I am the Target escrita por Hawtrey, KCWatson


Capítulo 10
Senhora Holmes Parte II


Notas iniciais do capítulo

Aqui está a segunda parte do capítulo, espero que gostem ^^



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Seu primeiro passo em direção a boate foi trêmulo, não de medo, mas de nervosismo. Puxou a manga da blusa para ter certeza de que estava cobrindo seu pulso e ajeitou a saia que estava um pouco justa demais. Joshua havia escolhido aquelas roupas argumentando que só poderia entrar no The Griffin quem mostrasse, ao menos, um mínimo de estilo nas roupas e no porte. E lá estava Joan amaldiçoando aquela saia e lutando contra a vontade de esfregar seu rosto e se livrar da maquiagem. De fato, a única coisa que não estava a incomodando era o salto agulho.

Quando o doorman finalmente a deixou entrar, depois de uma longa e embaraçosa análise, e de se apresentar simplesmente como Senhora Holmes, ela suspirou em alivio. Mas assim que a porta se abriu, teve que conter a vontade de dar meia volta e ir embora. O som alto das batidas invadiram seus ouvidos com violência e o cheiro de álcool, suor e drogas quase a fizeram recuar. Obviamente a presença de Sherlock Holmes em sua vida estava a influenciando mais do que imaginara. Já se passara da meia-noite, mas aquela era a hora perfeita para ir a fundo na ajuda de Morland. Depois de descobrir o endereço da boate e escutar as informações que Joshua tinha para lhe passar, apressou-se em complementar com mais detalhes o arquivo sobre Holloway que a recepcionista havia lhe dado. Esperava não passar muito tempo nisso, mas a insistência de Joshua nas melhores roupas e sua mente gritando em negação sobre ir a uma boate, não ajudaram muito.

A última vez que estivera em uma, Joan ainda estava no inicio da faculdade, com Alejandra e Holloway lhe fazendo companhia, depois de concluir que tudo ali era fútil e banal demais para sua mente prometera nunca mais voltar em um lugar como aquele e bem... lá estava ela de novo, dessa vez a procura de alguém que nunca vira na vida.

As pessoas ao seu redor pulavam e dançavam como se não houvesse uma vida fora dali, afinal, aquele era o objetivo mesmo: esquecer a própria vida. Respirou resignada e começou a tentar atravessar a multidão agitada, desviando de casais grudados e daqueles que faziam movimentos estranhos. Olhou em volta atentamente procurando qualquer homem que pudesse ao menos se parecer com o tipo de pessoa que estava procurando, mas tinha que confessar: o lugar a estava distraindo. Ignorando todo o resto, como a música e as luzes irritantes, Joan só conseguia se perguntar se aquela era um tipo de boate cinco estrelas onde as celebridades iam. Havia espelhos nas paredes dos fundos e lustres enormes por ali, como aqueles que ela costumava encontrar em hotéis luxuosos, sem esquecer os sofás que ela podia jurar serem cobertos por veludo a as colunas com minuciosos detalhes gravados.

Depois de longos minutos se perdendo naquela imagem, tendo a visão distorcida pelas luzes e pela multidão, desistiu e caminhou até o bar mais próximo. Todo mundo sempre ia ao bar, não é? Alguma hora o homem por quem procurava ia aparecer.

— Vai querer alguma coisa? — o barman perguntou.

— Não, obrigada — gritou em resposta — Só estou esperando uma pessoa.

Seu celular vibrou. Não conseguia escutar o som instrumental por cima da música eletrônica, mas tinha certeza de que se tratava de Sherlock. Era a terceira vez que ele ligava só na última hora, mas seria a primeira vez no dia que ela atenderia.

É uma boa hora pra bancar a infantil...

— O que você quer chefe? — gritou para que ele pudesse ouvi-la.

Só pra ele entender que não gosto dessa história de chefe.

Onde você está Watson? — ele gritou de volta.

— Trabalhando!

Trabalhando em uma boate?

Joan suspirou. Não queria ter que responder que tipo de trabalho estava fazendo ali.

— Fiz uma pausa pra me divertir.

Sentiu alguém de aproximando e se virou, alerta. Um homem de cabelos loiros-escuro e de olhos intensamente azuis se aproximou com um sorriso malicioso e sentou ao seu lado.

— Posso te fazer companhia? — ele perguntou se inclinando na direção dela.

Joan o analisou e tampou o microfone do celular, tentando manter Sherlock fora da conversa.

— Quem é você?

Watson! — gritou Sherlock em seu ouvido — Volte pra casa agora!

— Michael Morstan.

Seus olhos se encontraram por um momento e Joan encontrou em seu rosto um sorriso tímido, porém sincero. Mas em seguida negou, não era quem estava procurando.

— Desculpa — pediu já se levantando — Eu preciso ir.

— Espera! Não vai nem me dizer seu nome?

Quando ela pensou em responder, o celular foi arrancado de sua mão.

— Ei! Devolva meu celular!

Virou-se lançando um olhar irritado para o outro desconhecido, mas ele apenas manteve a expressão neutra e levou o celular à orelha.

— Joan Watson está ocupada agora. Ligue mais tarde.

E desligou. Provavelmente deixando Sherlock ainda mais furioso.

— Me acompanhe.

Joan não hesitou em responder. O homem se destacava pelo terno negro e se parecia mais com quem estava procurando, no entanto, havia um ponto de escuta em um de seus ouvidos. Então possivelmente protegia quem ela procurava.

Acompanhou-o para uma área mais reservada da boate, onde havia menos pessoas e mais sofás de veludo. Passando direto pelo bar que havia por ali, entraram em um corredor bem iluminado e seguiram em silêncio. Pelo menos até o celular dela voltar a tocar, dessa ela escutou bem o som instrumental.

O segurança parou e entregou o aparelho a ela:

— Dê um jeito nele.

No mesmo instante ela atendeu.

O que está acontecendo aí? — Sherlock gritou furioso.

Joan reprimiu uma careta e respondeu, com cautela:

— Está tudo bem, mas estou ocupada. Explico mais tarde.

E desligou com a mente gritando em alerta. Já imaginava o que escutaria quando chegasse em casa.

— O senhor Forllet está esperando.

Ela apressou o passo para seguí-lo e se viu ainda mais perdida, assustando-se com a quantidade de seguranças pelos corredores. Definitivamente encontrara o amigo de Morland. Ao menos esperava mesmo que seus instintos estivem certos ou poderia estar sendo levada para a morte.

Quando chegaram ao fim de um corredor a primeira informação que Joan notou foi mais seguranças de plantão. A porta que eles protegiam se abriu, revelando uma sala ampla, bem arrumada e tão luxuosa quanto o resto da boate.

— Bem-vinda senhora Holmes.

O sobrenome chamou a atenção. Somente Holloway a tratava assim, bem... não só ele como ela descobrira hoje. Quase respirou aliviada quando fitou o homem loiro e encontrou um sorriso debochado, aparentemente estava fora de perigo.

— Acho que sabe que não sou casada com nenhum Holmes — disse enquanto se sentava em uma das poltronas que um segurança indicava.

— Não é por causa de um matrimônio que a chamamos assim.

Joan franziu o cenho, confusa. O homem incrivelmente loira se assemelhava muito a uma das imagens de Holloway, mas sua blusa negra de botão bem alinhada e aquele sorriso mostravam um caráter diferente de um assassino. Mesmo que ela desaprovasse o cigarro entre seus dedos. Aquele com certeza era Albert Forllet, havia até uma plaquinha com o nome dele sobre a mesa, como se fosse o diretor de uma escola ou algo assim.

Pelo menos parece tão rico e poderoso quanto Morland.

— Então qual é o motivo?

— Família é claro! — ele disse como se fosse o mais obvio — Provavelmente não sabe, mas há muitos anos Morland Holmes disse em um discurso que poderia mover céus e terras para conseguir o que quer, mas só moveria o próprio mundo para ajudar sua família. Você estar aqui significa que ele fez isso. Portanto, eis uma Holmes!

Ela fez uma anotação mental para se lembrar daquela informação mais tarde. Sempre imaginara que Holloway a chamava assim por causa de Sherlock, mas agora ela via que tinha a chance de haver algo mais que isso.

— Como posso ajudar a nova protegida de Holmes? — Forllet perguntou depois de absorver mais um pouco de seu cigarro.

— Morland disse que poderia me ajudar a encontrar um assassino, Hector Holloway — Joan respondeu retirando a pasta da bolsa com dificuldade por causa de seu pulso e entregando a ele.

— Um assassino? — ele questionou de sobrancelhas erguidas — É tão difícil assim para a polícia encontrá-lo?

— Sim e ainda mais difícil encontrar provas concretas que o ligue aos crimes.

Forllet começou a ler o arquivo superficialmente, mas com nítido interesse.

— Qual o método dele?

— Principalmente venenos, mas já usou armas brancas e de fogo — Joan respondeu de modo profissional.

— Hum... parece bem preparado. Mas ele significa algum risco para a sua vida ou para Sherlock?

— Para nós dois. Holloway já foi meu namorado e quando terminamos se tornou obsessivo por mim. Agora além de matar pessoas ele quer do inferno minha vida. Já tentou me matar com veneno, mas temo muito mais por Sherlock e Kitty.

— Kitty... a ex-aprediz de Sherlock?

— Sim, ela está escondida no momento.

— Onde?

— Só o Capitão da Polícia e Sherlock sabem.

— Ótimo. Holloway já fez contado direto com você?

— Sim, todos os detalhes eu escrevi na última página.

Forllet abandonou a pasta e se inclinou sobre a mesa, cruzando as mãos sobre ela.

— O senhor Holmes disse a você como trabalho?

Joan negou, tentando manter a indiferença.

— Eu sou possessivo e obsessivo com a proteção dos meus clientes, senhora Holmes, porque é através do alvo que se encontra o atirador. Se Holloway quer atingir vocês, então é em vocês que vamos grudar.

Ela engoliu uma reclamação. Sempre negava a vigilância de Sherlock e até mesmo da própria polícia, nunca quis isso e estava tentada a abandonar a ajuda de Morland naquele instante, não se importando quantos mundos ele havia movido para que aquele encontro fosse possível. No entanto, não era só sua vida em risco e não era mais só Holloway que oferecia perigo.

— Certo. Posso saber o que vai fazer?

Forllet sorriu e acenou para o segurança ao seu lado, que se aproximou dela:

— Vamos começar colocando um dispositivo de rastreamento no seu celular, assim poderemos rastreá-la quando for preciso e se tivermos sorte, também conseguiremos o mesmo caso Holloway ligue pra você.

Ela assentiu e entregou o celular ao segurança, que sumiu pela porta.

— Colocarei meus homens disfarçados vigiando você, Sherlock e qualquer outro que eu achar ser um alvo em potencial de Holloway, e que seja próximo a você, claro. Vigilância vinte e quatro horas — Forllet avisou sorrindo de modo convencido — Meus homens só vão se intrometer diretamente se a vida de vocês estiver em risco. Temos uma bela parceria com a Everyone, então... a partir do amanhecer se algo acontecer e por algum motivo a ajuda não surgir, ligue para o número um de qualquer aparelho que conseguir. Saberemos que é você e rastrearemos, compreendeu?

— Sim, mas como vou saber se quem está me vigiando é um dos seus ou alguém a mando de Holloway?

Forllet aumentou o sorriso e ergueu a mão esquerda, explicando:

— Todos nós usamos esse anel no dedo indicador da mão esquerda. Não é uma placa de néon, então vai ter que ser bem atenta.

Joan fitou o anel cinza e opaco com atenção, tentando gravar a imagem. Tinha certeza de que aquele era mais um objeto que poderia passar despercebido facilmente.

— Algo mais?

— Não — ele piscou, tentando seu lado sedutor — Acho que nosso relacionamento acaba aqui. Vou pedir que a acompanhem até em casa.

Ela começou a negar, mas se lembrou que tinha acabado de concordar com a “vigilância vinte e quatro horas”. Suspirou cansada, aquilo era só o começo. Levantou-se, percebendo que agora seus pés doíam verdadeiramente e se preparou para sair.

— Não esqueça o celular! — Forllet lembrou esboçando um sorriso de canto — E mais uma coisa.

Ela aceitou o celular do segurança e fitou o loiro, esperando que continuasse.

— Eu notei que você pode ser tão valiosa para o senhor Holmes quanto o próprio filho — ele comentou antes de levar o cigarro mais uma vez a boca — Então seja boazinha e tente não se meter em problemas, entendeu? Porque a última coisa que eu quero é ser alvo da fúria de Morland Holmes.

Joan assentiu um pouco abismada e saiu.

Quase uma hora havia se passado nessa breve conversa e durante todo o tempo ela teve receio quanto às atitudes de Forllet, que parecia ser um homem tanto cômico quanto perigoso, no entanto, o próprio Forllet temia Morland. Isso devia significar algo, algo como “Nunca irritar o pai do Sherlock”.

Longe da sala de Forllet os seguranças ainda a seguiam e ninguém parecia notar isso. A festa estava a todo vapor, mas dessa vez não foi difícil atravessar o mar de pessoas agitadas, suadas e bêbadas. Do lado de fora o motorista ainda a esperava e tudo o que ela fez foi se jogar dentro do carro, pensando no calor de sua cama.

— De volta ao apartamento, por favor.

***

Já era quase três da manhã quando entrou no Sobrado. Ela fora ao apartamento somente para pegar o resto de suas coisas e trocar de roupa, não poderia aparecer ali como uma roupa daquelas. Mas as luzes estavam apagadas e o lugar estranhamente silencioso para a situação. Imaginou que Sherlock estaria ali, andando de um lado para o outro expressando toda a sua fúria em cada passo.

Mais um engano seu.

Arrastou-se até a escada e se sentou nos primeiros degraus. Estava exausta, pelo menos era assim que se sentia. Imaginou que o apartamento de Morland lhe permitiria algum descanso, mas só conseguira organizar tudo para sua investigação e complementar o arquivo de Holloway, além de escutar Joshua lhe indicando roupas e lhe dando informações. Seus pés doíam e sua cabeça latejava, assim como seu pulso. Precisou de alguns segundos para lembrar o motivo da dor. Ah sim, Sherlock. O parceiro havia apertado o local com força logo pela manhã. Afastou a manga comprida e resmungou. Ele deve ter usado muita força mesmo. Não era fácil deixar hematomas na sua pele e Joan quase conseguia imaginar os dedos de Sherlock ali. Havia hematomas e inchaço. Provavelmente iria piorar depois.

— Lembrou que tem uma casa?

Joan revirou os olhos. Quem estava sendo infantil agora? Apressou-se em cobrir o braço e se recompor.

— Eu avisei que estava ocupada.

Sherlock desceu as escadas e, indiferente, passou por ela.

— Nunca pensei que uma boate fosse uma ocupação pra você, Watson — implicou se virando para encará-la.

Oh, então eu devia ter diversão em casa como você tem com suas meninas?

— Por quê isso importa senhor Holmes? — perguntou sarcástica.

— Se tivesse lido as mensagens no seu celular saberia que eu pedi para que ficasse em casa, em repouso. Mas como você me ignorou por todo o dia, agora temos álcool e cigarro se misturando com o ar dessa casa!

Joan bufou e ignorando o cansaço, levantou-se:

— Pra começar você é meu chefe, não meu dono! — exclamou em tom furioso, fazendo-o recuar surpreso — E se estou perturbando o seu maldito olfato e o seu frágil autocontrole, muito bem, vou me retirar agora. E não espere me ver tão frequentemente nos próximos dias. Boa noite!

Recusou-se a ceder a enorme dor de cabeça e a fome que parecia querer destruir seu estômago, não voltaria a descer aquelas escadas antes de o sol nascer. Assim que entrou no quarto jogou os sapatos para qualquer lado e fechou a porta com força, querendo extravasar toda a raiva. Sabia que a culpa não era de Sherlock, que algo podia estar errado com ele, talvez até precisasse de ajuda...

Mas ele podia muito bem ter evitado as palavras de Irene, não é?

Recriminou toda a vontade que tinha de xingar Moriarty e muitos bons nomes surgiram em sua mente para descrevê-la naquele momento. Mas Joan nunca foi assim, ou talvez fosse. Ela não tinha certeza agora.

Estava completamente confusa naquele momento. Talvez parar de pensar em qualquer Holmes e em suas vidas fosse o que mais precisasse agora.


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Notas finais do capítulo

Alguém entendeu a inclusão do senhor Morstan na história? Uma dica: se Watson pode ter o sexo trocado em Elementary, Morstan também ;)
Comentem!



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