Ambrya escrita por Hina


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Depois de muito tempo, um novo capítulo!



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Quando os capangas de Kamil entraram, Julian sabia que havia algo acontecendo. Kamil teria preferido vir pessoalmente, se pudesse. Apenas um dos homens falava sua língua, e muito mal. Tudo o que pode entender foi que Kamil o estava chamando.

Acompanhou-os pela sequência de corredores sombrios e estreitos, com um aperto no peito. Quando por fim entraram em uma passagem que levava a uma pesada porta de ferro, Julian os viu.

A porta estava aberta. Dentro da sala, Kamil, segurando uma espada fina e com uma expressão furiosa, e Dante, acorrentado, sem armas, com sangue nas roupas. Julian empurrou seus guias para fora do caminho e correu para dentro.

—Kamil!- Ele gritou.- O que está fazendo?

—Ah, Julian! Você chegou.- A raiva sumiu do rosto do homem quando se virou para o velho amigo.

— Pare com isso.- Julian pediu. Olhou para Dante com o canto dos olhos e sentiu que o loiro também o observava. Parte dele já esperava que o garoto fosse segui-lo, mas não achava que ele seria capturado.- Solte-o, ele não tem nada a ver com essa história.

— Isso não é verdade.- Kamil respondeu, desviando o olhar de Julian para Dante.- Ele é Elliot Dante Ventura. Mesmo que não fosse seu guarda-costas, isso tudo também teria a ver com ele.

— Kamil, vamos conversar.- Precisava de tempo. Seus olhos não conseguiam se desgrudar da espada na mão do moreno. Não confiava em seu amigo e ex-amante com uma arma. Não mais.

— Conversar!- Isso pareceu agrada-lo.- Você quer conversar comigo não é Julian? Quer estar comigo. Como nos velhos tempos.

— Eu queria que as coisas fossem como nos velhos tempos.- Ele concordou. Era em parte verdade. E em parte mentira.

— Escutou, tenente Dante?- Kamil aproximou-se do menor.- Como pôde mesmo por um instante duvidar qual seria a resposta dele?

— Eu nunca duvidei.- Elliot respondeu, sua voz rouca. Ele encarava Kamil com intensidade, e então as íris negras desviaram-se para Julian.

De alguma fora, ele entendeu a mensagem. Agora. Se quiser mesmo salva-lo, tem que ser agora.

— Kamil, olhe para mim.- Julian pediu e o outro o atendeu. Deu alguns passos em direção ao menor, e pousou sua mão suavemente na bochecha fria. Kamil moveu o rosto em direção a sua palma e dor cruzou o peito de Julian com as lembranças.- Nós já passamos por tanta coisa juntos. Você já me ajudou tantas vezes... E eu sempre te escutei. Você precisa me escutar agora. Esse não é você.

Kamil se afastou.

— É claro que sou eu Julian. Mas isso... Isso é algo maior do que eu. Maior do que nós. É o futuro do mundo.

— Não, não é.- Julian suspirou, obrigando-se a manter a calma. Ele e Kamil já haviam discutido no passado e ele sabia que raiva não era a resposta. Isso apenas o tornaria mais fechado para suas palavras.- Você não precisa decidir agora. Nós somos cientistas, vamos usar a lógica. Se há discordância sobre uma questão, ela precisa ao menos ser reconsiderada. Eu vou com você, vamos nos afastar e pensar sobre isso com calma, juntos.

Kamil sorriu, e seu sorriso era tristeza e amor e solidão.

— Isso é o que eu mais quero Julian. Mas não posso desistir do mundo. Nem mesmo por você.

Ele deu as costas ao moreno, e puxou o comunicador. Apertou o botão que estabeleceria a linha com seus subordinados. Nada. Nenhuma resposta, nenhum sinal. Kamil afastou o aparelho do rosto: a luz que indicava seu funcionamento estava acesa. O que significava que, se ele não conseguia usa-lo, algo deveria ter acontecido com a torre de comunicação. Kamil voltou-se para Dante.

Estava na hora.

O loiro impulsionou o corpo para trás e depois atirou-se para a frente. Haviam prendido seus braços, mas cometeram o erro de deixar o restante de seu corpo livre.

Seus pés acertaram o peito de Gernot com força suficiente para arremessa-lo deslizando pelo chão, sem ar. Provavelmente havia quebrado algumas costelas.

Isso não o parou. Kamil tentou se levantar. Uma mão apoiando-se no chão, a outra segurando o cabo da espada. Seus olhos eram fúria e dor.

Julian o segurou. Ajoelhou-se no chão ao lado dele e prendeu seus pulsos.

— Kamil, pare!- Ele gritou.

— Julian.- Ofegou.- Julian.

Então puxou os braços do aperto do amigo e se levantou, trôpego. Não tentou alcançar a espada novamente. Em vez disso correu cambaleante para fora da sala.

— Não o deixe fugir!- Dante gritou.

Suez se levantou, espada na mão, e correu até o loiro. Golpeou as correntes acimas de seus pulsos com a lâmina, usando toda sua força. Podia sentir o choque dos metais subir por seus braços, ecoar em sua cabeça.

— Não adianta.- Elliot disparou.- São feitas de Ambrya, não vai conseguir corta-las.

Mas ele iria. Aquela não era uma espada comum, era a espada de Kamil. Pertencera a seu pai antes dele e ao pai deste e a todas as gerações anteriores de Gernot. Aquela espada poderia cortar Ambrya.

As correntes se partiram. Os pulsos de Elliot continuavam presos por algemas, mas não importava. Estava livre agora.

Recuperou-se imediatamente do choque que quebrara as correntes e correu em direção a porta. Julian o seguiu mas não pode acompanha-lo, afastando-se um pouco mais a cada segundo.

O caminho era direto para a sala com a grande janela, onde encontrara Gernot pela primeira vez na fortaleza. Ele estava lá agora, encostado à parede oposta da sala, ofegando, uma das mãos abraçando o próprio corpo.

A outra segurava um controle, com um único botão vermelho.

Aquilo não era bom.

— Fique longe!- Kamil disparou, antes que Dante tivesse a chance de se aproximar.- Ou esse lugar vai pelos ares!

— É isso?- Dante deu um passo para trás e esbarrou em Julian, que chegava, ainda carregando a espada. Elliot viu os olhos de Kamil se estreitarem quando os dois se tocaram.- Vai simplesmente explodir tudo?

Gernot não respondeu. Seu rosto tremia, a expressão revelando alguma luta interna que se passava em sua mente.

— Não me obrigue a isso, Julian.

— Diga-me o que posso fazer.- A voz de Julian estava exaurida. Dante não sabia ao que ele se agarrava naquele momento, se ainda tinha alguma esperança.

— Solte esse garoto. Venha aqui.

Ele estendeu a mão que antes abraçava seu corpo. O controle com o botão vermelho nunca saiu do lugar. Elliot tinha confiança de que poderia tira-lo de Gernot antes que ele o apertasse, mas não tinha certeza. Era um risco que ele não poderia correr.

Onde você esta, Cordélio?

Julian fez o que lhe foi pedido. Lentamente aproximou-se de Kamil.

— E agora?

— Agora o que?

— Você pode soltar isso?

Kamil apertou o controle com mais força. Voltou o rosto para Dante, então de volta para Julian e de novo para Dante. Ele parecia completamente perdido.

— Agora eu vou mata-lo.- Disse por fim.

Kamil levou a mão livre ao cinto. Quando a levantou segurava uma arma. Elliot se jogou no chão e ouviu o som do tiro.

—-//--

A bala se cravara no teto. Julian estava segurando o braço de Kamil, que tremia. Suez tremia também.

Elliot se levantou e com um golpe derrubou Gernot, perdendo seus braços atrás das costas. O moreno soltou o controle e Dante empurrou-o com um chute na direção de Julian. Ele próprio tomou a arma de Kamil.

— Está acabado. Não tente resistir mais, será pior para você.

— Sim.- Disse Kamil.- Está acabado.

Julian pegou o controle do chão. O botão fora apertado. Havia uma contagem na tela preta.

4

Dante soltou Kamil. Agarrou o braço de Suez e a espada que ele segurava.

3

Correu em direção à parede de vidro, trazendo Julian consigo. Com a espada deu o golpe mais forte que pode no vidro. Ele se estilhaçou.

2

Saltaram. Ele e Julian. Dante segurou-se firmemente ao maior enquanto caíam.

1

Uma nave passou sob eles e interrompeu sua queda. Cordélio. Elliot mal teve tempo de recuperar o fôlego antes de gritar para que amigo que se afastassem do prédio.

Houve uma explosão. Os andares inferiores da fortaleza foram destruídos e os superiores começaram a colapsar. A nave sobre a qual estavam deu uma guinada forte no sentido contrário e Dante e Julian se agarraram ao metal para não caírem.

Fragmentos da estrutura do prédio voaram voaram sobre a nave, mesmo enquanto se afastavam. Antes que Elliot pudesse impedir, Julian deitou-se sobre ele, prendendo seu corpo e protegendo-o dos destroços.

Idiota. Elliot pensou. Ele queria se soltar, mas não podia faze-lo sem correr o risco de derrubar os dois.

Quando enfim afastaram-se o suficiente, Julian soltou-o e o loiro pode ver os estragos. Toda a fortaleza desabara, deixando um rastro de destruição que se estendia por boa parte da ilha. Elliot pensou nos homens que estiveram lá, capangas de Kamil que pensaram estar seguindo um Deus.

Então uma escotilha abriu-se no metal e Dante e Julian entraram na nave.

—-//--

— Eu não esperava pela explosão.- Cordélio disse com um sorriso quando os dois entraram. Era uma nave de médio porte, e pertencia a Kamil. Pertencera.- Olá doutor Suez.

Julian apenas assentiu, entorpecido. Ele cambaleou para o banco mais próximo e caiu sobre ele, abaixando o rosto.

— Vamos buscar nossa nave.- Elliot disse a Cordélio. Iria lidar com Suez mais tarde.- Acho que ela não foi pega pela explosão.

O amigo assentiu e eles voltaram à ilha, para a região próxima a praia onde haviam camuflado a nave. As luzes de Timmy piscaram e ela emitiu um ruído de alegria semelhante a um bichinho de estimação quando Cordélio moveu os controles para desenterra-la.

— Vocês estão bem?- O garoto perguntou por fim, quando já se afastavam novamente.

— Nenhum ferimento relevante.- Elliot respondeu, pratico. Então analisou Julian cautelosamente.- O doutor Suez também não foi ferido.

— Então a missão foi um sucesso, acho. Agora só teremos que enfrentar a corte militar por termos usado material do exercito em uma missão não autorizada envolvendo um protegido de uma nação amiga e um criminoso procurado.

Cordélio não parecia muito preocupado. Tanto ele quanto Dante sabiam que não seriam punidos com severidade, não após o resgate de Julian e a morte de Kamil. Mesmo assim, Elliot disse:

— Obrigado pela ajuda, Cody.

Cordélio sorriu e Julian ergueu o rosto. Ele olhou para o moreno como se só então o visse.

— Kamil.- Julian falou.- Ele...

— Provavelmente está morto.- Dante completou pelo maior.- A única forma de sobreviver seria escapar em uma nave e não havia nenhuma.

Os ombros de Julian tombaram, seu olhar fixou-se no chão.

— Eu não consegui fazer nada...

— Pelo contrário.- Dante cortou o murmúrio do outro.- Você fez mais do que qualquer pessoa esperaria. Tudo isso, o sequestro, o confronto, foi tudo coisa sua não é?

— Não.- Julian respondeu, para surpresa do menor.- Eu não sabia que seria desse jeito. Eu apenas queria mais uma chance de fazer o Kamil mudar de ideia, então falei com a Madelaine e-

— A princesa? Ela está por trás disso?

A principio Julian não respondeu, o que já era resposta o suficiente para Dante.

— Nos três crescemos juntos. A família real adotou a mim e a Kamil depois da guerra do Pico do Anjo, quando nossos pais morreram. Nós éramos amigos.- Julian respirou fundo.- Quando eu avisei a ela que havia algo errado com Kamil, a Maddy não quis acreditar. Até que chegou a um ponto em que ela não teve escolha e precisou declara-lo criminoso. Ela me disse que eu era o único que poderia traze-lo de volta, e quando eu pedi uma chance ela me enviou para Breazinder. Eu não sabia que seria dessa forma, achei que ela estivesse me afastando.

A mente de Elliot trabalhava rapidamente enquanto escutava. A princesa de Ambryader, Madelaine Lysbete Delmoro, havia usado-o. Fez com que protegesse seu irmão adotivo sabendo que Gernot viria atrás dele. Isso não o incomodava tanto, se fosse sincero. Era um soldado, estava acostumado a ser usado em jogos de poderosos. Embora não lhe agradasse que isso foi feito em segredo, ainda mais uma uma princesa estrangeira.

E havia Julian. Elliot lembrava-se do homem arrogante, confiante, sorridente que conhecera tempos atrás. Ele parecia muito diferente agora, e Dante supunha que não pudesse culpa-lo. Acabara de perder o melhor amigo, ex-amante e, de certa forma, irmão. Porém Elliot nao sabia como consolar uma pessoa, ou sequer se deveria tentar. Isso não fizera parte de seu treinamento. Ele encarou Julian por mais alguns instantes, então apenas sentou-se no banco a seu lado, em silêncio.

Nenhum deles falou nada durante o resto da viagem.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Comentários são muito bem-vindos!



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