— Não é que você esteja errado, é que você não está exatamente certo.

Ela nem havia se dado o trabalho de o olhar por cima do papel que lia que não era o relatório que ele havia enviado aquela manhã. A pilha com seu nome na capa não estava nem mesmo na mesa dela e sim em outra adjunta, curiosamente próxima da lareira. Ele imaginou se a única utilidade que ela estava dando ao seu trabalho fosse alimentar o fogo.

— Você disse pelo menos dezessete variações dessa frase para absolutamente tudo que eu te disse até agora.

— Ué, eu não tenho culpa se em todas essas dezessete vezes eu tive motivos para discordar de você.

— Uma coisa é discordar outra é estar obviamente procurando defeitos.

— Procurando defeitos? – ela pareceu achar engraçado e finalmente ergueu o olhos para encará-lo. – É isso que você acha que eu estou fazendo?

— É o que parece – ele engoliu em seco, seus punhos cerrados. Era isso, tinha tido o suficiente. Estava na hora de confrontá-la.

— Olha, eu não tenho culpa se estou fazendo isso a mais tempo e percebo logo quando algo não vai dar certo.

— Sabe o que não está dando certo? Isso aqui – ele fez um gesto apontando para os dois.

— Também não é assim, – ela jogou o cabelo para trás – você só tem que aprender a aceitar as opiniões de alguém mais experiente que você.

— Porque você não assume logo que não me quer aqui?

— Você quer mesmo que eu seja sincera?

— Seria algo novo, em vez desse ciclo vicioso de eu me esforçar ao máximo para ter todo meu trabalho sendo ignorado.

— Você é incrível mesmo. Eu venho fazendo isso desde o tempo em que minha mãe lavava minhas calcinhas e você aparece agora, recém reencarnado, sem saber merda de coisa alguma e quer que eu te aceite como um líder, como meu igual? Você não é meu igual, Kunzite.

— Oh, eu tenho plena consciência disso. Mas não se esqueça que eu sabia muito bem disso na vida passada também.

— Isso foi uma ameaça, Shitennou?

— De forma alguma. Mas para alguém que se diz tão experiente, você parece estar cometendo sempre os mesmos erros.