá, adentrando e pulando ondas, agindo como verdadeiros adolescentes. Quem visse, não diria que todos ali estavam na faixa dos 30 anos.

— Enfim sós. – Daniel disse a Elídio, que o olhara com uma expressão um tanto estranha.

— Está me estranhando? – O outro riu. Na verdade, estava gargalhando.

— Não, não costumo me relacionar a fundo com colegas de trabalho.

— Ah tá. Você fala como se nos conhecêssemos há dias.

— São anos.

— Eu sei. – Ambos começaram a olhar aquela cena, onde todos se divertiam perfeitamente, onde cada um expressava seu sorriso mais sincero, e tentavam derrubar uns aos outros nas inquietas águas daquele mar azul. – Você tem uma divida comigo.

— Que divida?

— Já esqueceu, Sr. Nascimento? – Daniel se fez de indiferente. – Deixa eu refrescar sua memória: não lembra de dias atrás, quando eu lhe ajudei com a Luana? Ham?

— Ah... é verdade.

— E modéstia a parte, se não fosse por mim, nesse exato momento ela estaria na Bélgica.

— Espero que um sorvete de casquinha seja o suficiente. – Ele tentou esconder seu sorriso malicioso.

— Oi? Quer me recompensar com um sorvete de casquinha?

— É o que você merece.

— Rárá. – Elídio riu ironicamente. – Caramba, Daniel. Como você é engraçado.

— Não é a toa que faço parte do ramo humorístico, meu caro.

— Vou aceitar essa sua... “recompensa” se é que pode-se assim dizer. – Elídio disse enquanto sinalizava altas aspas com os dedos.

— Que foi? Queria que eu te desse dinheiro, por acaso?

— Lógico que não. Mas ainda não acho que um mero sorvete de casquinha seja o suficiente pra me recompensar. Eu esperava um gesto.

— De nada. Ingrato. – Trocaram mais uns de seus sorrisos maliciosos e voltaram a observa-los. Em pouco tempo, todos voltaram, evidentemente molhados, ofegantes e risonhos. – Qual o motivo das risadas?

— A gente estava fazendo uma aposta. Quem caísse primeiro iria pagar pizza pra todo mundo. – A irmã de Anderson respondeu.

— E quem perdeu? – Sanna exclamou. E ela própria levantou a mão, acusando-se, seguida por um coro de risadas.

— A propósito, Lua, vem aqui comigo um instante. – Daniel levantou-se da areia e puxou-a pelo braço, afastando-se de todos.

— Lembrando que é terminantemente proibido fazer sexo na praia! – Anderson disse alto e em bom tom.

— Cala a boca, Andy! – Daniel tirou seu boné e lançou contra ele, fazendo todos caírem na risada outra vez.

Depois de algum tempo andando na orla da praia, onde hora ou outra os resquícios de uma onda alcançavam seus pés, Daniel e Luana ficaram praticamente isolados de tudo e de todos. A ventania emaranhava seus fios de cabelo. Conseguiam ouvir o som das ondas que se quebravam a metros dali, e sentir o cheiro da maresia e das minúsculas partículas de areia que os arranhavam.

Até então em silêncio, de mãos dadas, o casal apreciava a bela paisagem que havia ao seu redor. Repentinamente, Luana disse algo em um de seus tons mais doces.

— Por que me trouxe até aqui? – Ela o fitou, e notou a ponta de seu nariz avermelhado depois de passar tanto tempo exposto naquele impiedoso sol.

— Só queria ficar um pouco sozinho contigo.

— E precisava ser tão longe?

— Vem, vamos sentar ali. – Ele apontou para um ponto qualquer na areia, bem próximo ao mar. – Posso perguntar uma coisa?

— Quantas coisas quiser.

— Antes de namorar comigo, de qual dos três você gostava mais? – Daniel indagou, e ele podia bem pensar que ela responderia algo como “De você, é claro”. Porém...

— Do Anderson.

— Oi?

— Do Anderson. Eu gostava mais do Anderson.

— É meio incompatível, não?

— Totalmente. – De repente, o barbixa começou a gargalhar. Aqueles famosos risos que ela conhecia bem e adorava tanto. – Qual a graça? 

— Você gostava mais do Andy! É essa a graça! E quer saber? Vai lá com o teu preferido! Me deixa aqui na rua da amargura. – Ele disse alto e comicamente, contagiando-a também.

— Sabe, às vezes me pergunto como ainda damos certo.

— Como assim?

— Já aconteceu tanta coisa com a gente. Sem contar que eu gostava mais do Anderson. – Mais uma vez, os risos. – Mas apesar de tudo, aqui estamos.

— Por falar em desgraça, lembro bem de ver você ao lado do Lucas no portão de embarque. Ele ia com você, não ia?

— Sim, ele ia.

— Porque você permitiu.

— Não vamos mais falar dele. A essa altura, ele está na Bélgica, longe de nós, e não nos atrapalhará mais. Vamos falar de chocolate, teatro, nomes estranhos ou qualquer outra coisa. – Ele ficou um tempo em silêncio. Ela tinha razão. Lucas era página virada, e não os importunaria mais. Ou ao menos, não nos próximos três anos.

— Sim, vamos falar de você e... dessa tatuagem.

— Ah sim. A tatuagem.

— Quando fez? – Perguntou ele passando seus finos dedos sobre o desenho em seu quadril.

— Acho que há três semanas. Ainda estávamos separados.

— E por que uma coruja? Acha bonito?

— Acho, mas não só por isso. Corujas tem um grande significado. É como se, mesmo sem perceber, minha personalidade acabasse se espelhando nelas. Um desenho, um símbolo ou palavras bonitas não podem ser impressos em nós se não tiverem um significado ou se não tivermos a certeza de que não vamos nos arrepender depois, afinal é algo que fica conosco pra sempre.

— Lindas palavras. – Daniel sentiu o celular tocar no bolso de sua bermuda. – Posso?

— Claro.

— Alô? Oi, mãe. – Assim que ouviu “mãe”, Luana voltou seu olhar para baixo. De repente e sem motivo algum, se sentiu uma completa intrusa.

— Oi, querido! Estou atrapalhando em alguma coisa?

— Não, a senhora nunca atrapalha.

— Então está bem. Você está na Bahia?

— Ceará, mãe.

— Ah, sim claro. Só liguei porque, já que está de férias, queria que passasse um tempinho aqui em casa. Pra matar saudade, sabe?

— Sim, sei sim. – Ele riu. – Eu ia mesmo ligar na próxima semana, pra saber se podia fazer uma visita.

— Você sempre pode, querido. A hora que quiser.

— Que bom... – Porém Daniel olhou para Luana, e a viu expressar um sorriso tímido. Ele sentia que tinha que fazer algo, e fez. – ...ô mãe.

— Diga.

— Tem uma pessoa aqui do meu lado, querendo falar com a senhora. – Assim que ouviu seus dizeres, Luana arregalou os olhos. Por essa ela não esperava, e lhe fez uma cara como quem diz “Como assim?”.

— Quem? – A mulher perguntara do outro lado da linha.

— A Luana. Lembra que lhe falei dela? – “E como assim ‘falei dela’?”, Luana se perguntava cada vez mais desorientada.

— Namorada, não é isso?

— É isso.

— Pode passar pra ela.

— Tudo bem. Até logo.

— Até logo, querido. – Daniel estendeu o celular para a ruiva, arqueando as sobrancelhas, com aquela expressão que ela conhecia bem. Mesmo insegura, e muito surpresa por sinal, ela pegou o telefone.

— Alô?

— Oi, bom dia, querida.

— Bom dia. – Admirada com tamanho bom humor, ela tentou manter o tom da conversa, enquanto o barbixa apenas observava de relance.

— Então você é a Luana, estou certa?

— Certíssima.

— E como você está, meu anjo?

— Muito bem. E a senhora?

— Idem. O Daniel já me falou de você algumas vezes.

— Espero que só tenha dito coisa boa. – Luana conseguiu arrancar-lhe risos.

— Sim, falou muito bem de você. A propósito, depois dessa viagem, ele vem aqui nos ver. Por que não vem também?

— Até aí? Conhecer vocês?

— Sim, por que não?

— Claro! Seria ótimo. Tenho certeza que vou adorar.

— Perfeito! Sei que você se dará bem com todos aqui. Então depois marcamos um dia. Tenho que ir agora.

— Tudo bem. Foi um prazer falar com a senhora.

— Com você também, querida. Um abraço.

— Outro. – Luana desligou o celular, observando o mar sem fim a sua frente, e prensando os lábios na tentativa de esconder seu sorriso. Devolveu o aparelho ao outro e fitou-o.

— Pronto. Devidamente apresentadas. E então? O que achou dela?

— Adorável. Igual a você. – Ele também sorriu.

— Pelo que eu entendi, ela quer te conhecer.

— E isso é bom?

— Isso é ótimo.

— Uma vez eu já tive a chance de conhecer ela.

— E por que não conheceu?

— Não achei que fosse o melhor momento.

— Quando foi isso, Lua? – Luana até iria responder, mas quando lembrou dos motivos que a levaram a isso, sentiu seus olhos arderem instantaneamente, e a cicatriz que ele trazia no peito lhe dava ainda mais motivos para sentir essa angustia. – Lua? Está chorando?

— Eu não estou chorando. Que tolice.

— Qual será o dia em que você vai admitir que tem sentimentos? Que vai admitir que, assim como qualquer pessoa, tem a necessidade de chorar? – Ela respirou fundo.

— Foi quando você estava no hospital. Foi quando eu pude ter conhecido ela. – Como uma explosão de fleches, ela relembrou de tudo naquele dia, e principalmente, da noite anterior àquele dia. Do desespero, das lágrimas e das trocas de olhares.

— Ei, não fique lembrando disso. E também não ligue pra essa cicatriz. Agora ela só faz parte da coleção. – Ao apontar para a que havia em sua testa, ele enfim conseguiu arrancar-lhe um sorriso meigo. – Lembra do que o ladrão levou naquela noite?

— Ele levou muitas coisas. 

— O anel de compromisso, inclusive.

— Ah, sim. Claro. – Luana calou-se. Voltou a observar o horizonte, mas quando olhou para o lado, o viu com outra daquelas caixinhas na mão, azul-marinho.

— Então? – Luana observava a ele e a ela, com o coração acelerado e os olhos ainda lacrimejantes. Ele abriu, deixando a mostra algo que parecia uma fina aliança prateada, com um belo brilhante violeta no centro. – Vamos fazer de novo? Aceita namorar comigo, Luana Bell?

— Eu aceito. E se me perguntasse outras mil vezes, eu diria que sim. – Ah... aqueles sorrisos. Eles diziam tudo e algo mais. Ele tirou o anel da pequena caixa aveludada, e o pôs em seu dedo. Depois de tal gesto, ele beijou sua mão, enquanto a fitava intensamente e a puxava para ainda mais perto. – Quando acho que você já conseguiu me mostrar o quão incrível consegue ser, você vem e me surpreende mais uma vez.

— Na verdade, sinto lhe dizer que isso ainda não é um pedido de noivado.

— Como assim “ainda”?

— Afinal, o propósito do namoro não é esse? – Sim. E ela sabia que sim. Pensar nessa possibilidade a causava arrepios. A fazia sentir-se a mais feliz das mulheres.

Ficaram um bom tempo abraçados na areia, concentrados em tudo e ao mesmo tempo em nada, e sentindo a mais bela sensação que os invadia aos poucos. Esta os preenchia de uma forma simplesmente inexplicável. Era como se tudo o que precisassem estivesse ali agora.

— Você é a melhor ruiva que eu já conheci. E a única também.

— Esperto. E você é o melhor... bem, o melhor... alguma coisa.

— Ah então eu sou “coisa”?

— Mas é minha coisa predileta.

— Pensei que fosse o Anderson. – Ele tinha um sorriso maroto no canto dos lábios.

— Não significa que eu lhe ame menos, sabichão. – Daniel ficou quieto por questão de segundos, e assim, ele fez uma das perguntas mais questionantes que alguém poderia fazer em sua sã existência.

— Você me ama? – Ele a viu olha-lo subitamente. Certamente Luana não esperava pela pergunta. Ela poderia dizer que sim, com todas as letras, verbos e vírgulas, mas sua garganta simplesmente travou e o silêncio se fez presente. – Você sabe o que é o amor? O amor é incondicional, Lua. Ele é incondicional. E eu não me admiraria em ouvir você dizer que não, pois eu sei do seu passado, e eu sei de tudo o que já te fiz passar. – Ela jamais o fitara tão profundamente como agora. E agora, talvez pela primeira vez, ela sabia o real sentido de amar. 

— Eu amo você. Eu amo muito. E... e você?

— Eu? Ah, Lua... – Com uma das mãos ele segurava-a pelo queixo e olhava no fundo de seus olhos, prestes a beijá-la. – ...eu também amo você.  

Muitas vezes pessoas se perguntam o que seja amor. Se perguntam se um dia poderão desfrutar do mais belo dos sentimentos ou até mesmo se ele, de fato, existe. Talvez só seja difícil de encontrá-lo.

Ele costuma surgir das formas mais imprevistas, como aquela depressiva ruiva que descobriu a felicidade em um simples canal de vídeos, ou aquele homem que descobriu a maior das paixões nas meras férias de outono daquela mesma praia.

E o destino até decide quem entra em nossas vidas, mas cabe a nós decidir quem vai ficar. Daniel e Luana, bem, eles permitiram apaixonar-se, levar tudo a diante e se fazer presentes na vida um do outro.

Ah... o destino. Tão árduo e tão doce ao mesmo tempo. Tão sábio, tão fascinante e tão improvável, que nos deixa intervir nele, porém nos prega muitas peças ao longo do caminho. Nos testa, nos faz questionar, e nos compensa de formas às vezes incompreensíveis, mas sempre com a mais plena das razões.

Coisas do destino... Vai entender.                    


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Notas finais do capítulo

Enfim, o fim.
Notaram uma coisa? Ambos só disseram que amavam um ao outro no último capítulo. Pra dar um clímax. Haha.
E posso lhes confessar uma coisa? Poucas vezes eu senti tamanha alegria e tristeza ao mesmo tempo.
Lembro bem do dia em que decidi começar a escrever isto aqui. E melhor ainda: do dia em que decidi publica-la. Foi uma decisão em tanto, pois eu jamais havia feito um projeto como esse, ainda mais quando é para ser lido por tantas pessoas. Nesse instante, são mais de 5.700 acessos.

Devo praticamente tudo o que conquistei aqui a vocês. Então recebam o meu mais sincero obrigada, aos que favoritaram, acompanharam, recomendaram, comentaram, e aos que apenas leram. Podem ter a certeza de que tenho um carinho especial por cada um de vocês.
Foram pouco mais de nove meses juntos, e quero que saibam que NUNCA esquecerei isto aqui. Esse mundo paralelo que criei, me serviu de inspiração, de refúgio, e principalmente, de aprendizado.

Mais uma coisa: isto não é necessariamente um adeus. Afinal eu tenho ideias, e com isso novas fanfics virão. Estas que muito provavelmente não terão nada a ver com nossos queridos Barbixas, mas certamente serão escritas com o mesmo carinho e dedicação.
Por fim... muitíssimo obrigada por lerem. E quem sabe, até a próxima.



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