Como nos velhos tempos escrita por Ane


Capítulo 2
Melodias do passado


Notas iniciais do capítulo

Bem, depois de muito pensar, eu resolvi fazer dessa fic uma long então boa sorte pra mim.
Esse capítulo se passa um ano antes do capítulo passado, um tipo de flashback para vocês entenderem algumas coisas na história futuramente, é tipo um capitulo extra, narrado em terceira pessoa.
No próximo capitulo a história vai continuar normalmente, e narrada pela Kagura.
Eu não costumo escrever muito em terceira pessoa, então espero que gostem (mesmo).



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Edo era cada dia mais vazia e silenciosa. Não em decibéis, mas na alma.
        A cada momento escutavam-se conflitos ao longe, disputas por territórios, brigas de gangues, sons do caos. Os barulhos do passado eram pouco escutados, quase raros. Mas, vez ou outra, melodias antigas ecoavam nas ruas adormecidas de Kabukicho, como se ela estivesse ouvindo alguma música do passado.
        Como se estivesse recordando dos velhos tempos.
─ Você! Ei, seu imprestável! ─ Kagura vinha em disparada, correndo atrás de uma alma vagante que andava calmamente pelas ruas, ao contrário dela. ─ Ei, seu sadista maldito!
─ Ah... O que foi? Não aguentou a saudade e já veio logo atr...─ Sougo se virava para responde-la com mais uma de suas ironias ácidas mas foi surpreendido com um chute na cara.
─ Você! Olha o que você fez com o Sadaharu!
        Ela apontou para o cachorro grande e peludo que se podia crer que era branco, mas estava pintado com círculos pretos ao redor do corpo todo. O cão parecia pouco se importar, mas a ruiva estava claramente irritada pela provável atitude do homem à sua frente.
        Eles realmente nunca amadureciam de fato.
─ Você tem provas? ─ ele se levantava com certo tédio nos olhos, mas certo sarcasmo em sua voz. ─ Por que eu iria perder tempo com seu cachorro monstro?
─ Como se você não fosse infantil o suficiente para me irritar fazendo qualquer besteira...
        Toda semana os dois arranjavam motivos para discussões. As rivalidades nunca cessavam, e todo tipo de provocação era motivo para mais provocações ou lutas. Como uma competição de quem irritava mais o outro, e dessa vez, Kagura havia ficado bastante irritada.
─ Você tá me chamando de infantil? Olha só que ironia, você tá irritada com uma bobagem dessas... Por acaso não sabe que aquilo sai com água? E, aliás, você já ia lavar ele hoje mesmo...
─ Sabe-se lá o trauma que você causou no Sadaharu! Eu deveria raspar seu cabelo...
        O peludo decidiu deitar-se de tédio, parecia que aquela situação já era algo rotineiro há muito tempo.
─ Ele nem se importa mais com o que eu faço com ele, deixa de ser exagera... ─ ele pausou quando se deu conta que tinha assumido sem querer o ocorrido.
─ Então quer dizer que foi realmente você?! ─ Ela ficou mais irritada ainda tentando golpeá-lo com socos que eram bloqueados facilmente por ele.
─ Ah... ─ respondeu com uma voz monótona ao bloquear os golpes ─ Fui eu sim, eu estava entediado...
─ Seu maldito, porque não vai embora de uma vez por todas, hein?
        Ele parou por alguns segundos e então deu um sorriso um tanto indecifrável.
─ Acho que hoje é seu dia de sorte então ─ ele se virou e pegou as suas coisas que estavam caídas no chão e virou-se. ─ É exatamente isso que eu tô fazendo hoje. Esperava que você ficasse extremamente ocupada enquanto limpava seu cachorro gigante, e não me enchesse o saco, mas ah... você sempre estraga as surpresas que eu faço.
─ O que você quer dizer? ─ ela foi seguindo os seus passos que permaneciam com a mesma calma de antes ─ Você vai embora? É meu aniversário por um acaso?
─ Considere como um presente adiantado. ─ ele continuou sem se virar. ─ É isso mesmo, eu vou embora de Edo. ─ fez uma pausa. ─ Pra sempre.
        De início Kagura havia achado que ele estava fingindo, mas dessa vez ela tinha uma sensação de que poderia ser verdade. Ela parou de segui-lo e então tentou processar os seus próprios sentimentos. Não tinha uma reação certa, ou se tinha não sabia definir. Raiva? Alegria? Tristeza?
─ Ei... Ei! ─ Kagura gritou para Sougo que parou sem se virar. ─ Quer dizer que você vai fazer que nem os outros idiotas que abandonaram tudo quando ficou tudo uma droga? Você vai desistir assim tão rápido de fazer algo para reverter essas lutas sem fim? Você é assim tão fraco e covarde, Okita Sougo? Simplesmente vai embora? Acha que vai se livrar do que fez? Hein? Não me faça rir.
        Okita se virou com um típico sorriso no seu rosto. Um típico sorriso que desta vez mantinha um toque diferente.
─ Eu não dou a mínima pra essa cidade. Que irritante... Eu sempre tenho que explicar tudo para você não é, pirralha? Eu só... Não tenho mais nada que me prenda aqui. Cansei de viver numa cidade morta e sem sentido. Não faço mais questão de estar nesse lugar. E dane-se, é só tinta, você já fez ele andar por aí muito mais ridículo do que ele está agora...
─ Vai simplesmente deixar seus amigos? O Shinsengumi?
─ Shinsengumi? Haha, qual? Em que época você vive? Não sei se você notou, mas não existe mais algo do tipo, e mesmo que exista, as gangues por aí são bem mais poderosas que uma polícia falida. E olha, nada que você diga vai me fazer mudar de ideia. Além que quanto mais tempo você demorar mais difícil vai ser pra tirar a tinta do seu cachorro aí, então...
─ Você... Ah... Consegue ser incrivelmente mais idiota a cada dia! Eu...
        Kagura até queria argumentar, mas sabia que nada adiantaria. Ele estava com aquele olhar irritante e teimoso. Ela sabia que ele estava falando a verdade.
       Então até ele iria embora. Até aquela parte chata e irritante do seu passado iria embora. Até a última coisa que a fazia se sentir como nos anos em que ela ainda tinha tudo, estava indo embora. O Gin, O Yorozuya, Kabukicho, e agora seu rival, que havia permanecido por muito tempo até.
       Até ele iria deixá-la.
─ Quer saber? ─ Kagura continuou após tentar processar o efeito que a atitude de seu rival estava causando dentro dela. Seria algo bom? Ruim? Ela nem tinha pistas de que entendia. ─ Vai embora. Vai embora mesmo! E nunca mais volta. Assim como todos aqueles covardes. Eu nunca mais quero ver essa sua cara estúpida novamente!
       Ela não queria admitir, mas aquele homem na sua frente era alguém importante. Era o último resquício de um passado divertido e um presente menos tenso. Perder até mesmo essa “parte ruim” da sua vida era o mesmo que finalmente acordar para a realidade. Nada mais era o mesmo.
       Ela odiava admitir, mas Sougo finalmente havia ganhado a competição.
─ E, aliás, ─ continuou com um ímpeto, demonstrando um misto de sentimentos, principalmente misturados com raiva. ─ eu realmente duvido muito que você vá ser assim realmente tão bom para mim fazendo esse favor de realmente nunca voltar, então, para garantir...
        Kagura andou em direção ao seu maior rival, este que já conhecia há tantos anos e que havia criado laços que nem mesmo gostava de admitir. Tinha sentimentos que nem mesmo sabia entender. E, em um impulso, puxou-o contra si e encostou seus lábios contra os dele. Um beijo simples e seco, que durou apenas poucos segundos, cheio de mágoas, rancores, raiva, tristeza e todos esses sentimentos que Kagura pouco conseguia interpretar, e se pensasse, não saberia entender o que estava fazendo. Era movida por impulsos.
─ Eis um grande motivo para eu nunca mais querer ver sua cara novamente. ─ disse após afastá-lo de si.
        Ela o empurrou antes que tivesse tempo de processar o que tinha acabado de fazer, antes que pudesse ver uma reação ou ouvir qualquer provocação e andou passos largos, com uma irritação evidente em cada um deles, em direção ao cão que, parecia confuso com a mudança repentina dos ares, e subiu em suas costas. E os dois correram o mais rápido que puderam da mesma forma que haviam chegado.
        Okita permaneceu parado esperando que não sobrasse nenhum rastro daquelas duas figuras a sua frente. Ele não tinha menção em querer entender algo. Pelo visto teria deixado Kagura bastante irritada.
─ Um motivo ou um beijo de despedida? Essa pirralha sempre se supera...
        E assim o ritmo que havia sobrado do passado havia acabado, e ao mesmo tempo, dava infinitas possibilidades para novas melodias.
        Melodias estas que sinalizavam tocar após um ano, quando promessas tinham sido quebradas.
        O “nunca mais” tinha sido curto demais.
        Sougo estava de volta à Edo, e a cidade ansiava para ouvir novas músicas.


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