O Ritual escrita por Elliot White


Capítulo 13
Queimada


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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A saliva de Shalia ainda aquecia minha boca, fervente - eu nunca tinha beijado uma garota -, quando eu reuni minhas últimas forças para levantar-me do chão nevado e correr atrás da mesma, que havia virado as costas e se dirigia pelo caminho de volta, rindo incessante e sarcasticamente com uma voz feminina irritante e alta.
Agarrei sua perna por baixo do longo manto negro, estava usando sapatilha e uma meia calça de inverno, puxei tentando impedi-la de continuar, mas levei um chute no rosto em retorno; soltei um grito de lamento e sangue escorreu do meu nariz. Caí na neve de novo.
— O que pensa que está fazendo? Adão! - a bruxa gritou, e o capanga moreno e alto que estava conosco na afastada parte da floresta surgiu, me agarrando com seus membros fortes e levantando-me de novo.
— Sigam-me, eu quero que Becky veja isto. - a jovem forjou um sorriso falso e retomou sua caminhada, arrastando o manto na neve e deixando pegadas no branco por onde passava - traga-a Adão! E contenha esta selvagem! - ordenou em voz alta. Seguimos caminho pelo bosque de árvores coníferas e desfolhadas, nuas, enquanto eu tentava me soltar remexendo-me e protestando, sem sucesso.
Chegando ao destino, na frente da pequena casa dos irmãos, quase um chalé, estavam os membros da seita reunidos, Nestor ficava com Olga afastado como se a mantive-se refém, a paraplégica não iria a lugar algum sozinha. Quando eu vi Wendy, meu coração se partiu em mil pedaços. Ele estava imobilizado em uma árvore, provavelmente por magia já que Chris se situava em frente a ele, o observando enquanto o bruxo negro com as mangas de inverno arregaçadas o enchia de violentos socos no abdômen, desnudo; eles tiraram seus agasalhos e o deixaram sem camisa naquele frio de matar. Sua aparência era de quem havia levado uma surra, o olho roxo, hematomas no rosto e no peito nu, sangue escorria em sua pele branca e seus músculos rijos expostos.
— Não! - exclamei, quase chorando com aquela cena, e me culpando. Isso tudo era culpa minha.
— Calada, fofa! Não tem nada que você possa fazer! - Shalia afirmou, removendo novamente o capuz vermelho e revelando suas madeixas claras e volumosas, sua face ainda com um risinho mau estampado. A bruxa ergueu as mãos brancas e nuas para o alto e duas chamas se acenderam em cada uma, a vadia estava usando o meu poder. Não sei como aprendera tão rápido a controlá-lo, mas a marca da besta que ela mantinha no pulso, no mesmo lugar que eu, deveria estar expandindo-os.
— Os seus antigos poderes se resumiam em canalizar a energia que vinha de elementos do solo considerados inflamáveis, não é? Minerais, moléculas, petróleo, pólvora. Assim você os provocava e os fazia entrar em combustão e causava pequenos incêndios, não é Becky? - a líder da seita continuou, ainda empunhando a magia flamejante nos membros, eu a escutava descrever minha mágica a encarando nos olhos, ainda detida por Adão, sem nada dizer.
— Pois eu acho que você não os usava bem, por isso eu os tirei de você. E agora veja o que eu consigo fazer com eles. - a vaca continuou, desta vez virando-se de costas e se dirigindo ao casebre de Wendy e Olga, direcionando as chamas até a construção, lançando uma rajada dupla de tons amarelos e vermelho-alaranjados incandescentes, vindos de cada mão dela. O fogo logo consumiu o lar, me fazendo gritar negações enquanto lágrimas escorriam do meu rosto, era a casa deles, onde iriam morar agora? Eu não podia fazer nada sem meus poderes e meu corpo frágil, apenas assistir a esse horror. Shalia ria com gosto da situação e eu podia sentir o quanto Wendy e a irmã deviam estar arrasados e magoados com isso, apesar de não os estar vendo.
O incêndio só aumentava e pequenas explosões eclodiam pela pequena casa, logo se alastraria pela vegetação. Os integrantes da seita apenas assistiam, alguns com uma expressão de satisfação no rosto, riam e soltavam zombarias, a voz infantil de Olga pedia que parassem, mas foi em vão. Eu preferi fechar meus olhos a continuar vendo. O único que não devia estar compactuando com isso era Nestor, imagino. A esta altura o fogo já devia ter se inserido por todos os pertences dos irmãos, haviam perdido tudo. O branco da neve que cobria a paisagem agora se iluminava da cor das chamas. Perdi meus sentidos pouco a pouco, ainda nos braços de Adão.


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Notas finais do capítulo

Abraços e até a próxima!