Pov Ally

– Então, para onde vamos agora? – Perguntou Austin enquanto saímos do hospital.

A mulher que morava na nossa frente, Tracy, tinha levado eu e Austin para o hospital depois da explosão. Eu e Austin já tínhamos falado com os policiais e alguns bombeiros. Dizemos o óbvio: Eu e Austin tínhamos saído correndo de casa quando sentimos um cheiro de gás.

– Podemos ir para casa da Trish. – Dei de ombros. – Até amanhã a Space já vai ter outra casa e tudo mais organizado para gente.

Austin assentiu. Liguei para Dez e peguei o número de Trish. Depois liguei para ela e ela me passou o endereço. Eu e Austin fomos andando.

– Não acredito que só temos nossos celulares, o relatório e um bilhete. – Austin bufou. Suspirei e continuei olhando o céu enquanto caminhava. – Ally, nós temos que conversar.

– Eu concordo, devíamos falar para o Drake que temos que estar na missão das gangues e... – Tentei puxar outro assunto, eu sabia muito bem do que Austin queria falar. Avistei um parque e bufei, com certeza Austin me levaria para lá.

– Você sabe que eu não estou falando disso, Ally. – Austin disse, como se falasse com uma criança de sete anos. Ele foi em direção ao parque, eu bufei e o segui.

– Então não temos nenhum assunto. – Retruquei.

Austin se sentou num balanço e eu me sentei no outro.

– Ally...

– Austin, não. – O interrompi.

– Ally, esse foi um dia longe, nós quase viramos ‘’nevoa rosada’’, então só me deixa falar! – Bufei e encarei a grama, sentindo o olhar de Austin em mim. – Me desculpe, eu...

– Austin, você já pediu isso mil vezes. Eu não preciso de desculpas, preciso que o passado seja mudado. Suas desculpas não vão mudar o passado. – Engoli seco, sentindo meus olhos marejarem.

– Me deixa falar, Ally. Por favor. Depois disso você pode me ignorar o quanto quiser, eu não vou atrás de você. – Suspirei e me calei. Deixando-o continuar.

Pov Austin

Engoli seco e me preparei para falar tudo.

– Me desculpe por ter atirado, eu não sabia que era você, eu vi a silhueta de um homem. Então eu atirei. Eu não sabia que você estava lá, eu só não sabia. Você estava grávida de seis meses, e tinha ficado no nosso apartamento. Droga, Ally! Por que você saiu?! – Respirei fundo e passei a mão pelo rosto, exasperado. – Eu me senti culpado por semanas, ainda me sinto todo dia. Por Deus, Ally! Eu atirei na garota que eu amava, matei nosso bebê e perdi minha futura esposa. Na verdade, eu já tinha até comprado o anel. – Olhei para o chão e suspirei. – E então você ficou com gravidez psicológica, eu não sabia mais o que fazer. E quando tudo acabou você disse que me odiava e sumiu do mapa. Para onde você foi, Ally? Por que você sumiu? Você ficou longe da Space e dos seus amigos por três meses. Eu ligava para casa dos seus pais todos os dias e eles sempre me diziam que você não estava lá, mas que você ao menos enviava notícias. Até que eles pararam de atender. A última vez sua mãe atendeu. Eu me lembro até hoje do que ela disse. – Dei um sorriso triste, me lembrando do ocorrido.

FlashBack On

‘’Eu acabei de perder o pai da Ally, Austi. Eu o perdi por causa de negligência médica, ele só foi tirar um apêndice... – Ouvi a mãe de Ally soluçar, eu não tinha reação. Eu estava completamente num estado estático. - E eu o amava, muito. Ele foi o amor da minha vida, sempre será. Não importa quantas vezes eu e ele brigávamos ou quantas vezes cometemos erros. Um sempre corria atrás do outro. Corra atrás de Ally, Austin. Não importa o que aconteceu. Eu tenho que ir querido, Adeus.’’

FlashBackOff

– Eu tentei ligar depois de alguns dias, mas ninguém nunca mais atendeu. – Engoli seco. – Então, três meses depois da sua partida, você voltou. Você estava completamente mudada, Ally. Eu já seus olhos transmitindo muitas coisas: Felicidade, raiva, medo, tristeza, loucura, até mesmo fome. Mas quando você voltou seus olhos estavam... Vazios. Completamente vazios, quase como se pedissem por socorro. Com exceção de quando você olhava para mim, quando você me olhava seus olhos transmitiam... Ódio. Não uma raivinha qualquer, mas ódio. Eu lembro da primeira conversa que tivemos... Você cuspia as palavras em mim com tanto ódio. – Respirei fundo, ainda encarando o chão. – Então eu percebi. Não era só eu que tinha mudado, nós dois mudamos. Não éramos mais idiotas apaixonados. Tínhamos virado pessoas frias e duras. Então mais um tempo passou, nossas conversas não eram nem um pouco como antes, e isso me machucava. Mas você estava ficando melhor, aos poucos seus olhos pararam de pedir por socorro e começaram a brilhar de novo. E isso me deixava feliz, muito feliz. E eu quase não podia ficar perto de você. Então essa missão finalmente chegou, e eu pensei que finalmente podia voltar a ficar com você. Eu te magoei tanto, e eu me odeio por isso. – Tomei coragem e fitei Ally. Ela estava chorando. Ally estava fitando a noite e chorando, nenhum soluço saia da sua boca. - E eu sinto muito, muito mesmo por tudo que aconteceu. Eu entendo se você me odiar, porque eu também me odeio. Mas eu sinto muito, me desculpe, Ally. – Desci do balanço e me ajoelhei, de frente para ela. Ally me fitei, levantei a mão e limpei suas lágrimas, sorri ao notar que Ally não se afastou do meu toque. – Mas eu nunca deixei de amar você, acho que nunca vou deixar. Então Ally, eu ainda te amo e eu sou completamente apaixonado por você. – Segurei sua mãos e fitei seus olhos. – Volta comigo? Ou, pelo menos, não me odeia. Pelo menos seja minha amiga, podemos ir devagar, eu ainda te amo, Ally.

– Brasil. – Ela disse simplesmente.

– O quê? – Perguntei completamente confuso.

– Eu fui para o Brasil, ligava para os meus pais pelo menos uma vez por semana. Eu estava no fundo do poço e... Virei uma vadia. Eu ficava bêbada e transava com qualquer cara. – Travei o maxilar com a ideia de Ally com outro cara. – Então, uma vez, eu pensei que estava grávida. Eu fui ao médico, ele fez um exame de sangue e deu positivo. Um tempo se passou e eu não sentia nenhum outro ‘’sintoma de estar grávida’’. Então eu fui fazer um check-up no médico e... – Ally engoliu seco, eu estava completamente incrédulo. – O exame era só... Era só um falso positivo. Não é muito comum, mas acontece. Aí ele me disse, eu não podia mais ter filhos, o tiro juntamente com o aborto... Eu fiquei estéril. – Ally soluçou, mas lágrimas não saiam de seus olhos. Como se ela tivesse tido tempo bastante para lidar com a dor, diferente de mim. Meus olhos estavam marejados e eu me sentia um idiota por isso. – E então o meu pai morreu e minha mãe quase entrou em depressão, ela se mudou, agora ela está bem. Eu fiquei destruída. – Ally engoliu seco. – Então, Austin. Eu posse até te amar ainda, mas não espere que eu diga isso agora.

– E-então, é-é... Q-quer di-dizer... – Comecei a gaguejar e Ally riu levemente. Eu amava a risada dela. Pigarreei. – Podemos ir devagar?

– Sim. – Ally sorriu. Eu ainda estava completamente surpresa pelo que ela tinha me dito. Ally se levantou e eu a segui.

– Amigos? – Perguntei quando começamos a andar.

– Amigos. – Ela assentiu sorrindo. Sorri, aposto que eu parecia um boboca apaixonado.

– Futuros namorados, você não resiste ao meu corpo. – Brinquei. Ally me deu um tapa leve no ombro. – Outch, doeu! – Menti. Ela me deu língua e começamos a rir.

Tudo parecia ter voltado a ser certo, mas somos agentes. Ser um agente significa ver coisas ruins toda semana.

E as nossas coisas ruins apareceriam logo, logo.