A Noiva do Drácula escrita por Chrissy Keller Books


Capítulo 19
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Me desculpem por ter demorado tanto tempo pra postar um capitulo. E demorou mesmo, pois se passaram meses.
Me desculpem mesmo. Não foi minha intenção largar minha historia e meus leitores de lado. Estava em um nivel de depressão braba, e quem tem depressão sabe o desanimo que da pra tudo.
Juro que dessa vez vou me empenhar em fazer o melhor e não deixar sentimentos negativos me abaterem. Afinal, não ganho nada com isso.
E mais uma vez, me perdoem.



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A Noiva do Drácula

 

CAPÍTULO 19:

 

— Bela preocupação comigo, Luana. 

Eram nove horas da manhã. Luana estava em frente ao espelho de seu guarda-roupa experimentando mais uma peça de biquíni, enquanto Dolores estava sentada na cama dela olhando com horror a bagunça daquele quarto.

— Meu Deus... - Dolores pega uma blusa preta de Luana que está largada na cama e depois a joga de volta. - Quando é que você irá arrumar esse quarto, Luana?

Luana veste um biquíni verde, com flores sobressaltando, a parte de baixo também combinando. E por cima da parte de baixo usava uma saia preta, quase transparente, e um pouco curta. Ela vira de um lado e de outro, vendo seu visual.

— Madrinha, eu me preocupo com a senhora, sim. Mas não dava pra eu vir mais cedo. E, respondendo à sua pergunta, eu já arrumei o quarto ontem. 

— Ontem - exatamente como você disse. Este quarto está uma zona. - Dolores olha ao redor do quarto com repulsa; aquele quarto estava de cabeça para baixo. - Nem parece o quarto de uma menina. Olhe pra isso!

— Mulher, madrinha. - Luana corrige, se ajeitando em frente ao espelho. - Sou uma mulher.

— Pior ainda!

Luana sorri. Sua madrinha era um tanto chata em relação àquele quarto. Era verdade que não se preocupava em arrumar as próprias coisas, sim. Mas, por outro lado, sempre tratava de deixar a casa um verdadeiro brilho; e tudo sozinha, porque Dolores já estava ficando velha e cansada. Ela não podia dar um desconto?

— Tudo bem, madrinha. Hoje eu arrumo. - Luana dá os últimos retoques no que está vestindo e olha para sua madrinha. - E então? Ficou legal?

— Essa saia tem mesmo que ser transparente? - Dolores pergunta, analisando-a.

Luana sorri, achando graça. 

— É pra ir pra praia, madrinha. E lá eu vou tirar.

— Ah... E que horas seus amigos vão vir aqui pra te buscar?

— Daqui a pouco.

— Então arrume o quarto antes de eles virem. 

Dolores levanta e caminha até a porta.

Luana olha com desânimo para o quarto que está uma verdadeira bagunça.

— Não pode ser mais tarde, madrinha?

— Não. Agora. Senão, não vai sair.

Luana observa Dolores sair do quarto e volta a olhar para toda aquela bagunça. Mas que inferno!

David acorda assustado. Alguém estava batendo na porta de seu quarto. Ele olha para a janela. Não era possível. Estava de dia. Ele senta na cama, passando a mão no cabelo desarrumado.

— Quem é?... - pergunta, meio sonolento.

— Shartene e Miranda, lorde David. - a voz de Shartene soa atrás da porta. - Milorde nos pediu para acordá-lo.

David observa o lençol, meio sonolento. Estava nu por baixo dele. Com certeza tinha passado horas "se exercitando", por assim dizer, em frente ao quadro de Luana. Aquilo o cansava um pouco, pois era todo dia. Entretanto, não tinha nenhuma intenção de parar.

David sorri maliciosamente, mas o bater na porta chama novamente sua atenção.

— O que foi?

— Milorde está acordado? - a voz era de Miranda.

David boceja, ainda com sono.

— Ah, sim, sim. Mas por que vocês estão acordadas?

— Para acordá-lo, milorde. - Miranda responde.

— Podemos entrar, milorde? - Shartene pergunta.

David olha para baixo. Estava completamente nu. Não podia cometer novamente a gafe de deixar Shartene e MIranda vê-lo pelado.

— Não, não. - fala depressa, se levantando, meio tonto. - Obrigado, meninas.

— Sim, lorde David. - as duas falam juntas e depois tudo fica em silêncio.

David abre lentamente a porta e olha para o corredor que está vazio, e volta a fechar a porta. 

Ele caminha um pouco torto, devido ao sono, até o guarda-roupa. Tinha que vestir algo para ir à praia. Mas, o quê? Não tinha nenhuma roupa de banho. David pega uma blusa branca e uma calça preta. Talvez fosse servir. 
Não tinha nada mais... adequado.

Ele pega uma cueca e a veste, olhando para o quarto de Luana. Ele sorri. Nossa, até mesmo por um simples quadro ele ficava excitado. Não tinha como manter seu juízo perfeito quando a questão era ela - ou o quadro dela.

David termina de colocar a roupa e senta na cama, ainda sonolento. Não se lembrava de ter pedido à Shartene e Miranda que o acordasse. Para falar a verdade, não se lembrava de quase nada daquela maldita noite. Bem, não tão maldita assim. Só o fato de ter conseguido fazer Luana se derreter em seus braços já o fizera feliz por toda uma vida. Qualquer coisa ruim, qualquer trauma que teve foi apagado pelos lábios avermelhados e carnudos dela.

David ri. Era melhor parar de pensar naquilo, ou iria ficar duro de novo.

Ele levanta cambaleando, meio tonto por causa do sono e vai até sua penteadeira ajeitar o cabelo e colocar seus óculos escuros. Ele se olha no espelho. Pronto. Assim estava bem. Apesar de não conseguir manter os olhos tão abertos.

David desce a escada e observa seus tios tomarem café, cada um sentado em sua poltrona favorita. Para dois vampiros eles ficavam muito tempo acordados pela manhã. Culpa do café.

— David. - Alan é o primeiro a notá-lo. - Acordado a essa hora?

— Shartene e Miranda me acordaram. - responde ainda meio grogue.

— Por que elas fizeram isso? E por que elas estavam acordadas? - Ivan pergunta confuso.

— Porque, supostamente, fui eu que pedi. Hoje tenho que sair com uns amigos.

Alan o olha confuso.

— Supostamente?

— Eu não me lembro. - David se senta no sofá. - Mas diz aí - ele ri para os tios. - Como é estar acordado a essa hora?

Ivan para e parece pensar na resposta, enquanto bebe seu café.

— É estranho, sim. Mas gostamos de poder admirar a beleza da manhã.

— Verdade. - Alan toma mais um gole de seu café. - Os humanos são sortudos. 

David franze o cenho sem entender.

— Por que?

— Porque eles sabem aproveitar melhor a vida. Inclusive essa linda manhã. Para nós fazermos isso tem que ser à base de muito café.

— Verdade. - Ivan sorri e olha para David. - O que houve, David? Por que está usando esse óculos?

— Irei pra praia.

— Oh. Com seus amigos? - Alan pergunta.

— Sim. - David coça o olho por debaixo do óculos. - Marquei de encontrá-los em frente a casa de uma amiga. - sorri ao imaginar a cara que Luana ía fazer ao vê-lo novamente.

Alan termina de beber seu café e caminha até a mesa de centro, pegando uma pequena caixa e estendendo para David.

— Aqui. Para você.

David pega a caixa, confuso.

— O que é isso?

— Abra. - Alan se senta novamente na poltrona.

David balança a caixa para ouvir o que tem dentro, observando Ivan e Alan darem um sorriso cúmplice. Mas o que eles estavam tramando? Ele abre a caixa e vê um celular de última geração. Era fino e grande; todo detalhado em vidro e metal.

— Um celular? Por que?

— Ora, David. Acho que já está na hora de você se conectar mais com o mundo. - Alan diz. - Como é que você e seus amigos vão manter qualquer tipo de contato sem um celular?

David olha mais uma vez o celular e dentro da caixa, onde contêm outros acessórios. Realmente iria facilitar as coisas. Mas estava tão desacostumado que não sabia se iria se dar bem com aquilo. Ele levanta a cabeça e encara os tios.

— Obrigado. - sorri. - Obrigado por terem feito isso.

— Oh, não. - Ivan fala. - Eu não fiz nada. Alan quem deu a ideia, e Alan quem comprou.

David olha para Alan e sorri.

— Obrigado, Alan.

— Disponha.

Ivan termina de tomar seu café e o coloca sobre a mesinha de centro.

— Bem, foi ótimo ver essa linda manhã mais uma vez, e conversar com vocês mais uma vez. - ele levanta do sofá. - Mas agora vou tirar meu sono.

Alan boceja e também levanta da poltrona, acompanhando o irmão.

— David, procure descansar bastante depois que chegar.

— Sim, Ivan. Não me trate como se eu fosse uma criança. - David repreende em tom de brincadeira.

Ivan sorri para ele.

— Você sempre será nosso pequeno menino, David.

Dizendo isso, os dois sobem a escada, rumo aos seus quartos.

David os vê subir e olha para o celular, mudo. Será que estava enganado esse tempo todo?

Luana pega a última peça de roupa que está pendurada em cima do abajur e joga dentro do guarda-roupa. Não tinha arrumado direito pois estava com pressa, além de não ter saco nenhum para fazer aquilo.

Ela volta a se olhar no espelho do guarda-roupa e penteia os cabelos, deixando-os soltos e ondulados. Ela abre uma das gavetas e pega um colar e um único brinco que continham uma pena na ponta, com certo estilo indígena/hippie. Pronto. Estava bastante agradável. O batom deixaria para depois; estava cedo ainda. Luana coloca o óculos na cabeça, e põe o batom e outros pertences dentro da bolsa de praia. Estava pronta para sair, apenas tinha que esperar os outros.
Ela sai do quarto, fechando a porta atrás de si, e vê que Dolores já se serviu do café da manhã, já sentada e assistindo televisão.
— Não vai comer, Luana? - Dolores pergunta notando sua presença.
Luana põe sua bolsa de praia em cima da mesa de centro e caminha até a cozinha, abrindo a geladeira.
— Vou beliscar alguma coisa.
— Beliscar? Você mal come algo que preste, menina. Por isso está magra.
— Eu não estou com tanta fome, madrinha. - ela pega uma maçã e fecha a geladeira. - Aqui, ó, estou comendo. - ela mostra a fruta para sua madrinha ver. A mesma não faz muito caso.
— Uma maçã. - Dolores resmunga. - Depois de passar a noite toda sem comer, ela escolhe isso de café da manhã.

Luana lava a fruta e a abocanha.
— Não exagere, madrinha. Eu comi lá.
— Imagino. - Dolores fala, ainda prestando atenção no programa que passa na televisão. - Hamburguer?
Luana desata a rir.
— Não, sua boba. Lá não serve hamburguer. Nós comemos batata frita com calabresa.
— Ah, sim, batata frita... E por acaso isso alimenta alguém?
— Não estávamos com muita fome. E lá não serve comida de verdade, madrinha. - ela dá uma outra abocanhada na fruta.
— Não entendo vocês, jovens. Parece que nunca estão com fome.
Luana sorri. Desde que se entendia por gente, sua madrinha era um tanto protetora. Talvez devesse ao fato de ambas não terem mais ninguém, apenas uma a outra. Dolores, muitas vezes, era um pouco rígida. Porém, era como uma mãe para ela, e tinha certeza que sentiria falta de tudo aquilo.
— Não exagere, madrinha. - Luana joga o resto da maçã no lixo.
— Ah, esqueci de te contar. - Dolores termina de comer o pão e dá um último gole no café. - David veio aqui.
O último pedaço de maçã que Luana come prende em sua garganta, fazendo-a engasgar.
— Mas o que houve, menina? - Dolores se alerta preocupada.

Após ter parado com a crise de tosse, Luana consegue se recompor.
— Nada, madrinha. - ela responde e caminha até a mesa de centro, pegando a xícara que estava com café, levando para a cozinha, colocando na pia.
Dolores continua a olhar para ela, preocupada.
— Você está bem? Procure mastigar direito. Assim você engasga.
Luana dá um sorriso amarelo para sua madrinha.
— Tudo bem. - engole em seco. - E então? O que ele queria? - pergunta um tanto temerosa.
— Ele veio ontem te buscar pra vocês irem juntos, mas disse que você já tinha ido. - Dolores sorri compadecida. - Coitado. Ficou tão decepcionado de não ter ido com você.
— Mas depois nos vimos. A noite toda. - Luana diz um pouco rápido.
Dolores nota seu aparente desconforto.
— Mas o que houve, menina? Você está estranha.
Luana percebe que sua madrinha a observa com desconfiança.

Estranha. Ah, sim. Se sentia bem estranha. Principalmente depois do ocorrido que a fizera ficar com as pernas bambas na noite anterior. Pior - mais do que estranha; se sentia uma traidora. Como pudera deixar David seduzi-la daquela maneira? Ele a tinha usado, porém ela não fez nada para impedir. Mas o que poderia fazer, visto que não tivera escapatória com aquele olhar, aquele toque? Mesmo se lutasse com todas as suas forças não seria capaz de resistir a ele. Oh, Deus, não seria.
Mas o pior de tudo era que aquilo se relacionava tanto à Drácula, quanto à Nina. Amava seu noivo, e Nina era sua amiga! Não podia voltar a fazer aquilo com duas das pessoas mais importantes para ela. Mas... David também era importante. Não do modo como ele almejava, mas era.
Luana balança a cabeça tentando se livrar daqueles pensamentos. Não saberia ao certo se ele iria à praia também. Mas se ele fosse, teria que se manter o mais longe possível.
— Luana!
Luana se assusta com o chamado e olha para sua madrinha.
— Ah. Sim?
— Estou te chamando à meia hora, e você no mundo da lua.
Luana ajeita o cabelo atrás da orelha e sorri.
— Ah. Desculpe, madrinha. Estava pensando em algumas coisas.
Dolores a olha intrigada por um breve momento.
— Então, como estava te perguntando. Você vai sair pra mais um lugar hoje?
Luana se lembra. Ah, sim. Teria que ir ao jantar dessa noite com Drácula e a família dele.
Ela suspira aliviada por estar partindo para outro assunto.
— Ah, sim. - ela sorri. - Acho que já disse pra senhora. Hoje vou jantar na casa do Drácula.
— Ah, o seu noivo.

— Sim.
Dolores volta a prestar atenção no programa, depois olha para a afilhada.
— Mande esse tal de Drácula vir amanhã falar comigo. Ainda não engoli essa história de você ser noiva dele. Nem pediram minha permissão! - diz indignada.
Luana sorri encabulada.
— Desculpe, madrinha. Nós esquecemos.
Dolores senta desconfortável no sofá.
— Traga-o aqui amanhã. Aproveitarei e farei um almoço.
— Madrinha, amanhã eu trabalho.
— Ah, verdade. Amanhã é segunda.
— E ele não poderia vir a esse horário. - Luana fala vagamente.
Dolores a olha confusa.
— Por que não?
Luana repara no que disse e tenta arranjar algum modo de fugir do assunto, ou inventar qualquer coisa. Não podia dizer que Drácula era um vampiro.
— Ah. É-É que... - ela desvia o olhar para a bancada da cozinha, limpando uma sujeira imaginária. - Ele trabalha. É isso. Ele trabalha. Só pode vir à noite. - ela sorri aliviada por ter pensado numa resposta rápida.
— Mas como, se você trabalha?
— Ele pode vir naquele mesmo horário, madrinha. - Luana fala referindo-se ao dia em que Drácula entrou a primeira vez em sua casa.
Dolores volta a se ajeitar desconfortável no sofá, prestando atenção ao programa.
— Tudo bem. Mas não vou fazer nada pra ele. O horário em que ele vier é o horário em que estou quase dormindo.
Luana iria corrigir que o horário em que Drácula a levaria em casa sua madrinha ainda estaria vendo novela, mas preferiu ficar quieta.
Seu celular toca dentro da bolsa de praia e Luana o pega, atendendo, e indo para a cozinha.

— Alô.

— Alô. Oi, Luana. Aqui é o Fred.
Ela sorri.
— Oi, Fred. Já estão vindo?
— Isso. Já esteja arrumada.
— Já estou. Só falta vocês virem me buscar.
— Claro. Já estamos indo. Só que vamos ter que esperar um pouco.
Luana franze o cenho confusa.
— Esperar?

— David também está indo pra aí.
— Ah... - ela fica sem fala. - Ok.
— Vou desligar. Até logo.
— Até. - fala ainda com a mente vaga.
A ligação é encerrada e ela fecha os olhos com força.
Ah, merda...

David abre os olhos novamente. Se continuasse daquele jeito acabaria sofrendo um acidente fatal. Desde que acordara não conseguia manter os olhos abertos.  Estava mais cansado que o normal, bem diferente dos outros dias. E tinha quase certeza que não era por causa da noitada anterior; tinha algo mais ali. Decidira manter os óculos escuros para disfarçar o cansaço aparente em torno dos olhos. Se soubesse que ficaria tão cansado àquele ponto, não tinha nem mesmo feito seus "exercícios" de sempre em frente ao quadro de Luana. Mas como não poderia? Ela era seu vício, sua paixão, seu amor. Até mesmo um simples retrato dela o deixava louco.
David coça os olhos por debaixo do óculos. Tinha que se manter acordado ou acabaria morrendo. Bem, não em um acidente de carro, pelo menos. Tentaria se manter alerta, mesmo que tivesse que ingerir bastante cafeína, como seus tios fazem.
David faz a curva para a rua onde Luana mora e estaciona em frente à casa dela. Ele desliga o motor e pega seu celular antes de sair do carro. Até que foi uma boa ideia seu tio Alan providenciar um celular. Precisava mesmo ter mais um pouco de contato com as pessoas - apesar daquilo ainda parecer um pouco assustador. Só teria que saber os números de qualquer telefone da Luana. Assim saberia como ela estava, e o que estaria fazendo.
David nota que o carro de Fred também estava estacionado em frente. O pessoal devia estar esperando por ele. Ele contorna seu carro e para em frente a porta e toca a campainha. Ele suspira nervoso. Como será que Luana estaria dessa vez? Da última vez que a vira de roupa de banho, passara a maior parte do tempo trancado em um banheiro público imundo tentando "aliviar a tensão", por assim dizer. Aquela mulher era uma deusa. E hoje faria de tudo para estar ao seu lado.
A porta se abre e lá está ela. Estava linda com uma saia preta transparente de tricô escondendo a parte de baixo do biquíni. A parte de cima combinava com a de baixo, e tinha dois triângulos verdes estampados com flores cor de rosa emoldurando os seios fartos dela, e os cabelos ondulados caindo sobre eles, com um óculos escuro em cima da cabeça. Ela estava linda.
David a olha de cima à baixo, percebendo um certo desconforto por parte dela.
— O-Oi, David. - ela gagueja. Ficava linda gaguejando. - Entra. - ela abre mais a porta para ele passar.
David entra e para ao lado dela. Não podia resistir.
— Você está linda de matar, Luana. - ele sussurra bem perto dela, fazendo-a estremecer.
— O-Obrigada, David. - ela fala dando um breve olhar para ele enquanto ainda segura a porta.
David sorri. Aquele dia seria um tanto interessante.

Luana fecha a porta e caminha na frente, dando-lhe um vislumbre do traseiro redondinho dela.
— Bem, podemos ir. David já chegou.
David olha os demais sentados no sofá e nota Nina. Ele suspira. Tinha quase certeza que o dia seria difícil ao lado dela. Na noite anterior ela tinha ficado com um humor terrível apenas porque dissera que iria embora. Bem diferente da Nina gentil e amorosa que conhecia. Só não sabia como resolver aquela situação. Tinha que fazê-la saber que amava Luana, e não iria querer mais ninguém. Mas como conseguiria fazer isso sem machucá-la?
— E aí, David. - Fred aperta sua mão. - Dormiu bem?
David tenta sorrir.
— Ah, sim. - mente. Estava morto de sono, mas daria um jeito. - Jessica, Nina. - comprimenta as duas. Jessica sorri para ele e Nina acena com a cabeça. Seria meio difícil lhe dar com ela.
— Oh, David!
Ele olha mais a frente. Era Dolores. David sorri com ternura. Gostava muito dela, a considerava como uma mãe.
— Dona Dolores. - ele sorri, sendo abraçado por ela.
— Tudo bem, meu filho?
Ele se afasta do abraço para olhá-la.
— Sim, claro. E a senhora? Melhorou?
— Que nada, meu filho. As pernas sempre doem.
— Senta um pouco, dona Dolores. - ele a leva para um dos sofás. - A senhora não pode ficar muito tempo de pé.
— Mas e ontem? Se divertiu?
— Me diverti? - David pergunta sem entender.
— Ela está se referindo a noite de ontem, David. - Fred diz. - Ele se divertiu muito, dona Dolores. - Fred olha para David, sorrindo maliciosamente. - Até demais, não é, David?
David entende o que Fred quer dizer e sorri. Mas a verdade era que Fred estava enganado. Ele não tinha se divertido ficando com Nina, mas sim, com Luana. Ele olha para ela, que o encara de volta. Só de lembrar da noite anterior o deixava louco. 
— Então, vamos? - Nina pergunta, levantando-se do sofá. Jessica a acompanha, pegando sua bolsa.
— Vamos. - Fred segura a mão de Jessica. - Obrigado por nos aturar, dona Dolores.
Dolores ri.
— Foi um prazer. Podem vir sempre que quiserem. Principalmente você, David. - ela sorri.
Luana levanta de súbito e pega sua bolsa.

— Bem, vamos.
Ela procurava olhar para tudo, menos para ele. Nina, por sua vez, estava encarando os dois com uma cara que chegava a dar medo.
— Bem, madrinha, já vamos. Mais tarde vou passar aqui pra me arrumar, e pra ver como a senhora está. - Luana dá um beijo no rosto de sua madrinha, fazendo David olhar para o traseiro dela.
David franze o cenho. Se arrumar? Para onde ela iria depois? Se encontrar com o noivinho?, pensa irritado.

— Fique bem, madrinha. E tome os remédios direitinho.
— Tudo bem. E não venha tarde.
— Está bem.
— Estou pensando em fazer um almoço qualquer dia desses, David. Quer vir?
— Madrinha! - Luana fala encabulada. Ela estava vermelha.
Qual o problema dela?...
— O que foi? - Dolores pergunta.
— N-Nada. - ela gagueja e rapidamente corre até a porta, com a cabeça baixa. - Vamos, gente?
David ajeita a armadura do óculos e contrai a mandíbula. Teria que ser paciente se quisesse alguma coisa com ela. Ainda mais quando insistia em fugir dele.

Luana e os outros vão para fora.
— Nina, me desculpe, mas hoje Luana vai comigo. - David fala.
Como?
Luana encara David embasbacada. Como ele tivera coragem de dizer aquilo para Nina? Já não bastava o humor que ela estava?
Nina assente séria e vira a cara, despertando a curiosidade de Jéssica.
— Bem, então vamos. - Fred fala, acabando com o clima tenso.
— Vamos, amor. Vem, Nina. - Jéssica pega Nina pelo braço, a levando até o carro.
— Vamos, Luana?
Luana sai de seu transe e encara David, que está com a mão estendida para ela. O carro de Fred parte.
— Por que eu, David? - pergunta exasperada. Como se aquilo fosse resolver alguma coisa.
David lhe dá mais um de seus sorrisos lindos e diabólicos. Luana suspira. Ah, meu Deus... Como se já não bastasse o fato de estar com óculos escuros...

— Você ainda pergunta, Luana?
Ele recolhe a mão e caminha em sua direção. Deus do céu. Estava tão lindo com aquela blusa branca folgada, calça jeans preta, e aquele All Star. Não estava muito apropriado para uma saída à praia, mas estava um gato. E até mesmo se quisesse ficar o mais longe possível dele, tinha que admitir: David era uma visão e tanto para os olhos. Mas... Ele estava chegando muito perto.
— Deve ser porque eu gosto de você, e gosto de te ter ao meu lado? - ele inclina a cabeça, avaliando-a. - Ora, Luana. Pra que todo esse drama? Não há nada de errado em pegar uma carona com um amigo, certo? Ontem você foi pra discoteca com o Fred. Ele também é um amigo.
Ela o olha atônita. Como é que ele podia dizer aquilo soando tão sexy e inocente ao mesmo tempo? Ele estava a poucos centímetros dela, tentando convencê-la que aquilo era apenas uma prova de amizade, mais Luana sabia que ele queria mais; e, infelizmente, não podia dar mais para ele.
Achou muito insana a comparação que ele fizera de si mesmo com Fred. O que era uma bobagem. Fred era comprometido com Jessica, e até mesmo quando era solteiro se comportava como nada mais que um amigo. Bem diferente de David, que era um louco apaixonado incapaz de guardar seus sentimentos.
Ela olha para o carro e volta a olhá-lo.
— Ok. Tudo bem.
Ela nota David morder o lábio inferior numa tentativa de reprimir o sorriso vitorioso, o que a faz suspirar só de olhar.
— Vamos, então. - ele diz.

Ele pega sua mão e a conduz até a entrada do banco do carona, abrindo a porta para ela. David contorna a frente do carro e abre a porta, sentando-se no banco do motorista. Ele fecha a porta e sorri para ela.
— Hora de irmos. - ele diz, e gira a chave do carro, o ligando.
Luana tenta sorrir de volta, mas a verdade era que estava tensa demais para isso. Ela pega sua bolsa de praia e a aperta junto ao corpo, em um gesto de auto proteção. Proteção, sim. Precisaria muito ao ter que lidar com David por quase o dia todo. Porém, mais de si própria.
A praia era tão perto, mas parecia que estava tão longe. Luana examina mais uma vez o horário em seu celular. Parecia que os minutos eram horas. Ela respira fundo e se contorce no banco. Por mais que tentasse, estar no mesmo canto que David - ainda mais um tão fechado - era sufocante e assustador.
David lhe dá uma olhadela.
— Confortável, Luana?
Ela sorri educada.
— Ah, sim. O carro é bonito e espaçoso.
Ele olha para ela, depois para a estrada.
— Estava me referindo a você. Como você está? Parece tensa.
Luana engole em seco. Realmente ele a conhecia bem. Seis anos de amizade provavam aquilo. Porém, se estava daquele jeito, era por causa dele. E tinha quase certeza de que ele sabia.
— E-Estou bem. - diz tentando soar convicta.
David lhe dá mais uma olhadela, para depois voltar à direção. Ele sorri.
— Você mente tão bem.
Luana o encara estagnada. Parecia que ele estava disposto a provocá-la. Mas saberia dar o troco.
— Ah, sim. Devo, certamente, ter aprendido com você. - solta com certa aspereza na voz.
David a encara cético.
— Comigo? Por que?
— Porque você é um mentiroso. Como pôde ter feito aquilo com a Nina?
David franze o cenho, oscilando entre ela e a estrada.
— Eu não fiz nada demais, Luana. Eu só fiquei com ela apenas ontem à noite, e mesmo assim foi ela quem me agarrou. Acho que te disse isso logo depois.

Ah, sim, Luana se lembra amargamente. Quando ele a tinha encurralado na parede daquele pequeno hall e roubara beijos seus. Luana balança a cabeça, afastando a lembrança, e volta a encará-lo.
— Sim, você disse. Mas precisava fazer aquilo com ela?
— A que você está se referindo?
Mesmo com os óculos escuros, dava para ver a confusão em seu olhar.
— A gente só ficou, Luana. - diz nervoso, enfatizando a palavra "ficou". - E por uma noite! Nunca prometi amor eterno pra ela! Vai dizer que você nunca fez isso?
Era impressão dela, ou ao fazer a pergunta ele estava contraindo o maxilar? Parecia muito irritado. Luana pensa na pergunta. Fizera isso uma vez com um garoto, e duas com outro. Realmente, ele tinha razão. Não significava que só porque se beija alguém numa balada, que tem que ficar para sempre com aquela pessoa. Talvez Nina estivesse exagerando um pouco. Mas, e se ela o amasse? Luana suspira pensando na questão.
— Mas... - ela abaixa a cabeça, depois volta a olhá-lo. - Mas e se ela te ama?
— Mas eu não a amo. Ponto final. - ele responde rudemente, ainda prestando atenção na estrada. O carro de Fred estava logo a frente.
Luana se encolhe com a resposta dele. Como ele podia ser tão insensível? E quanto aos sentimentos dela? David estava simplesmente pensando em si próprio. Nunca pensara que o melhor amigo fosse tão egoísta. Ela olha para a janela ao seu lado.  Carros íam e vinham. O vento devia estar maravilhoso.

Ela olha para David.
— Posso abrir a janela?
— Posso ligar o ar condicionado pra você. 
— É que eu queria sentir um pouco de vento no meu rosto.
— Ok. - ele sorri para ela. - Qualquer coisa por você, Luana.
David aperta um botão ao lado da marcha e a janela do lado de Luana se abre, deixando o vento entrar. Ela sorri e fecha os olhos, saboreando o vento fresco que balança seus cabelos.
— Que ventinho bom...
— Sim...
Ela abre os olhos e percebe que David está encarando os seios dela. Ou melhor; ela toda.
— David? A estrada. - ela aponta a estrada com o olhar.
David rapidamente volta a prestar atenção na direção, e por pouco desvia de um carro.
— Obrigado, Luana.
— Ah, sim. - ela se ajeita no banco. - Você poderia matar a nós dois. Além de outras pessoas, é claro.
— Não agradeci por isso.
— E agradeceu pelo que? - pergunta sem entender.
— Não sei exatamente por qual motivo foi, mas hoje eu estava com muito sono. Mas só foi te ver que eu despertei.
Luana o encara boquiaberta. Queria saber qual seria o real sentido de "despertar" que ele se referia. Ela se ajeita desconfortável no banco e o encara mais uma vez; estava sorrindo o maldito filho da mãe.

David parou num estacionamento ao ar livre e ajudou Luana a descer do carro. Ele olha mais uma vez para o corpo dela. Estava muito mais que linda; estava gostosa. Demais. Ele tenta desviar o olhar quando ela o encara. Seria difícil não ter que agarrá-la durante todas aquelas horas que estariam juntos. Passara minutos torturantes dentro daquele carro junto dela, olhando seus belos atributos. Aquilo o deixara louco, e ainda não conseguia parar de olhar para ela. Era viciante.
— Bem, David, obrigada. - ela diz com uma leve irritação em seu tom de voz, colocando os óculos escuros nos olhos. - Valeu pela carona.
Ele sorri para ela, ignorando seu aparente mau humor.
— O prazer é todo meu, Luana.
— Aqui, vocês dois!
Ambos se viram para olhar Fred acenando para eles, tentando encaixar o guarda-sol na areia, acompanhado de Jéssica e Nina.
David acena de volta, e olha para Luana.
— Vamos?
— Hum, sim. - ela responde meio hesitante.
Eles caminham até onde os outros estão, e David olha para Luana uma outra vez. Parecia que ela estava irritada com algo. Mas qual era o problema dela? Seria pelo fato de ter olhado descaradamente para seu decote?
Ele olha para Nina que também tinha a mesma expressão irritada sob os óculos escuros. Pelo visto, teria que saber lidar bem com as duas.
Jessica sorri para ele.
— David, tem certeza que você vai ficar assim? - ela pergunta achando graça.
Ele olha mais uma vez para sua blusa branca, sua calça jeans preta, e seu All Star. Parecia que não ía passar um bom dia com aquilo.

— Não tenho mais roupa de banho.
— E como é que você vai nadar? - Jéssica pergunta. - Cadê aquela cueca que Fred te emprestou da última vez que viemos aqui?
— Eu devolvi pra ele. Mas talvez não vou nadar.
— Mas a água está deliciosa, David. - Nina fala pela primeira vez - o que parecia um milagre. - Você não vai fazer essa desfeita, vai? - ela sorri.
David lhe sorri de volta. Era bom ter a velha Nina de volta. Porém, Luana ainda parecia um pouco séria. David suspira pesadamente. Teria que ser paciente.
— Quer ajuda, Luana? - ele pergunta ao vê-la tentando montar uma cadeira de praia.
— Não se preocupe, David. - Nina fala, se erguendo da cadeira que está sentada, e caminha em direção à Luana, fazendo a mesma a olhar estranho. - Eu a ajudo. Você pode ajudar o Fred, trazendo as bebidas.

— Ah, sim, as bebidas. - Fred tira a camisa, jogando-a na areia. - Vamos lá, David.
— Amor, você tem como, por favor, parar de tacar tudo na areia? - Jessica reclama, pegando a blusa que Fred acabara de jogar.
— Desculpa, minha linda. - ele se abaixa, lhe dando um beijo casto.
David encara a cena. Aqueles dois poderiam ser ele e Luana. Ele olha para ela, depois para o maldito anel no dedo anelar. Mas, infelizmente, o destino fazia questão de tentar contrariá-lo.
David percebe que Nina e Luana estão olhando a cena um tanto coradas. Luana repara que ele a está observando e desvia o olhar, se concentrando em sua tarefa.

— Pode me ajudar, Nina?

— Claro. - Nina responde.

Fred se levanta e pega a caixa de isopor que está na areia.

— Vamos, David.            

Antes de ir, David olha novamente para Luana e percebe que ela o está ignorando; mas não só por estar ocupada, mas por querer ignorá-lo. Ele morde o lábio, contrariado. Não tinha o que temer. Teria o dia todo para ficar com ela. E faria qualquer coisa, mesmo que ela tentasse fugir - como sempre.

Luana conseguiu respirar aliviada desde que David saiu para comprar bebidas com Fred. É claro, eles pareciam ter uma trégua no carro, mas não podia saber o que passava na cabeça de David. Ele parecia ser bipolar; ora ele era o bom amigo atencioso, ora o maníaco apaixonado. Não sabia se poderia confiar totalmente nele. Ainda porque tinha Nina.
Luana olha para a amiga e sorri. Parecia que ela estava melhor. Não tinha mais qualquer indício do mau humor de antes. Luana respira aliviada. Poderiam conversar melhor agora.
— Então, Luana. - Nina fala, estendendo uma das toalhas no chão, enquanto Jéssica estendia outra. - Você e David andam conversando muito?
Luana a encara, engolindo em seco.

— O que?
— Perguntei se você e David estão conversando muito.  - ela fala com o bom humor que adquirira a pouco. - Devem ter conversado bastante. Falaram de mim?
Luana engole em seco e encara a toalha estendida no chão, e a ajeita com o pé, numa tentativa de dirigir sua atenção em qualquer coisa que não fosse em Nina. Jéssica parecia se concentrar em estender a toalha e colocar algumas coisas suas em cima, mas ainda mostrava uma certa curiosidade. Nina, por sua vez, tinha o semblante sereno. Sereno até demais, Luana pensa. Podia ver algo como sorriso nos lábios carnudos dela. Mas não era o sorriso de sempre, da Nina de sempre. Era um sorriso irônico, forçado. Algo como um teste. Estaria Nina testando-a?
— Devem ter falado, Nina. - Jessica fala, tirando sua blusa e se deitando na toalha. - Luana é como uma irmã pro David, e ela quer muito que ele fique com alguém. E parece que ele está afim de você. Não é, Luana?
Luana dá um meio sorriso para Jéssica. Como sempre, sua amiga a salvara. Mas se Jéssica soubesse que David não a via como irmã, e sim, como outra coisa, não diria aquilo.
De repente ela tem um súbito de horror. Jessica a olhava como se quisesse livrá-la de algo, como da outra vez em que tinha mentido para David no escritório da empresa. Será que... Será que Jessica sabia? E se ela soubesse, e só estava querendo livrá-la daquela situação embaraçosa? Mas... E se isso fosse coisa de sua imaginação? E se ambas não soubessem de nada, e ela estivesse prestes a enlouquecer à toa?
— Luana.

Nina chama Luana, despertando-a de seus devaneios.
— Estou te chamando a meia hora, e você só sabe encarar o nada.
Luana sorri.
— Desculpa, Nina. Só estava pensando em algumas coisas.
Nina a analisa.
— Fico imaginando o que...
Luana fica séria. Podia sentir um toque de desconfiança no olhar impassível de Nina. Pelo visto, ter que lidar com a amiga - além de David - não seria nada fácil. 

Estava se sentindo ridículo com aquela bermuda laranja que Fred comprara para ele. Iria mencionar o quanto aquilo era ridículo e cafona, mas não queria contrariá-lo. Fred podia ser bem persuasivo.
Mas o que mais incomodava não era bem a bermuda, mas o tempo que Fred estava gastando jogando conversa fiada com o vendedor. O sol estava forte. Forte até demais. Parecia que estavam lhe jogando óleo quente. Estava quase insuportável. Nem mesmo a sombra da barraca estava ajudando.
— Fred. Tem como andarmos logo? - David pergunta já agoniado. Não sabia por quanto tempo mais aguentaria aquilo. Se ainda cedo estava daquele jeito, não queria imaginar como ficaria de tarde. - As meninas estão nos esperando.
— O que houve, David? - Fred e o vendedor o olham com preocupação nos rostos. - Você parece mal.
Muito mais que mal, David pensa. Que os céus o ajudasse, e não fosse aquilo que estava pensando. Isso também não.

— Estou bem. - David engole em seco, forçando um sorriso.
— Tem certeza? - Fred volta a perguntar desconfiado.
— Sim, claro.
David olha para o vendedor.
— Dez latas de cerveja e uma porção de frango frito, certo?
— Frango à passarinho. - o vendedor o corrige sutilmente, sorrindo. - O total deu R$38,00.
David tira duas notas de R$20,00 da carteira que está carregando e dá para o homem.
— Pode ficar com o troco. - David rapidamente pega o saco onde estão as bebidas com uma das mãos, e com a outra carrega o par de tênis, e carrega sua calça pelo ombro. - Vamos, Fred.
David vai correndo na frente, agoniado com todo aquele calor. Fred vai atrás tentando alcançá-lo.
— Calma, cara! É tanta pressa pra ficar perto dela?
David o olha sem entender, ainda tentando sair fugir daquele sol ardente.
— Ela? Ela quem?

Fred sorri.
— Cara, nem eu sei. Mas você deve saber.
David olha pra onde as mulheres estão e sorri maliciosamente.
— Ah, sim. Sei exatamente. - ele diz observando Luana conversar animadamente com as outras. - Mas vamos logo pra lá. Esse sol está me matando.
Fred ri.

— Ah, amigo, não é só você.
David o encara por um breve momento.
Ah, Fred, você não tem idéia...
Se fosse o que estava pensando, seria o começo de um dia longo e torturante. Isso se aguentasse por muito tempo. Mas teria que aguentar. Por ela teria que aguentar até mesmo o inferno.

Finalmente estavam tendo uma conversa de amigas, como sempre. O clima estava muito melhor, podia até respirar melhor com Nina ao lado. Já não tinha os olhares de desconfiança, nem o sorriso sarcástico. Agora voltara a ser a mesma Nina tímida e alegre de sempre.
— Então, Luana. - Jéssica fala sorridente. - Agora você vai nos contar. Como ele é?
— Ele? Ele quem? - Luana pergunta confusa.
— O tal de Drácula, sua boba. - Nina fala. - Você disse que iria nos contar mais sobre ele.
Luana sorri ao nome de seu noivo ser mencionado.
— Ah, sim. - ela coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha.
Por onde iria começar? Jéssica já sabia , de uma certa forma, mas Nina não sabia. Como voltaria a falar desse assunto sem parecer que estava ficando louca?
— O nome dele é Drácula.
— Isso você já disse. - Jéssica e Nina falam em uníssono e as três desatam a rir.
— Bom, nós nos conhecem os quando o ônibus em que eu estavam parou no lugar errado e eu fui procurar ajuda na casa dele. Bom, não exatamente uma casa, mas um palácio.
— E aí? - Nina pergunta afoita. - O que houve depois?
Luana sorri com a lembrança de quando Drácula se apresentara à ela como um vampiro.
— Bem, nós ficamos noivos no mesmo dia.
— NO MESMO DIA?? - Nina pergunta totalmente perplexa, se inclinando na cadeira para encarar Luana, como se a mesma fosse louca.
Jéssica sorri analisando Nina.

— Doideira, não é?
Nina olha de uma para outra confusa.
— Mas... Como?...
Luana encara os nós dos dedos que fizera com as mãos. Estava um pouco nervosa.
— É... Eu sei que é estranho mas, sei lá, eu acabei gostando dele.
Luana dá de ombros e sorri envergonhada, num gesto de desculpas, ainda sendo encarada por Nina. Aquilo a estava deixando desconfortável.
— Luana, você esqueceu de um outro detalhe. Se lembra? - Jéssica fala e olha para Nina. - Se você se assustou pelo fato de que ela tenha ficado noiva dele no mesmo dia, vai se surpreender ainda mais com o resto.
Nina olha para Luana.
— Resto? Ainda tem mais?
Luana respira fundo. Mais uma que não iria acreditar nela.
— Bem, o que Jéssica quer dizer é que meu noivo não é um homem qualquer.
— Talvez não seja mesmo. - Nina diz. - Você se apaixonou por ele. Deixa eu adivinhar. Ele é rico.
— Sim, Nina. Mas eu não sou interesseira.
— Rico e uma outra coisa a mais. - Jéssica sorri maliciosamente para Luana.

Mas que droga...
— Outra coisa? - Nina pergunta e olha para as duas. - Mas o que é, Luana? Conta logo.
Luana engole em seco.
— Hum... O que Jéssica quer dizer é que... - ela se ajeita na cadeira, desconfortável. - É que meu noivo é um vampiro.
Silêncio. Parecia que estava num filme de faroeste onde tudo ficava silencioso, e só passa aquela bola de palha. Jéssica estava tentando segurar o riso se divertindo às custas de Nina, que encarava Luana, como se ela fosse um ser mítico, ou algum alien. Entendia bem aquela expressão. Não eram só Nina e Jéssica que achavam que ela estava enlouquecendo, pois ela também achava. E era difícil de acreditar até agora.
No entanto, Nina desata a rir incontrolavelmente. Jéssica olha para Luana com uma cara de quem quer dizer "eu sabia que ela não iria acreditar". Luana olha para o mar, se mexendo desconfortavelmente na cadeira, incomodada com o súbito ataque de riso de Nina. Para falar a verdade, até ela sabia.

David e Fred aparecem, surpreendendo as meninas, que pareciam ter uma conversa secreta. Luana cora quando o vê.
Mas o que será que ela estava escondendo?
— Amor, coloque sua roupa na cadeira, ou na toalha! - Jéssica reclama com Fred quando o vê jogando a camisa na areia.
Ele sorri.
— Sim, amor. Desculpe. - ele diz, se agachando para dar um beijo nela, deixando todos um pouco constrangidos.
David joga as latas de cervejas dentro de um pequeno isopor e apoia a bandeja com os frangos em cima da toalha.
— Fred, esquecemos de trazer gelo. - fala, não se incomodando muito com a cena romântica.
— Ih, é mesmo. - Fred fala, parando de beijar Jéssica. - Vamos lá?
David larga suas roupas em cima de uma cadeira e se abriga em baixo do guarda-sol. O sol estava queimando-o vivo.
— Acho melhor, não. As cervejas ainda estão geladas. Logo, logo acabaremos com elas.
— Ah, tudo bem. Então vamos deixar pra pegar mais tarde, já que vou comprar garrafas.
— Só não tente se embebedar. - Jéssica diz sorrindo para Fred, que também sorri.
— Nunca, amor.

David os olha mais uma vez. Definitivamente, eram um casal muito bonito. Havia amor ali, além de cumplicidade e amizade.
Ele olha para Luana, que também olhava para o casal. Por que ela era tão teimosa? Por que não podia ver o quanto ele a amava? Por que ela não podia amá-lo em troca? Por que tinha logo que se apaixonar por um imbecil qualquer?
— Luana.
Ela o olha um pouco assustada. Mas o que havia demais nele, que ela sempre o olhava da mesma forma?
— Sim?

— Quer uma cerveja?
— Ah, sim, obrigada. - ela responde corando.
David alcança o isopor, pegando duas latas de cerveja, e olha para Nina, que os encarava com um olhar frio e mortal.
— Quer também, Nina?
— Não. Obrigada, David. - ela responde. - Diferente da Luana, eu tenho mão. - ela diz com um leve toque de alfinetada, que faz Luana olhar para ela sem entender. - Brincadeira, Luana. - ela sorri, abrindo a lata.
David entende bem. Não era apenas uma brincadeira, ainda mais visto pela expressão de Luana. Nina estava com raiva. Estava com raiva porque via o que ele sentia por Luana, e que não tinha nenhuma intenção de esconder. Na verdade, queria gritar para o mundo todo o quanto a amava. Mas, infelizmente, parecia que ela estava sendo seduzida por outro. Ele oferece a lata de cerveja para ela.

— Aqui.
Ela pega.
— Oh, obrigada.
Ele abre a lata da cerveja que ela pegou, e abre a dele.
— Então. Do que vocês estavam conversando?
Luana o olha, estatelada. Qual era o problema dela?
— Nada demais. - ela desvia o olhar, se concentrando nas pequenas ondas que faziam no mar.
— Luana. - ele chama-a, fazendo ela o olhar com um certo receio. O que tanto escondia? - Fale pra mim. Por favor.
Ela o olha atentamente.
— Pra que você quer saber?
— Porque sim, ora. Sou seu amigo. Amigos contam segredos uns aos outros.
Ela o olha novamente, com aqueles olhos amendoados, lindos e inocentes. Olhos de uma deusa. Olhos que o fazia perder o juízo, e se embriagar de amor, paixão e todo quanto tipo de sentimentos por ela. Ela era sua ruína. E, definitivamente, sua salvação.
— Conte pra mim, Luana. - ele pede, se perdendo naquele lindo olhar.
Ela suspira, e olha mais uma vez para Nina, que finge ignorá-los, conversando com Fred e Jéssica. 
— Tudo bem. Estávamos falando do meu noivo.

David tenta não fazer cara feia ao noivo secreto ser mencionado.
— Conversando sobre ele, é? Por que?
Sua voz já não tinha mais o tom controlado de antes. Ele estava começando a se alterar. Tinha que se acalmar.
— Porque as meninas me pediram. - ela diz, sem entender o porque dele estar daquele jeito. - O que houve, David?
Ele olha para as ondas do mar. A vontade que sentia era de carregá-la até lá, e mergulhar naquele mar límpido com ela nos braços. Sem reservas, sem complicações. Sem nada para afastá-la dele.
— David? - ela o chama mais uma vez.
Ele olha para o lindo rosto dela, já mais calmo.
— Só estava pensando. - ele fala, absorvendo o lindo rosto corado. - Por que você se apaixonou por esse homem, Luana? Por que? O que você viu nesse cara?

Ela engole em seco, corando mais ainda.
— Eu o amo, David. - ela diz simplesmente.
Ele a encara, estático. Aquelas palavras o teriam esmagado, se ele não soubesse que aquilo era uma mentira. Tinha que ser uma mentira! Não tinha como ela amar alguém em tão pouco tempo! Ou tinha?
— Isso é verdade?
— O que é verdade?
— Que você o ama.
— Sim, é verdade. Por que não seria?
Ele respira fundo, numa tentativa de se acalmar.
— Deve ser porque você mal o conhece? - ele questiona, alterando a voz, e a encarando. Ela parecia estar com medo dele. - Porque, que eu saiba, vocês ficaram noivinhos à pouco tempo. Ou é mentira minha?
— David, quer parar de falar desse jeito?
— E eu deveria falar de que jeito? - ele contrai o maxilar, nervoso. - Hein, Luana. Me fala. Pelo amor de Deus, você mal conhece o cara, e já diz que ama? Quem você quer enganar, Luana?
David já não conseguia mais se controlar. Já estava começando a ficar mais alterado, falando mais alto. Os outros estavam os observando, tentando entender a situação. Luana cora com os olhares sobre ela.

— David, fala baixo.
— Falar baixo? - ele pergunta mais alterado que antes, olhando-a com raiva.Por mais que estivesse fazendo papel de idiota para os outros não se importava. Nenhuma preocupação era maior que sua raiva agora. - Me diz, Luana. Vai ficar com esse cara até quando? Até ele se enjoar de você? Até ele te jogar fora, como os outros fizeram? 
Luana ficou um tempo só o encarando com os olhos lacrimejados. Oh, não, não... Não queria fazê-la chorar. Apenas queria fazê-la entender que, de uma vez por todas, o único homem que a amava no mundo era ele, e mais ninguém. Fazê-la entender que os outros só queriam se aproveitar dela. Queria protegê-la. Mas, por que ela insistia em lutar contra?
Luana desvia o olhar dele e se recompõe, depois voltando a olhá-lo.
— Pode dizer o que quiser, David. Não ligo pra sua opinião. - ela acrescenta friamente. - O que eu faço, ou o que deixo de fazer da minha vida, não te interessa. Então, se você ainda quiser ser meu amigo, sugiro que pare de se intrometer nos meus assuntos.
Aquilo era o mais parecido a uma facada no peito - apesar de nunca ter levado. Sua Luana o via nada menos que um estranho. Era isso o que ele era para ela, de acordo com suas palavras. David finge se recompor e abre sua latinha de cerveja, ignorando os olhares surpresos dos amigos.
— Tudo bem, Luana. - ele suspira, tentando se acalmar. -Não está mais aqui quem falou. Apenas quero o seu bem.

— Sei me cuidar sozinha, David.
— Ah, sim. E com certeza não precisa da ajuda de quem você dizia ser seu melhor amigo.
Ela o encara novamente com aqueles olhos amendoados. Até mesmo com raiva ela era linda. Mas iria encerrar o assunto, por ora. Não queria vê-la aborrecida ainda mais, nem mesmo queria se aborrecer. Não tinha ído àquele lugar maravilhoso para discutir com a mulher que amava.
— Certo, Luana. Tudo bem. Só queria que você abrisse seus olhos.
— Sou uma mulher adulta, David. E sei me cuidar.
Parece que não, David pensa enquanto toma um gole da cerveja. Nossa, aquilo estava intragável!
— Tudo bem, Luana. - ele responde a contra gosto, notando o olhar repreensivo de Nina sobre ele.
Jéssica se levanta da cadeira.
— Então, galera, vamos parar com a discussão e vamos brincar um pouco! - diz ela animada. Ela olha para Fred, que ainda está sentado. - Amor. No porta-malas do seu carro tem uma bola. Esqueci de pegar. Tem como você ir lá e pegar pra mim?
Fred cata a chave do carro e se levanta.
— Quer vir comigo, David?
— Não, obrigado. Vou ficar por aqui mesmo. - David diz, se encolhendo ainda mais naquela minúscula sombra do guarda-sol. - Esse sol está me matando.
Literalmente.

— Tudo bem. Já volto. - Fred diz e sai.
David suspira cansado. O dia que era para ser divertido estava se tornando um fiasco. Luana o ignorava a todo custo, sua pele estava ardendo até demais - e aquilo não estava normal -, e Nina não parava de olhar com raiva para ele.
David dá mais um gole na cerveja, fazendo cara feia e fincando a lata na areia.
Sem contar que nem mesmo uma cerveja podia tomar, pois o gosto ficava além do insuportável.
— Quer, David? - Jéssica chama-o, despertando de seus pensamentos. Ela estava com um pedaço de frango na mão, estendido à ele.
— Ah. Obrigado, Jéssica. - ele pega a coxa de frango frito.
— Luana. Vem aqui. - Jéssica chama Luana. - Vamos ali comigo. Vamos deixar os dois um pouco sozinhos.

Luana o olha com uma certa timidez, depois olha para Nina, que a encara friamente.
Deixá-los sozinhos? Mas o que Jéssica estava pensando?
Luana se levanta e bate na roupa para tirar a areia, depois colocando os óculos escuros.
— Já, já estamos de volta. - Jéssica sorri, depois pegando Luana levemente pelo braço e saindo dali com ela.
David acompanha elas andarem até um quiosque onde vende artigos para praia.
— Gosta tanto assim dela?
David olha para Nina. Dava para perceber que ela estava tentando esconder seus sentimentos através de uma máscara fria e cheia de rancor. Não queria nenhum mal à Nina, mas sinceramente não queria nada com ela; apenas amizade. Mas ela era difícil de entender. E parecia que ela estava começando a odiar Luana por causa dele.
— Do que está falando, Nina?
— Você não perde um movimento dela. - ela diz seca. - Só tem olhos pra ela, o tempo todo.
David fica em silêncio. Não podia contra argumentar, mas também não podia dizer algo que a magoasse.

— Até mesmo ficou com raiva por ela ter falado do noivo dela.
O tom de voz dela estava carregado de tristeza e mágoa. Mas ela estava conseguindo esconder seus sentimentos muito bem.
David a olha cauteloso. O que poderia dizer à ela? Não queria magoá-la ainda mais.
— Tudo be, eu admito. Eu a amo. Eu a amo demais. A amo desde o primeiro momento em que a conheci, quando ela tinha dezesseis anos.
David percebe que Nina está tentando se segurar. Realmente não estava sendo fácil para ela. Mas será que ela o amava tanto assim?
— E isso acaba comigo. Totalmente. Saber que ela agora é de outro cara, e não poder fazer nada pra impedir.
— E como você impediria? - ela pergunta depois de um tempo calada. - Você não pode mandar nela, ou decidir com quem ela deve sair.
David encara o pedaço de frango a sua frente. Era impressão sua, ou aquilo estava bem cru e cheio de sangue?

— A questão é essa. Ela não só está saindo com esse maldito, como também o ama. - ele diz com desgosto. - Bem, é o que ela diz.
— Parece que sim. Ela falou dele com tanto entusiasmo.
David joga o frango de volta na bandeja. Estava ficando com o estômago revirado. Não sabia se iria aguentar comer ou beber alguma coisa.Ele a encara.
— E o que ela disse?
— O quê? - pergunta Nina, sem entender.
— O que ela disse sobre esse cara?
Nina o encara.
— Pra que você quer saber?

— Me desculpe se lhe ofendo perguntando isso, Nina. É que... - ele passa a mão nos cabelos, nervoso. - Eu só queria saber.
— Até quando vai ficar nisso, David? Até quando vai ficar correndo atrás de quem não te quer, de quem te menospreza?
— Ela não me menospreza. - ele diz tentando se controlar. Quem era ela para falar daquele jeito de Luana? E ainda se dizia amiga?
— Como não? Você corre atrás dela igual a um cachorrinho, e ela só te ignora. Ela não te ama, David. Tente entender. Eu já tinha percebido que você gostava dela há um tempo. Eu até pensava que ela poderia gostar de você, por isso fiquei distante. Mas com o tempo percebi que quanto mais você chegava perto, mais ela se afastava. Por isso que eu quis investir em você. Somos solteiros, desimpedidos. E não há Luana nenhuma entre nós.
Ela estava com o semblante mais suave, e estava chegando mais perto dele. Nina era uma linda mulher, exato. Porém, não era ela quem ele queria. Nem ela, nem outra. Apenas Luana.
— Sinto muito, Nina. Não é você quem eu quero. Quem sabe na outra vida.
Ele diz, apesar de saber que até mesmo na outra vida pertenceria a Luana, e somente a ela.
Nina se afasta um pouco e tenta se recompor, apesar de parecer estar controlando uma raiva mortal.

— Tudo bem, David. Se é isso o que você quer. - ela se levanta.
— Não quis magoá-la.
— Ok, David. - ela diz, sem encará-lo. - Espero que seja feliz nessa sua tentativa de tentar ter Luana pra você. Lhe desejo uma boa sorte.
Ele sabia que no fundo não era uma boa sorte o que ela desejava.
Nina sai, o deixando sozinho. Ele encara mais uma vez a bandeja com os frangos. Por que parecia que aquilo estava com sangue? E por que o cheiro daquilo estava horrível? Não iria conseguir se alimentar de nada, e aquilo poderia fazer mal.
Ele olha para a praia.
Tantas coisas acontecendo num só dia. Será que ele poderia aguentar mais alguma coisa? David suspira cansado. Tomara que não.

 

 

 

 

Luana e Jéssica tinham acabado de comprar garrafas d'águas geladas, e já estavam recebendo cantadas de homens de várias faixas etárias. Luana sorriu a maior parte do tempo. Era engraçado como eles a enxergava tão atraente. Não que não se sentisse! Só não levava tanto em conta a questão de uma ótima aparência visto que o importante era a saúde de sua madrinha. Já Fred poderia se considerar bastante sortudo, pois Jessica era linda.
— Luana. - Jéssica chama-a.
As duas estavam andando lentamente pelo grande calçadão da praia, admirando a beleza daquele lugar. O vento estava bem favorável, o clima maravilhoso.
— Sei que até agora tenho ficado quieta em relação a você e o David. - Jéssica começa a falar. - Mas queria saber o que está acontecendo.

Luana engole em seco e desvia o olhar as pessoas que ali passavam a pé, de bicicleta, e de outros modos. O lugar era lindo, o tempo estava lindo. Porém, não podia dizer a mesma coisa daquele dia. Fazia pouco tempo que estava ali, e nem com os amigos conseguia se sentir plenamente bem. Bem, pelo menos não com um.
— Não estou te entendendo, Jéssica.
— Acho que você está, sim. Pode parecer loucura, mas acho que não só David gosta de você, como você também gosta dele.
Luana arqueja e olha espantada para Jessica.
— Você está ficando louca??
Jéssica para de caminhar para encará-la. Parecia um tanto séria. Luana para também.
— Posso até estar. Mas acho que você deveria ter mencionado antes.
Luana olha para Jéssica, com descrença.
— Jéssica... - Luana gagueja, tentando formular melhor as palavras. - Jéssica, pare de falar besteiras. Eu não gosto de David. Pelo menos, não desse modo.
— E como você gosta dele?
Luana volta a desviar o olhar.

Como ela gostava de David? Como amigo, como melhor amigo, como uma espécie de irmão? Seria fácil pensar nele dessas formas quando ele não tinha mudado. Quando ele era apenas um amigo preocupado que estava sempre do seu lado, lhe fazendo sorrir. Não como o David de a partir de um ano atrás que mais parecia um louco sombrio e psicopata.
— Bem, eu... - Luana suspira. - Eu gostava dele como meu melhor amigo.
— E agora?
— Eu não sei. - Luana olha para Jessica. - Definitivamente, eu não sei.
— Então, isso confirma minhas suspeitas?
— Que suspeitas?
— Você está apaixonada por David.
Luana a encara embasbacada.

Era loucura que Jéssica pensasse daquela forma. Nem por um momento deixou transparecer qualquer sentimento por David que não fosse apenas amizade. Mas naquele momento não conseguia dizer mais nada.
— Como pode dizer isso, Jessica? Eu amo o meu noivo.
— Sabe porque eu sei... - uma senhora esbarra em Luana, e Jessica a puxa pelo braço, tirando Luana do meio do caminho. - Sabe porque eu sei que isso é uma mentira, Luana? Porque você fala de modo muito fácil e rápido que ama esse seu noivo. É sério, eu não sinto qualquer tipo de amor nas suas palavras em relação a ele. Carinho e encantamento, sim. Amor, não.
— Você não sabe o que diz, Jéssica. Jamais me apaixonaria por David.
— E por que não? Ele é lindo, gostoso, sensual. Qualquer mulher se interessaria fácil por ele. Menos eu, é claro, pois me apaixonei pelo Fred.
— Ah, sim. E você não poderia se apaixonar por David porque é apaixonada pelo Fred. Mas eu poderia me apaixonar por ele porque não sou apaixonada por meu noivo? Mas que lógica é essa, Jessica?
— A questão aqui não é a lógica, mas sim, o que você sente. Luana, se formos pela "lógica" você nunca vai saber dos seus verdadeiros sentimentos.
— Não entendo o que quer dizer.

— Serei mais clara. Por que não diz pra ele como se sente?
— Como me sinto em relação a que? - Luana pergunta já perdendo a paciência.
— Aos seus sentimentos por ele, ora.
— Jessica... - Luana fala, quase desistindo. - Por favor, pare com isso. Eu não sinto nada por David. Nem mesmo a amizade que tínhamos antes é mais a mesma. 
Jessica a olha, confusa.
— Ele mudou, Jessica. Eu já te disse antes. Ele mudou completamente. Não é mais o David que conheci. Não é mais aquela pessoa que eu considerava como a um irmão.
— Mas, e agora? Você não o considera mais como a um irmão?
Luana quase não podia pensar. Estava muito nervosa para isso, não estava com paciência. Então, o jeito seria falar mais de um jeito racional.
— Não. Não o considero como nada.

— Como assim, nada? - Jéssica pergunta, alarmada. - Pensava que vocês eram amigos.
Luana desvia o olhar.
— Também pensava. Mas, como já disse antes, ele mudou.
— Ele mudou, ou foi você?
Luana escuta uma voz familiar e se vira para ver Nina parada de frente para ela, olhando-a com uma espécie de raiva. Jessica também fica surpresa com a presença da amiga. 
— Nina...
Nina corta Luana.
— Acabei de chegar agora. - Nina as encara. - Mas ainda sim deu pra ouvir um pouco da conversa.
Ela cruza os braços. Pela sua posição e seu tom de voz, parecia bem irritada.
— Se fazendo de vítima, Luana? Logo você?
Luana percebe a provocação no tom de voz de Nina. Com certeza ela não estava ali para bater um papo qualquer. Parecia bastante sarcástica e irritada. O que será que David tinha falado com ela? E o pior é que Jessica a olhava de um modo inquisitivo, como se quisesse mais respostas além do que recebera. Mas, afinal, o que mais poderia dizer?

— Não entendo, Nina.
— Ah, você não entende?
— Nina, para. - Jessica pede, intervindo. - Viemos aqui para nos divertirmos.
— Para nada, Jéssica. - Nina fala, ainda encarando Luana. - Luana tem mais é que ouvir umas verdades.
O que?
— Ah, é mesmo? - Luana pergunta desafiando-a. Já estava farta daquele jeito de Nina. - E que verdades são essas?
— Que você é uma filha da mãe egoísta, isso, sim! - Nina altera o tom de voz, beirando a impaciência. - Você não passa de uma desgraçada que acha que David está comendo na sua mão, quando não está nem aí pra ele!
— Nina! - Jéssica, mais uma vez, procura intervir.

Luana engole em seco.
— Você não sabe do que está falando. - Luana fala tentando se controlar, apesar das pessoas já estarem olhando para elas, por conta do vexame de Nina.
— Eu sei muito bem do que estou falando. - Nina fala abaixando mais o tom de voz. - Você vive atiçando o coitado, pra depois jogá-lo fora!
Jessica olha para as duas e para as pessoas que as olham com curiosidade.
Luana encara Nina, totalmente indignada.

— Atiçando? Como assim "atiçando", Nina? Você não sabe o que diz!
— Pelo amor de Deus, meninas. Parem com isso! - Jessica suplica. - A praia inteira está olhando pra cá.
Luana olha em volta. A "praia inteira" era, na verdade, quase todas as pessoas que passavam pela orla. A grande maioria as olhavam com espanto e curiosidade. Certamente estavam apreciando o show.
Luana fecha os olhos com força. Seu belo dia tinha se tornado em um pesadelo, e agora por suas melhores amigas. O que mais queria era sair dali.
— E você acha que eu não sei o que digo? - Nina sorri. - Isso é o que você quer. Que eu não saiba!
Já estava de saco cheio daquilo. Não estava bem para sermões e especulações estúpidas por parte de Nina. Sairia dali antes mesmo de dizer ou fazer algo que fosse magoar a amiga. Afinal, ela não sabia o que dizia.
— Me deixe em paz, Nina. - Luana diz, começando a andar para longe delas, em direção à praia.
— Sei tanto o que digo porque sei que você e David ficaram juntos ontem! - Nina rosna.
Luana detém o passo e para de súbito, olhando para as amigas. Jessica a estava encarando espantada, enquanto Nina a encarava com puro ódio.
Ela sabe... Santo Deus, ela sabe! 


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Notas finais do capítulo

Desculpem-me tambem por ter isso tudo.
Não sabia que tinha escrito tanta coisa.



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