Fet e Dutch escrita por Van Vet


Capítulo 3
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Fet chegou em Red Hook no meio da tarde. Optou pelo transporte público porque não tinha dinheiro para táxi, nem gostaria de ficar perambulando a pé quando anoitecesse. Ficar longe do pessimismo de Setrakian trazia boas vibrações para seu humor não importava o quão caótico vinha sendo utilizar os ônibus coletivos.

A rua de seu apartamento parecia um túmulo, deserta e silenciosa. Ele aproximou-se da porta principal com a chave do cadeado na mão. Olhou para os lados antes, pronto para uma abordagem surpresa. Nenhum perigo próximo, concentrou-se na entrada e ficou imediatamente alerta ao notar que o cadeado estava partido e a porta forçada.

“Os capangas do Mestre passaram por lá?” seu primeiro pensamento.

Pegou a pistola com balas de prata dentro da jaqueta e entrou tentando não fazer barulho. Lá dentro nada se mexia. Nada havia sido revirado. Alguém poderia estar a espreita esperando por eles. A luz vespertina iluminava o grande cômodo central, mas não era suficiente para chegar aos recônditos de seu lar. Ele tinha de olhar tudo muito atentamente.

No peito uma semente de esperança começou a nascer pela possibilidade de ser Dutch quem invadira. Ela gostava de fazer entradas inesperadas deixando-o feliz e intrigado. Estava quase ficando feliz quando viu quatro garrafas de vodka vazias e espalhadas pela mesa. Dutch bebia, mas somente uma pessoa fazia isso com aquela disposição...

— Doutor! — chamou por Ephraim.

Nenhuma resposta.

— Dra. Martinez!

Ainda com a guarda alerta, Fet subiu para o quarto do casal. Encontrou Eph deitado na cama, virado para o outro lado.

— Perdeu a chave do cadeado, Doc?

Eph não se mexeu ou respondeu. Desconfiado, Fet contornou a cama, tomando uma distância segura e a arma na mão.

— O que houve? — perguntou preocupado ao ver que o rosto do Doutor era uma máscara de agonia. Havia mais umas 3 garrafas tombadas ao chão.

— Acabou. — ele disse.

— O que acabou, Doc? Isso é por causa do pequeno Zack? Ele está bem com os avós, hã? Longe dessa zona toda.

— Mortos. Eles estão mortos...

— Mortos? Quem? — Fet guardou a arma e agachou para escutar melhor o que Ephraim sussurrava.

— Nora... Zack...

— Meu Deus! Como assim?

***

Muitos dias se passaram e Dutch acabou sendo obrigada a sair do apartamento. Os suprimentos na geladeira chegavam ao fim e as garrafas de bebida também. Ela vestiu um gorro preto, botinas de cano alto, uma jaqueta grande que Fet “encontrou” por aí durante uma caçada e lhe presenteou, e saiu para as ruas.

Tudo continuava sinistro pelos becos e esquinas. Abandono, desesperança e desagradáveis surpresas. A hacker passou por um carro estacionado de qualquer jeito ao meio fio. Dentro, no banco dos passageiros, uma jovem estava encolhida onde o sol batia com menos intensidade. Bastou apenas uma olhada de lado para Dutch observar aqueles olhos perdidos de quem em breve se transformaria em um strigoi.

“Então nada mudara. Seja o que fosse que Eph ou o Professor estivessem tramando, parecia bem longe de chegar ao fim”.

Ela entrou numa mercearia de bairro que persistia aberta nesses tempos caóticos e foi direto para a sessão de bebidas. Ao passar pelos corredores, notou um televisor na parede ligado no canal de notícias. O assunto era onde o Prefeito fora enterrado. Seu queixo caiu... “O prefeito? Morto?” E pelo visto o ocorrido havia sido há vários dias. Tudo ia de mal a pior. Não estava nem estagnando.

Dutch buscou na memória quais seriam os últimos passos do pessoal de Red Hook antes dela partir em busca de Nikki. O doutor iria levar o filho para os avós maternos. O Professor e Fet estavam atrás do tal Occido Lumen. Uma dupla, ao menos, ela tinha certeza que não alcançara seu objetivo.

De repente sentiu um pânico súbito. Medo de que as pessoas com quem conviveu por várias semanas estivessem em perigo. Medo de que Fet tivesse morto... ou transformado em um strigoi. Vinha sendo muita pretensão de sua parte achar que tudo ficaria estável. O mundo que ela conhecia vivia em bruta mudança e isso significava que quem estava inteiro hoje poderia não existir amanhã, mas numa probabilidade muito maior. E se ele não estivesse mais entre eles que tipo de conversa havia sido aquela última entre os dois? “Que despedida! Que palavras finais terríveis!”

Dutch abandonou a ideia das compras, saiu da mercearia quase correndo e partiu em direção a Red Hook.


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