Em Algum Lugar do Passado escrita por Pat Black


Capítulo 1
À meia-noite levarei tua alma


Notas iniciais do capítulo

Prólogo



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À meia-noite levarei tua alma

 

 

Andover, 13 de abril de 1920

 

 

A madeira estalou novamente e o homem sentado no canto do quarto com os joelhos próximos ao peito e uma barra de ferro nas mãos, apertou as mesmas na superfície fria da inusitada e única arma que possuía no momento, além do círculo de sal que fizera ao seu redor.

 

O lampião sobre o criado-mudo apagara há alguns minutos e no quarto às escuras seus olhos, aos poucos, foram se acostumado à escassa luminosidade natural da noite que se infiltrava pela janela e percorriam o quarto de lado a lado, vasculhando o breu que o cercava com uma expressão de total desespero.

 

“Não tinha como escapar” pensava ao lembrar-se da criatura que o perseguira desde a noite anterior.

 

Cristo, pensava ter abandonado essa vida há muito tempo. Mas a quem queria enganar? Ninguém deixava de ser um “caçador”, por pior e sem talento que tenha sido nessa profissão, por mais que quisesse levar uma vida calma, pacata, aquelas coisas acabavam por lhe encontrar aonde fosse, onde se escondesse.

 

E dessa vez estava em desvantagem... Por que por Deus, como identificar o perigo quando já duvidava de sua sanidade e de sua percepção?

 

Sua visão periférica registrou o movimento sutil perto da janela.

 

Assim que olhou diretamente para o local, a figura ali pequena, aparentemente frágil, mas de aparência assustadora piscou e reapareceu bem à sua frente.

 

Os olhos vermelhos, o rosto com manchas escuras sob os olhos, a boca aberta em um sorriso cruel se uniam para transformar a face à sua frente na personificação dos piores horrores imagináveis.

 

Estava encurralado. Apenas uma fina barreira criada de sal impedia que o ser o tocasse ou usasse seu poder contra ele. Mas ele não poderia ficar ali pelo resto da vida e aquela coisa não desistiria.

 

A medonha criatura deslizou para cá e para lá sem desviar os olhos de seu rosto, parando depois de algum tempo exibindo um sorriso diabólico.

 

Uma calma penetrante invadiu o quarto por dois segundos, antes que os vidros das janelas se estilhaçassem e um estranho vendaval invadisse o quarto em sua direção, para aos poucos destruir o círculo que o protegia.

 

Desesperado, Proctor percebeu que não teria muito tempo. Agarrou mais forte a barra de ferro, pois em um segundo teria que lutar pela sua vida. E por mais esperanças que tivesse de se salvar, sabia que estava condenado.

 

No andar térreo o relógio emitiu a primeira de doze badaladas.

 

Lá fora, escondida pela escuridão da noite, uma figura solitária observava a casa com os olhos fixos, enquanto recitava um mantra.

 

Ao ouvir os gritos de agonia vindos do homem encurralado e perdido, sorriu feliz.

 


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