Fabulosa Inconsistência escrita por Something Ville Citizen, Hope


Capítulo 3
T: A impaled panda and some shattered glass


Notas iniciais do capítulo

QUE COMECE A AÇÃO, BITCHES!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/645511/chapter/3

*Lana's POV*

Um convite para um racha não poderia ser mais inapropriado para mim do que nessa semana. Bem, qualquer coisa envolvendo carros pode ser inapropriada para você, caso já tenha visto dois corpos serem arremessados para a morte - na sua frente - por um automóvel.

Apesar de ter superado, isso não é algo que eu goste de falar sobre. Elas eram as minhas mães adotivas. Esse é o motivo para que eu esteja aqui, na sala sem ar-condicionado do meu tutor, cuja fica na minha escola, numa das primaveras mais quentes que Vale do Algo já viu. E olha que essa cidade é famosa por longos, looongos períodos de estiagem.

Minha mente pesava e o calor não me ajudava em nada para pensar. Como eu poderia recusar o pedido de umas das amigas mais cabeça-quente, explosiva, você-não-vai-porque-é-frouxa que esse mundo já viu? Claro que ela sabe do que aconteceu comigo, e acredita que já superei (eu acho que sim). Mas é difícil para os outros entenderem o quanto a luz dos LEDs que saem dos meus tênis me confortam, e o quanto elas (minhas mães adotivas) estão relacionadas a isso.

Foda-se o que o tutor - meu tutor - ou o que o zelador da escola irão achar. Eu estou sufocando.

Peguei a minha câmera digital - a Polaroid, que não é resistente a água -, me dirigi à janela que dava (graças a Alá, Odin, Buda e Cristo) diretamente para a piscina olímpica do colégio, respirei fundo e simplesmente pulei.

Flash! Mil gotículas de suor, uma camada de mares microscópicos sobre minha pele se fundiram à imensidão de doses de cloro colocadas exageradamente - criminosamente também, posso dizer - na água. O zelador não me engana. Aqui, encontro liberdade na sua mais primordial forma.

Boiei por um tempo. Aparentemente ninguém notou o estrondo que fiz ao pular de cinco metros para uma piscina, e, se notou, não ligou muito para isso. Não é a primeira vez que o faço.

O sol já estava se pondo e eu aproveitei esse tempo para pensar se ia ou não... mas acho que nem Sofia nem Daniel ligavam para a minha resposta, pois já haviam estacionado o carro em frente ao portão dos fundos da escola - o mais próximo da piscina e do escritório do Vítor. Ainda bem que ele me deu suas chaves. Se dependesse do zelador, eu ficaria trancada aqui até a morte, só por não saber seu nome.

Hoje eu não tinha trazido uma roupa reserva pro caso de eu enlouquecer. Pois bem, dá para imaginar a cara da Sofia quando eu entrei na "Elementor" do pai dela. O Dan, que estava sentado no banco da frente, segurou o riso. Eu ainda nem havia dito um "oi" quando ela explodiu.

– MIGA, VOCÊ TÁ LOKA, NÉ? Que porra é essa?!

– Desculpa, eu estava com muito calor e não havia outro jeito. Eu realmente não queria estar como um pinto molhado na "Elementor" do seu...

– E-LE-MEN-TOOO! E não, eu não me importo - uhum, tá - em você cagar todo o carro, eu já estou indo fazer isso mesmo.

– Bem, só quero dizer que pisca-pisca para mim está fora de cogitação. Minha área luminosa é outra. - uso tênis com LEDs que acendem ao caminhar desde os meus três anos de idade. Amo eles, mas não tenho cara de quem desenrola pisca-piscas, principalmente antes do Natal. - Então, como vocês conseguiram pegar a E-LE-MEN-TO pela segunda vez na mesma semana?

– Posso dizer que o papai dela não é tão esperto assim. Ele não imagina que ela consegue cagar na própria vida quantas vezes consecutivas quiser. - Daniel, melhor pessoa. Apesar de ser tão submisso em relação ao pai ou, até mesmo, à própria Sofia, o sarcasmo dele é de primeira classe.

– Não me lembre disso! - manifestou-se Sofia, virando o rosto em minha direção.

– Pelo menos eu terei algumas companhias interessantes nas tardes chatas com o meu tutor. - desde que Jéssica, minha ex-melhor amiga, começou a ficar chata por causa dos remédios dela, eu estive me sentindo solitária.

– Realmente, e eu terei você e aquela menina lá com esquizofrenia... - e direcionou o olhar para a rua novamente.

– Não fala assim dela, ela era minha melhor amiga antes de vocês. - como eu disse antes... - Aqueles remédios só estragaram a mente mais criativa que eu já vi.

– Pois é. É uma pena que ela não veja mais gatos pretos caindo do telhado... - Dan foi interrompido quando o carro foi bruscamente estacionado. - É sério isso? Que ideia incrível foi essa de fazer um racha justamente na droga do bairro onde fica a igreja do meu pai? - ele cochichou "pai" 7x, só pra me lembrar da figura terrível que ele é.

Nós realmente estávamos nos suicidando.

– Não fui eu quem escolhi! Eu soquei a maldita cara dos dois, eles tinham o direito de escolha!

– MEU DEUSO! - gritei. - Olha, ELES CHEGARAM!!

"Fodidos" é a melhor palavra para definir o nosso estado no momento. Os gêmeos, dessa vez, não estavam juntos como de costume, mas nunca pareceram tão iguais. Cada um estava, separadamente, dentro da sua Ferrari preta. O ajustamento do banco do carro dava a eles a mesma altura, e o brilho em seus olhos demonstrava a mesma coisa: fome de destruição.

Cada carro posicionado de um lado da Elemento, os dois se aproximaram. E, quando estacionaram ao nosso lado, fizeram o motor rugir tão alto que eu mal conseguia distinguir o que diziam:

VÁ... NO TRÊS... – berrou Bráulio, creio eu. - ESCOLHEMOS... RUA... MENOS... MOVIMENTADA... AGORA!!!

Houve um curto espaço de tempo em que eu tentei ligar as palavras que ele disse, mas aí o outro berrou também um "DOIS, TRÊS!!".

Enquanto estávamos parados e abobados no carro e eles já estavam à metros de distância, nos fazendo comer poeira, foi que finalmente percebemos que aquilo se tratava de uma armação.

– TÁ ESPERANDO O QUÊ?! CORREEEE!!!– eu e Daniel gritamos em uníssono, mas Sofia ainda estava boquiaberta quando colocou o pé no acelerador.

Dava para perceber o porquê desse tal de "E-LE-MEN-TO" ser tão bom. Em menos de 30 segundos, estávamos no encalce dos dois.

Aí veio a merda: estávamos a quase 180 km/h, quando o carro da direita, provavelmente do menor-deles, desacelerou e encostou no nosso, de modo que o único jeito de ultrapassá-los era pela esquerda. Sofia tentou isso, mas o maior-deles também veio para trás. Estávamos encurralados.

– Precisamos virar ali na esquina da rua, não tem jeito– Sofia estava concentrada agora como nunca estivera na aula de matemática. Esse era, definitivamente, o seu jogo.

O QUÊ?! NESSA ESQUINA NÃO! - Daniel, que estava encolhido em seu banco até o momento, começava a demonstrar desespero.

– Mas, por que...

NÃO TEM JEITO!! - Sofia me interrompeu. Depois disso, foi como se eu estivesse num filme em câmera lenta.

Ao virar a esquina, nada mais, nada menos que (sim, eu realmente acreditei estar vendo aquilo por alguns segundos, que pareceram milênios) um panda, empalado por duas estacas de ferro interligadas no topo por uma menor, com as pernas trocadas por duas rodinhas e um assombroso sorriso pós-morte estampado na cara quadrada.

No "quadrada", enfim percebi que se tratava de uma bolsa de rodinhas na forma de um comedor de bambu, que apareceu deslizando pela faixa de pedestres, fazendo-nos desviar e, por fim, bater num fabuloso poste coberto de pixações de pênis - das quais alguém realmente tentou apagar, sem êxito algum.

Ao olhar para o lado, verificando se todos estavam bem - certo, eles estavam, mas vidro estilhaçado voou do painel frontal do carro e janelas, cortando o rosto de Sofia - operou-se, na minha mente, e provavelmente também na de Daniel, que a desgraça mal tinha começado.

Atrás de Jéssica - sim, a minha ex-amiga esquizofrênica cuja já tinha saudades de ver -, a proprietária do panda empalado, estava o pastor Aurélio, pai do Dan, descendo a escadaria após um culto da Igreja Universal do Reino de Deus, acompanhado por uma loira (que me lembrava a Andressa Urach por algum motivo). Vários fiéis, também saindo, aglomeravam-se em volta do local.

O carro, Jéssica e, principalmente, os olhos de Aurélio... remeteram-me àquele dia.

Todas as emoções e calafrios aprofundaram-se em mim, de novo. Um sentimento de submissão forçada, injustiça e ódio por não poder fazer nada e não ter nada concreto em minhas mãos me possuía cada vez que ele nos olhava, como no dia em que avistei seus olhos pelo retrovisor olhando para mim e para as minhas mães, que estavam no chão, com uma expressão que misturava culpa e trabalho bem feito.

Não me surpreenderia se, ao se aproximar, ele sentisse uma ponta de decepção por mim, ou o seu próprio filho, não estarmos finalmente mortos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Finalmente um capítulo um pouco maior que os anteriores, e o primeiro da Lana, escrito pelo nosso escritor de codinome "T". Provavelmente vocês estão um pouco confusos com esses pensamentos do final, mas sim, isso significa que há muito mais tretas do que vocês podem imaginar.
Tirarei dúvidas nos comentários, apesar de que a maioria delas serão respondidas no próximo! Até sexta que vem, estou louca pra postar o 4º! asjhdkrljshgfkjg



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fabulosa Inconsistência" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.