O que o destino aprontou dessa vez? escrita por Aquariana


Capítulo 47
Capítulo 47 - É complicado


Notas iniciais do capítulo

Olá caros leitores. Como vão?
Já cheguei! E eu queria mesmo dar minha singela opinião sobre esse capítulo, mas é que realmente não sei definir.
Bem, tirem suas próprias conclusões.
Boa leitura!



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Está escuro. Luana apenas vê rápidos fleches de luz em meio ao breu. Ouve vozes. Vozes essas que não sabe de onde vem. Elas balbuciam algo, que ela não consegue compreender. Em meio as vozes, um zumbido e diversos outros barulhos que aumentam a intensidade a cada segundo. Parece ser uma multidão que fala ao mesmo tempo. Sente então seu corpo cair sobre o chão gelado. Involuntariamente, Luana abre os olhos. Se dá conta de que está na sala, ao lado do sofá. Sua reação em relação a isso tudo é um tanto confusa. Não sabe se chora de rir ou de susto.

– Lua? – Pergunta Ellen, surgindo do corredor. – Por que está de quatro no chão?

– Eu caí do sofá. – Respondeu ela em meio as lágrimas.

– E por que está chorando?

– Não sei. É que foi ruim e legal ao mesmo tempo. Tive um sonho muito estranho.

– Sabe, por trás dos sonhos sempre há um real significado.

– Isso já não sei. Eu passei a noite aqui? – Ela levantava-se aos poucos.

– Acho que sim.

– Por que não me acordou então?

– É que você é muito bonitinha dormindo. Não quis acabar com o momento. – Provocou Ellen, sabendo que a amiga não curtia fofuras.

– Quer que eu te esgane? – Luana brincou.

– Não, obrigada. Eu escolho a vida.

– Engraçadinha, você.

Luana foi para o trabalho na mesma manhã. Um dia normal, como um outro qualquer. Muitos pacientes, consultas e foco. Se haviam importantes qualidades em Luana, essa era uma delas. A ruiva podia ser avoada, distraída e até mesmo desatenta, mas quando o assunto era trabalho, a coisa mudava de figurino. Era extremamente segura e competente quanto a isso.

Na volta, um engarrafamento daqueles. Andava meio metro a cada cinco minutos que se passavam. O ar-condicionado do veículo a aliviava naquele dia calorento. Ao seu redor, carros e mais carros, motos que passavam entre um veículo e outro, e buzinadas agoniantes.

Em meio a tanto estresse, uma solução. A boa e velha companheira para todos os momentos: a música. Imediatamente, Luana começou a ouvir uma das que haviam em seu celular. Logo a primeira, começou a embalar sua fértil imaginação e seus pensamentos, que horas antes foram entupidos por tantos e tantos relatórios da clínica.

Não demorou muito até que ela pusesse novamente aquelas ideias perturbadoras na cabeça. Eram sobre o filho. O filho que estava em seu ventre. Ela tinha planos. Sim, tinha. Bons para uns, ruins para outros. Em meio à letra e à melodia que havia na música em que ouvia, ela se permitiu emocionar. Mas não. Não suportaria aquilo por mais tempo. Virou o volante do carro, entrando na outra avenida. Resolveria isso agora, sem esperar mais.

...

Daniel, estava sentado na cadeira acolchoada em seu escritório. Ele lia e relia por diversas vezes o mesmo parágrafo do roteiro de um possível futuro esquete. “Ainda não está bom o suficiente” pensava consigo mesmo. Não importasse quantas vezes lesse, ainda não estava a seu gosto. Queria um texto de qualidade, algo crítico e principalmente, algo cômico. Afinal esse era o principal objetivo: provocar risos no público. Entre uma ideia e outra, ele enfim chegou a um resultado satisfatório. Foi quando ouviu a campainha tocar.

Silvia estava em horário de serviço e certamente atenderia a porta. Ao menos foi o que ele pressupôs. Pouco tempo depois, Daniel ouviu duas fracas batidas na porta.

– Entra.

– Seu Daniel, desculpe incomodar, mas é que a Luana está ali fora e quer falar com você.

– A Lua?

– Sim. – Ele não esperava por essa visita. Ainda mais a essa hora da tarde. Conferiu rapidamente no relógio da parede. Eram 13:21. Levantou-se abruptamente, deixando os papéis e anotações sobe a mesa.

– A propósito, fez bem em me chamar de “você”. Continue assim. – Silvia deu um riso fraco, e refez seu percurso.

O barbixa foi até a entrada da casa, e lá encontrou a ruiva, vestida formalmente. Por certo havia acabado de sair do trabalho.

– Oi, Dani.

– Oi, amor. – Ele aproximou-se mais e depositou um rápido beijo em seus lábios. – Entra. – Mas por que diabos ele havia de chamá-la de “amor”? Isso não era de seu costume, e de alguma forma, a incomodou.

– Estou atrapalhando?

– Não, imagina. E a que devo a honra da sua visita? – Ela, que havia pensado e repensado por diversas vezes ao longo do caminho sobre o que dizer, acabou perdendo totalmente as palavras.

– Bem, quero conversar, mas não sei direito por onde começo, então vamos improvisar.

– Minha especialidade. – Ela sorriu de canto. Sorriso esse que logo foi substituído por uma discreta lágrima no canto de seu olho. – Ei, está chorando? – Ele aproximou-se dela, secando-a com as mãos.

– Não. Quer dizer, talvez.

– Está sim. É por causa do que veio falar comigo? – Ela assentiu. – Desse jeito você me preocupa. Vem, senta aqui. – Ambos deram poucos passos até chegar no sofá. Luana estava nervosa, gélida, e até mesmo trêmula. Enquanto que o outro, demonstrava singelos sinais de apreensão.

– Eu estou esperando um filho seu.

– Está o que?!

– Grávida.

– Espera um instante, acho que não processei as palavras direito. Você disse que está...

– Isso. Grávida. Quer que eu repita quantas vezes mais? – Ainda não havia caído a ficha para ele. Daniel levou uma das mãos aos cabelos, descontando neles a mistura de sensações.

– De quanto tempo?

– Talvez um mês.

– Mas... como? Me diz, como?

– Não lembra daquele dia em que você esqueceu a camisinha? Hã?

– Aquele dia... sim, eu lembro daquele dia. Mas você disse que ia tomar pílula. E você me fez confiar.

– Eu sei! Mas o dia seguinte foi muito corrido, tive muitos afazeres e acabei esquecendo. Pode me culpar.

– Não, não vou pôr a culpa em você. Não seria nobre da minha parte. Afinal, você não fez o filho sozinha. – O barbixa, até então em choque, enfim conseguiu abrir um sorriso no rosto. Um sorriso discreto, todavia, verdadeiro. Foi após pronunciar essa pequena palavra, de cinco letras e grande significado: filho.

– Você está sorrindo? Como pode sorrir numa situação dessas?

– Ainda não parou pra pensar no lado positivo disso?

– Não pensei, não vou pensar e tenho raiva de quem pensa.

– Espera, sério, pensa bem. É uma vida.

– Não. É simplesmente um ser que não devia sequer vir ao mundo. Nós não planejamos isso.

– O que quer dizer com isso? Hein, Lua?

– Que eu não quero ter esse filho. Não quero.

– Como é que é? Não vai me dizer que...

– Sim, isso mesmo que você entendeu. Eu quero abortar.

– Você não tem juízo?! – Ele levantou-se imediatamente. Ela o acompanhou. – Por acaso sabe a blasfêmia que está dizendo?! Aborto é crime!

– Existem muitas clínicas por aqui que fazem esse tipo de procedimento. Ilegalmente, mas fazem.

– Não acredito que você tem a coragem de fazer isso.

– Pois acredite, eu tenho.

– Como pode ser tão fria? Como pode dizer, ainda mais fazer uma coisa dessas? Como tem coragem de matar alguém que sequer nasceu? É teu próprio filho! É nosso filho. – A essa altura, os olhos de Daniel já estavam cheios de lágrimas, no entanto, nenhuma delas ousou em cair. Não era comum vê-lo daquela forma. Definitivamente não era. E ela, consequentemente, chorava por vê-lo assim.

– Dani, eu não planejei isso, eu não quero e não estou preparada. E acho que você também não está. Se realmente quer ter um filho, tem que se planejar, e acima de tudo, estar presente.

– E você não acha que eu posso fazer isso? Lua, eu não vou permitir que aborte! Não vou! Não vou deixar que faça mal a ele e nem que ponha a própria vida em risco.

– Isso é uma decisão minha! Não sua!

– E eu? Onde eu fico nisso? Tenho, sim, todo direito de intervir nessa história! – Ele levava uma das mãos à boca hora ou outra, e passava a mão pelos curtos cabelos castanhos, expondo seu nervosismo. – Nunca imaginei que você pudesse ser tão... tão...

– Impiedosa? Cruel e desumana? Sim, eu posso ser esse tipo de pessoa. Você ainda não viu nada.

– Você não tem coração.

– Então, Daniel Nascimento, faz que nem todos os outros. Faz, que eu já estou acostumada.

– Não entendi o que você quis dizer com isso.

– Eu quis dizer, que grande parte dos meus ficantes, namorados ou o que seja, romperam tudo que tinham comigo depois de descobrir esse meu lado. Que por trás de uma pessoa doce, existe uma mulher amarga. Então vai. Vai em frente. Me abandona e me larga como se eu fosse uma qualquer. Como o Lucas disse.

– Não vamos envolver esse infeliz no assunto, por favor. E outra coisa: eu não te largaria, ainda mais num momento como esse. – O moreno aproximou-se dela, segurando-a suavemente pelos braços. – Nós vamos ficar juntos. Você não vai tirar esse filho. Você vai fazer um acompanhamento médico até que ele nasça, e quando nascer, nós vamos cuidar dele. Vai dar tudo certo, acredite em mim.

– Eu já disse que eu não quero. – Daniel tentou conter-se, mas não pôde. Involuntariamente, ele passou a apertá-la.

– Não me faça perder a paciência com você.

– Me solte.

– Solto quando me prometer que não vai fazer mal algum a ele.

– Não posso prometer nada. Me solte.

– Prometa.

– Você está me machucando.

– Lua... – Ele cobrou novamente.

– Que droga! Me solta! – Ela começou a mexer-se com força, tentando se livrar. Passou a gritar com ele. Gritos e pedidos para que ele a largasse. Só então, Daniel soltou-a de uma vez. Respirou fundo. Afastou-se o máximo dela e pôs as mãos na cintura, voltando o olhar para baixo. Silêncio. Longos segundos de puro silêncio.

Luana não se sentia bem. Sua cabeça doía intensamente e seu corpo ficara fraco. A visão turva escurecia cada vez mais. Foi quando a tontura veio, e ela teve que se segurar imediatamente no sofá para não cair.

– Lua! – Ele andou apressadamente até ela, dando-lhe apoio. – O que está sentindo?

– Estou tonta. Só isso.

– Espere. – Ele sentou-a no sofá. – Vou buscar um copo de água pra você. – O barbixa foi e voltou em questão de poucos segundos.

– Obrigada. – Passaram mais algum tempo em silêncio. Nenhum dos dois sabia o que falar.

– Se sente melhor?

– Sim.

– Olha, Lua... me desculpa. Eu não queria que você se estressasse, eu só...

– Eu sei. – Luana o cortou. – Você não seria capaz de fazer mal a uma mosca. Mas eu... eu tenho que ir.

– Você vai sozinha?

– Sim, qual o problema?

– Você estava passando mal agorinha mesmo. Talvez possa acontecer de novo.

– Não vai. Já estou bem.

– Se você insiste...

– Pode abrir a porta pra mim? – Perguntou ela, já levantando-se do sofá.

– Claro. – Ele respondeu com certa melancolia, e com mais formalidade que o habitual.

E ela se foi. Sem dizer mais nenhuma palavra. Um clima tenso, muito tenso, havia se formado ali. Nenhum beijo de despedida, nenhum acordo, nenhum sorriso, nem nada.

Daniel deu meia volta. Sentou-se no estofado. Cobriu o rosto com ambas as mãos e deixou as lágrimas caírem, num choro abafado. Logo mais, Silvia apareceu na sala.

– Daniel? Está chorando? – Ele nada respondeu. Apenas a fitou, com os olhos vermelhos e discretos, como quem pede colo. – O que aconteceu?

– É complicado. – Ele tinha a voz rouca. Naquele momento, Silvia deixou de ser uma mera empregada para fazer o papel de mãe. Foi até ele, sentando-se ao seu lado e deitando sua cabeça em seu colo.

Lhe fez cafunés, lhe disse palavras de apoio, por mais que não soubesse os motivos que o levara a ficar assim. De repente, aquele homem que ela tinha como patrão, tornava-se um garoto que precisava de sua ajuda.

Daniel tinha os pensamentos carregados de tantas lembranças do que acontecera minutos atrás, porém aos poucos as memórias foram tornando-se vagas, silenciosas e pequenas demais, permitindo que seu pobre corpo descansasse em um sono profundo e ameno, num mundo de sonhos inteiramente seus.


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Notas finais do capítulo

Ai ai ai, hein.
Descubram o que acontecerá nos capítulos seguintes, galerinha.
Obrigada por lerem e até a próxima.



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