O que o destino aprontou dessa vez? escrita por Aquariana


Capítulo 43
Capítulo 43 - É uma metáfora


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores, como vão hoje?
Bem vindos ao Nyah mais uma vez e tenham uma boa leitura.



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Muitos dias se passaram. Por um acaso, ele estava desocupado. Mas o acaso não escolhe, e sim propõe.

Encostado no parapeito dos fundos da casa, Daniel tinha o violão apoiado sobre uma das pernas. Há tempos não tocava.

Agora, cantava e fazia dançar os dedos sobre as cordas do instrumento, dando origem a belos sons misturados à sua voz sublime. A música da vez, jamais fez tanto sentido.

“Longe de você, eu preciso de algo mais
Eu vivo na espera de poder viver a vida com você
Vejo pessoas sem saberem pra onde o mundo vai
Eu conto as horas para estar com você

Que mundo é esse que ninguém entende um sonho?
Que mundo é esse que ninguém sabe mais amar?
Pra tanta coisa que faz mal eu me disponho
Quando eu te vejo eu começo a sorrir
Eu começo a sorrir

Não quero desperdiçar a chance de ter encontrado você
Hoje o que eu mais quero é fazer você feliz
Vejo as pessoas e sei que juntos nós podemos muito mais
Eu vivo na espera de poder viver a vida com você

Que mundo é esse que ninguém entende um sonho?
Que mundo é esse que ninguém sabe mais amar?
Pra tanta coisa que faz mal eu me disponho
Quando eu te vejo eu começo a sorrir
Eu começo a sorrir”

O vento matinal fazia seus fios castanhos balançarem para lá e para cá, emaranhando-os. A blusa de frio, que servia para esquentar o corpo, já estava gélida com tamanha ventania, desconsiderando totalmente sua real função. Seus pensamentos estavam longe de tudo e todos. Sequer sabia direito quais notas estava tocando agora.

– Daniel? – Silvia surgiu de dentro da casa, o chamando, gesto esse que fez com que o barbixa voltasse a realidade.

– Sim?

– O senhor não quer comer alguma coisa agora? Desde cedo não come nada.

– Não me chame de senhor, Silvia.

– Desculpe.

– Tudo bem. E não quero comer nada ainda.

– Tem certeza?

– Tenho, estou sem fome. Mas obrigado pela preocupação. – Se formou um sorriso fechado em seu rosto, logo retribuído. Silvia assentiu com a cabeça e voltou para dentro. Certamente ainda tinha muito o que fazer.

Impressionante é como o tempo passa rápido quando se está distraído. E com ele, não era diferente.

– Outro dia volto aí pra te ver, ruivinha. – Fitava o horizonte, com uma promessa, como se Luana estivesse lá e pudesse compreender o que dizia. Baixou a cabeça, concentrou-se no violão novamente e se pôs a tocar outra melodia.

...

– Luaaaa! Vem cá! – Ellen gritou do outro cômodo, fazendo a amiga deslocar-se até a cozinha, com uma expressão um tanto preocupada.

– O que?! O que foi?!

– Não tem quase comida nenhuma nesse armário! Vou morrer de fome!

– Você me chamou aqui pra isso?

– Sim!

– Pensei que fosse algo importante! Você quase me mata do coração!

– Ué! E comida não é importante?

– Claro que sim. Só não precisava desse drama todo.

– Então, preciso que vá até o mercado fazer compras.

– Por que você não vai?

– Porque não quero mover um pé desse apartamento hoje mais. Você vai por mim.

– Folgada.

– Sou mesmo. – Ellen a encarou com um ar de superioridade irônico.

– Tudo bem, engraçadinha. Eu vou.

– É por isso que eu te amo! – Aproximou-se da outra e lhe deu um rápido beijo no rosto.

Luana assim fez, e lá comprou tudo que precisava. O mercado era grande. Os preços eram razoáveis e não ficava tão longe do apartamento onde morava. Uma boa saída em situações de emergência como essa.

Pôs as compras no porta malas e seguiu o caminho de volta. O trânsito nem tão engarrafado estava, até mesmo pelo horário: 14:32.

Enquanto dirigia, Luana sentia um leve desconforto. Não sabia bem o porquê. Talvez por causa do balançar do carro a toda hora. Foi então que, aos poucos, começou a suar frio, sentir uma forte dor abdominal. Sua boca salivava mais do que deveria e o enjoo vinha cada vez mais forte. Seria mais prudente nesse caso, parar o veículo para que pudesse se recuperar. No entanto, achou melhor não. Afinal, já estava bem perto do prédio.

Logo que entrou no apartamento, com várias sacolas de super mercado em mãos, deixou todas sobre o balcão da cozinha e correu para o banheiro, trancando a porta rapidamente. Ajoelhou-se diante do vaso, vomitou horrores.

A sensação incrivelmente ruim que a possuiu assim, sem mais nem menos, passou em questão de segundos depois de pôr para fora tudo o que comera ao longo do dia.

– Lua? – Ellen perguntou do outro lado da porta, sem resposta. Bateu suavemente três vezes na madeira e voltou a chamar. – Lua? Está tudo bem? – Só então Luana deu descarga e levantou-se do chão. Abriu a porta e encontrou-a claramente preocupada. – O que houve? Você está pálida! Vem sentar. – A morena a puxou delicadamente pelo braço, levando-a até o sofá da sala.

– Pálida eu já sou por natureza. E não foi nada, já estou bem.

– Provocou?

– Sim. Acho que pelo carro que balançava muito.

– Então está bem. Acontece nas melhores famílias. Mas tem certeza que está melhor mesmo, não é?

– Estou.

– Hum... então dá um sorriso pra mim. – Ellen fez graça. A outra riu discretamente. – Ótimo! É assim que eu gosto.

– Já fiz as compras. Estão em cima no balcão.

– Eu vi. Agora temos suprimentos.

– Falou a escoteira.

– Com muito orgulho. – Ela fez um gesto representando tal, mesmo não sendo uma.

– Tá bom, senhora escoteira. Vem me ajudar a guardar.

Enquanto guardavam tudo nos seus devidos lugares dentro do armário da cozinha, não paravam de conversar por um segundo sequer.

– Lua, me passa aqueles biscoitos ali perto de você.

– É bolacha. – Respondeu simplesmente, entregando-lhe os pacotes.

– É biscoito.

– Não, é bolacha.

– Biscoito.

– Bolacha.

– Ah, deixa pra lá. É tudo igual mesmo.

– Não, o certo é bolacha.

– É tudo de comer e tudo começa com B.

– Mas eu ainda acho que é bolacha...

– É biscolacha! Pronto. – A morena riu do que ela mesma disse, contagiando a outra com suas altas gargalhadas. Luana levou as mãos à boca de tamanhos risos, expondo involuntariamente o anel em seu dedo. Ellen logo tocou no assunto ao relembrar o ocorrido dias atrás. – Sabe, Lua... eu já te disse que você tem sorte?

– E eu já te disse que sorte não existe?

– Como sempre, você acredita no bom e velho destino.

– Nem sempre bom. Às vezes ele prega umas e outras na gente. Mas... qual o motivo da pergunta mesmo?

– Estou falando do anel na sua mão.

– Ah, sim. – Luana baixou a cabeça para olhá-lo, e não pôde conter um sorriso.

– Por que, Deus? Por que tão lindo? – Ellen ergueu as mãos aos céus, dramatizando enquanto a outra ria ainda mais.

– Tem razão. É lindo. Nunca vou esquecer aquele pedido. Jamais.

– E eu nunca vou esquecer de você entrando por aquela porta e pulando em cima de mim me dizendo o que tinha acontecido. Quase quebrou meus ossos, sabia?

– Na hora da euforia, esqueci de ser racional.

– Não tem como ser racional depois que Daniel Nascimento te pede em namoro.

– Sabe, Ellen, tenho que te confessar que a principio fiquei com um certo receio de ficar com ele.

– Receio?

– De ser só mais um lance qualquer. De ele me largar depois que enjoasse de mim. Assim como... assim como o Lucas disse.

– O Lucas quem enfiou isso na sua cabeça, tinha que ser... Você sabe que a opinião dele não vale de nada, não sabe?

– Sei, mas fui acreditando nisso a medida em que o tempo se passava. Era muita correria, distância, e além de que, o pedido nunca vinha.

– Mas pode ir parando de pensar besteira, porque se ainda não notou, tem um anel no seu dedo. Ou será que isso não significa nada?

– Significa muito. Afinal é como um voto de confiança.

– E Daniel, o homem dos sonhos de tantas mulheres, se apaixona por Luana, a moça dos olhos mareados e dos cabelos de fogo! Than-rã! – Ellen atuou mais uma vez, fazendo a outra cair em risos.

– Cabelos de fogo? Olhos mareados? De onde tirou isso, criatura?

– É uma metáfora. – Luana a fitou sorridente e sorrateiramente, olhar esse que Ellen conhecia bem.

Os olhares misteriosos e discretos da ruiva poderiam facilmente ser descritos como triviais por qualquer estranho, porém índoles para quem a conhecesse.


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Notas finais do capítulo

Música: Longe de você - Charlie Brown Jr.
Sugiro que ouçam-na, pois ela tem a ver com os fatos. Aliás, como eu mesma já disse, todas que forem citadas, tem.
Obrigada por lerem e até a próxima!



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