Medo de ter, medo de perder
Cada um tem os seus
E todos tem alguns
Suando frio, as mãos geladas
Coração dispara até sufocar

Só tememos por nós mesmos
Ou por aqueles que amamos
Homem que nada teme
É homem que nada ama.

(Pitty).

~~FS~~

̶ Bom dia, eu vim buscar um resultado de um exame de sangue. – falei assim que alcancei o balcão de recepção da clinica para mulheres.

Após aquele teste caseiro, eu decidi que já estava na hora de encarar de frente essa situação, estando mesmo grávida eu precisava contar a Oliver e apesar de já imaginar sua reação, eu não podia lhe roubar a chance de saber, aceitar ou não só cabe a ele. Então dois dias atrás eu vim para esta clinica e fiz o exame, me deram dois dias para o resultado e cá estou eu mais nervosa do que se estivesse encarando o pior vilão de todos os tempos.

̶ Felicity Smoak. Resultado do beta HCG? – vi a recepcionista me indagar tirando os olhos do que deduzi ser uma agenda ou algo parecido.

̶ Isso mesmo. – senti o medo e a ansiedade na minha voz.

̶ Um momento, irei buscar seu resultado. – ela me olhou gentil e logo a vi entrar por uma porta branca. Eu estava aflita e com medo, mas precisava ter algo concreto antes de contar para Oliver, ele precisava ter certeza. Eu precisava ter certeza. – Senhorita Smoak? – só então percebi que a moça já havia voltado.

̶ Sim? – vi ela me estender uma prancheta com uma caneta presa e arqueei o cenho em sinal de confusão.

̶ A senhorita precisa assinar para que possamos liberar o documento, burocracias da clinica. – tentou ser o mais breve possível.

̶ Ah claro. – assinei o papel e logo ela me estendeu o envelope com um sorriso simples.

Nunca pensei que abrir um papel fosse ser tão difícil, minhas mãos tremiam e a incerteza do que eu deveria fazer me dominava. Senti um suspiro sair sem esforço e a lateral da embalagem ser aberta. Era isso, eu estava esperando um bebê. Um pedacinho de Oliver. Estremeci ao imaginar a reação daquele homem que parecia tão indiferente a sentimentos e ao mesmo tempo tão vulnerável, toquei minha barriga com a ponta dos dedos e não sei quanto tempo fiquei sentindo aquela sensação tomar conta de mim, só sei que era indescritível. Agora entendo quando a minha mãe dizia que só compreende o amor de uma mãe quando se é mãe, agora eu sentia aquele sentimento de proteção e amor tomar conta de mim. E pela primeira vez na minha vida eu tinha uma certeza; aquele bebê seria muito amado.

Foi planejado? Não;

Veio num momento esperado? Não;

Mas seria tão amado e protegido, eu o defenderia como uma leoa defende sua prole e se o pai não o quisesse, eu só o amaria e queria mais ainda, eu seria seu pai e mãe, seu porto e seu lar, assim como ele já era o meu.

As consolidações Queen aquela manhã parecia mais calma que o normal, o clima era tranquilo e eu não sei se realmente era ou se minha nova bolha que me permitia sentir uma certa leveza. Mas como tudo que é bom, dura pouco, assim que cheguei a minha mesa, vi o diabo sentado lá, ou melhor, vi Isabel Rochev sentada lá, respirei fundo e senti minhas pernas fraquejarem. Péssima hora para ter uma tontura.

̶ Deseja alguma coisa senhorita Rochev. – perguntei o mais profissional possível, quando na verdade minha vontade era gritar para aquela bruxa sair da minha cadeira.

̶ O Queen ainda não chegou mocinha. Temos uma reunião em dez minutos e nem sinal dele.

̶ Acredito que ele esteja com algum problema, o Mr. Queen não faltará a essa reunião.

̶ As moças falam de mim? – senti meu corpo todo estremecer com a voz atrás de mim, mas me forcei a manter a calma.

̶ Oliv... Digo, Mr. Queen, a senhorita Rochev o espera para um reunião. – eu ainda estava em pé com minha bolsa em meu encalço e aquela mulher ainda estava sentada na minha cadeira, o que só me deixava mais irritada.

̶ Claro, vamos para a sala de reuniões Isabel, já estamos atrasados e acredito que Felicity queira usar sua mesa.

̶ Vamos sim. – por fim ela se levantou e seguiu em direção a sala de reuniões, mas logo parou no meio do caminho. – Ah Felicity, nos traga café. – Vi Oliver querer soltar uma gargalhada e lhe lancei meu olha mais assassino, se aquele projeto de vilã pensa que vai me ver servindo café, ela que espere sentada.

Os vi seguir para a bendita reunião e por fim pude relaxar em minha cadeira, não sem antes cogitar a ideia de mandar higienizarem o móvel, aquela mulher me dava nojo. Depois disso o dia seguiu mais ameno, fui almoçar com Sarah e lhe contei sobre o exame e que ainda hoje falaria com Oliver. Sarah estava toda feliz com a gravidez, e pelo visto meu bebê já tinha uma tia babona. Voltei para a QC e dei seguimento ao meu trabalho, me sentindo extremamente ansiosa, tensa e preocupada com a conversa que eu teria com Oliver aquela noite.

Meu expediente havia acabo e corri para casa ansiando por um banho relaxante antes daquela bendita conversa. Entrei no meu banheiro e comecei a me despir, não pude evitar chegar em frente ao espelho e notar meu perfil, pelas minhas contas logo eu entraria no terceiro mês, amanhã teria uma consulta para me por a par de tudo. Percebi que no pé da minha barriga havia uma leve protuberância que passava despercebida pelas camadas de roupas que a cobria, era pequena, mas ainda assim era o primeiro sinal daquele serzinho que eu carregava, passei minha mão por aquele pequeno volume e não pude evitar um sorriso.

̶ Oliver eu preciso conversar com você. – falei assim que entrei na cave, assustando a todos.

~~OQ~~

̶ Eu quero você Felicity. Eu quero você esta noite, nua em minha cama.

Aquele elevador parecia encolher com as minhas palavras, mas eu precisava dela, precisava matar aquele desejo crescente ou enlouqueceria. A tensão sexual naquele cubículo era gritante, eu podia sentir o corpo dela chamar pelo meu, então não hesitei juntar nossos lábios quando ouvi um suspiro sair dela. O beijo era erótico e revelava todas as minhas intenções, senti meu corpo enrijecer ao sentir aquelas pequenas mãos pulsar sob meu peito.

Felicity Smoak seria minha aquela noite eu a possuiria de todas as formas. Minhas mãos desceram até sua coxa direita a trazendo para mim numa tentativa de juntar nossas intimidades ainda escondidas por camadas de tecido. Senti-a impulsionar o corpo e prender sua outra perna em minha cintura quando o elevador mostrou estacionar na cobertura. Pousei Felicity no chão assim que passei pelo arco do apartamento, a vendo tirar os sapatos e aquele pequeno ato parecia tão sensual e provocante. Eu não resistiria por muito.

Puxei-a até o quarto, eu precisava estar com ela, eu queria seus toques. Senti sua mão atrevida se arrastar até a barra da minha calça e pousar sob o flash numa caricia tímida, aquela mulher seria meu céu e inferno aquela noite, eu já não tinha duvidas disso. Ainda em êxtase pelo seu toque, a virei de costas podendo assim ter acesso ao zíper de seu vestido, o qual desci de imediato enquanto deixava beijos em seu pescoço, revelando suas costas nuas pela ausência do sutiã. Minha ereção pulsava por aquela mulher, então me perdi no vale daqueles seios tão convidativos e rijos, me perdi em cada uma daquelas auréolas rosadas e pedintes da minha boca. Eu estava duro, duro como nunca estive por mulher alguma. Sem mais deitei Felicity sobre acama e após afastar suas pernas a senti tão pronta para mim, ainda sob o tecido fino. Afastei sua peça intima e me deleitei em seu néctar, como ela era doce. Minha Felicity. Minha doce Felicity.

̶ Oliver. – ouvi a voz falha dela me chamar quando já estava pronto para mergulhar nela. – Proteção.

̶ Não se preocupe. – falei já retirando a única peça dela. – Só aproveite. –então com um beijo eu me perdi nela, me perdi nas suas curvas perigosas.

(...)

Não sei o porquê de ter acordado aquela manhã com aquele sonho, ou melhor, com aquela lembrança tão precisa da minha noite com Felicity. Quero dizer, estávamos bêbados e não deveríamos lembrar, eu não deveria lembrar. Mas eu me lembrava, detalhadamente.

̶ Oliver, eu preciso conversar com você. – ouvi a voz dela invadir de supetão meu espaço sonoro. Não sei se pelo fato de está-la evitando, me senti receoso com sua chamada tão precisa. Ela precisava falar comigo.

̶ Diga Felicity, aconteceu algo? – vi um brilho faiscar em seus olhos e naquele momento eu soube que havia algo errado.

̶ Em particular. – senti todo meu corpo se contrair, eu estava tenso.

̶ Ok garotos, acredito que a conversa aqui será importante, então vamos dar privacidade. – logo Sarah saiu arrastando os caras.

̶ Então? O que aconteceu?

̶ Como você é idiota, jura que você acha que me ignorar seria a solução? – seu olhar era magoado e eu me senti um idiota por ter a tratado tão mal.

̶ Felicity, me desculpa. Eu não queria ter agido daquela forma, mas eu não sabia o que fazer e você sempre foi tão leal comigo, quero dizer, éramos amigos e então eu me deixei levar e te levei para cama e você não merecia isso, você é minha amiga e eu fui um canalha com você e...

̶ Eu estou grávida. – senti meu monologo ser cortado assim como o ar de meus pulmões.

̶ Você o que? – ela só podia estar brincando.

̶ GRAVIDA OLIVER, EU ESTOU GRAVIDA. – ela gritou como se estivesse impaciente e irritada.

̶ Como isso pode acontecer? Quero dizer, foi apenas uma noite.

̶ Eu que te pergunto, como isso pode acontecer? Eu estava bêbada e do pouco que eu lembro, eu lembro muito bem de te pedir proteção, então COMO ISSO PODE ACONTECER?

Se eu estava perdido? Sim, eu estava. Um filho parece ótimo quando se tem a vida de John Diggle e não de Oliver Queen, era uma vida perigosa e agora eu teria mais alguém com quem me preocupar.

̶ Felicity eu não sei o que fazer, não sei o que pensar. – eu estava em choque.

̶ Tudo bem Oliver, eu não preciso de você, eu serei mulher suficiente para cuidar desse bebê. – então eu a vi sair em passos firmes.

~~FS~~

Eu sei que não deveria ter simplesmente jogado a bomba no colo de Oliver e que provavelmente ele ainda está em transe tentando processar tudo, mas eu não tenho culpa se os hormônios de uma gestante a deixa com o humor tão oscilante quanto o de um Queen. As perguntas idiotas de Oliver levou toda pouca paciência que eu tinha, então fiz o que eu sabia fazer de melhor: fugi. Aquela conversa tinha me deixado tão irritada que eu podia sentir meu corpo esquentar e borbulhar, eu estava uma pilha, estresse da empresa, do covil e agora eu estava grávida, então sim, eu fugi antes que os hormônios me fizessem chorar na frente dele, como uma desesperada.

Eu já estava na porta quando senti passos atrás de mim, eu sabia que era Oliver e sabia que ele iria querer mais explicações, eu já estava pronta para me virar e pedir espaço, mas antes de qualquer ato senti algo escorrer pelas minhas pernas. Demorei a olhar por alguns segundos, mas assim que o fiz me arrependi, eu estava sangrando. Senti o medo me invadir e as lagrimas chegar aos meus olhos.

̶ Felicity, espera.

̶ Oliver me ajuda. – senti minha voz falhar. – Eu estou sangrando.

Depois disso tudo foi um borrão, não sei dizer com precisão em que momento cheguei ao hospital, mas o desespero de Oliver não parecia ser menor que o meu. Logo eu estava fazendo todos os exames e sentia cada vez mais medo de perder meu bebê, eu já amava aquele serzinho que residia dentro de mim.

̶ Felicity Smoak? – ouvi uma mulher me chamar entrando no quarto onde eu estava agora tomando soro.

̶ Meu bebê, como ele está?

̶ Calma mamãe canguru, ele está bem. – ela tinha uma calma na voz que me tranquilizou. – foi apenas um susto, muito comum por acaso.

̶ O que aconteceu? Por que eu sangrei?

̶ Você teve o que chamamos de sangramento de implantação. É quando o óvulo se implanta na parede uterina, podendo assim danificar algumas veias sanguíneas da mãe, fazendo- a sangrar. Geralmente acontece bem no inicio da gravidez, podendo ser confundido com o ciclo menstrual.

̶ Então está tudo bem comigo e com o bebê? – senti o alivio me dominar ao ver a confirmação da doutora.

̶ Então, vi na sua ficha que já tinha marcado a primeira consulta, certo? – meneei a cabeça afirmando. – O que acha de aproveitarmos que está aqui e já seguir os procedimentos?

̶ Por mim tudo bem.

̶ Certo, alguns exames já foram feitos e já demos inicio ao seu pré natal. Mas antes de te passar todas as recomendações, vou avisar ao seu acompanhante que está tudo bem. Tendo em vista o desespero, deduzo que seja o pai?

̶ Sim, ele é o pai. – pai, era estranho referir aquela palavra a Oliver.

̶ Posso deixá-lo entrar? Acho que ele terá uma sincope se tiver que esperar mais.

̶ Pode sim. – falei rindo do exagero da médica, mas percebi que ela não exagerou em nada assim que vi a cara de espanto de Oliver atravessar a porta.

̶ Você está bem? Está machucada? Como se sente?

̶ Calma Oliver, eu estou bem, foi só um susto.

̶ A doutora me explicou, mas eu precisava ver como vocês estavam para ter certeza. Por que fugiu como uma louca Felicity?

̶ Eu tive medo e a sua reação não ajudou muito. – falei tentando ignorar que ele estava preocupado com o bebê também.

̶ Claro que não ajudou. Felicity, eu entrei em choque, a forma como você me deu a noticia, me pegou desprevenido, e a forma como você saiu me deixou atordoado.

̶ Desculpa, eu achei que você fosse rejeitar a noticia e eu não estava preparada para isso.

̶ Claro que não Felicity. Eu estou surpreso, com medo e assustado, mas eu estou aqui, vamos enfrentar essa juntos.

̶ Então você não vai fugir ou rejeitar o bebê?

̶ Eu estou aqui não estou? – confirmei. – E vou continuar estando. Foi um descuido nosso, eu não faço o tipo de cara que foge as responsabilidades. Veio em um bom momento? Não sei, foi planejado? Não, mas será bem recebido. Vamos passar por isso juntos.

Se eu estava feliz? Mais que isso, eu estava aliviada, Oliver tirou um peso das minhas costas e agora eu sabia que seria ainda mais capaz de enfrentar tudo pelo meu bebê, pois eu tinha o pai dele em apoio. Logo a doutora entrou para fazer as tais recomendações, mas minha cabeça estava a mil.