“Em uma vila distante, vivia uma jovem de longos cabelos louros, lábios tenros e pele rosada.
Seu nome era Mary Alice.
Com apenas 12 anos, Mary conquistou o coração de todos os meninos da vila.
Muitos a presenteavam com rosas e pequenas jóias, que ela guardava com carinho, em vasos e gavetas.
Mas Mary não se sentia feliz.
Desde os seus sete anos, Mary lia livros onde príncipes viajavam com tempos absurdos, procurando sua princesa.
E desde então, Mary esperava seu príncipe.”
– Bem, preciso ir. – Alícia disse se levantando do pequeno banco onde sempre se sentava. – Amanhã, continuo.
– Mas já? – Perguntou a pequena Bellie, triste. – Mas estava tão bom, tia Ali.
– Pois é. – Disse o mais velho, de 11 anos, Théobaldo.
– Estou cansada, crianças. – Alícia disse com um pequeno sorriso. – Tive um dia muito cheio na escola hoje.
– Ah. – Disseram todos em coro.
Alícia observou todas aquelas crianças. Se lembrou de quando era pequena, quando pedia para seu pai ler mais uma história antes de dormir, ou apenas mais um copo de leite com chocolate.
– Vamos fazer assim... – Ela começou, e todos os olhos se voltaram para ela. – Amanhã, quando eu voltar, vou trazer uma surpresa, está bem?
Um sorriso largo cheio de luz se abriu em cada uma daquelas crianças.
Alícia sorriu também.
– Bem, vejo que temos um trato. Mas agora eu realmente preciso ir. Tchau, crianças.
– Tchau, tia Ali.
Alícia desceu as escadas do hospital e parou para falar com Marceline, a recepcionista.
– Como foi, hoje? – Ela perguntou.
– Muito bom. Como sempre é.
Marceline sorriu. Alícia saiu do hospital, e foi até o estacionamento procurando seu Ford Fiesta Vermelho. O abriu e dirigiu até seu apartamento na zona Sul.
Fora muito difícil, Alícia deixar sua família, ficar sem os abraços de sua mãe e sem as palavras de consolo de seu pai.
Mas Alícia ficou mais alegre, quando conheceu as crianças.
Elas lhes deram forças, e a fizeram continuar.
Ela sempre se surpreendia quando ia visitá-las e contar-lhes uma história.
Bellie, de 6 anos, estava sempre usando fantasias de personagens diferentes. Uma vez, se vestiu de Tinker Bell, e quase se machucou, tentando “voar”.
Por isso, o irmão, Théobaldo, era sempre preocupado, não só com Bellie, mas com todas as crianças, porque era o mais velho entre elas.
Para aqueles que não sabiam, Alícia era uma moleca que queria ser independente e saiu da casa dos pais.
Mas Alícia não se importava. Nunca ligou para a opinião dos outros, e não seria agora que iria fazer isso.
Ao chegar em seu apartamento, Alícia tomou um banho e refletiu sobre o que havia feito. Era por aquilo que tinha mudado de cidade. Não devia ter caído na de Abelardo. Agora corria perigo.
E não tinha ninguém para ajudá-la.