Liars and Killers escrita por A Lovely Lonely Girl


Capítulo 32
Capítulo 28


Notas iniciais do capítulo

Primeiro, eu gostaria de agradecer de coração a todas as pessoas que lêem essa história. Vocês não fazem ideia do quanto é importante o apoio de todas vocês, e isso me deixa tão imensamente feliz que me sinto honrada com cada comentário aqui ♥

Segundo, gostaria de agradecer aos users do Wattpad @lokideus @sinoartx @BiaHiddlesBarnes887 pelos comentários ♥

Um quick update: me senti muito inspirada nesses dias, e resolvi escrever esse capítulo pequeno, mas agradável. Espero que gostem. Um beijo.

P.S.: Comecei "Corte de Espinhos e Rosas" ontem, estou amando o livro e super recomendo!



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{Katherine Adams Kohls}

              Comecei a organizar as caixas no quarto, ainda havia algumas pequenas coisas a serem levadas do apartamento de Sage ao apartamento da tia Sarah e do Luke. O loiro entrou pela porta, trazendo consigo mais uma caixa grande com roupas para serem colocadas no guarda-roupa. Abri a caixa e comecei a pendurar minhas roupas.

              - Kate, tem certeza de que quer ficar aqui? E se você não ficar confortável? – Tentei sorrir para Lucas de modo a tranquilizá-lo, afinal, tínhamos nossas desavenças, mas nos preocupávamos um com o outro.

              - Está tudo bem, Luke. Acho que será bom que eu fique aqui. – Disse, ajeitando mais roupas nos cabides. – Se não for incomodar, claro.

              - Kate, você sabe que já é da família. – Ele entrou e começou a me ajudar com as roupas.

              - Eu sei, mas não quero ficar dando trabalho para a sua mãe. – Lamentei.

              - A sua mãe faria o mesmo por mim. Somos uma família, mesmo que não seja de sangue. Você não achava mesmo que a minha mãe iria te deixar voltar para a casa dos seus pais só porque não deu certo o apartamento da Sage, não é? – Suspirei.

              - Tudo o que eu sei é que aqui será melhor para mim. – Me sentei na cama, sem travesseiros ou lençóis. – Eu briguei com o Thomas, ele disse coisas horríveis para mim. Minha mãe ficou tão brava que se intrometeu. Agora... – Olhei para as minhas mãos. – Bem, acho que agora estou com um amigo a menos. – Sorri tristemente para o loiro, que cruzou os braços. Ficamos em silêncio por um tempo, até que ele o quebrou:

              - Se uma amizade é tão frágil que não sobreviveu a uma briga, será que ela realmente valeu a pena, desde o começo? – Comprimi os lábios. De certa forma, eu não ligava para o que Loki pensava de mim. Mas isso não significava que eu não ligava para ele, afinal, eu estava tão entretida, determinada a descobrir o que nos unia... Até que, de todas as palavras, ele escolhera aberração. Não “criatura”, não “monstro”. Aberração. Respirei fundo. Eu havia me esquecido de não baixar a guarda perto dele, havia esquecido sua habilidade de ser tão cruel com as palavras.

              - Se valeu a pena ou não, agora cabe ao tempo dizer. – Olhei para Luke, parado aos pés da cama. Eu ainda tinha meu orgulho, e estava farta dos problemas temperamentais do asgardiano. Loki sempre me deixava às cegas, nunca me revelava as coisas mais fundamentais, como o motivo de sua perturbação, ou o que ele já sabia sobre mim, ou sobre o destino. – Não serei eu a ceder e pedir desculpas, e temos coisas mais importantes para nos preocupar. – Lucas assentiu.

              - Falando nisso... O Tony Stark sabe sobre a história da bolsa... – A expressão debochada dele completava a frase por si só: “a história que você inventou?”.

              — Ele adicionou o número dele quando devolveu meu celular. – Dei de ombros. – Deixei o recado com a Sexta-Feira. Não vai demorar muito para ele saber. – Até que eu fora convincente, teria que sustentar a história. E, no fim, eu sabia que adoraria descobrir mais sobre Asgard e seus guerreiros. Os deuses nórdicos, as criaturas, a magia e o poder... As histórias sempre me fascinaram.

              - Sobre o Pietro... – Fechei os olhos, comprimindo os lábios. Aquele era um assunto sobre o qual eu não queria falar. Toda aquela situação era humilhante, principalmente com a imprensa no meio; não queria causar problemas. – Wow, foi mal assim? – Assenti, em seguida respirei fundo.

              - Me afastarei dele. – Balancei a cabeça. Sentia calafrios só de pensar nas histórias sórdidas que poderiam inventar contra o Vingador. Eu não o prejudicaria por minha causa, não mais do que aquele beijo já faria. – Foi uma ideia tola, desde o início. Como se ele e eu... Como se fosse dar certo. – Eu me controlei, não queria falar com a voz embargada.

              - Entendo... – Singer me avaliou cautelosamente. - Acho que pior do que ter um relacionamento mais íntimo e se decepcionar é ter que romper algo que nem sequer aconteceu direito. – Respirei fundo, minhas mãos tremiam. - Você se pega imaginando as possibilidades, como teria sido se tivesse dado certo... Se não tivesse desistido. – Era normal sentir o coração se apertar? As palavras dele faziam sentido. A única coisa que eu fiz foi respirar fundo. Eu não sentia vontade de chorar, sentia apenas uma angústia inexplicável dentro do peito. Era só arrependimento e angústia... Não era? Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha.

              - Eu só quero ser feliz, Luke. – Olhei para as minhas mãos. Como explicaria? Sentia em meu âmago, já era hora de admitir o que estava implícito em mim, em meu coração. – Eu não... Eu me sinto uma garotinha boba ao dizer isso... Ao sentir... Isso... – Encarei seus olhos claros, cheios de atenção. Antes, acreditava que, se não dissesse, não seria real. Que admitir, nem que fosse só para mim mesma, seria uma fraqueza, uma derrota. Mas, naquele momento... Percebi que a única maneira de superar seria admitindo, falando em voz alta. – Eu só quero alguém que me ame como eu sou. – As palavras quase me fizeram sobressaltar, principalmente por eu tê-las dito com confiança, não como uma lamúria. - Alguém que... – Não, eu não choraria. Minha voz estava vacilando um pouco. Respirei fundo, as lágrimas ainda em meus olhos. Sentia alívio em meu peito, mas a dor também estava ali. – Alguém que queira ser amado por mim. – Fechei as mãos em punhos, tentando controlar meus tremores, em vão. - Que não tenha medo do meu amor. Que não tenha medo... De quem eu sou.

              Os soluços irromperam de meus lábios, as lágrimas os acompanhavam. Lucas me rodeou com seus braços esquisitos malhados de academia e me abraçou.

              - A vida não é fácil, Kate. É ainda mais difícil se passar o seu tempo se remoendo, pensando em amar e ser amado. – Ele acariciou minha cabeça, beijou a minha testa até que eu me acalmasse. Quando parei de chorar, passei a secar minhas lágrimas freneticamente com as mangas do suéter preto. O loiro segurou meus braços e sorriu gentilmente. – Está tudo bem, você vai ficar bem, com ou sem alguém para amar romanticamente. – Seus olhos fixaram-se nos meus. – Faça o que você gosta, persiga seus sonhos. A pessoa certa aparecerá no meio do caminho, quando você menos esperar. Além do mais, você tem muitas pessoas que te amam por quem você é, que estarão sempre ao seu lado, não importa o que aconteça.

              Seu sorriso era tão confiante e doce que me joguei em seus braços, abraçando-o com força. Luke riu, afagando desajeitadamente meu cabelo. Um sorriso surgiu em meu rosto.

              - Obrigada, Luke. Você é um amigão. – Ele afagou minhas costas.

              - Tudo bem, Kate. Estarei aqui. Quando precisar.

{...}

 

              Respirei fundo quando observei uma última vez o cartão. O endereço estava certo, e esperava mesmo que essa Pandora me ajudasse com meus problemas. Steve parecia muito confiante quando me indicou aquela “terapeuta”, então, não queria desapontá-lo. Era um prédio pequeno, mas luxuoso, com apenas três andares. Pilastras gregas em toda parte, uma escada alta com cobras de mármore decorando o corrimão saudava os visitantes. Me apressei em entrar, incerta do que encontraria. As portas eram negras, com lindas flores azuis pintadas nas bordas.

              Abri relutantemente a porta, esperando uma espécie de recepção dos consultórios. Ao invés disso, vi que o piso também era de mármore, parecia um enorme tabuleiro de xadrez. Um lustre de cristal brilhava sobre a luz do sol da sala bem-iluminada, as cores do arco-íris refletidas nas paredes do lugar. No canto direito, havia uma escada idêntica à da entrada, porém, as cobras pareciam serpentear do corrimão até o chão. Aquelas cobras pareciam de jade. Observei em volta, apreensiva. Não havia móveis, pessoas, nem sequer um barulho... Até que vi uma poltrona de veludo verde e dourada no canto mais distante da sala. Me aproximei, levemente hesitante. Em cima da poltrona, estava uma almofada preta com palavras bordadas.

              Abrace-me e espere.

              Bufei, levemente irritada, quando senti um calafrio leve atravessar minha espinha. “Mais uma entidade mágica se exibindo”, pensei. Revirei os olhos. Segurei a almofada, me sentei na poltrona e a abracei, me sentindo uma idiota. Então, esperei.

              E esperei, e esperei...

              Segundos, minutos... Eles me deixariam esperando por horas?

Meus olhos pesavam, meus músculos relaxavam devagar, minha visão parecia uma névoa repleta de sonhos maravilhosos que seriam projetados pela minha cabeça... “Não!”; rugiu algum lugar obscuro da minha mente, “Não a minha mente!”.

              Me sobressaltei, arregalando os olhos, lufando por ar. Eu senti como se alguém, alguma coisa tivesse chutado meu torso com toda a força, me obrigando a ficar acordada. Quando me dei conta, a almofada fora parar do outro lado da sala, minha testa estava encharcada de suor e minhas unhas estavam cravadas nos braços da poltrona. Meu coração estava disparado, ouvia um zumbido em minha cabeça.

              Olhei em volta, procurando o responsável. Se ele queria brincar comigo, eu também sabia um truque ou dois. Sorri maliciosamente. Entrar em minha mente era impossível, ao menos três telepatas já haviam tentado – e todos haviam falhado.

              Me levantei da poltrona com um salto, rindo com escárnio. Eu não permitiria que um ser mágico covarde invadisse meus pensamentos, não depois de tudo o que aconteceu naquele maldito apartamento de Sigyn. Minha mãe havia morrido pela magia descontrolada, enquanto eu testemunhava, patética, impotente. Embora ela tivesse ressuscitado sem se lembrar do que lhe ocorrera, somente aquela demonstração de magia fora o suficiente para mim. Para o inferno com os truques e feitiços. Cruzei os braços e gritei para o topo da escadaria:

              - Você vai se apresentar ou vai me fazer ficar esperando aqui o dia todo?

              Silêncio. Comecei a bater o pé no chão, o eco do barulho preenchia a sala. Minhas sobrancelhas estavam franzidas, quando um vulto vermelho surgiu na escada e desceu em alta velocidade, passando ao meu lado. O vento jogou meus cabelos desajeitadamente para o outro lado, e trinquei os dentes, com raiva. Quando me virei, não havia nada ali. Tentei segurar um rosnado, mas, ao invés disso, coloquei as mãos na cintura e fiz uma coisa que eu não fazia havia muito tempo – um escândalo.

              - PUTA QUE PARIU, EU ESTOU DESPERDIÇANDO A PORRA DO MEU TEMPO ESPERANDO AQUI FEITO UMA IDIOTA E VOCÊ AINDA QUER FICAR BRINCANDO COMIGO? EU NÃO SOU NENHUMA COBAIA PARA VOCÊS, SEUS SERES MÁGICOS DE MERDA! SERÁ QUE VOCÊS PODEM RESPEITAR ISSO UMA VEZ NA VIDA?

              — Então você já encontrou outros seres mágicos antes? Interessante. – Uma voz feminina falou, bem atrás de mim. Fechei a mão direita em punho e me virei, pronta para socar o que quer que fosse. Minha garganta ardia pelos gritos que havia dado, mas parecia que minha alma havia sido milagrosamente lavada.

              Era uma mulher uns dez centímetros mais alta que eu, negra, seus cabelos cor de prata eram cheios e cacheados. Ela era alta e esbelta, com seios quase inexistentes, mas curvas de dar inveja a qualquer um. Usava um vestido de gazar vermelho forrado, com brincos, colar e pulseira de pérolas brancas. Em seus dois pulsos havia tatuagens prateadas como seu cabelo. Seus olhos tinham cílios espessos, além de um pequeno aro prateado entre as írises negras e as pupilas.

              Estava na cara que ela era sobrenatural. Bufei e revirei os olhos, me sentindo ranzinza. Meu bom humor e boa vontade pareciam ter sumido. Meio a contragosto, estiquei minha mão:

              - Muito prazer, meu nome é Katherine...

             - Katherine Adams Kohls. – A mulher linda sorriu. – Steve Rogers me indicou.  – Me mantive inexpressiva enquanto tentava não repreender a mulher por ter me interrompido.

              - Aparentemente, por mais que se achem superiores, os seres mágicos magicamente se esquecem de exercer um mínimo de educação... – Murmurei. Eu estava tão farta daquela postura de “Eu-entendo-mais-que-você” que eles exalavam.

              - Disse a garota humana que começou a xingar e arrancar os cabelos porque não queria esperar demais. – Rebateu ela. Contive um sorriso. Eu não queria me entender com ela, não queria aceitá-la, não desde o começo. Já havia me ferrado muito por gostar de seres mágicos logo de cara. Suas tatuagens prateadas brilharam, em um segundo estávamos em um cômodo diferente. Era um escritório, com um sofá aconchegante demais e uma poltrona em frente a ele. Na mesa de centro, havia canecas de chá fumegando e biscoitos amanteigados em um pote de vidro. A mulher tomou seu lugar na poltrona e indicou o sofá, repleto de almofadas:

              - Por favor. – Tirei minha bolsa do ombro e me sentei, deixando-a ao meu lado. Olhei para a mulher, que não demorou a falar. – Meu nome é Pandora, e meu trabalho é ajudar pessoas, ouvi-las e aconselhá-las para que suas vidas fiquem mais... Fáceis, vamos dizer assim. – Ela me observou com um meio sorriso. – Confesso que fiquei ansiosa para conhecê-la, pois não gosto de esconder a minha natureza mágica o tempo todo. É tão mais fácil quando meus clientes já sabem desse meu outro lado! – Clientes, não pacientes. Não sabia o que dizer, então apenas assenti, sem vontade. Meu humor estava realmente péssimo. – Então... – Começou ela, e ergui uma sobrancelha. – Podemos começar? – Suspirei exasperada, e assenti mais uma vez. – Pode começar me dizendo o porquê do Capitão América te dizer para vir até mim? De onde vocês se conhecem?

              Pelo menos uma pergunta que não seria tão complicada de responder.

              - Eu sou a recruta dele. Quero dizer, o Steve é responsável pelo meu treinamento na SHIELD. – Ela ergueu as sobrancelhas. – Ele é legal, sabe? Os Vingadores também são. Eu os conheci faz algum tempo e... Espera, você vai contar isso a alguém? As coisas que eu falo? – Ela ficou séria.

              - Tem a minha palavra, Katherine, de que nada que disser sairá desta sala. Ninguém jamais saberá do que quer que diga aqui. Sabe o que significa, não sabe? – Neguei com a cabeça, e ela sorriu. – Significa que, quando estiver disposta, pode se abrir comigo.

              Semicerrei os olhos para ela, a examinando. Bem, se eu queria testar sua discrição, eu tinha exatamente a coisa certa a dizer. Que se danem as consequências.

              — Eu também conheço deuses. Já conheci e convivi com três deles, para ser exata. – Ergui o queixo, mas Pandora não pareceu se surpreender, e me dirigiu apenas um sorriso educado.

              - Três asgardianos... Impressionante que ainda esteja viva, garota. – As lembranças do caos do apartamento voltaram à minha mente, e engoli em seco.

              - Por pouco. – Sussurrei, colocando a mão sobre o colo inconscientemente. – Se ela notou minha alteração de comportamento, fez a gentileza de não questionar. Ao invés disso, prosseguiu:

              - Asgardianos possuem uma estranha tendência a atraírem problemas. Não me admira que esteja tão irritada, eu também quereria arrancar meus cabelos se tivesse que lidar com um asgardiano, agora imagine três! — Ela balançou a cabeça. – O Destino deve gostar muito de você, menina. – Dessa vez, não consegui conter um pequeno sorriso.

              - Eu gostaria de pensar que sim... Não fosse meus outros problemas. – Seus olhos estavam fixos em mim, e silenciosamente me incentivavam a continuar. Ri nervosamente. – Não sei por onde começar... Acho que o problema começou quando... Eu sofri um acidente de moto. Eu fiquei em coma por um tempo... Quando acordei, era como se eu não fosse mais eu mesma. – Suspirei. – Eu tenho uma teoria ridícula de que eu desenvolvi um tipo de dupla personalidade, mas é diferente. – Franzi o cenho com desgosto. – Às vezes, eu me sinto outra pessoa, mas não uma pessoa inteira.— Pandora franziu os lábios e assentiu lentamente.

              - Você poderia me explicar essa sensação, Katherine? – Foi a minha vez de franzir os lábios, relutante. – Conseguiria ao menos tentar? – Suas feições se suavizaram. – Caso não queira, não há nenhum problema. Eu respeito o seu tempo, e diria que já foi um grande passo você se abrir comigo e contar sobre os asgardianos. – Seu sorriso era sincero, ela não estava mentindo para mim.

              - Realmente... O máximo que pode acontecer é você me jogar num hospício mesmo, mas hoje em dia nem ligo mais. – Respirei fundo, tomando fôlego. Como explicar a ela tudo o que eu sentia? A sensação de ter Kitty em mim, como um fantasma no canto da minha mente, observando cada passo, à espreita para me derrubar? Tentei o meu melhor:

— Eu... Não sei como explicar direito. Então, pode me perguntar se não entender alguma coisa. – Pigarreei, me preparando. – Quando... Quando eu acordei, depois de um tempo, eu sentia que tinha outra pessoa na minha cabeça, como um sussurro constante para tudo o que eu pensava, o que eu fazia. – Me recostei mais no sofá, me abraçando sem perceber. – Essa não é a pior parte... O pior eram... São... Os pesadelos. São nítidos, reais, e tão selvagens que parecem ser capazes de quebrar o meu espírito. – Engoli em seco, sentindo um gosto amargo na boca. – No começo, foi mais difícil. Eu tinha medo de dormir, então as enfermeiras e os médicos me prescreviam sedativos.  – O ar parecia mais denso, e passei a respirar lentamente por alguns segundos. – Mas depois... Bem, eu achava que estava ficando mais forte, até que... Aquilo... Aconteceu. – Meus olhos começaram a marejar, fora de controle. Minhas mãos se contorciam e puxavam as mangas do suéter. – E-Ela... Ela me fez fazer coisas terríveis. – Voltei a olhar para a mulher à minha frente, seus olhos transpareciam sua calma excessiva, o que era estranhamente reconfortante.

— Ela te forçou a fazer coisas que você não queria? – Assenti, extremamente nervosa.

— Ela me fez assistir. – As sobrancelhas de Pandora se ergueram mais uma vez. Coloquei meus pés em cima do sofá e abracei meus joelhos. – Kitty tomou o controle do meu corpo enquanto eu dormia, grogue de sedativo. Ela tomou o controle, e eu não conseguia recuperar. Ela fez tantas coisas... Ela manipulou pessoas próximas a mim, me afastou das que eu mais amava. – As lágrimas caíam sem parar, mas eu não me importava. Ninguém entendia, eu nunca explicara nada a ninguém, apenas sofria em silêncio. – Ela... – Engoli em seco, um soluço fez meu corpo estremecer. – Até mesmo minha virgindade... — Eu era incapaz de continuar, ódio e dor preenchiam meu peito. Forcei-me mesmo assim, quase incapaz de falar pelo choro. – Ela t-tomou o controle do meu corpo... A minha primeira vez não foi escolha minha!— Pandora pressionou os dedos em sua boca e sussurrou:

— Pelos Deuses Antigos... – Ela me observou novamente, alerta e repentinamente preocupada. – Katherine, eu sinto...

— Ela me fez matar alguém. – Cortei-a, todos os meus segredos jorravam de minha boca. – Ela arquitetou tudo, tudo, e depois executou seu plano. – Um grito gutural irrompeu da minha boca, e comecei a chorar incontrolavelmente. Em frente a uma estranha. Que poderia ser uma feiticeira espiã que só queria tirar informações de mim e levar à SHIELD. Me levantei bruscamente, limpando as lágrimas nas mangas do suéter, e disse apressadamente, após pegar a minha bolsa. – Eu sinto muito, não devia ter vindo. Não queria incomodá-la. Obrigada por ter me ouvido.

— Katherine, não precisa ficar assim. Olhe... – Meus pés foram mais ágeis, e logo eu estava na porta, girando a maçaneta; quando me inclinei para fora do cômodo, Pandora se projetou à minha frente, sem dizer uma palavra. Ela abriu os braços, seus olhos eram mornos e acalentadores como a luz de uma lareira em um dia frio. Sem pensar duas vezes, me choquei contra seu corpo, e ela rodeou seus braços ao meu redor. Meus soluços eram incontroláveis, eu finalmente havia me aberto sobre Kitty, revelado o quanto ela era perigosa, o quanto ela havia me machucado.

Eu deveria me sentir bem, aliviada por ter conseguido falar, mas tudo o que eu sentia era uma dor tão profunda e lancinante que me imobilizava, me esgotava. Eu sentia dor porque o meu problema persistiria, eu sabia. Ninguém era capaz de derrotá-la, ninguém conseguiria entrar em minha mente para tentar.

— Você vai sobreviver, Kate. – Seus braços se apertaram mais um pouco ao meu redor. – Tenho certeza. Você é a humana mais forte que já conheci. – Ri com deboche, me desvencilhando de seu abraço.

— Por um acaso já ouviu falar na Viúva Negra? Ou na Feiticeira Escarlate? – Sua expressão tornou-se séria e seus olhos faiscaram quando disse:

Você é a humana mais forte que já conheci. Porque, mesmo tendo que combater diariamente todo esse inferno mental, você ainda é capaz de ser gentil. De se importar. E seguir em frente. – Ela segurou a minha mão. – Que o poder dos Deuses Antigos a abençoe e a guie em sua jornada. – Ela sorriu para mim. – Você é muito mais forte do que pensa, e sinto isso no cerne de minha magia. – Um sorriso resplandecente adornava seu rosto imaculado. – E as pessoas mais resilientes e mais gentis são as que alcançam a verdadeira felicidade.

Ofeguei, surpresa e aliviada ao mesmo tempo. Me lancei sobre ela, a abraçando, com olhos marejados:

— O-Obrigada, Pandora.

— Seja forte e não desista. Não importa o que aconteça.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Muito obrigada por lerem a história!



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