Os olhos ainda úmidos de Landon logo encararam o rosto complacente de sua mãe. Como ela sabia que havia algo que ele não queria demonstrar pra mais ninguém? E por que ela queria saber a respeito? Ele já estava dando preocupações demais a ela!

— O Marden e o Robert te contaram tudo, não foi, mamãe...?

— Não, Landon... Eles não me contaram nada. Apenas avisaram ao seu pai e ao Reid que te encontraram desmaiado lá no jardim.

— Dedos-duros...! – o menino fez uma cara emburrada.

— Não fale assim. Os coitados ficaram muito assustados, porque te viram muito machucado. Eles agiram certo.

— Eu achei que já podia treinar...

— Landon... Por que está agindo assim, filho? O que foi que aconteceu? Só estamos nós dois aqui, pode falar. Não precisa ter vergonha se quiser chorar de novo. Vai te fazer bem.

— Eu vou ficar bem, mamãe... Eu vou ficar bem.

— Tem certeza? Se você contar tudo pra mim, vai se sentir melhor.

— Não quero te preocupar ainda mais... Já ficou até doente por minha causa...!

— Se você me contar, vou ficar menos preocupada, meu filho.

— Tem certeza...? – ele desviou o olhar.

— Absoluta. Confie em mim.

Landon suspirou tristemente. Talvez fosse realmente melhor contar logo tudo e tirar isso dele. Incomodava-o demais o que sentia. Começou a contar tudo o que lhe ocorrera desde o momento em que acordara numa cela das masmorras de Alkavampir, passando por todas as agressões físicas e verbais que sofrera, bem como os momentos de solidão e dor, até o momento em que fora resgatado pelos Lordes William e Ferdinand. Tivera trabalho de descrever tudo, por conta da respiração prejudicada pela dor que ainda sentia e também porque tais lembranças eram muito dolorosas.

Descrevera com um rancor desmedido a respeito de Daithi e dissera a sua vontade imensa de se vingar dele e, por isso, a ideia de tentar se tornar forte a qualquer custo. Não demorou para que, enquanto falasse, suas lágrimas começassem a encharcar seu rosto. Lágrimas de dor e de ódio caíam dos olhos do garoto a cada palavra que ele dizia com a voz trêmula.

— Mamãe...! Ficar lá foi horrível...! Eles falavam o tempo todo de me matar para depois matar o papai também...! Me machucaram demais...! Aquele Daithi me machucou demais, me humilhou muito e quase me matou...! Ficou o tempo todo me dizendo que sou fraco...!

Sentiu uma pontada de dor e deu uma respirada para tentar se acalmar. Mesmo assim, suas lágrimas não paravam.

— Mamãe...! Eu só queria ficar mais forte... Mas olha o que fiz... Eu assustei todo mundo...! Me desculpa...! Por favor, me desculpa...!

O garoto abraçou forte sua mãe e não conseguiu dizer mais nada, passando a chorar desesperadamente. Astrid, consternada, passava a mão nos cabelos do filho de forma carinhosa enquanto o olhava com pena. Ele estava sofrendo muito com tão pouca idade. Deixou-o chorar tudo a que tinha direito, sem se importar com as lágrimas de Landon molhando seu vestido.

Após vários minutos, ele começou a se acalmar. Astrid, com cuidado, o acomodou melhor em sua cama e secou-lhe os olhos com carinho.

— Landon... – a rainha disse. – Você realmente assustou a todos nós. Não devia ter feito o que fez. O seu pai ficou muito assustado apesar de ter dado uma bronca em você. Você está desculpado, mas não deve fazer isso de novo. Vai ter que ficar mais tempo em recuperação por causa disso. Você correu um perigo muito grande. O seu pai e eu ficamos com muito medo, porque você é o nosso único filho e te amamos. Eu sei que não é bom ficar tanto tempo parado, mas você precisa ficar bem. Você tem motivos para querer se tornar mais forte, mas não é assim que se faz. Tente ter um pouco de paciência, está bem?

— Vou tentar.

— Eu sei que sim. Mesmo assim, Landon, eu também vou ter que proibi-lo de sair dos seus aposentos até que esteja totalmente recuperado.

— Mamãe...! – o menino protestou.

— Isto é uma ordem, filho.

— Tá bom...

— Isso é só até você melhorar. Não quer dizer que vai ficar sozinho. Além disso, eu e o seu pai te amamos muito, queremos apenas o seu bem. – pegou a mão do filho com delicadeza. – Também queremos que você cresça e fique bem forte e para isso temos que cuidar de você. Por isso, espero que esteja se sentindo melhor.

Landon deu um sorriso tímido e, segurando a mão de sua mãe, disse:

— Agora estou, sim... Obrigado, mamãe... Eu amo a senhora e o papai.

— Pode ter certeza de que nós também te amamos, meu filho... – ela beijou a testa do filho. – Agora trate de descansar.

— Tá bom, mamãe.

Astrid se levantou e viu que o filho estava, de fato, cansado. Não demorou muito e ele se entregou ao cansaço e ao sono. Quando ele efetivamente dormiu, ela se retirou dos aposentos do príncipe, ao mesmo tempo em que dois cavaleiros já se posicionavam à porta, conforme as ordens que haviam recebido.

Assim que saiu do quarto do filho, ela encontrou Cassius. Olhou para ele e perguntou:

— Você ouviu a conversa que tive com o Landon, não ouviu?

— Não pude evitar. Fiquei com a sensação de que exagerei na bronca que dei.

— Não exagerou, não, Cassius. É que ele quer mostrar a você que está ficando forte. Não iria gostar de mostrar a você que tem uma “fraqueza”.

— Não acho que demonstrar sentimentos seja uma fraqueza.

— Ele pensa que é.

— Eu nunca falei isso a ele, Astrid.

— Eu sei. É que ele está se espelhando em você, e até no seu jeito de ser.

— Acho que ele segue muito à risca a ideia de ser forte como eu.

— Ele é apenas um menino, é normal.

— Agora sabemos o que o Landon perdeu em Alkavampir. Ele perdeu a inocência, e vamos ter que lidar com um menino com sede de vingança. Ele foi mais maltratado do que eu pensei.

— Bem, Cassius, isso é verdade e vamos ter que lidar com isso a partir de agora. Mas de momento temos que nos preocupar com a recuperação do Landon.

— Nós vamos fazer tudo para que ele esteja cada vez melhor, para que ele esqueça o que sofreu, pelo menos por enquanto.

Astrid sorriu ao ver passando ali os dois jovens Lordes, Marden e Robert, que se aproximavam do casal. Disse ao marido:

— Já sei quem pode nos ajudar nesse sentido.