Liars and Killers escrita por A Lovely Lonely Girl


Capítulo 35
Capítulo 31


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, gostaria de falar o óbvio: o especial de natal floppou. Como já esperava isso, resolvi focar mais na história. Eu demoro um tempo para conseguir escrever. Acho que estou melhorando porque agora estou voltando com o hábito da leitura. Isso facilita bastante, fico feliz que esteja dando certo. Outro ponto é que sempre busco dicas de escrita, e ouvi uma frase que me chocou um pouco: seja sádico com o seu protagonista. E foi nesse momento que percebi que eu poupo a Katherine de muitas coisas, e assim a história não vai para frente. Estou tentando mudar a minha escrita a partir deste capítulo, não sei se terei sucesso, mas estou cruzando os dedos.
Espero que gostem deste capítulo. Muito obrigada a todos vocês que acompanham Liars and Killers! Seus comentários me fazem querer continuar escrevendo. Percebi que o conceito de felicidade para mim é bem simples: dias inteiros mergulhando em mundos fantásticos através da leitura, da música e da escrita. Muito obrigada por fazerem meus dias muito mais felizes!
Gostaria de agradecer:
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Obs.: Para quem estiver interessado, às vezes coloco uma prévia do capítulo que estou escrevendo no meu insta. Meu nick é beatrizmartinsbonilha. Beijos!



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{Katherine Adams Kohls}

Meu corpo parecia estar em chamas, mesmo submerso na banheira de metal com cubos de gelo flutuando sobre a superfície da água. Prendi a respiração e deslizei para baixo, ficando completamente submersa. Abri os olhos debaixo d’água e observei minhas mãos. Os tentáculos de sombras as rodeavam, eu os sentia, suaves como seda. Aquilo era real? Eu estava enlouquecendo?

Uma mão mergulhou na água, a palma estava virada para cima. Não era uma ordem, mas um convite. De alguém que compreendia. Eu gostava de acreditar que ele também se importava de verdade. Fechei os olhos, segurei seu braço com as duas mãos e ele me puxou para fora da banheira.

Ouvi o barulho da água, depois que uma parte caíra no chão, tudo o que eu processava eram as gotas que caíam do meu cabelo e da roupa colada em meu corpo e pingavam na água remanescente da banheira. Meus ombros tremiam, assim como meus joelhos. Meus dentes estavam trincados, meus olhos percorriam os arredores; estava aliviada pelas faíscas terem sumido. Eu sentia frio e calor ao mesmo tempo. O que diabos era aquilo?

Olhei para o dono da mão que me puxara, seus olhos castanhos estavam focados em mim. Dirigi um sorriso débil a Banner e me apoiei nele para sair da banheira sem cair de maneira vergonhosa. Um segundo depois, uma grande toalha branca surgiu em meus ombros.

— O-Obrigada, Pietro. – Quando ele surgiu à minha frente, tinha mais três toalhas em suas mãos. Os dois Vingadores tinham os olhos fixos em mim.

— Como se sente? – Perguntou o doutor.

— Melhor. – Me sentei na cadeira que estava ao lado da banheira. – Agora... Consigo pensar, pelo menos.

— Água gelada ajuda a focar na realidade, em seus arredores. - Explicou Bruce. Por um instante, a memória de Loki me segurando em seus braços e me confortando debaixo do chuveiro cruzou a minha mente. Fora apenas um pesadelo, mesmo assim... Ele genuinamente se preocupava comigo. Mas então... Então tudo mudou. Assenti brevemente para Banner, esforçando-me para deixar de lado a lembrança que me afetou.

— Trouxe uma troca de roupa para você. – Mercúrio tocou meu ombro de leve. – E sua mochila. Consegue se arrumar sozinha?

— Sim. Obrigada a vocês dois. – Pietro assentiu.

— Se precisar de qualquer coisa, basta pedir, Katherine. E... – Banner hesitou por um instante. – Se Kitty a incomodar de novo... Se precisar de ajuda...

— Estou bem, Bruce. – Segurei a toalha em meus ombros com um pouco mais de força. – Mas... Se eu estiver com problemas, te aviso.

— Tudo bem, então. – Ele seguiu para fora do banheiro. Maximoff se aproximou de mim, agachou-se à minha frente e segurou minhas mãos geladas.

— Sinto muito pelas coisas que disse a você, Kate. Principalmente sobre o beijo. Eu... Não sabia que você tinha... Esse tipo de problema para enfrentar. – Sua voz era suave, eu sentia vontade de mergulhar no azul de seus olhos para esquecer dos olhos verdes que me assombravam. Ele apertou levemente minhas mãos. – Se... Se houver algo que eu possa fazer... – “Um chá...”; alguma memória distante da voz de Loki me fez sentir vontade de chorar. Eu precisava tirar aquilo da cabeça de qualquer jeito.

Me inclinei rapidamente para frente e pressionei meus lábios contra os de Pietro. Um meio sorriso surgiu em seus lábios ao mesmo tempo que soltamos as mãos. Desencostei minhas costas da cadeira. Minhas mãos deslizaram para o seu cabelo enquanto as dele abriram minhas pernas e me puxaram para mais perto de si.

Senti minhas bochechas esquentarem e tentei ao máximo ignorar minha posição, com o Vingador tão próximo e entre minhas pernas. Observei minhas mãos deslizarem por aqueles cabelos brancos – que eram o completo oposto dos cabelos pretos que eu secretamente admirava – e gostei da sensação. Não havia nada de errado no gesto, ou na curta distância que os lábios do herói estavam dos meus. Pietro avançou sobre mim, me beijando com voracidade. Me deleitei com a sensação de seus lábios macios contra os meus, suas mãos apertavam levemente minhas coxas. O platinado segurou meu cabelo molhado e o puxou sem muita força, apenas o suficiente para que eu inclinasse a cabeça para trás.

A toalha colocada sobre meus ombros foi ao chão enquanto o Vingador distribuía beijos lentos pelo meu pescoço, me fazendo arrepiar. Suspirei, sentindo meus músculos relaxarem pelo toque mais íntimo. Fechei os olhos, tentando aproveitar plenamente a sensação. “Obrigado, Katherine. Por ser gentil e mostrar compaixão para comigo ao invés de me julgar primeiro.”; as palavras de Loki sussurravam no canto da minha mente. Aquilo tinha que parar! Pietro murmurou rápido em uma língua que não compreendi. Abri os olhos:

— O que foi? – Sussurrei. Ele parou com os beijos e fixou o olhar no meu. Havia algo diferente, suas pupilas estavam dilatadas e sua respiração estava irregular.

— Eu disse – Sua voz estava rouca, ele mordeu lentamente meu lábio inferior e depois o soltou. Aquilo fez uma sensação estranha e prazerosa surgir em meu ventre, quase um calafrio. – que não sei se consigo me controlar vendo essas suas reações.

Fiquei boquiaberta ao notar a mudança em Pietro. Seus olhos pareciam me devorar, seu corpo estava tão próximo que eu só conseguia pensar em seu perfume. O platinado se aproximou de meu pescoço, sua língua percorreu a prévia trilha de beijos traçada por ele. Os pelos dos meus braços se eriçaram. Pietro riu deliciosamente perto de minha orelha, sua voz grave era uma carícia melodiosa aos ouvidos.

Foi então que entendi – ele testaria meus limites me provocando para ver até onde eu o deixaria ir. Sorri de lado ao mesmo tempo em que puxei seu cabelo para trás. Lambi seu pescoço, passando por seu pomo-de-adão, em seguida o beijei profundamente. Fiquei satisfeita com os gemidos que escaparam de sua boca durante o beijo.

Quando senti suas mãos obstinadas irem mais além, interrompi o beijo e me levantei da cadeira. O Vingador estava ofegante, me encarava como um predador. Mal sabia ele que eu estava acima disso, já apontando minha flecha para seus olhos famintos de lobo. Sorri para ele e abri a porta do banheiro:

— Se me der licença, eu tenho que me arrumar. – Em um segundo, ele já estava perto de mim mais uma vez.

— Você... Tem ideia do que fez comigo? – Ergui uma sobrancelha e desci o olhar sobre seu corpo até que compreendi do que ele estava falando. Parecia que meu beijo podia ser arrebatador, afinal de contas. Uma risada escapou do fundo da minha garganta:

— Quer mergulhar na água gelada? Ela também serve para esse tipo de problema. – Não conseguia disfarçar o meu sorriso zombeteiro.

Você me paga, Kohls. — Chiou ele, em seguida saiu do banheiro. Fechei a porta e ri mais um pouco, era inesperado o que acontecera ali. Me despi e tomei uma ducha rápida para me esquentar e evitar um resfriado, depois me enrolei numa toalha. Segui até minha mochila, peguei minha necessaire e a coloquei sobre a pia do banheiro. Peguei minha escova de cabelo e um creme de pentear e me concentrei em desembaraçar os fios. Desesperada para abafar as memórias relacionadas ao deus da trapaça, comecei a cantar.

— Blue jeans, white shirt. Walked into the room, you know, you made my eyes burn... – Eu balbuciava a música distraidamente, focada em meu cabelo. Eu havia concordado com os termos de Elise, ficaria longe de Pietro. Na frente dela, claro. Afinal, o que os olhos não vêem, o coração não sente. No fundo, eu sabia que essa era uma das razões do meu afastamento de Sigyn e de Loki. Eu simplesmente não estava emocional e psicologicamente pronta para acertar as coisas entre nós três. Por ora, deixei que eles pensassem que eu jamais os perdoaria quando, na verdade, eu só estava tentando organizar a minha vida aos poucos. Eu tinha que aprender a lidar com Kitty, que estava mais poderosa. Os problemas dos asgardianos e toda aquela magia... Era muito para mim. Eu ainda não estava pronta para lidar com tudo aquilo de uma só vez. Parei de pentear o cabelo e arregalei os olhos. O barulho da escova atingindo a pia de mármore ecoou pelo banheiro vazio.

No espelho, havia uma sombra – não, não uma sombra, mais parecia uma pessoa feita de sombras — bem definida à minha direita. Tinha 1,70 de altura, era esguia, com curvas femininas e cabelos compridos. Meus olhos se encheram de lágrimas, meu coração disparou em meu peito. Eu não estava pronta para enfrentar aquela coisa. Ninguém havia me alertado do que poderia acontecer se me envolvesse com deuses e heróis. Eu morreria no banheiro, usando nada além de uma toalha? Respirei fundo, reunindo toda a minha coragem. Eu precisava descobrir o que era real ou não por conta própria. Aquele vulto poderia ser somente uma ilusão de Kitty, poderia ser algo só existente na minha cabeça.

Todos os meus sentidos e instintos gritavam “PERIGO!”. Engoli em seco, decidindo se olharia para a direita. A visão geral de seu corpo era possível pelo espelho, mas não havia detalhes específicos na figura. Ela não tinha rosto, não conseguia ver direito suas dimensões, como se ela fosse um rabisco preto pintado sobre um molde no formato de uma mulher. Fechei os olhos, permitindo que algumas lágrimas caíssem. Fosse o que fosse, eu enfrentaria aquela coisa; pela minha sanidade mental. Mesmo que custasse a minha vida.

— Ryn...Na... – Sussurrou a voz feminina vinda das sombras. Eu observei atentamente seu reflexo, o lugar que estariam seus olhos. Meus olhos estavam colados no espelho, a figura se movia lentamente. Ela ergueu uma mão, em seguida a colocou sobre meu ombro. Era fria como a morte. Senti meu fôlego ficar preso em minha garganta.

— O que você quer? – Sussurrei, com o último resquício de coragem que me restava. Se aquela criatura 2D surreal fizesse alguma coisa, ou eu gritaria para o Banner, ou eu acabaria fazendo xixi de medo. Lágrimas escorriam dos meus olhos. Não havia como estar com a guarda erguida num momento como aquele – quem em sã consciência espera ser atacado ou surpreendido por criaturas esquisitas pelado num banheiro? Onde estavam os seres mágicos quando se precisava deles? Bando de metidos inúteis.

—  Sou... Ryn... Na... — Franzi os lábios, tentando decifrar melhor meus instintos. Se eu surtasse, aí sim aquela coisa poderia me atacar. Não sabia o que era, nem o que queria, só sabia que eu tinha que me acalmar. Avaliar tudo e não agir por impulso; principalmente tão indefesa quanto eu estava naquela situação. — Rynna... - Com tantos filmes sobrenaturais assistidos, sabia que às vezes o espírito só queria se comunicar antes de partir. Torcendo muito, muito mesmo para que esse fosse o caso, assenti para a figura no espelho, incerta de como me dirigir a ela. Minha expressão se tornou séria, ao invés de covardemente amigável:

— Prazer em conhecê-la, Rynna. – Sua mão gélida apertou meu ombro. Engoli em seco, segurando um suspiro de alívio. Aparentemente, aquela fora a escolha certa de palavras. A criatura assentiu lentamente:

— Ka... Te... Ryn... Na... – Inclinei levemente minha cabeça para a esquerda, a observando pelo espelho. Ela estava juntando nossos nomes? ­O que ela queria? O que aquilo significava? — Sou... Rynna...

Pisquei, e a coisa não estava mais lá. Meus instintos relaxaram instantaneamente. Em choque, deslizei para o chão do banheiro, com minhas mãos segurando firmemente a toalha que me cobria. Balancei a cabeça freneticamente, tentando me livrar da sensação de perigo que tinha tomado conta de mim. Eu jamais havia me sentido tão indefesa em toda a minha vida. Aquela... Coisa... Era perigosa?

{...}

            {Loki, God of Mischief}

“Observei atentamente seus enormes olhos psicodélicos, eles me arrastavam de volta para o campo de batalha de um Ciclo passado, momentos de guerra, sangue e caos. A enorme criatura escamosa abriu a boca gigantesca, porém, ao invés de misericordiosamente findar minha existência, ela apenas permitiu que seu veneno entrasse em contato com a minha pele. Jamais sentira dor tão excruciante quanto aquela.

Gritei e chorei até que não houvesse mais ar em meus pulmões, até que minha garganta secasse completamente de tão rouca, até que as únicas gotas que percorressem meu rosto não fossem lágrimas, mas sim, veneno. Até ficar no limiar entre a vida e a morte, a loucura e a sanidade. Meu corpo e minha mente foram quebrados e desfeitos de incontáveis e inomináveis formas.

Eu desejava a morte, porém ela desdenhava a mim. Eu estava sozinho. Até que meus olhos cegos voltaram a enxergar e uma cascata ruiva cobriu minha visão. Os gritos de Sigyn acompanhavam os meus, a mulher segurava uma bacia de cobre para evitar que o veneno da serpente me atingisse diretamente. Eu via sua pele imaculada se desprender do corpo onde o veneno alcançava, assim como já havia acontecido com a minha.

Foi a coisa mais corajosa e altruísta que já vira em todas as minhas vidas”.

Abri os olhos e me levantei com um pulo da cama, me sentando ereto. Estava no quarto. No apartamento de Midgard. Seguro. Meu corpo inteiro suava, meu cabelo quase pingava de tão molhado. Levei um segundo para compreender o que estava diferente. Havia um escudo mágico azul em forma de cúpula ao meu redor. Meus olhos se fixaram na porta. Sigyn me observava em frente à porta aberta, com as mãos erguidas e trêmulas e suor em seu rosto. Sua camisola de seda vermelha estava colada ao corpo pelo suor. Seus olhos estavam brilhando em azul, o que significava que ela projetara o escudo ao meu redor.

Eu senti você, Loki. — Sua voz cansada parecia abafada devido ao escudo. – Tive que contê-lo. Suas emoções se descontrolaram, isso desestabilizou sua magia.

Respirei fundo passando as mãos por minha face. Não estava molhada devido ao suor, mas sim por... Lágrimas. Não me recordava da última vez que chorara devido a um pesadelo. Ergui o rosto e estiquei as palmas das mãos, sentindo o quanto a energia de minha magia estava instável. A aura de minha magia me rodeava, contida pelo escudo. Um leve brilho esverdeado delatava sua localização, ela me rodeava como uma cobra, serpenteando sobre a superfície do escudo, apenas esperando que Sigyn fraquejasse tempo o suficiente para que fosse liberada para o mundo. Recitei os mantras que Frigga me ensinara enquanto absorvia a magia de volta ao meu âmago. Engoli em seco, com um gosto amargo na boca. Magia era revigorante quando liberada, mas poderia ser desagradável quando absorvida. Quando tive plena certeza que havia absorvido totalmente a magia de dentro do escudo, assenti levemente para Sigyn, que desfez seu escudo. Os joelhos da ruiva cederam, e ela se deixou desabar no chão, respirando fundo.

Me levantei, segui até a deusa e tirei alguns fios de cabelo de seu rosto, analisando suas feições.

— Sigyn? Sinto muito, de verdade. Como você está se sentindo? – Ela grunhiu, colocou a mão sobre seu ventre e se encolheu, com as sobrancelhas franzidas e a boca contraída soltando gemidos de dor. A segurei em meus braços e a coloquei em minha cama. Sua respiração estava irregular. Me ajoelhei no chão ao seu lado, segurei sua mão firmemente. – Sigyn?...

Ela apertou minha mão e tentou forçar um sorriso. Ela estava exausta. Me conter havia consumido muito de sua força, concentração e do seu mana.  Peguei um copo de água da mesa de cabeceira e acariciei gentilmente seu braço direito.

— Beba um pouco de água e descanse. – Disse, gentilmente. Ela anuiu debilmente e, com o que parecia um esforço imenso, se sentou na cama. Coloquei o copo em suas mãos e ela sorveu o líquido rapidamente, de olhos fechados. Sua respiração ainda estava irregular. Ela colocou o copo de volta na mesinha e acariciou minha bochecha. Suas sobrancelhas se franziram com preocupação:

— V-Você está bem? – A ruiva estava arfante. Tirei sua mão de minha bochecha e a segurei entre as minhas. Meus olhos percorreram sua face, suada e cansada.

— Eu sinto muito, Sigyn. De verdade. Eu não... – Engoli em seco, levemente atordoado pela lembrança do último Ragnarök. Sigyn e eu condenados naquela maldita caverna... Vê-la sofrer por sua lealdade a mim sempre me afetara. Ela era importante demais. – Eu devia ter previsto isso. Devia ter me controlado. Sempre consigo conter minhas memórias, mas hoje...

— Ninguém consegue manter tudo para si, Loki. – Murmurou ela enquanto aninhava a cabeça no travesseiro. – Não se torture por isso. És o feiticeiro mais habilidoso que já conheci. – Ela sorriu uma última vez, com suas pálpebras quase se fechando. Sua cabeça cedeu, seus olhos se fecharam e seu corpo relaxou. Ela suportara demais. Se tivesse segurado o escudo por muito mais tempo, Sigyn poderia ter se ferido gravemente. Conhecendo a deusa, sabia que, se fosse necessário, ela lutaria por mim até seu último sopro de vida e utilizaria até o último resquício de sua magia. E, no fim, nunca se arrependeria por tais feitos.

Engoli em seco, desviando o olhar do belo rosto da Aesir. Eu não a merecia, nem nunca merecia sua amizade. Porém, não era altruísta o suficiente para negar sua companhia, sua simpatia. E, por motivos desconhecidos a mim, Sigyn não me odiava, nem “apenas tolerava” a minha presença, como os outros deuses. Ela realmente queria estar comigo, queria ser minha amiga.

Me levantei do chão, peguei uma manta e a cobri. Desenhei uma runa de cura na palma da mão de Sigyn e então a deixei no quarto. Me teletransportei para o terraço e mudei minha aparência, assumindo uma aparência feminina, com longos cabelos negros, boca carnuda e curvas acentuadas. Alterei minhas roupas de acordo com minha nova aparência, elegantes e reveladoras. Conhecia exatamente a mente certa para manipular, se obtivesse sucesso, logo Katherine voltaria para mim e assumiria seu destino de uma vez por todas.

Chequei meu celular recém-adquirido e procurei pelo perfil de Katherine no Instagram. Sua foto de perfil era quase hipnotizante – ela estava deitada, com os cabelos espalhados pelo que parecia ser neve. Tudo parecia ser em preto e branco, seu cachecol cinza rodeando o pescoço era o máximo de vestimenta que era possível ver. O mais incrível não era o fato de sua pele branca quase se camuflar na neve, nem o contraste com sua cascata de fios negros. Tudo era em preto e branco, exceto por seu batom intensamente vermelho e seus olhos verdes vibrantes. Engoli em seco, aqueles olhos conseguiram covardemente capturar minha atenção. Era ainda mais frustrante do que tentar desvendar seus desenhos! Alguma parte de mim ansiava por desvendar todos os seus olhares, suas palavras, suas ações. Eu estava pronto para ver suas outras fotos, quando notei meus dedos agora mais finos e minhas unhas mais compridas. Meu disfarce. Claro. Eu tinha uma missão a cumprir.

Não demorou muito para encontrar o perfil certo. Chequei a informação que procurava, e um pequeno sorriso surgiu em meus lábios. Bem na hora. Me teletransportei para a rua, chamei um táxi e informei o endereço. Quando cheguei à porta, o grande tumulto de midgardianos bêbados me esperava. Entrei naquele antro de caos e perdição, e todo aquele cheiro de suor, fumaça e álcool de alguma forma era acolhedor para mim. Quando aquela mistura de fragrâncias chegava às minhas narinas, uma parte irracional de meu ser parecia rugir, declarando que aquele território me pertencia.

A música alta abafava todo e qualquer tipo de tentativas de conversações, a não ser por pessoas obstinadas a pedirem mais petiscos, gomas de mascar e bebidas alcoólicas. Entrei no local, e minha aparência logo despertou a atenção de alguns machos e fêmeas humanos. Era divertido o quanto os pensamentos das humanas eram mais criativos do que os dos humanos. Elas já imaginavam cenários e situações um tanto peculiares envolvendo homens apenas baseado na quantidade de roupas de outra mulher. Isso quando suas palavras para a mulher em questão não eram até mesmo cordiais quando, na realidade, seus pensamentos gritavam coisas indiscretas e seus instintos tentavam, de alguma forma, entender a ameaça que aquela mulher representava na caçada à um homem.

Sorri de lado para um grupo de mulheres que me avaliava, em seguida entrei com passos confiantes. Meu andar era constante e tranquilo, afinal, apesar de mal ter um espaço de um braço entre uma pessoa e outra naquela multidão, os humanos inconscientemente me repeliam, assim, saíam do caminho para que eu caminhasse tranquilamente até o bar. Eu sentia muitos olhares em mim, porém, não me sentia intimidado, muito pelo contrário! Aquilo era como uma massagem ao meu ego e de quebra também despertava um pouco do meu lado exibicionista. Fazer com que as outras pessoas perdessem o fôlego era uma de minhas inúmeras especialidades.

Joguei meus longos cabelos pretos para trás com um sorriso confiante e ordenei minha bebida, avaliando a atração principal da noite. Duas fêmeas e quatro machos ocupavam o palco. Ergui as sobrancelhas pela performance de Henry, era como ver um pavão abrir as asas e desfilar como uma modelo da Victoria’s Secret. Um comando telepático simples fez com que seus olhos cruzassem com os meus por cerca de três segundos – tempo mais do que suficiente para plantar em sua cabeça que seria eu quem ele levaria para casa depois do show.

Um meio sorriso sedutor de minha parte foi o suficiente para convencê-lo de maneira definitiva. Enquanto ele continuava o show, me servi de uma série de bebidas para me distrair. Fiquei levemente frustrado pelas bebidas mais fortes dos humanos nem sequer me fazerem ficar tonto; porém, o que mais esperava? Nada se comparava ao hidromel asgardiano. Trinta minutos se passaram até o show acabar.

Segui para os bastidores, e não demorou muito para que o vocalista viesse até mim como um cachorrinho, tropeçando em seus próprios pés. Aquilo seria fácil demais. Não estava interessado em suas memórias ou em seus pensamentos desesperados, então o fiz ficar calado por todo o caminho até seu prédio, fazendo-o ligar o rádio e cantarolar as músicas nele. Tentei não revirar os olhos quando sua mão segurou meu joelho enquanto ele dirigia o carro. Um pavão, sem dúvida.

Quando chegamos à porta de seu apartamento, minhas garras se cravaram em sua mente, minha magia serpenteava por seu corpo. Ele engoliu em seco, sem tempo de reagir. Seus olhos se tornaram sobrenaturalmente esverdeados, indicando que sua mente passara para o meu domínio. Ele abriu a porta e entramos, não me dei ao trabalho de retornar à minha forma masculina. Me aproximei do homem, olhando no fundo dos seus olhos.

— Agora somos só nós dois, meu caro Henry. – Um pequeno sorriso vingativo surgiu em meus lábios ao pensar em minha armadilha. A humana voltaria depressa, rastejando aos meus pés. Henry seria a isca perfeita para isso.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Não tem ação neste capítulo, por enquanto, só estou colocando algumas mudanças em relação ao andamento da história. Muito obrigada por lerem Liars and Killers!



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