A noite joguei o resto do orgulho que tinha no lixo, e fui para o centro da praia onde estava. A noite estava um pouco gelada, não chegava a estar frio, mas com certeza não estava nem perto do calor da tarde. Vestia um vestido com a barra indo um palmo a cima do joelho, uma meia calça, um par de sapatilhas, e por cima vestia um casaco leve. Meu cabelo milagrosamente estava preso, porém só uma parte dele. E mais milagre ainda era a maquiagem.

Agora tinha que encontra-lo. Se ele estivesse lá não seria algo difícil, tinham umas cinquenta pessoas no máximo andando pelas ruas. O avistei caminhando ao longe, e milagre maior aconteceu nesse momento. O amigo de Gil não estava junto.

– Que milagre é esse, sair sem seu guarda costas? – Falei em um tom cínico. Gil sabia muito bem que odiava Manuel, talvez mais do que odiasse sua mãe.

– O Manuel? Não, hoje ele ficou em casa. – Me dava repulsa apenas de ouvir o nome daquele.

– Hm! – Me calei, agora era a vez dele falar, estava cansada de ser que puxava os assuntos.

– Você está linda. – Ele falou meio nervoso, parecia que tinha um nó em sua garganta e que as palavras saiam com dificuldade.

– Obrigada.

– Quer caminhar pela beira da praia?

Péssima roupa, pensei quando lembrei da meia calça. Mas isto logo foi resolvido, a meia calça era fina, entrei em um banheiro de uma loja e a tirei, guardando no bolso do casaco, as sapatilhas seguraria na mão. Fomos para a beira da praia. A areia entre os dedos e a brisa sendo cortada pelo nossos rostos. Parecia até dejaví, porém à noite.

A praia também ficava mais cheia a noite, era difícil ficarmos a sós a noite. Quando achamos um lugar onde ficamos sozinhos, ele começou a atropelar as palavras.

– Desculpa por hoje mais cedo, eu... – Ele soltou um suspiro e tentava continuar. – Eu não devia ter feito aquilo, nós quase... – Nesse momento ele empacou feito uma mula, estava corado novamente. Maldita pele clara!

– Eu queria. – Fui direta. – Não teria sido nada contra minha vontade, eu tenho quase vinte assim como você, estou crescida e uma hora ou outra vou acabar transando com alguém, mas meu corpo pede para que seja com você. – Minha mania de falar tudo e chegar direto ao ponto já estava se tornando feia.

– Eu também queria que fosse com você. – Por um momento me senti confusa. Havia ouvido o que acabara de ouvir? O que será que tinha no suco que Catherine me deu mais cedo? Devia estar alucinando. Gil era um dos homens mais atraentes que havia conhecido na vida, poderia escolher a mulher que quisesse, e? Não, devo estar ficando maluca.

– Você é realmente, ainda, vir...

Gil não me deixou terminar de falar, enfiou sua mão no meu rosto tapando minha boca neste exato momento, aproximou sua boca do meu ouvido e disse: - Não precisa contar para a cidade toda.

Em seguida ele soltou-me a boca. E eu ri.

– Gil, a cidade inteira somos você, eu e o que? Umas dez pessoas?

– Você não muda não é mesmo? – Ele disse em risos.

– Teria graça se eu mudasse?

– Não, com certeza não.