Eu acordo com um grito muito alto do meu lado mas não consigo abrir os olhos porque minha cabeça dói demais. Escuto o grito novamente e demoro um tempinho pra perceber que quem estava gritando era o Shinji.
Forço meus olhos a abrirem e sinceramente, me arrependo muito.
Eu estou preso numa cadeira, com as mãos amarradas nas costas e os pés presos nos pés da cadeira, Seiji colocou uma fita na minha boca e logo ao meu lado Shinji estava na mesma situação, só que Seiji estava passando facas pelo seu corpo e o cortando lentamente enquanto ele gritava.
Shinji estava todo ensanguentado, o que me dizia que Seiji já estava naquela brincadeira doentia a bastante tempo. Percebo que estou sem camisa e meu tronco está todo sujo com uma espécie de substância grudenta.
–Ah, você acordou -Seiji diz quando percebe que eu estou consciente.
Ele para de cortar o Shinji e começa a vir devagarzinho na minha direção.
–Hiroshi, você sabia que existem vários produtos inflamáveis e que muitos as vezes temos dentro de casa?
Ele pergunta e eu balanço a cabeça negativamente.
–Pois é né, surpreendente. Dá pra você montar sua bomba dentro de casa.
Ele diz super entusiasmado, solta meus braços mas depois os amarra nos braços da cadeira.
Ele pega duas velas que estavam numa mesinha ao meu lado e pede pra eu segurá-las.
Eu balanço a cabeça tentando dizer não mas ele se irrita e me força a pegá-las.
–Obrigado por me ajudar, irmão. E ah, se eu fosse você eu ia tomar cuidado porque se isso encostar na sua pele... Bom, você sempre disse que queria ser cremado quando morresse, né? Só que tipo... Agora eu não tenho nenhum pote maneiro aqui então se cuida pra eu não ter que te colocar numa garrafa de whisky.
Ele diz como se estivesse contando uma piada em um domingo de churrasco e volta pra perto do Shinji.
–E você... NÃO DORME.
Seiji grita enquanto dá um tapa bem forte no rosto do Shinji, que levanta a cabeça e o encara.
Eu até queria ajudá-lo mas eu estou com um grande problema. Se eu soltar a vela ela pode cair em mim e eu me ferro, se eu não soltar posso me ferrar do mesmo jeito. O que eu faço?
Quando Seiji ia voltar a cortar o Shinji escuto um barulho vindo do outro lado do galpão. Seiji também escutou e ele sai de perto de nós para poder investigar.
Quando ele sai, parece que a temperatura cai repentinamente e eu sinto muito frio. As velas acabam apagando e sinto um alívio momentâneo porque quando ele voltar as acenderá de novo, mas pra minha surpresa as cordas que amarravam meus pulsos e meus pés são rompidas.
As que amarravam o Shinji também foram, mas ele aparentemente estava fraco demais pra reagir.
–É, acho que deve ter sido o vento ou algo do tipo. -Escuto Seiji dizer de longe. Ele está prestes a se virar.
Ajeito mais ou menos as cordas pra parecer que eu ainda estou amarrado e Shinji ainda não se moveu nem um milímetro então também parece que está preso.
Seiji volta pra perto de nós e fica nos encarando.
–Hey?! O que aconteceu com as minhas velas? -Ele pergunta se abaixando pra pegá-las do chão.
Ele se ajoelhou pra pegá-las, então está com o rosto muito próximo dos meus pés. Eu aproveito a oportunidade e dou um chute no rosto dele, o fazendo cair pra trás.
–MERDA, HIROSHI! VAI SE FERRAR.
Ele grita e começa a se levantar. Vejo um pé-de-cabra encostado na minha cadeira, ele não estava alí antes mas não ligo, o pego e me levanto.
Seiji já estava de pé e vem correndo na minha direção. Acerto o pé-de-cabra no lado esquerdo de seu rosto e ele recua um pouco.
–FILHO DA...
Antes dele terminar eu acerto dessa vez o lado direito, enquanto recuava ele acaba caíndo. Olho pro lado e percebo que Shinji havia se levantado estava vindo na minha direção. Ele me entrega uma corda e segura o Seiji enquanto eu o amarro.
–VOCÊS ACHAM QUE ISSO VAI FICAR ASSIM? EU VOU MATAR VOCÊS DOIS, VOCÊS VÃO VER. -Ele grita e Shinji põe uma fita na boca dele para fazê-lo se calar.
Nós dois o levantamos e começamos a levá-lo para a casa, Shinji veio reclamando a droga do caminho inteiro enquanto Seiji hora ou outra tentava se soltar mas eu o segurava firmemente.
Atravessamos a porta e vemos que Ren estava apontando sua metralhadora na nossa direção.
–VOCÊS NÃO ME MATEM DO CORAÇÃO, DROGA! -Ele grita e abaixa a arma.
–Desculpa... Não deu pra avisar que eu estava sendo torturado.
Shinji responde baixinho e nós dois colocamos Seiji numa cadeira.
–Shinji, amarre ele. E Ren... Cadê as meninas?
–Foram para a rodovia, elas vão ligar pra Polícia.
–Certo então precisamos fazer isso rápido.
Vou até a mesa da cozinha, pego o tabuleiro, volto pra sala e o coloco na mesa em frente ao Seiji.
Ren tira a fita da boca dele e ele me encara com uma expressão estranha.
–O que diabos é isso?
–Isso Yamada, chama-se tabuleiro Ouija, ele é usado para comunicação e tem alguém querendo falar com você.
Ren diz calmamente e eu pego uma cadeira pra me sentar ao lado de Seiji.
–Você está aqui? -Pergunto e depois de alguns instantes o indicador se move até o "SIM".
–P-Parem de palhaçada! O que estão fazendo? Quem está fazendo isso?
Ele me pergunta confuso e eu o encaro.
–Quer saber quem está fazendo isso?... Bom, quem está fazendo é o Ryo.
Quando explico ele começa a tentar se soltar desesperadamente.
–PAREM DE MENTIR! PAREM DE USAR O NOME DELE EM VÃO. ELE ESTÁ MORTO! Vocês... Vocês o mataram...
Ele começa a chorar e Ren também.
–Seiji você tem que entender... Não foi inten...
–FOI SIM! VOCÊS NEM AO MENOS PARARAM PRA PERGUNTAR SE ELE SABIA NADAR. FOI CULPA DE VOCÊS! TUDO CULPA DE VOCÊS.
Ren tenta se explicar mas não adianta, ele não consegue ver.
De repente através da minha visão periférica eu vejo algo parado ao lado de Seiji, quando olho diretamente eu dou um sorriso. Ryo estava parado alí, quietinho enquanto observava tudo.
Shinji e Ren também estavam o vendo, os dois estavam com os olhos arregalados e Seiji não entendia nada.
–Mas que droga vocês estão olhan...
Ele vira a cabeça e dá de cara com Ryo.
–Oi irmãozão.
Ryo diz dando um sorrisinho e Seiji fica o encarando sem conseguir fazer nada.

Continua...