P.O.V. Calipso

Arrastava meus pés pela areia fofa da praia até o vulto que me esperava contra o sol, mesmo daquele jeito conseguia identificá-lo. Era impossível não fazer-lo. Os cabelos escuros e rebeldes, a sombra da jaqueta, as mãos sempre inquietas. Era meu Leo.

Comecei a correr, quanto mais corria, mais longe dele parecia estar, meus pés escorregavam, constantemente eu tropeçava, mas continuava correndo. Corri ate meu corpo pedir clemência e desmoronar no chão. Fechei os olhos com força, desejando parar de chorar, desde o dia que ele caíra na praia eu só conseguia pensar nele.

-Precisa de ajuda flor-do-dia?- disse a voz familiar acima de mim

Era Leo, de pé perto do meu rosto, sua mão estendida pronta para me puxar. Levantei o braço fracamente, sua mão era como eu lembrava, áspera e calejada. Assim que fiquei de pé, o puxei para um beijo.

-Promete nunca mais ir embora?- sussurrei, enterrando o rosto em seu pescoço.

-Prometo.

Me permiti relaxar por alguns segundos, Leo pôs a mão suavemente em minha bochecha, me fazendo olhar para seu sorriso se desfazer em areia, me fazendo cair de joelhos novamente, em desespero comecei a cavar, sabia que era ridículo, mas continuava cavando. Subitamente, a areia começou a se mover, girava em círculos até tomar a forma de uma mulher.

-GAIA!!! VOCÊ NÃO É BEM VINDA AQUI!!!! SUMA DA MINHA VISTA ANTES QUE EU ACABE COM VOCÊ!!!!!

-É um pouco tarde para isso querida...- disse -Estou usando o último que resta da minha consciência para falar com você...

-O que você quer?

-Avisar que seu amado se sacrificou para que isso fosse possível.

Não. De todas as palavras possíveis eu só podia pensar nessa. Não era possível. Meu coração doeu como nunca havia antes doído. Lágrimas desceram pelo meu rosto, soluços escaparam da minha garganta, tentei abraçar a mim mesma como conforto, mas o frio emanava de mim. Fiz uma garra de três dedos acima do meu coração e mandei Gaia para longe. Arrastei-me até meu jardim, todas as flores pareciam ter perdido a cor, não conseguia pensar em mais nada, peguei a tesoura de jardinagem, respirando fundo e contando até três, avancei-a de encontro ao meu peito.

Acordei de súbito, arfando, encharcada de suor. Segurei minhas pernas de encontro ao peito, sentindo uma única lágrima silenciosa escorrer pela minha bochecha, evitando pensar no sonho.

Levantei-me e fui tomar um banho, tentando não pensar em nada, pois tudo o que passava em minha mente me lembrava ele. Me vesti, não estava com fome. Fui cuidar do jardim, ajoelhei no chão e plantei algumas novas flores, me permitindo esquecer. A lâmina da pá, era tão brilhante, estava tão afiada, segurei-a com cuidado entre as mãos; seria bom se meus problemas se resolvessem tão fácil...

-Calipso, por favor.- disse uma voz grave atrás de mim- Solte essa pá, ele está bem.

-Que?- perguntei, me virando para o deus mensageiro atrás de mim -Mas, meu sonho...

-Gaia foi derrotada por Leo, é verdade, e em parte também é verdade que ele se sacrificou, mas acredite, ele está bem.

-Como?- uma fagulha de esperança começava a surgir

Hermes sorriu, travesso.

-Por que você mesma não pergunta para ele?- disse, e desapareceu.

Corri de volta para a caverna, quase flutuando. Procurei por todos os lugares as malas já prontas, carregando-as para a praia e sentando na areia.