I am the Target escrita por Hawtrey, KCWatson


Capítulo 12
Maldito homem, maldita ameaça


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, peço mil perdões pela demora. Acabei ficando seriamente doente e atrasei todas as minhas fics e esse capítulo já estava no planejamento, então eu tinha mesmo que fazê-lo e não adiá-lo. Ele é pelo ponto de vista de Sherlock, é curto, porém necessário para o resto da fic.
Espero que gostem
KPrince



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Era incrível como o silêncio tinha capacidade de criar pensamentos e a mesma capacidade para atrapalhá-los.

Estava sozinho no Sobrado, situação que se tornara comum nos últimos dias. Comum demais. Estranho. Ele nunca se importava em ficar sozinho, pelo contrário, até preferia, mas desde a chegada de Joan Watson tudo mudara em sua vida. Agora lamentava a ausência dela, acostumara-se a ouvir sua voz, seus sermões sobre a maneira mais educada de tratar uma pessoa e até os pratos saudáveis que ela o forçava a comer.

Apoiou sua cabeça no encosto do sofá e respirou fundo. Podia ouvir os ponteiros do relógio marcando o tempo, os passos firmes na calçada que quase estavam sendo abafados pelos poucos carros que passavam na rua e um possível gotejamento no banheiro. Mas não havia nenhum sinal dela. Já se passava das sete da manhã, onde estava Watson? Ele passara a noite inteira revirando a própria mente em busca de respostas para o que estava acontecendo, mas pela primeira vez em muitos anos... nada veio.

Esta era apenas mais uma noite que Watson passava fora de casa. Sherlock tentou ser racional. Watson era uma mulher inteligente, bonita, solteira, determinada e mais corajosa que muitas que já vira por ai, por isso se forçava a aceitar que ela estava se unindo a um homem que julgava ser aceitável. O problema é que nada indicava isso. A consultora não parecia feliz ou satisfeita, os telefonemas estranhos que recebia só a deixavam mais tensa, as conversas entre eles havia diminuído consideravelmente e seu modo de andar não indicava nenhuma relação sexual recente. Sherlock tinha certeza de que estava deixando passar algo importante da vida de Joan e não se tratava de um namorado.

— O que pode ser?

Levantou-se e caminhou até o próprio quarto, relembrando a última conversa longa que tiveram. Entrou no quarto e trancou a porta, sentando-se na cama logo em seguida. Fechou os olhos e reviveu aquela conversa com toda a concentração que possuía. Suas palavras rápidas, a certeza de que ela estava escondendo algo, a raiva que emanava dela quando pediu por sinceridade e a fúria quando lembrou das cartas de Moriarty.

— Por acaso está com ciúmes?

Nem ele conseguia acreditar em sua própria pergunta. Tal pergunta já surgira em sua mente antes, mas direcionada a si mesmo. Nunca imaginara perguntar o mesmo a ela.

— E seu eu estiver? — ela gritou o assustando. Não esperava aquela resposta, não esperava ouvir uma afirmação — Algum problema com meu ciúme Holmes? E se eu quiser cortar aquela mulher em mil pedacinhos e jogar de comida para os pombos?

Por um momento riu, imaginando uma cena surreal onde Watson jogava pedaços de carne para os pombos e ria, gritando para todos que finalmente se livrara de Moriarty. Então seu sorriso sumiu, notando um novo problema surgindo em sua vida. E se Watson realmente estivesse com ciúmes? Há a possibilidade... e eles se beijaram. Como esquecer aquele beijo?

Abriu os olhos e não conteve uma careta, amaldiçoando-se por ainda conseguir lembrar todas aquelas sensações com detalhes. A respiração descompassada, a pele quente e macia, o coração martelando em seu peito e os seus lábios...doces e inesquecíveis.

E então ele a machucou com as próprias mãos, deixando dolorosas marcas. Como se perdoar por aquilo? Como saber que não seria o inicio de algo ruim?

Quando conheceu Irene Adler soube imediatamente que havia algo de especial nela, algo que prendeu sua atenção. Ele não sabia o que era, nem tinha ideia. Poderia ser aquele indiscutível talento com a pintura ou simplesmente aqueles inesquecíveis olhos azuis. No inicio era apenas um interesse e logo no primeiro toque percebera o quanto Irene era diferente. Sherlock não recuara, muito pelo contrario, ansiava por mais toques delas. Começara com um encontro que para ele não firmava compromisso algum, mas assim que ela se foi... tivera  a certeza de que queria mais, muito mais. Encontros se transformaram em um romance, que se transformou em paixão... que se transformou em dor.

Mas assim que seus olhos se encontraram com os escuros e assustados olhos de Joan Watson, algo dentro dele se dissolveu. Não foi um evento ruim, era mais como se uma parte da dor que o acompanhava se desprendesse dele e dissolvesse, sumisse.

Você acredita em amor a primeira vista?

Uma parceria surgiu. Sherlock não queria mais ninguém em sua vida, muito menos alguém que trabalhasse para seu pai, que serviria de babá e que morasse no Sobrado. Não queria se relacionar com mais ninguém. Mas antes que notasse Joan já estava no seu caminho, fazendo parte de sua vida. Pensava que ela só estava fazendo o trabalho dela, que toda a preocupação e os cuidados seriam recompensados com um cheque do seu pai no final do mês.

Tinha que admitir que a verdade foi uma das maiores surpresas que Watson já lhe proporcionou. Saber que ela permaneceu ali ao seu lado, suportando sua existência e suas palavras duras e por vezes frias sabendo que não receberia nada em troca foi com certeza a melhor verdade que já descobrira.

Você acredita em amor à primeira vista?

Joan não era Irene, uma mera comparação nunca poderia ser válida. Joan não era a sua luz, não era A mulher, não era aquela que iluminava seu dia.

Você acredita em amor à primeira vista?

Não. Como acreditar em amor a primeira vista depois de Irene Adler?

Mas havia Joan.

Não. Joan havia conseguido um lugar em sua vida depois de meses lhe fazendo companhia, conseguiu sua confiança depois de lutar por isso. E ela lutou muito, sobreviveu a tudo que ele impôs, sendo justo ou não. Se havia alguém que merecia ser amada, esse alguém era Joan.

Mas Sherlock não se importava com isso, porque já a amava antes mesmo de perceber tudo isso.

Fechou os olhos novamente, puxando os próprios cabelos com força, lamentando aquele sentimento que nunca deveria existir.

Joan não era Irene, era melhor. Não era A mulher, era sua salvação. Não era sua luz, era sua droga. Sherlock estava viciado em Joan Watson, não como se fosse sua heroína preferida, era melhor. Só a presença dela já lhe dava paz, já fazia seu dia valer a pena. Era ridículo, ele admitia, mas todo aquele sentimento era ridículo. Como podia sentir tanta falta de alguém? Como podia querer tanto a presença de uma pessoa? Por que tê-la machucado estava doendo tanto em seu peito?

Sabia a resposta, claro que sabia. Podia ser muita coisa, menos ingênuo. Simplesmente amava Joan Watson e é claro que não se tratava de um amor fraternal. Era bem mais forte e bem mais incontrolável. Queria localizar aquele maldito celular dela, encontrá-la e beijá-la até que ela o parasse, porque obviamente ele não pararia tão cedo. Sherlock queria poder dizer que não passava de uma simples atração sexual, sentia o desejo queimando em cada centímetro de sua pele. Mas sua mente gritava em preocupação, queria protege-la acima de tudo, queria mantê-la perto a todo momento, queria esmagar cada membro do corpo de Holloway por simplesmente ousar tocá-la.

Seu celular tocou. Ele abriu os olhos e suspirou, atendendo-o.

― Quanta demora ― comentou sarcástico.

Não sabia que estava à espera da minha ligação senhor Holmes ― retorquiu Holloway no mesmo tom ― Recebeu minhas cartas?

― Sim e por isso estava esperando por você.

Compreendeu bem minhas palavras?

― Compreendi que você é bem mais louco do que eu imaginava.

Holloway riu, fazendo o humor de Sherlock piorar consideravelmente.

Não sei porque todos vocês adoram me chamar de louco.

― Talvez porque você goste de matar desconhecidos e se diverte em envenená-los.

Oh, não são completos desconhecidos, você que ainda não foi capaz de encontrar a ligação entre eles.

A mente de Sherlock entrou em alerta. Como não eram completos desconhecidos? Se houvesse mesmo uma ligação entre eles, mesmo que mínima, já teria descoberto. Ou não?

Em choque? ― Holloway implicou malicioso ― Não achou que eu fosse capaz de enganar o famoso Sherlock Holmes? Sabe senhor Holmes, confesso que é bem difícil compreender o que se passa nessa mente quebrada que é a sua, mas estou indo bem por enquanto, não acha?

― Esse é o seu jogo Holloway? Tentar me enganar?

Que graça teria em apenas enganar você? Pensar dessa forma é mais um erro que entra para sua lista. Você é apenas minha peça principal nesse jogo senhor Holmes, não a única.

― E fazer Joan sofrer faz parte do seu maldito jogo? ― Sherlock questionou enquanto se levantava.

Joan? Pensei que ela fosse apenas Watson pra você.

― Eu já a chamei assim antes.

Mas agora parece diferente... ― Holloway notou com falsa surpresa ― A primeira coisa que deve entender Sherlock Holmes é que Joan é minha, não sua. Deixei bem claro em minhas cartas.

As malditas cartas!

― A primeira coisa que entendi é que você não a ama ― contrapôs Sherlock firme.

Só por querer mata-la? Ora, é apenas aquela velha história. Se não é minha, não pode ser de mais ninguém.

― Isso não é amor.

― E o que é? O que sente por ela? O que ela sente por você? É tudo a mesma coisa, um sentimento egoísta onde a proteção só é exercida porque você quer que o outro permaneça ao seu lado.

Sherlock paralisou, arregalando os olhos ligeiramente.

O quê? Chocado mais uma vez senhor Holmes? ― divertiu-se Holloway ― Só um completo idiota cego como você não enxergaria o amor que Joan joga na sua cara. E o que ela está fazendo por você nesses últimos dias? Nossa, veja a que ponto está seu fracasso. Sendo enganado por alguém que se julga incapaz de menti pra você... Apenas lembre-se do que eu disse. Fique longe dela ou só vai descobrir toda a verdade quando for enterrá-la ou talvez seu pai tenha a bondade de contar tudo alguns minutos antes.

A linha ficou muda, mas Sherlock se limitou a jogar o celular em qualquer lugar. Havia acabado de descobrir que Joan também o amava, o que praticamente o tornava o completo idiota que Holloway mencionou. Todas as pistas estavam ali, o amor dela gritando toda vez que se olhavam... e ele não notou nada. Sua mente detalhista e analítica estava procurando respostas de Holloway, tão ocupada em encontrar detalhes ocultos que ignorou o que estava bem na frente de seus olhos.

Obviamente tudo fazia mais sentido agora. Toda a preocupação dirigida a ele, o desespero que se sucedia quando ela imaginava que algo aconteceria, o beijo correspondido... Holloway o ameaçou para garantir que Sherlock permanecesse longe dela, mas agora o detetive estava tentado a encontra-la e arrastá-la para bem longe, fugindo daquilo tudo. Todas as respostas estavam ali, girando em sua mente, gritando para que ele se movesse, para que fizesse algo antes que fosse tarde.

As noites em claro que ela passava perambulando pelo Sobrado, o ar cansado indicando que as noites que passava fora também não eram nada fáceis, os leves ferimentos e hematomas em partes expostas do seu corpo, as ligações estranhas, todo o trabalho que ela tinha para ficar longe dos olhos atentos dele. Tudo gritava que ela estava escondendo algo a mais, mais do que um simples caso de Morland, mas do que uma singela preocupação de uma relação conturbada de pai e filho.

Sherlock se sentia um completo e inútil idiota, tudo porque Joan conseguira mentir para ele com sucesso e precisou da ajuda de um louco para notar isso.

***

As páginas queimavam lentamente, devagar demais para o bem da já esgotada paciência dele. Queria que elas simplesmente entrassem em combustão espontânea pelo tempo que perdera analisando-as. Encontrara cada folha na primeira vez que entrara na casa de Veiga, parceiro e vitima de Holloway, logo notando que uma simples e caseira tinta invisível escondia uma mensagem que ele teria que decifrar. E tentou, tentou de tudo. Todos os códigos e línguas possíveis, todas as maneiras de se escrever e ocultar uma mensagem ele pesquisou e aplicou sobre aquelas letras embaralhadas e soltas. Mas de qualquer modo elas não faziam nenhum sentido.

Perdera horas essenciais com aquelas incontáveis paginas e continuaria perdendo se Holloway não tivesse ligado o fazendo de idiota, mais uma vez. Sem essa ligação não pensaria na simples possibilidade do próprio Holloway ter implantando aquelas páginas, sabendo que Sherlock as encontraria e perderia seu precioso tempo procurando respostas onde não existem.

O seu painel sobre a lareira estava mais limpo do que de costume, fizera questão de retirar todas as suas anotações e partir do principio que Holloway era o culpado de tudo. No centro havia sua foto, agora uma onde ele possuía os cabelos escuros, ao redor o nome das vitimas de Veiga e suas respectivas fotos e o modo como morreram. Começara a considerar a possibilidade Holloway ter matado todas elas, não seu parceiro. Mas por que matar aquele que levava toda a culpa e mantinha seu nome limpo? Qual era a maldita ligação entre aquelas pessoas?

Esfregou o rosto em agonia, sentia-se exausto. Holloway estava brincando com ele e rindo com isso. Mas o que estava deixando passar? O que Holloway sabia e como sempre sabia de tudo? Por que era tão difícil compreender uma mente que devia ser previsível aos seus olhos?

E Joan ainda não estava em casa. Como ele conseguiria pensar direito sem saber do paradeiro dela?

Bem que ela podia simplesmente atender o celular.

Como conseguiria manter distância sabendo que ela também o amava? Mais uma vez a ideia de fugir lhe veio a cabeça, no entanto o risco seria enorme e por quanto tempo teriam que fugir do jogo de Holloway?

Não, o melhor era resolver isso logo.

― O que está escondendo de mim desgraçado? ― questionou para si mesmo fitando a foto de Holloway.

O barulho da porta chamou sua atenção, virou-se rapidamente a tempo de encontrar Joan entrando e passando direto para a cozinha.

― Imaginei que não faria um almoço de verdade, então eu trouxe o seu ― ela anunciou de algum lugar da cozinha ― Não deixe esfriar. Se precisar de mim estarei no quarto.

As perguntas explodiram em sua cabeça: onde estava? Com quem? Por que chegava a essa hora? Mas como sempre nada saiu, ele apenas observou ela voltar e subir as escadas silenciosamente. E nada mais.

― Qual é o seu problema Holmes?

Suspirou e se jogou no sofá. Qual era a dificuldade de simplesmente ir lá e conversar com ela? Obviamente não faria uma declaração, não seria tão sincero, mas ao menos podia perguntar o que estava acontecendo, o que estava afetando-a tanto.

Em um ímpeto se levantou e caminhou apressadamente para a escada, mas estacando no primeiro degrau. Não, não conseguia lidar com isso, não conseguia esconder o que sentia naquele momento. Se fosse ficar frente a frente com Joan agora não perderia tempo antes de alcança-la e beijá-la com toda a força. Mas havia Holloway, suas malditas ameaças e a possibilidade de haver câmeras em qualquer lugar daquela casa.

Bufou e deu meia volta. Precisava admitir que pela primeira vez não sabia o que fazer.


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Notas finais do capítulo

Desculpe qualquer erro
O que acharam?



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