A Prayer For The Heartless escrita por Izzy Aguecheek


Capítulo 13
[Bônus] Another Penny For The Selfish - Clary


Notas iniciais do capítulo

("Another penny for the selfish" significa "outro centavo para os egoístas". A frase foi retirada da mesma música que eu retirei o nome da fic - Caraphernelia, do Pierce The Veil: "nobody prays for the heartless, nobody gives another penny for the selfish" - e eu a escolhi porque o Jace e a Clary foram os que tentaram ajudar o Sebastian)
Ok, isso deve ser uma espécie de recorde xD mas escrever esse capítulo meio que me ajudou com uns paranauê, aí eu escrevi tudo de uma vez só no lugar de estudar pra prova de física de quarta-feira, yaaaay
Esse é o último, então... Eu tô bem na bad, mas, ao mesmo tempo, realizada, e só posso esperar que vocês gostem! Eis aqui o ponto de vista da Clary nos acontecimentos do capítulo 9, que retratou a relação entre a Clary e o Sebastian. Nos vemos lá embaixo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/646986/chapter/13

Se Clary tivesse demorado mais um minuto no banho, não teria ouvido o celular tocando, o que certamente a teria poupado de muitos problemas. Mas ela não havia demorado, e agora estava encarando o nome na tela acesa, tentando decidir se deveria atender. Parecia um absurdo que Sebastian ainda usasse o mesmo número desde o oitavo ano, quando ela salvara seu contato. Por fim, Clary pegou o telefone e apertou o botão verde.

 - Alô?                                                          

 Sebastian demorou alguns segundos para responder.

 - Oi. Sou eu.

 Ele soou cansado, como se tivesse envelhecido desde a última vez em que eles haviam se visto. Clary ficou imediatamente em estado de alerta.

 - Sebastian? Aconteceu alguma coisa?

 - A gente pode se encontrar em algum lugar?

 Não. Ela engoliu a resposta que surgiu automaticamente em sua mente, pensando na última vez em que conversara com o irmão. Em como ele saíra da casa dos Fray sem falar com ninguém. Em como Jocelyn ficara transtornada com isso, mas não comentara nada. Talvez aquele fosse o problema: ninguém realmente falava sobre Sebastian.

 - Sebastian, eu não sei se é uma boa ideia – Clary sabia que não era uma boa ideia, mas não precisava dizer isso; Sebastian também sabia. A resposta não demorou muito:

 - Por favor.

Foi o suficiente. No segundo seguinte, antes que pudesse parar para pensar no assunto, Clary se pegou perguntando:

— Onde?

Dessa vez, houve um minuto de silêncio.

— Não quero ir a lugar nenhum – disse Sebastian, por fim, e ela se encolheu, porque acreditou nele. – E se eu fosse te buscar e a gente... não sei. A gente podia dar uma volta.

Racionalmente, Clary sabia que deveria dizer não. Mas seu coração só escutava o desespero na voz de Sebastian, a forma como ele estava falando tão baixo que nem parecia que queria que ela ouvisse. Após uma pausa, ela disse:

   - Tudo bem – E, antes que pudesse mudar de ideia, desligou.

  Ela não sabia quanto tempo Sebastian demoraria para chegar até sua casa, então se arrumou às pressas – era só Sebastian, afinal. Decidiu esperar por ele do lado de fora, para evitar qualquer desconforto caso Jocelyn, que havia saído, voltasse mais cedo.

  Clary havia acabado de trancar a porta atrás de si quando um Porsche estacionou junto ao meio-fio. A janela do motorista se abriu para revelar Sebastian, caro e veloz como o veículo. O rosto dele estava desfigurado por hematomas, e ela hesitou por alguns segundos, perguntando-se se o culpado por aquilo era Valentim ou alguma outra pessoa, antes de entrar no Porsche. Era como entrar no ninho de uma ave carniceira exótica; o interior do carro parecia-se muito mais com Sebastian do que qualquer coisa na casa dos Fray ou dos Morgenstern poderia um dia parecer.

     - Oi – disse ele, sorrindo, inseguro.

   - Oi – respondeu Clary. Ela olhou para uma lata amassada jogada no chão aos seus pés. – Carro legal.

   - Valeu.

  Sebastian arrancou com o carro, sem parecer ter nenhum destino em mente, mantendo a velocidade exatamente no limite do permitido. Por fim, Clary disse:

   - Então, o que aconteceu?

  Era uma pergunta estúpida, e sua tentativa de soar displicente a fez soar ainda pior, mas ela não conseguiu pensar em outro jeito de começar a conversa. Sebastian fez uma longa pausa antes de responder.

  - Eu briguei com Valentim – Ele olhou para ela rapidamente. – E, bem, com o Jace. Mais ou menos. E com todo mundo, na verdade.

  Menos comigo. Não era que Clary não tivesse seus problemas com o irmão; ele simplesmente não parecia tão interessado em brigar com ela quanto estava em brigar com os outros. Considerando a forma como ele provocara Simon e depois Jocelyn na terça-feira, o temperamento explosivo de Jace e a frieza de Valentim, não era de surpreender que Sebastian tivesse brigado com todos eles

   Como se lesse seus pensamentos, Sebastian disse, defensivo:

    - Eu tive uma semana péssima. Só... Só isso.

   Por mais receosa que estivesse, Clary estava curiosa para saber aonde aquilo levaria. Ela pensou no lábio ferido de Sebastian na segunda-feira de manhã e no suspiro derrotado de Luke ao voltar depois de uma conversa com ele na terça, e concluiu que, por hora, não havia motivos para se alarmar.

    - Bem, o que você quer fazer, então?

    Ele piscou, surpreso. Parecia tão confuso por ter sido tratado como uma pessoa normal que Clary quase teve vontade de abraçá-lo. Todo mundo precisava de ajuda de vez em quando, imaginou.

    - O que você faz quando tem uma semana ruim?

    Clary deu de ombros.

    - Procuro revistas em quadrinhos. Vou tomar um café com o Simon – O nome de Simon lhe veio fácil demais, e ela hesitou, pensando em como Sebastian reagiria a essa facilidade quando ele não tinha com quem contar. – Converso com alguém sobre isso.

    - Não tem ninguém – Sebastian não olhou para ela ao falar, pelo que ela ficou grata; sua voz era baixa – mais do que isso, era pequena - e fúnebre, e Clary não queria ver o que havia em seus olhos. De forma quase ausente, ela percebeu que eles estavam quase na estrada interestadual. – Foi por isso que eu liguei para você.

    Ela não sabia como responder a isso.

    Bruscamente, como se tivesse batido em alguma coisa, Sebastian freou o carro junto ao acostamento, as mãos apertando o volante como se quisesse amassá-lo. Isso soou um alarme na cabeça de Clary, e, instintivamente, ela levou uma das próprias mãos à maçaneta da porta do passageiro, embora não tivesse real intenção de deixar o irmão sozinho naquele estado. Aquele Sebastian era um perigo para si mesmo, e especialmente para os outros.

    - Sebastian?

   Ele olhou para ela, e não havia nada ali.

   - O que foi?

  Clary engoliu em seco, respirou fundo e ergueu o queixo, do jeito que sua mãe fazia quando precisava lhe dar uma bronca particularmente severa.

 - Se você quiser que eu te ajude, precisa me contar o que está acontecendo. Eu não vou ficar brincando de adivinha o dia inteiro.

  Se você quiser que eu te ajude, precisa parar de me assustar desse jeito. Sebastian não estava acostumado a contar coisas para os outros, porque respondeu:

  - Por que você se importa, afinal?

  - Por que você me chamou aqui, então? – rebateu Clary na mesma hora.

  Eles se encararam, e, embora não houvesse mais o ruído do motor, ainda havia uma vibração quase elétrica no ar. Algo havia começado a surgir no fundo dos olhos de Sebastian, uma faísca para acender o pavio de uma bomba, mas Clary se recusou a desviar o olhar. Ela sabia o que ele estava pensando: que ela não entendia, porque a vida dela era perfeita, e que ela não se importava com ele, porque ele não era perfeito. Que o coelho não queria cuidar do lobo, e sim derrotá-lo.

  O olhar de Sebastian era um desafio a entendê-lo, e Clary não iria recuar.

  O olhar de Clary era um convite, e Sebastian treinara a si mesmo para recusá-lo.

   Por fim, sem virar o rosto, ele disse:

   - Porque eu ainda não briguei com você. Foi por isso.

 Não era muito, mas era um começo. Clary se permitiu relaxar, recostando-se contra a porta de modo a ficar de frente para o irmão.

  - Bem, acho que posso dizer o mesmo – disse. Sebastian desviou o olhar. Clary não se deu ao luxo de fazer o mesmo. Ela o estudou, dividida entre ser discreta ou não. Àquela altura, Sebastian provavelmente já sabia que os outros não conseguiam compreendê-lo. E provavelmente já estava cansada de todos lhe jogarem isso na cara. E, é claro, ele merecia ter isso jogado na cara.

  - Jocelyn ainda está com raiva? – perguntou Sebastian de repente, em voz baixa. Clary pensou em como a mãe ficara durante os dias que se seguiram à briga com Sebastian, calada, pensativa e ocasionalmente com os olhos inchados. Transtornada, essa era a palavra. Raiva passava rápido demais e limitava muito as possibilidades.

 - Ela definitivamente ainda está perturbada. Foi você quem quebrou aquele copo?

 Sebastian ergueu as sobrancelhas. Algo havia mudado em sua postura, e Clary torceu para que isso fosse um bom sinal e não a calmaria antes da tempestade.

 - Ela não te contou o que aconteceu? - Clary negou com a cabeça. Sebastian deu uma risada baixa, parecendo quase contente por um segundo. – Que... Tocante.

  - Você vai me contar? – perguntou Clary, hesitante. Ela sabia a resposta, mas fez questão de perguntar mesmo assim.

  Assim que as palavras deixaram sua boca, ela se arrependeu. Os ombros de Sebastian se tencionaram, e ele disse:

  - Não, acho que não. Acho que você pode imaginar o suficiente.

 Clary podia. Ela lembrou-se de quando tinha uns oito ou nove anos e Sebastian fora passar um final de semana em sua casa, dormindo no quarto de hóspedes, ao lado do de Jocelyn. Ele sempre ficara irritado com o fato de não ter um quarto só para si, e mãe e filha acordaram de madrugada com o barulho de Sebastian quebrando os enfeites de vidro sobre a prateleira. Quando fora até a cozinha depois da briga de Jocelyn e Sebastian na terça-feira, fora difícil não pensar nisso ao ver os cacos de vidro no chão. Ela nem precisou perguntar à mãe o que havia acontecido.

  - Ela não fala sobre mim, não é? – perguntou Sebastian, após um longo período de silêncio. Parecia resignado. – A Jocelyn.

 Não havia uma resposta para aquilo, então Clary apenas sacudiu a cabeça, esperando que o irmão não visse o gesto. Havia um deboche terrivelmente impessoal na voz de Sebastian quando ele tornou a falar:

 - Não sei o que é pior, se é quando ela fala mal de mim ou quando age como se eu não existisse. Mães não deveriam ser assim, não é?

 O sangue de Clary ferveu imediatamente. Filhos não deveria ser assim, também, ela quis gritar. Ou bater no irmão. Ela não era uma pessoa particularmente agressiva, mas defenderia a mãe com unhas e dentes, especialmente de alguém tão injusto quanto Sebastian.

 Tentando manter o controle, ela disse:

  - Ela não fala mal de você.

 Sebastian riu outra vez. Algo em sua expressão parecia familiar, e demorou um pouco para Clary perceber que ele era muito parecido com Valentim, exceto pelo fato de que, onde Valentim era educação e frieza, Sebastian era todo presas expostas e queimaduras ácidas.

  - Que ótimo. Então ela nunca se incomodou em explicar por que não me quer na casa dela, hein?

  - Não é tão difícil assim de imaginar, não é?

 A resposta saiu sem permissão, e Clary mordeu o lábio, impotente. Ela pensou em como Sebastian podia ser gentil quando queria, quando eram crianças e ainda tinham algo em comum. E no caminho que aquela criança ocasionalmente gentil percorrera para se tornar aquele vulcão prestes a entrar em erupção. E em como os dois eram parecidos com seus pais, brigando por coisas que nunca conseguiriam resolver. Tentando manter isso em mente, disse, com a voz mais suave que conseguiu:

  — Então, o que você pretende fazer?

  Sebastian hesitou.

  - Eu não sei. Eu não quero... não sei – Ele olhou de relance para ela. – Eu esperava que você tivesse alguma sugestão.

  Aquilo era demais. Ele a chamara para dar uma volta, ofendera sua mãe – a mãe de ambos, pelo amor de Deus – e agora estava pedindo um conselho. Tão típico. Tão Morgenstern, Jocelyn diria, e Clary acreditaria, porque Valentim fora um problema, e agora Sebastian era uma catástrofe.

  Mas, embora grande parte de seu cérebro quisesse mandar Sebastian ir tomar naquele lugar, algo a impedia: pela primeira vez desde que eram crianças, ela sentia que o irmão estava sendo completamente sincero. Ele finalmente estava admitindo que queria ajuda, e seria cruel demais simplesmente dizer a ele para jogar isso fora. Clary disse:

  - Sinceramente?

  - O que foi?

  - O primeiro passo é você parar de tentar arrumar briga comigo também.

  Sebastian virou a cabeça para o lado, como se tivesse levado um soco, e não respondeu. Clary não se arrependeu nem por um segundo; se ele ia ser honesto e confuso, ela ia ser honesta e direta.

  - Você ainda quer falar? – perguntou ela.

 - Por que? – retrucou Sebastian, voltando a olhar para a irmã. – Você quer ir embora?

 Clary apenas o encarou com firmeza. Ela queria ir embora, mas não sentia que conseguiria; estava presa naquele carro, naquela situação, como uma mosca presa na teia elaborada de uma aranha. Mas ela não ia ser o jantar.

 Sebastian suspirou, se virando completamente para Clary e esticando uma perna por sobre a marcha. Daquela forma, ele invadia parte do espaço pessoal da irmã, e ela se encolheu discretamente junto à porta.

  - Eu quero que você me diga qual é o meu problema – disse ele, quase com agressividade. Clary franziu a testa. Mas que diabos? Aquilo era mais do que sinceridade; era como se ele tivesse serrado as costelas ao meio e exposto seu coração, e ela não conseguisse sentir nada além de confusão e uma sensação vaga de asco.

  - O seu...

  - O meu problema, Clary. Eu quero que você me diga qual é – Não era um pedido; a rigidez em sua postura deixava isso bem claro. Era algo inegavelmente herdado de Valentim, e isso o deixava ainda mais intimidador. – E não me diga que eu não tenho um.

  Os Morgenstern eram ótimos em dar ordens. Mas os Fray eram péssimos em segui-las.

     - E o que te faz pensar que eu sei? – retrucou Clary.

   - E não sabe? – Ela ficou em silêncio. Sebastian sorriu, vitorioso. – Caralho, Clary. Você é mesmo a filha perfeitinha.

   Subitamente, Clary se deu conta de por que ela e Sebastian não brigavam tanto entre si: ele a invejava por ser como era e a odiava por ela conseguir vê-lo como era. Durante anos, Sebastian tentara conquistar um amor que Clary conquistara pelo simples fato de ter nascido. E Clary sabia que, embora ele negasse veementemente, ele se esforçara para isso mais do que para qualquer outra coisa. Ao chamá-la ali, Sebastian tinha duas coisas a provar para si mesmo: que ele não queria ser como ela, e que ela não queria que ele fosse.

     - Vamos lá – continuou Sebastian. - Não vai fazer essa maldadezinha nem por mim? Eu sei que você quer dizer – Como Clary não conseguia encontrar as palavras certas (e, mesmo que conseguisse, não saberia dizê-las da maneira certa), ficou em silêncio. Ele não se abalou; Clary desconfiava que, no fundo, ele já tinha sua resposta. – Todos vocês morrem de vontade de me dizer o que tem de errado comigo.

   Distraidamente, Clary se perguntou se era possível que, depois de todos aqueles anos sozinho com Valentim e seus próprios demônios, seu irmão tivesse enlouquecido.

   - Você pode falar o que quiser do meu pai, mas pelo menos ele teve coragem de falar na minha cara – Sebastian parecia quase febril agora. Seus olhos fitavam Clary, mas não pareciam vê-la; seu olhar queimava. – Mas acho que você puxou à sua mãe nisso, não é? Ela. O namorado dela. Seu amiguinho. Aquele seu namoradinho de merda. E você. Um bando de covardes.

   Foi a gota d’água. Ele não queria ajuda. Ela deveria ter sabido que não saberia como ajudar. Clary abriu a porta do carro e fez uma pausa para dar uma última olhada no rosto do irmão. Não tinha a menor intenção de encontrá-lo outra vez tão cedo.

    - Isso foi uma péssima ideia – disse, com toda a sinceridade, e saiu do Porsche.

   Segundos depois, a mão de Sebastian estava ao redor de seu pulso. Clary deu seu melhor para se desvencilhar dele. Quem ele achava que era?

    - Não me toque – vociferou. – O que você quer?

   Por um segundo, ela teve um vislumbre do Sebastian vulnerável que havia lhe implorado para se encontrar com ele. Então o segundo passou, e ele ergueu o queixo, exigente, um rapaz acostumado a conseguir o que queria por bem ou por mal, fosse o dos outros ou dele mesmo.

    - Você ainda não respondeu à minha pergunta – disse ele.

   Com um movimento brusco, Clary conseguiu livrar o pulso dele e virou-se para encará-lo, se preparando mentalmente para dar-lhe um tapa se ele encostasse nela novamente. Quando falou, mal reconheceu a própria voz, de tão irritada que estava.

    - Sabe qual é o seu problema, Sebastian? É que você escolheu ter um problema. Você simplesmente decidiu que ia... Que ia ser errado – Ela levantou a cabeça, desafiando-o apesar da diferença de altura. – Você não tinha que ser assim. Você escolheu isso.

   - É muito fácil para você falar – retrucou Sebastian. Sua voz estava mais baixa agora, mais dolorida, e o coração de Clary se apertou. Não só por ele, mas por ela, e por Jocelyn, e por quem eles poderiam ter sido. – Tudo é muito fácil para você, Clary. Você não teve que viver como eu vivi.

  - Você também não tinha – disse Clary. Sem perceber, ela também baixou o tom. – Não completamente.

 Eles ficaram ali por alguns instantes, apenas encarando um ao outro. Clary se perguntou como Sebastian a via ali, naquele momento. Porque ela o via como o irmão que poderia ter tido um dia, como alguém que poderia ter brincado com ela e com Simon e com quem ela poderia ter passado natais e aniversários. Como o filho para quem Jocelyn poderia ter cantado canções de ninar e de quem poderia ter fotos na sala. A imagem estava embaçada, sobreposta, como um reflexo em um vidro sujo, mas ainda estava ali. E Clary queria destroçá-la com as unhas, porque não era real.

  Por fim, à beira das lágrimas e sem conseguir aguentar a tensão, Clary disse:

   - Nós poderíamos ter sido amigos, Seb.

 O impacto contra seu rosto a pegou completamente desprevenida, e demorou alguns segundos para que ela percebesse que fora a mão de Sebastian que a atingira. Clary recuou um passo, trêmula, e Sebastian disse, como se fosse resolver tudo:

  - Não amigos. Nós somos irmãos.

 Clary olhou para ele, realmente olhou para ele, e o que viu a assustou. Ela não conhecia aquele garoto. Ela não brincara com ele no jardim da casa dos Fray, nem tentara mostrar a ele como desenhar uma flor com giz de cera, nem rira dele quando ele tentara lhe fazer uma pulseira da amizade. Ela não o conhecia.

 Enquanto corria pela calçada para longe ele, ela ouviu Sebastian gritar:

 - Diz pra sua mamãezinha que eu mandei um beijo!

Chorando de verdade agora, sem pensar e sem realmente tentar se impedir, Clary parou no meio do caminho e se virou para encará-lo. Com o queixo erguido e a voz entrecortada, berrou de volta:

 - Você não é meu irmão – Ela piscou para afastar as lágrimas, mas não se incomodou em secá-las com as mãos. – Você nunca foi.

 Então, Clary simplesmente foi embora. Na manhã seguinte, se sentiria incrivelmente culpada por não ter ficado, por não ter tentado, por ter desistido de Sebastian como todos os outros. Repetiria aquela cena milhares de vezes em sua cabeça, tentando descobrir o que tinha feito errado, o que poderia ter feito diferente. E choraria, exatamente como estava chorando agora, porque havia perdido seu irmão de novo, exatamente como perdera agora.

  Mas, no momento, tudo o que ela queria era voltar para sua família de verdade.

  Clary não viu quando Sebastian voltou para o carro. Nem quando ele deu a partida e dirigiu para a interestadual em uma velocidade criada para criar acidentes de trânsito.

   Ela simplesmente foi embora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu não revisei, só fiz agorinha e postei, então sintam-se livres para apontar qualquer erro que encontrarem, por favor.
Então, é isso. Meu Deus, é isso, e acabou. Muito obrigada a todos que acompanharam a fic até aqui, do fundo do meu coração, esse capítulo é dedicado a todos vocês



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Prayer For The Heartless" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.