O que o destino aprontou dessa vez? escrita por Aquariana


Capítulo 5
Capítulo 5 - Anjo sem asas


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores, como vão?
Mais uma vez trago um novo capítulo e espero que aprovem.
Boa leitura!



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Talvez um acerto aqui ou ali, mas ao invés de acertarem o cesto de lixo, os papéis começavam a cair pelo chão, de tão lotada que estava aquela lixeira. No quarto de hotel, iluminado apenas pelo abajur, Luana estava a ponto de bater a própria cabeça na parede, pois já estava quase que completamente esgotada de ideias. “Ok, só mais algumas tentativas”, ela pensou.

Em meio a algumas ameaças de riscar a folha em branco, ela fez um traço, depois mais outro e assim foi desenhando, deixando o que quer que fosse que estivesse pensando fluir. Até que ela parou por um segundo e auto avaliou sua obra, ainda inacabada. “Ficou horrível”, criticou antes mesmo de terminar “Como todas anteriores” e espalmou a mão por cima da folha, amassando-a com vontade, como um castigo que ela desejava ter.

Mais um papel foi posto sobre os demais e ao reiniciar pela milésima vez, ela achou ter ouvido um barulho vindo de algum lugar que não pôde decifrar. Passou a olhar para todos os cantos do quarto, com desconfiança, porém nada encontrou, e começou a achar que estava ouvindo coisas. Talvez fosse a reação de seu cérebro que precisava se distrair com algo que não fosse os próprios desenhos que estava criando.

Ainda assim ela prosseguiu. Minutos depois, ao finalizar, deu uma nova avaliada: “É... até que está bom”. Expôs o desenho contra a luz do abajur, aproximando-o do mesmo e pôde vê-lo mais detalhadamente. A porta abriu-se repentinamente e Luana logo escondeu o papel entre os demais com um gesto rápido.

– Lua, faz um século que você está aí e não sai desse quarto escuro. – Ellen disse um tanto alto. – Por que não vem jantar com a gente? O Lucas fez yakissoba.

– Não estou com fome.

– Ei, você tem que se alimentar bem, ordens médicas.

– É, eu sei. Mais tarde eu como alguma coisa.

– Ok, mas não demora, hein. – Luana nada respondeu. – O que você está desenhado? – E novamente, Ellen só obteve o silêncio. – Lua? Luana!

– Ah! Que foi?

– Eu estou falando com você.

– Hm... – Luana parecia não dar atenção. Olhava para o nada.

– Lua!

– Que foi, criatura?! – A ruiva olhou abruptamente para a amiga parada ao lado da porta. A morena então sem pensar mais, foi até ela em direção à mesa de escrivania.

– Quer saber? Deixa eu ver esses negócios aqui! – Ellen pegou os papeis indo para longe de Luana e folheando-os um a um.

– Ellen! Me dá esses papeis aqui!

– Não dou. Quero ver o que você está desenhando.

– Mas não é nada demais. Anda, me devolve. – Ela disse levantando-se da cadeira e indo até o canto do quarto onde Ellen estava com suas tão preciosas folhas.

– Ah então quer dizer que não é nada demais? O que é isso aqui? – A outra disse descobrindo um papel perdido entre o demais e mostrando-o a ela.

– É um desenho. – Respondeu obviamente.

– Então por que você está desenhado isto especificamente?

– Você sabe que eu sempre desenho isso.

– Tantas vezes assim? – Ela disse olhando em direção ao cesto de lixo, certamente transbordando de folhas com desenhos semelhantes.

– É! Qual é o problema? – Luana disse tomando as folhas das mãos de Ellen, que permitiu que ela as pegasse.

– Então é isso que anda fazendo você se distrair tanto ultimamente, não é?

– Você sabe mais do que ninguém que eu vivo no mundo da lua e que não é de hoje que sou assim.

– Você vive no mundo da Lua, literalmente. – Ellen disse fazendo graça com o apelido da amiga e com o velho ditado popular.

– Eu já disse que seus trocadilhos são horríveis?

– Não tenda mudar de assunto não hein, mocinha?

– Por que todo mundo tende a me chamar de mocinha? Eu tenho 28 anos!

– Você sabe que tem cara de adolescente e que já está mudando de assunto novamente. – Ellen sentou-se na cama que ficava ao lado na escrivania. – Isso tudo mexeu contigo, eu sei. – A mesma pôde ver seus olhos verdes e sérios em sua direção, porém estes logo voltaram-se para baixo. – O acidente, os meninos.

– Talvez. – A ruiva cedeu.

– Sabe, lembro de quando éramos mais jovens. Lembra da primeira vez que vimos eles? Eu até cheguei a chorar. E depois que eles me abraçaram eu chorei mais ainda, porque eu sabia que aqueles abraços valiam mais que tudo, aliás ainda valem, mas com você foi diferente. Você quase nem esboçou reação. – Luana riu sem graça ao lembrar das cenas. – Nem parecia fã, de tão fria que foi. Ainda chegamos a ir algumas poucas vezes e depois nunca mais. Já faz quase um ano que não vemos eles e nem o espetáculo. E agora você reencontrou eles dessa maneira tão inusitada. – A ruiva assentiu com um sorriso fechado. – Vou deixar você sozinha com seus desenhos. Só não esquece que tem que jantar mais tarde e que temos um dia cheio amanhã, afinal, viajem só tem graça se você conhecer os pontos turísticos, não é mesmo? – Ela disse levantando-se da cama e indo em direção à saída. Luana pôde ouvir os passos de Ellen ao se afastar e a batida da porta. Os próximos minutos que passou sozinha naquele quarto foi relembrando as sábias palavras da amiga.

Ela então reviu o desenho. A nítida imagem de seis pessoas. Mais especificamente três. As pessoas que salvaram sua vida, duas vezes.

A primeira foi quando ela passava por problemas familiares, quando nada tinha mais sentido, quando ela queria fugir de casa e nunca mais ligar pro mundo ou pro que as pessoas diziam. Mas foi aí que o destino lhe encontrou uma razão a mais para viver e a vida passou a ter um propósito; foi quando ela os conheceu.

De início, pareciam apenas pessoas comuns, pessoas como ela, mas então ela viu que não eram apenas isso, eram muito mais que isso. Eram seus heróis. De repente aquela jovem depressiva se tornou uma pessoa que ria sozinha na rua sem nenhum motivo e as demais a olhavam como se ela fosse louca ou como se não tivesse consciência. Mas a consciência mais plena que ela tinha era que isso era um sinal de que tudo aquilo representava um recomeço.

Já a segunda vez... essa mais recente e inimaginável. Quem diria que isso pudesse acontecer? Quem diria que fosse assim? Que isso mexeria ainda mais com ela? E que mais uma vez ela não conseguiria esboçar reação? Ela só sabia que eles estavam ali: em sua folha de papel, e que aquele desenho representava muito para si.

Levantou-se da cadeira e deixou as folhas, os lápis e tudo do jeito que estava. Deitou-se na cama e pegou seu celular. Aquelas músicas... elas a preenchiam de fora para dentro, faziam-na flutuar e sentir-se em plena paz.

“Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena
Acreditar no sonho que se tem
Ou que seus planos nunca vão dar certo
Ou que você nunca vai ser alguém
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Mas eu sei que um dia a gente aprende
Se você quiser alguém em quem confiar
Confie em si mesmo
Quem acredita sempre alcança”

Começou a cantar baixinho e foi aumentando o tom, podendo ser ouvida por Ellen que novamente passava pela porta do quarto para insistir que a amiga comesse algo. Porém foi proibida por ela mesma, que não se permitia interromper a linda voz que a amiga libertava de si e que poucas vezes podia ser ouvida, devido a grande vergonha que a outra sentia de cantar em público. Com uma das orelhas grudadas na parede, ela desfrutava despercebida daquele belo canto. Até que pôde ouvir outra voz ao longe, senão um berro, vindo do quarto onde estava Lucas. Ah... mas ele sempre estragava os melhores momentos. Desgrudou da parede e seguiu pelo corredor que dava acesso ao cômodo vizinho.

Ainda deitada e entretida pela música, Luana alcançou com o braço esticado o papel desenhado e o observou pela décima vez. Então focou no “quatro olhos”. O cara que tantas vezes a fez rir mesmo com as piores piadas. O homem com cabelos arrepiados e com tanta doçura no sorriso e no olhar. Que se não fosse por sua ajuda, talvez ela nem estivesse ali agora. Lua devia sua vida a ele e queria mais que tudo revê-lo; aquele anjo sem asas.


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Notas finais do capítulo

Música: Mais uma vez - Legião Urbana
Obrigada por lerem e até a próxima!



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