Chiclete escrita por Thalita Moraes


Capítulo 1
Chiclete?


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem. :3



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Eu nunca achei que eu passaria a gostar tanto assim de chiclete. E tudo isso começou com ela, a garota que eu sempre via sentada no mesmo lugar na frente da escola, conversando com suas amigas. Eu sempre a achei bonita. Eu sempre passava por ela e ficava olhando para ela, praticamente namorando ela.

Pode parecer um clichê pra você, mas sabendo o que eu sei agora, quando você encontra a pessoa com quem você vai ficar pelo resto da vida, você sabe. Você sabe isso só de olhar no fundo dos olhos da pessoa, por mais que ela não saiba que você exista.

Um dia ela descobrirá quem você é.

Antes que isso pareça com uma daquelas histórias chatas de garoto encontra garota e eles se apaixonam, deixa eu te contar uma coisa. Foi exatamente assim a minha história, com um pequeno detalhe. Ao contrário do que te dizem em filmes de comédia romântica, a garota perfeita não é uma garota propaganda de calça jeans, ela não te olha como numa propaganda de perfume.

Ela era uma garota normal. Ela não era extraordinária. Tinha cabelo castanho claro que nunca sabia como arrumar, não usava maquiagem, não usava decote, nem roupas justas. Era realmente o clichê “ela nem sabia o quão bonita realmente era”. Ela não tinha as curvas de um modelo, aliás, era até um pouco mais acima do peso. Quando sorria, as gengivas apareciam, e seus dentes da frente eram um pouco maiores do que os outros, parecendo com um coelhinho fofo.

Sua pele era branca, com algumas sardas espalhadas em seu nariz e bochechas que ela nem fazia questão de esconder. Seu rosto era levemente rechonchudo e seu nariz era pontudo.

E acho que era exatamente por isso que eu me apaixonei por ela. Inicialmente, achei que fosse um daqueles romances de ensino médio que você sabe que nunca vai dar em nada porque você nunca vai ter coragem de ir até ela e chamar para sair. Então, eu admirava ela quando eu a enxergava. E eu provavelmente fazia isso com um sorriso bobo no rosto.

Naquele dia, eu estava entrando na escola quando eu a encontrei sozinha, parada debaixo de uma árvore, lendo algum livro. Eu diminui o passo e me contorci discretamente tentando ler o título, mas ela estava com o braço por cima da capa, quase como se estivesse escondendo. Eu parei e comecei a fazer caretas quando eu tentava enxergar o título.

Acho que deve ter ficado evidente quando ela olhou para mim e riu das caretas que eu estava fazendo. Ela levantou o livro mostrando a capa para mim. Eu consegui ler e senti minha curiosidade satisfeita. Eu levantei um canto dos lábios em um sorriso estranho e comecei a andar para dentro da escola, me repreendendo. Que tipo de sorriso era aquele?

Eu encontrei com George no meio do caminho para o meu armário, e me senti um pouco incomodado. Ele provavelmente queria me contar as aventuras que ele tinha feito naquele final de semana, todas as cervejas que tomou e todas as garotas que conseguiu. Ele tinha a mesma idade que eu, e eu ficava admirado com as vezes que ele tinha que voltar no posto de saúde para pegar mais camisinha de graça.

Eu suspirei um pouco profundamente, olhando para o meu armário, louco para sair dali. Ele não gostou, e parou de contar a história.

“E você, Juan? Conseguiu alguma garota esse fim de semana?” Ele sorriu quando eu gaguejei. “Aposto que não deve nem ter saído de casa. Como que vai arranjar uma namorada se você não sai para as baladas?”

“Eu nem tenho idade para isso, George” Eu disse, me arrependendo instantaneamente.

“E você acha que eu tenho? Não seja por isso, eu conheço uns caras...” Ele disse, colocando a mão em meu ombro. Eu tirei a mão dele do meu ombro.

“Não, George. Já te falei que eu não sou desses”. Eu disse, tentando fazer ele largar de mim. Porque eu tinha que virar amigo com o capitão do time de futebol? Eu coloquei a mão no bolso encontrando um chiclete. “Eu não gosto de ir para as baladas da vida e virar todas. Não sou eu”

“Então como que você vai arranjar uma namorada? Aqui no colégio? Cara, a pior coisa que você poderia fazer é arranjar alguém no mesmo colégio que você estuda. Você vai ver ela todos os dias, vocês vão andar grudados e antes que você perceba você vai estar em uma fria.”

“É por isso que você namora garotas de outros colégios, George?” Perguntei levantando uma sobrancelha.

“Sim. E assim também fica fácil de evitar que elas se encontrem” George disse sorrindo e passando a mão no cabelo loiro. Eu revirei os olhos e sorri embaraçosamente, tentando me livrar daquela conversa. E então, eu vi ela passar por mim.

Ela estava com os cabelos em uma trança de lado, óculos no topo de sua cabeça. Eu senti seu perfume quando ela passou por mim. George deu uma olhadinha para trás, entendendo completamente.

“Ela?” George perguntou. “Agora, eu entendi. Cara, não se sinta envergonhado. Deixa que eu te mostro como é que faz.” Ele disse e eu senti meu coração parar por um segundo enquanto ele ia em direção dela, parar ao lado dela, colocando a mão em meu armário. A posição em que ele tinha parado fez ficar impossível de enxergar ela. Eu mordi meu lábio enquanto tentava enxergar ela por trás dele, eu precisava saber se ela estava sorrindo ou não. Então, eu vi ela me ver me contorcendo novamente e sorriu embaraçosamente para mim.

Eu e minha mania de me envergonhar em público.

O que mais me matava era não conseguir ouvir o que eles estavam dizendo. Então, eu tomei um suspiro de coragem e fui até eles, apenas para ouvir ela dizendo.

“Claro. Deixa eu só pegar um papel para te passar o meu número.”

Eu não tive coragem de parar e continuei a andar reto em direção à sala de aula, sem saber o que fazer. Eu estava paralisado. George tinha feito o que eu não tinha coragem de fazer. Eu parei na frente da porta da sala de aula, com a mão no meu rosto. Se eu tivesse ido antes!

“Juan, você tá bem?” Molly me perguntou, colocando sua mão em meu ombro. Molly era minha amiga de infância e nós passavamos um bom tempo juntos, já que tinhamos todas as nossas aulas juntos.

“Quase. Eu acho que estou tendo um ataque cardíaco” Eu disse, colocando a mão no peito.

“O que o George fez dessa vez?” Ela me perguntou.

E então, para responder a pergunta dela, ele aparece sorrindo, com um pedaço de papel em mãos. “Eu consegui o telefone dela”, ele anunciou.

“De quem?” Molly perguntou. “Por acaso não é da garota que o Juan tem uma queda, não é?” George não disse nada, continuou com o mesmo sorriso. Ela suspirou. “Me lembre de te bater na saída.” Ela disse, entrando na sala, George indo logo atrás. “Você não vem, Juan?” Ela perguntou.

“Já vou, eu esqueci do meu livro.” Eu disse. E eu realmente tinha me esquecido. George tinha parado justamente na frente do meu armário e eu tinha me esquecido completamente disso. Eu voltei correndo no corredor, acabando por me esbarrar com alguém no caminho. Eu caí no chão, e ouvi o barulho de folhas voando no ar. Eu abri os olhos e senti meu coração começar a bater rápido.

Eu estava na frente da garota que eu gostava, sem saber o que fazer. Eu estava espantado. E então, me dei por conta do que estava acontecendo e levantei, rapidamente, ajudando ela a juntar as folhas que tinham caído no chão. Eu pedi desculpas, com a minha mão na cabeça.

“Sem problemas” Ela disse, com um sorriso. E então, eu vi que ela ia para a sala de aula, mas parou, voltando a olhar para mim. “Ei, você é quem é o amigo do George, não é?”

“Sou.” Terceira semana de aula e eu já sou conhecido pelo colégio. E assim meus três segundos de fama acabaram.

“Como que ele é?” Ela me perguntou. E então, parou para se corrigir com um sorriso envergonhado. “Ah, desculpa. Você deve estar atrasado para a aula. É que ele me chamou para sair hoje de tarde, e, bom... Ele tem uma certa reputação, não é mesmo?”

“É...” Eu gaguejei. Era essa minha chance. Eu poderia destruir o George, acabar com ele na frente dela e então chamá-la para sair eu mesmo. Mas, enquanto eu formava a frase na minha cabeça, minha boca acabou deixando sair outra coisa. Eu não queria inventar uma história sobre ele e não queria ter que perder a amizade dele por uma garota que eu nem conhecia direito. Talvez ela fosse perfeita para ele, quem sabe. Só sei que eu dei de ombros e falei bem dele. “Ele não é exatamente o cara mais romântico do mundo, mas é um cara legal. Você deveria dar uma chance a ele”.

“Ah” Ela disse, parecendo um pouco espantada. “Okei, então.” Ela mexeu com os papéis, arrumando eles na frente de seu peito. “Meu nome é Sara”

“Juan.”

“Talvez nós vamos nos ver mais vezes, Juan” Sara disse, com um sorriso. E eu não consegui deixar de sorrir também, sem conseguir entender o que ela quis dizer. “O armário.” Ela gaguejou. “Meu armário fica logo ao seu”.

“Ah sim.” Eu disse. E então, nós sorrimos e ficamos olhando nos olhos um do outro. O silêncio era devastador e ainda assim, não tínhamos coragem de falar nada um para o outro. Eu acabei colocando minha mão no bolso, sentindo um pedaço de embrulho. E lembrei do chiclete do outro dia. “Chiclete?” Eu tirei do bolso e ofereci a ela.

Sara sorriu e pegou um, mastigando. Ela agradeceu e fomos cada um para seu lado, voltando para as salas de aula. E foi quando eu cheguei na porta da sala de aula que eu esqueci do meu livro.

De novo.


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Notas finais do capítulo

Aspas, porque sim. Eu sei que muitas pessoas não gostam, mas eu achei o visual mais limpo desse jeito e estava com preguiça de programar o travessão no meu OpenOffice (porque é de graça). Se vocês não gostarem, eu posso mudar. Mas deixando de falar sobre isso, o que vocês acharam do capítulo?
Eu mudei um pouco a história para dar um pouco de emoção, para não ficar aquele negócio de amor à primeira vista, estilo conto de fadas. Nem tudo na vida dá certo desde o primeiro momento e é isso que eu queria explorar nessa história.



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