Liars and Killers escrita por A Lovely Lonely Girl


Capítulo 34
Capítulo 30


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, pessoal! Peço desculpas por demorar tanto tempo para postar o capítulo, na verdade o capítulo inteiro teria sido só a parte da Kate, mas achei insuficiente. Perdi um pouco de cílios, mas consegui passar nas provas da faculdade, graças a Deus. Terminei a saga Corte de Espinhos e Rosas e me apaixonei profundamente por ela (pelo menos pelos primeiros 4 livros) e estou muito feliz porque finalmente vou me arriscar e escrever um livro totalmente original meu de fantasia, me desejem sorte!

Não há palavras suficientes para agradecer o quanto o apoio de vocês é e sempre foi fundamental para que eu continuasse escrevendo. Se não fossem pelos primeiros comentários de A História Não Contada de Apolo e Ártemis, não tenho certeza se continuaria escrevendo. Me dá um prazer enorme relembrar e sentir no coração o orgulho de inventar algo e ser bem acolhido por vocês.

Antes, eu me sentia vazia, sem rumo. Era uma criança de 13 anos que gravava músicas do rádio e, quando as escutava sozinha no quarto, sentia como a protagonista de uma história que ainda estava incompleta. Me aquece o coração pensar que, ao deixar minha timidez de lado e começar a escrever e deixar que as pessoas lessem, eu não esperava uma retribuição, não esperava frutos do meu trabalho. Eu sou inteira e imensamente grata por esse tempinho que vocês me dão de presente ao ler a história. Não exijo comentários, votos, nem nada disso. Só de pensar que tem alguém do outro lado dessa tela ansioso para saber como termina, para escutar o que eu tenho pra dizer, para mim, já é o melhor presente que eu poderia receber. Vocês são incríveis. De verdade! ♥

Agora, vou agradecer à todos que interagiram no último capítulo. ~ le eu indo pegar a listinha~

Do Wattpad: Agradeço à @MarinaBotelho5 @DayFagundes @lokideus @BiaHiddlesBarnes887 @sinoartx @AlineFranco3 @Taydias33 @8verdadesdeMilla

Do Social Spirit: Agradeço à Sakusasu4ever

Espero que gostem desse capítulo. Muito obrigada por lerem Liars and Killers!



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{Katherine Adams Kohls}

“O sangue de George respingava por minhas mãos quando eu lhe deferia mais um soco, e outro, e outro. Eu sentia a textura de seu cabelo, grudado em meus dedos em meio a todo aquele sangue. Um sorriso enorme e maligno estava colado em meu rosto, principalmente quando peguei a pequena faca de manteiga, sem ponta ou serra, e a enfiei em sua coxa. Seu grito agonizante teria preenchido meus ouvidos se eu não o tivesse amordaçado. Eu estriparia aquele verme humano como o porco inofensivo que ele era”.

Olhei para o sangue em minhas mãos, sentindo náuseas poderosas. Eu não devia ter checado o ferimento em minha cabeça tantas vezes, não devia ter me desesperado por estar sangrando e deixado que minhas mãos ficassem sujas. Rapidamente, peguei o balde de lixo aos meus pés e inclinei minha cabeça sobre ele, depositando todo o meu almoço ali. Eu já nem sentia a ardência dos remédios que Banner aplicava em minha cabeça para fechar o machucado que fiz quando Natasha me chutou forte demais na parede para me afastar de Luke.

A partir do momento que Steve me arrastou para fora da sala de tatame, eu não conseguia ouvir nada, minha mente estava distante, amortecida. Eu apenas vira os borrões de branco que eram os jalecos dos três cientistas do laboratório – e, dos três, Steve dissera só para Banner ficar.

Meus olhos ardiam assim como minhas narinas ao sentir o cheiro que vinha dos remédios, era mais forte até do vômito que eu havia despejado no balde. Limpei minha boca com um guardanapo de papel que enfiara no bolso e o joguei no lixo. Eu estava tão cansada sentada naquela cadeira, queria tanto dormir... Fechei os olhos, sentindo meus músculos implorando para que a tensão deles cessasse. Assim, o enjoo passaria, ficaria tudo mais calmo e distante e...

— Não durma. – Disse a voz de Banner, séria e concentrada em meus ferimentos. Suas palavras fizeram minha postura enrijecer, deixei meus olhos bem abertos. Baixei os olhos para as minhas mãos repletas de sangue seco. – Não olhe para o sangue, ou vai vomitar de novo. – Franzi o cenho. Ele achava que eu tinha aversão à sangue? Ele não sabia nem da metade da história! Sangue ou agulhas não reviravam minhas tripas, mas a lembrança da noite em que Kitty me fizera matar George, sim.

— Não se preocupe, doutor. Não sou tão fraca quanto você pensa. – Rebati, mas minha voz não soou tão ríspida quanto eu pretendia. Eu estava distante, entorpecida, porém meus sentidos voltaram a focar na realidade, no que me cercava. Por quanto tempo eu havia ficado entorpecida por meu próprio remorso de quase ter matado Luke?

— Bem-vinda de volta, Katherine. – Seu tom de voz se tornou um pouco mais gentil. Ele prosseguiu, com calma. – Que bom que você se recuperou do choque. Steve te trouxe aqui, ou melhor, te arrastou até o laboratório e me pediu para dar um jeito nas suas feridas. – Franzi o cenho.

— Vocês não têm uma enfermaria aqui?

— Claro que temos, mas ela fica um pouco mais longe. – Por que ele me mandaria para o laboratório se havia uma enfermaria no prédio? A resposta era óbvia demais.

— Ele mandou você ficar de olho em mim, não foi? – Perguntei, exausta. O doutor parou de aplicar mais um remédio na ferida por um instante, e suspirou.

— Ele me pediu isso, sim. – Respirei fundo. – O que aconteceu lá, afinal? – Eu me lembrava exatamente da sensação. Eu queria abrir a garganta de Lucas com o bastão e vê-lo convulsionar afogado no próprio sangue. Aquilo teria arruinado tudo para mim, e eu estava ciente de que eles estavam mais perto de descobrir sobre Kitty, sobre o quanto eu poderia ser perigosa. Eu não me importava mais, não ligava para as aparências que tinha que manter. Desde o apartamento, toda aquela fachada de garota bonitinha e perfeita parecia uma perda de tempo e energia. Que eles descobrissem o que eu era, assim como Loki o fizera. Que me chamassem de aberração, como o deus me chamara.

— Eu quase matei o meu amigo. – Olhei para frente, para as tabelas químicas e para as cadeias de DNA que estavam na tela plana mais próxima. – Eu não consegui me controlar, e quase matei um amigo. – Banner riu com amargura.

— Esse é um sentimento que eu infelizmente conheço. – Fez-se silêncio por alguns segundos. Bruce Banner... Ele com certeza compreendia, ainda que fosse de uma maneira diferente. Ele sabia o que era perder o controle para alguém mais forte do que ele. Será... Será que eu podia dizer a ele? Ou me julgaria logo de cara e seria ríspido comigo, como quando ele me evitava? O que havia mudado, para que ele parasse de ser tão hostil em relação a mim? Decidi me arriscar, mesmo que, no fim, ele me olhasse como uma maluca psicótica.

— Como você... – Minha voz era um sussurro, e limpei a garganta para falar com mais clareza. – Como você controla a sua mente? Como você luta contra ele... Lá dentro?

Bruce parou de mexer em meus ferimentos e deu a volta da cadeira, se aproximando de mim. Ele empurrou com o pé o balde de lixo no qual eu havia vomitado e se agachou, me olhando nos olhos. Engoli em seco, observando seus olhos castanhos por detrás dos óculos.

— Você é bem mais do que eles pensam que é, não estou certo? – Engoli em seco, e Banner suspirou. Aquilo foi um “sim”. Para minha surpresa, ele retirou um pano branco do bolso de seu jaleco e começou a limpar minhas mãos, sujas de sangue seco. – Escute, menina... – Seus olhos me encararam por cima das lentes dos óculos. Ele, assim como eu, tentava encontrar as palavras certas para explicar o que acontecia dentro de sua cabeça. – Não é fácil... Exercer o controle. Não o tempo todo. É impossível de controlar o tempo todo. No meu caso, o... Hulk – ele deu um meio sorriso, mais para si mesmo do que para mim. – é parte de mim, eu o aceitei dessa forma. Eu aceitei sua raiva, e fazer dela minha me ajudou a entender as transformações. A evitá-las também.

Sentir raiva o tempo todo apenas para evitar que o monstro saia da jaula. Se isolar para evitar se envolver demais e arriscar machucar as pessoas. Aquele era o fardo de Bruce Banner. Segurei suas mãos entre as minhas, meus olhos estavam embaçados pelas lágrimas que se acumulavam.

— Eu sinto muito, Bruce. – Minhas mãos estavam trêmulas. – Então... Então esse é o meu destino? – O homem olhava para mim sem um pingo de julgamento em seus olhos. – Se eu não puder controlar Kitty... – As lágrimas desciam pelas minhas bochechas. – Se eu tiver que viver sozinha para proteger aos outros... Isso me destruiria!— Eu implorava, segurando suas mãos entre as minhas. O moreno tinha os olhos fixos em mim. – Minha força vem daqueles que me cercam, daqueles que precisam de mim, que me querem em suas vidas. Se eu tiver que abandoná-los para protegê-los, Kitty se tornará invencível!

Banner se levantou calmamente e em silêncio e voltou a checar a minha cabeça, em seguida passou uma gaze algumas vezes e jogou tudo o que era descartável no lixo. Eu definitivamente havia falado demais, porém, não me importava. Desde a tragédia do apartamento, desde que sentira na pele o perigo que corria, não me importava mais em dizer todos os meus segredos, em revelar os aspectos mais obscuros de meu ser. Que se danem as mentiras, os segredos e os julgamentos.

— Tudo pronto por aqui, Katherine. Pode se levantar. - Limpei as lágrimas de minhas bochechas e me levantei.

— Muito obrigada, doutor Banner. Obrigada por me contar sobre o Hulk. – Sorri com sinceridade. – É bom saber que você encontrou uma equipe para fazer parte. Que não precisou mais ficar sozinho. – Banner indicou uma mesa de metal fria.

— Vou precisar ver suas costas também, Steve me disse que o bastão a acertou. – Assenti e me sentei na mesinha. – Pode tirar a camiseta por favor? – Eu hesitei, envergonhada. Ele foi gentil ao dizer: – Não se preocupe, não olharei mais do que o necessário. Prometo. - Eu tirei a camiseta e a segurei cobrindo meus seios sob o sutiã. – Agora vou tocar em você para verificar a gravidade, tudo bem?

— Não é nada, Bruce. – Murmurei, olhando sobre o ombro. – O Luke só bateu o bastão com muita força nas minhas costas.

— Bem... – Senti seus dedos gelados pressionarem levemente o machucado, e suprimi um grito de dor. – Se tivesse sido um pouco mais forte, você poderia ter quebrado alguma costela ou até mesmo a espinha. – Engoli em seco e voltei a olhar para frente. – Eu não a julgo por ter se defendido, mesmo sendo apenas uma... Reação de Kitty. – Voltei a olhá-lo por cima do ombro:

— Como assim?

— Bem, ela é parte de você, não? – Ele pegou uma pomada e começou a passar em mim. Eu apenas o ouvia, atentamente. – Tudo o que você sente, ela sente. Tudo o que você ouve, ela ouve. Tudo o que você vê, ela vê. Vocês compartilham o mesmo corpo. Não me surpreende que ela tenha se defendido depois de sentir o impacto do bastão em suas costas. Afinal... – Voltei a olhá-lo, fascinada por seu ponto de vista. – Você ainda não é forte o suficiente para se defender sozinha. Ela tomou a responsabilidade como co-portadora do corpo e revidou o ataque.

Kitty... Havia se defendido quando se sentiu ameaçada. Ela havia me defendido, através de sua influência maligna. Se tinha uma forma distorcida da definição de ajuda, definitivamente era aquela.

— Isso... Já aconteceu com você? Com vocês, quero dizer. O Hulk...

— Antes de sequer pensar numa forma de controlar minhas transformações, eu era um suicida. – Disse Banner, friamente. Aquela palavra fez um arrepio desagradável descer pela minha espinha. – Eu daria a minha vida para não ter que viver mais com este tormento. Porém, sempre que eu tentava algo arriscado demais, ele tomava o controle e me impedia de conseguir. Afinal, não era ele quem desejava a morte.

— Mas você se reergueu, Bruce. – Murmurei, e seus dedos pararam de aplicar a pomada por um instante. – Você aceitou a fera dentro de si, aprendeu a conviver com ela. Você é brilhante. — Não consegui deixar de lado meu tom de admiração. Sorri para ele, o olhando por cima do ombro. – Como cientista e como pessoa.

Ele riu baixo, embaraçado. Em seguida, terminou de passar a pomada em minhas costas.

— Deixe secar. Vai se sentir anestesiada, essa pomada é quase uma morfina. – Assenti.

— Muito obrigada. Posso continuar sentada aqui?

— Claro. – Ele limpou a pomada das mãos com álcool, em seguida ficou à minha frente. – Então, quando os outros disseram que o Hulk era o seu Vingador favorito...

— Não era exatamente o Hulk. – Admiti, envergonhada. Um pequeno sorriso se formou nos lábios de Banner. – É raro encontrar alguém que compreenda. – Suspirei. Ele assentiu:

— Esse também é um sentimento que eu infelizmente conheço.

Lançamos sorrisos tristes um para o outro, aqueles olhos castanhos pareciam conhecer tão bem o tormento que me afligia.

Quem fez isso com você?— Me sobressaltei quando ouvi a voz de Pietro às minhas costas. Por onde ele havia entrado?

— Está tudo bem, foi só um acidente. – Respondi. Eu ouvi sua aproximação às minhas costas, quando seus dedos me tocaram, apesar da dor intensa que senti, os pelos da minha nuca se eriçaram.

— Eu poderia socá-lo tão rápido e com tanta força que as tripas dele cairiam para fora. – Sua voz era surpreendentemente sombria.

— A Kate deu conta dele. – Interrompeu Bruce, com um sorriso gentil para mim. Ele voltou a encarar o sokoviano. Eu queria tanto agradecer a Banner, por tanto... Ele nem se dera conta, mas, desde que Kitty surgira, eu me inspirava nele, no controle que ele exercia sobre o Hulk. Ou, ao menos, que tentava exercer.

— Se serve de consolo, quase fiz o meu melhor amigo sangrar até morrer por ter feito isso comigo. – Estiquei as costas, sentindo uma sensação gostosa de amortecimento onde antes sentia dor. Santa pomada. – A propósito, muito obrigada por cuidar de mim, Bruce. – Sorri para ele, que retribuiu o sorriso. Eu coloquei a camiseta e desci da mesa. Pietro me observava atentamente. Bruce seguiu até o outro lado do laboratório e ficou concentrado em uma tela de computador, dando um pouco de privacidade a nós dois.

— Pelo visto, o beijo te afugentou, não foi? – Pietro sorriu calmamente, mas aquela pergunta foi como um chute no meu estômago. – Não te vejo há uma semana. Você tem me evitado, Kate?

Me senti zonza com tantas perguntas. Eu estava tão concentrada em mim, em Kitty, na mudança de apartamento, em Pandora, em cortar minhas ligações com os asgardianos... O beijo parecia algo distante naquele momento. Franzi os lábios, pensando no que dizer. Fechei minhas mãos em punhos e olhei em seus olhos infinitamente azuis.

— Eu precisei de um tempo... Para assimilar tudo o que tem acontecido comigo nesses últimos dias. Minha mãe veio para a cidade e acabei brigando com a minha amiga com quem dividia o apartamento... Agora estou morando com o Luke. – Ele cruzou os braços. – E... Eu comecei a fazer terapia. Foi bom colocar os pensamentos em ordem. E eu... Bom, meu humor não estava dos melhores, e não queria piorar mais a situação. Principalmente por causa da imprensa. – Sua expressão se tornou séria.

— A imprensa? – Ele deu um passo mais perto de mim. – A imprensa, Kate? Era com isso que estava preocupada? – O platinado balançou a cabeça, parecia indignado. Engoli em seco. – Inacreditável.

Me desculpe se não quero complicar as coisas para o seu lado, Pietro. – Respondi com teimosia. Seu cenho franzido me irritou profundamente. Cruzei os braços. – Imagine a histórias sórdidas que podem inventar sobre você, não quero que tudo piore. – Ele inclinou a cabeça para trás e suspirou.

— Katherine, foi só um beijo. Até onde eu sei, não é crime sermos flagrados nos beijando na frente das câmeras. – Para ele, tudo era tão simples e descomplicado. Eu admirava como ele conseguia não pensar no pior o tempo todo. – Além do mais, eles não têm nenhuma prova de que estou infringindo a lei. Especulações não ganham processos, Kate. – Felizmente, ele compreendia aonde eu queria chegar. Eu ainda tinha 17 anos, era considerada menor de idade. O que diriam dele estar saindo comigo, com mais de cinco anos de diferença entre nós?

— Eu não me arrependo do que aconteceu. Eu só não gostei de ter sido em frente às câmeras. – Franzi os lábios em uma linha fina. – Eu... Não estava preparada.

Humana patética e fraca.

Eu reconhecia a voz que sibilava no canto da minha mente. Trinquei os dentes, mentalmente gritando para que ela se calasse. Ela obedeceu, porém eu tinha certeza de que ela me atormentaria em meus sonhos à noite. Os olhos claros do Vingador me fitavam muito atentamente, como se ele quisesse saber o que eu estava pensando. Contive uma expressão de raiva. Eu não devia me lembrar que minha mente quase fora violada por três telepatas diferentes, assim como não devia me lembrar que todos eles agiam como se tivessem todas as respostas do Destino e do Universo, mas nenhum deles estaria disposto a revelá-las a nós, os pobres e ignorantes mortais.

— Eu consigo sentir a raiva fervilhando dentro de você. – Seu tom de voz era de quem queria fugir, mas continuava ali em consideração a mim. Ele esticou sua mão e, hesitantemente, segurou a minha. – Katherine, talvez você devesse me dizer o que está acontecendo. Para o seu bem. – Eu conseguia ver a compaixão e a honestidade em seu olhar, e naquele segundo me arrependi até meu último fio de cabelo por ter deixado que ele se envolvesse comigo. Asgard, Kitty, Loki, Sigyn e a própria maldita Magia... Eles haviam deixado uma marca em mim, aquela maldita runa de Odin havia deixado uma marca. Não importava onde estivesse ou com quem, Asgard sempre pairaria sobre mim como uma sombra.

— Existem mais pessoas com magia neste mundo do que a sua irmã, sabia? – As palavras saíram em disparada com amargor. Pietro ergueu as sobrancelhas, atônito. – Eu encontrei uma delas. E... Ela me estendeu uma pedra dourada, com uma runa no meio, mas não consegui identificar o que a runa dizia. – Mercúrio ficou calado como um túmulo, a confusão estampada em seu rosto. Minha mente estava acelerada.

Conte a eles o que você realmente é, Katherine. Seu corpo estará em um saco preto antes do almoço de amanhã, depois que a russa terminar de te torturar.

Respirei fundo, atenta ao aviso hostil de Kitty. Este era o corpo dela, ela estava tentando protegê-lo, ao mesmo tempo em que queria tomar o controle dele de mim. Eu tinha uma espada em meu peito e uma adaga às minhas costas, e me dei conta de que não dava a mínima para o que poderia me acontecer. Tudo o que eu sentia era uma bravura cega, sem cautela, e uma fúria tão potente e ancestral que alguma parte da minha alma sabia que aquela fúria já estava em mim bem antes do meu nascimento. Ela fora gravada no meu espírito, e agora instigava a minha mente e reverberava em meus ossos, lutando para se libertar.

Pietro segurou meus braços quando sentiu que eu estava tremendo. O que estava acontecendo? O que... O que Loki tinha feito comigo? Meu coração acelerava cada vez mais, eu sentia meu sangue fluir pelo meu corpo, e a sensação me fez querer coçar a pele dos meus braços até sangrar. Eu via pequenas faíscas brancas e douradas pelo canto dos olhos, e observava os cantos da sala rapidamente, tentava piscar com força para que elas parassem, mas elas não sumiam!

— Katherine, acalme-se. Está tudo bem. – Mercúrio apertou um pouco mais firmemente os meus braços, mas eles não chegavam a doer. Trinquei os dentes. – Olhe para mim. Por favor. – Fixei meu olhar no seu. – O que aconteceu quando você pegou a pedra?

— Houve um clarão e depois... – As faíscas não sumiam, mesmo eu piscando com toda a força.

Eu poderia parti-lo ao meio só por estar me segurando desse jeito.

Balancei a cabeça violentamente, tentando fazer com que as faíscas sumissem, com que a voz dela parasse. Me desvencilhei das mãos do Vingador e comecei a coçar a parte interna dos meus braços com força, deixando minha pele marcada pelo caminho das unhas num tom de rosa vívido. Passei a cambalear para trás, me afastando do homem de cabelos brancos, que chamava meu nome repetidas vezes. Eu coçava e grunhia entre dentes trincados, meus olhos estavam irritados pelas faíscas. Pietro me segurou antes que eu esbarrasse em uma mesa com tubos de ensaio. Comecei a tremer, lágrimas escorriam pelo meu rosto.

— Meus olhos! Tem essas... Essas faíscas... Faça parar! Faça parar! – Banner se aproximou e segurou meu braço direito com força.

— Katherine, acalme-se.— Comecei a soluçar.

— Eu vou ficar cega! Cega! — Comecei a me debater, os dois Vingadores segurando meus braços. – Foi aquela pedra! Aquela runa maldita vai me cegar!

Acalme-se, garota tola!

Kitty sibilou tão alto que pareceu ecoar em minha mente. Senti ficar sem ar, minhas tripas se reviravam. Gritei quando comecei a enxergar tentáculos de sombras cobrindo a minha vista, extinguindo as faíscas douradas. Sentia os tentáculos sob a minha pele, anestesiando a coceira constante.

Mesmo de olhos abertos, enxerguei a escuridão tomar conta de meus sentidos. Pisquei os olhos com força, a escuridão tomara conta de mim, era tudo o que enxergava. Depois, consegui ver normalmente, as faíscas haviam sumido, juntamente com o meu enjoo e o meu desconforto nos braços.

Problema resolvido! Agora cale-se! Ou farei com que se coce tanto que cortará os pulsos com nada além das próprias unhas roídas!

Fiquei tão chocada que parei de me debater, e apenas olhei para frente, de olhos arregalados e boquiaberta. Eu deveria estar tremendo de medo... Mas não estava. Eu sentia como se os tentáculos de escuridão estivessem por debaixo de minha pele, mas não me faziam mal. Aquela escuridão... Estava controlada em meu corpo. Parecia que eu as controlava. Fazia eu me sentir bem.

Não, não, não. Não vou deixar que leve o crédito pelos meus poderes, garota gananciosa. Aceite a sua condição de criatura fraca e inferior, ou eu farei sua alma em pedaços.

Me virei para Bruce, os olhos arregalados eram um alerta silencioso do quanto ela era perigosa. Do quanto eles precisavam me enjaular para que Kitty não fosse solta. Eu não estava totalmente ciente do quão fácil foi para Kitty se comunicar comigo, o quão fácil havia sido para mim conversar mentalmente com ela. Aquilo só provava que ela não era apenas uma criatura sedenta por sangue, mas que tinha uma consciência própria. Aquela runa... Havia me mudado, a parte de meu espírito que estava trancafiada fora solta. Loki provavelmente não esperava que afetasse Kitty também, mas era o que tinha acontecido. Éramos perigosas demais para ficarmos livres. Mantive meu olhar em Banner, depois de nossa conversa, ele entenderia. Ou, ao menos era o que eu esperava. Ele havia compreendido de verdade. ele sabia na prática o que era aquilo, eu sentia que só ele poderia me ajudar a vencer Kitty.

Banner me soltou quando sentiu que minha respiração se tornou estável, mas Pietro continuou me segurando.

— O que foi isso, Katherine? – Questionou ele, olhando de Bruce para mim quando percebeu meu olhar fixo no doutor. Banner tirou o jaleco e pendurou-o em uma cadeira, em seguida colocou o paletó e pegou sua carteira.

— Leve-a conosco. – Disse Bruce, me indicando com a cabeça para Pietro. – Vamos.

— Aonde vamos? – Minha voz não passava de um sussurro. Os dois estavam mortalmente concentrados e sérios. Não sabia o que esperar. Bruce suspirou e olhou para nós dois por cima de seu ombro, seus óculos refletiram o brilho das lâmpadas fluorescentes.

— Ao Refúgio.

{...}

{Loki, God of Mischief}

Os cabelos ruivos de Sigyn caíam como cascatas de fogo por brilharem sob a luz safira de sua magia. Seus olhos estavam fixos nas Runas de Adivinhação à nossa frente. Por segurança, deuses só podiam consultá-las jogando-as na Grande Pedra da Floresta do Eco. A floresta não ficava em um lugar específico, já que fora criada somente por pura magia. Apenas os deuses e mestres em magias rúnicas a conheciam, e havia um bom motivo para isso.

Não demorou muito para que eu ouvisse gritos e risadas de crianças vindos do meio da floresta. Respirei fundo, me preparando para o que veria. Era uma invasão de privacidade pronunciarmos o nome de Katherine ali, já que a Floresta reproduziria suas memórias até que partíssemos. Logo, as crianças correram de dentro da floresta para a nossa direção, ambos usando fantasias extravagantes e derrubando doces de suas mochilas pelo caminho.

A garota pálida de olhos verdes usava um coque alto na cabeça, um vestido preto até os joelhos adornado de símbolos de baralho nas cores vermelha e branca, com meia-calça branca e sapatos pretos de verniz. Havia uma coroa com corações vermelhos no coque e um cetro dourado de 60 centímetros em sua mão. Em sua boca havia um coração vermelho pintado e em suas costas, uma mochila em formato de coração.

O garoto loiro gordinho vestia um macacão laranja e preto, botas pretas e uma espécie de bandana com uma placa de metal com um símbolo preto no meio. Ele havia pintado o que parecia bigodes de gato na bochecha, três riscos pretos em cada. Ele carregava uma mochila preta nas costas. Não demorou muito para que as crianças começassem a falar.

— Luke, você tinha que ter vindo como meu cavaleiro de espadas! – Reclamou a pequena Katherine.

— EU NÃO, SAI FORA! Prefiro muito mais o Naruto! Ué... Você não ia vir de viking nesse Halloween, Kate?

— Ia, mas a minha mãe não deixou. Eu infernizei a cabeça ela por isso, e aí ela me prometeu que vai deixar só quando eu for mocinha. – Ela fez um biquinho e ficou emburrada.

— Mas então por que você não veio de princesa? Você adora a Branca de Neve!

— EU NÃO SOU SÓ UMA PRINCESA, LUCAS! Eu falei para minha mãe que se eu não fosse viking eu seria, no mínimo, uma rainha! RAINHA! COM COROA E TUDO!

Eu estava dividido entre sorrir ou revirar os olhos diante de tal lembrança. Aquele era exatamente o tipo de coisa que Katherine diria. Embora tivesse ficado mais insegura com o tempo, certos traços de sua personalidade persistiam, como sua obstinação. Isso, somado com seus princípios morais irredutíveis, a tornavam uma pessoa honesta consigo mesma e difícil de ser ludibriada ou confundida.

Logo, as crianças saíram correndo para o outro lado da floresta e voltei a prestar atenção nas runas de Sigyn. Ela já havia jogado as runas tantas vezes com tamanha agilidade que era difícil acompanhar suas interpretações. A deusa murmurava consigo mesma enquanto jogava:

— O lobo e a serpente juntos... Visco queimando... Uma arma vinda da escuridão... – Arregalei os olhos, tentando decifrar o que aquilo significava. O Destino mandava mensagens confusas para aqueles que tentavam lê-lo, então não poderia interpretar as palavras de Sigyn com segurança. – Uma coroa... Dois amantes... E morte.

A luz de sua magia cessou, e a observei atentamente. Ela franziu o cenho e os lábios, encarando as pedras com desgosto.

— O que viste? – Questionei. Seus olhos se fixaram nos meus.

— Ela não nasceu neste Universo. Nem na nossa Realidade. – Franzi o cenho, pronto para começar a perguntar, porém ela me cortou. – Ela não nasceu aqui. Ela foi encontrada e trazida até aqui. – Seus olhos estavam carregados de desprezo quando olhou para mim. – Ela foi feita por Bruxas. Teve que ser. Por sua culpa, Loki. – Engoli em seco diante do olhar mortal que a ruiva me dirigia.

— Mas o que... O que eu teria feito de tão grave se a humana não existisse no nosso Universo?

— Não estamos aqui para ver quais caminhos você tomaria. E o que eu vi é... No mínimo, alarmante. No máximo, uma catástrofe. – Seus olhos claros se fixaram em uma versão da Katherine como criança que estava ao lado da Grande Pedra, uma menina ao lado de uma pilha de livros sobre mitologia nórdica. Katherine os devorava com voracidade. – Eu ao vi ao lado de Fenrir e Jörmungand.

Um arrepio desagradável se embrenhou em mim ao me recordar de Jörmungand no último Ciclo. Eu já havia provado daquele veneno, assim como Sigyn, então compreendíamos o quanto aquela informação era grave.

— Então... Ela será a ruína dos deuses? – Murmurei, observando a pequena leitora. Ergui uma sobrancelha com um leve sorriso nos lábios. – Será um jogo interessante, suponho. Muito interessante.

— Ela não pode ser manipulada, Loki. – Alertou Sigyn. – E Katherine com certeza não é e nem será um joguete em suas mãos. – Passei a língua sobre meu lábio inferior, o sorriso desafiador não desapareceria tão cedo de minha face:

— É o que veremos, Sigyn.

— Ela não é forte o bastante para escapar de sua própria ruína. – Sussurrou a deusa, em tom angustiado. – Kate ainda... Não está pronta para assumir seu Destino. – Seus olhos se fixaram nos meus. – Tem que ajudá-la, Loki. Só assim conseguirá enxergar as intenções das Bruxas que a criaram.

— Se Katherine não pertence ao nosso Universo, não seria mais seguro para nós se a matássemos? Você a viu ao lado das criaturas do Ragnarök, não foi? Se interferirmos agora, talvez evitássemos que o Ciclo se repita. Podemos ser imortais. – A ruiva recolheu as pedras que foram utilizadas e as guardou em uma bolsa de couro azul celeste.

— Acredito que não seja assim tão simples, Loki. – Seus olhos passaram a analisar as várias versões de Katherine que surgiam à nossa volta. Suas orbes se fixaram em uma lembrança com a própria deusa – ela e a mortal cantavam alegremente segurando microfones em suas mãos, vestindo pijamas. Sigyn franziu os lábios e respirou fundo. – A imagem que vi me mostrava que aqueles monstros a respeitavam... Como uma igual. E se, ao invés dela liderá-los contra nós, ela os convencesse a pararem o Ciclo de uma vez?

— Ela... Nos salvaria? – Balbuciei, atônito. Senti raiva se agitar dentro de mim. – Aquela mortal patética não é forte o suficiente para tal coisa! Fenrir e Jörmungand jamais a enxergariam como uma igual! Essa imagem foi projetada pelo Destino para nos enganar!

— E se não foi, Loki?! – Rebateu Sigyn. – E se ela realmente for tão poderosa que as criaturas a respeitassem? Ela foi trazida por Bruxas, afinal. É nossa missão descobrir o porquê.

— E a coroa? – Ela passou a massagear as têmporas com os polegares e indicadores.

— A coroa ainda é... Uma interpretação subjetiva. Incerta. Ela pode existir ou não, depende do curso que Katherine escolher. Nesse caso, há a possibilidade de ela conseguir uma coroa.

— Isso está ligado aos amantes? Ela se casará com um príncipe? – Não me surpreenderia se ela o fizesse, na verdade. As garotas de Midgard eram frequentemente incentivadas a acharem um “príncipe encantado”, desde muito pequenas. Katherine poderia muito bem seguir a instrução de forma literal. Sigyn balançou a cabeça em negação:

— Ela será uma rainha. Sem um rei. – Ergui as sobrancelhas para a deusa, que se concentrou em abrir o portal de volta para o apartamento. – Sobre a última interpretação... Eu a vi morta sobre um piso de mármore branco.

— Quantos anos ela parece ter na imagem? – Questionei, me dirigindo ao portal. Sigyn se posicionou ao meu lado. Quando ela olhou para mim, vi lágrimas em seus olhos.

— Dezoito.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam do capítulo? Muito obrigada por lerem a história! Como depois de 10 capítulos eu abro para perguntas para os personagens, por ser dezembro, planejo fazer um especial de Natal da história.

— Todos os personagens da história podem responder às perguntas.

— Desta vez, poderão ser até 10 perguntas por leitor e 1 desafio.

P.S.: Se a pergunta for muito direta sobre o futuro da história, farei o possível para não dar spoiler.

Planejo postar até o dia 27 (domingo), então vou correr para escrever e deixar tudo bonitinho até lá! São 3 semanas par enviar as perguntas, estou muito ansiosa pela participação de todos vocês!

Muito obrigada por lerem a história! Aguardo ansiosamente para escrever o próximo capítulo! Mil beijos!

"Às estrelas que ouvem e aos sonhos que são atendidos." - Sarah J. Maas



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