CAPÍTULO 7

“E por tanto tempo eu tentei lhe afastar por medo de me apaixonar. Mas o que eu não sabia é que eu já estava apaixonada desde que coloquei meus olhos em você pela primeira vez.”

A sensação de estar caindo em um poço sem fim, era assim que Tris estava se sentindo. Embora não parasse de pensar no beijo de Tobias, ela ainda se condenava por tal ato. Ela havia prometido a sí mesma não ter sentimentos que pudessem interferir em sua vida. Estava indo tudo tão bem, até ele aparecer. Com o seu jeito correto de ser, a mania de sempre proteger os amigos, e a maneira incontrolável de como ele mexia com a jovem instrutora.

***

—Por onde você andou ontem em Tobias? –Indagou Christina curiosa.

—Fui resolver uns assuntos. –Tentou explicar Tobias.

—Aí tem coisa. –Sussurrou Christina no ouvido de Will, que se encontrava sentado ao seu lado na extensa sala à qual aguardavam serem chamados por Peter para realizarem os testes.

—Eaton! –Exclamou Peter aparecendo na porta. –É a sua vez.

Tobias prontamente se levantou e encarou os amigos que lhe desejaram boa sorte, e assim cruzou a porta que logo foi fechada.

—Ele está estranho. –Disse Chis se dirigindo mais uma vez a Will.

—Estranho como? –Perguntou o garoto.

—Como assim você não percebeu? Está na cara. E não é só ele não. Hoje de manhã encontrei com a Tris, ela estava meio que no mundo da lua. Nem implicou comigo. Não sei por que, mas acho que rolou algo entre eles.

—Você acha que eles estão juntos?

—Juntos eu não sei, mas que isso tá me cheirando a queijo com goiabada isso tá.

—Queijo com goiabada? –perguntou Will confuso.

—É, queijo com goiabada, Romeu e Julieta. –Explicou Christina vendo a confusão se formar ainda mais no rosto do amigo. –Ai Will, romance! Isso tá me cheirando a romance. E eu vou descobrir o que tá acontecendo entre esses dois!

***

—Pode se sentar ali. –Disse Peter se dirigindo a Tobias, que fez o que lhe foi dito. –Vou aplicar esse soro e acompanhar tudo pelo computador. Boa Sorte.

No segundo seguinte Eaton sentiu uma agulha perfurar seu pescoço e então, apagou.

***

Havia três mesas, era isso que Tobias enxergava. Em cada uma tinha um tipo de arma. A primeira estava uma faca sobre ela. A segunda um punhal, e por último uma arma com munições. Rapidamente pegou a faca e a colocou em sua cintura, e então o cenário voltou a se modificar.

Eaton olhava em volta e conhecia bem aquele lugar. Era a sua casa, estava na abnegação.

—Pai?! Mãe! –Gritava andando por toda a casa, mas não obtinha nenhuma resposta se quer.

 -Tobias. –Chamou uma voz e então ele rapidamente desceu encontrando com o pai e a mãe. Rapidamente foi ao encontro dos pais se jogando em seus braços, mas tal ato não foi correspondido. Um pouco atordoado o filho se afastou e encarou as faces dos pais. Ali ele encontrou indiferença, angustia e sobre tudo, decepção.

—Pai, mãe? O que houve? –Perguntou o jovem sem conseguir controlar a preocupação em sua voz.

—Não nos chame mais assim Tobias, você não é mais nosso filho. Agora você é um deles. –Respondeu o pai duramente enquanto a esposa concordava.

—Mas... –Tobias estava sem reação. Rapidamente levou seus olhos até as mãos do pai que agora tinham uma arma.

—Saia logo daqui! –Esbravejou o mais velho, o que fez Eaton rapidamente passar pela porta e então se encontrar na rua que tantas vezes já caminhou. Bem na esquina havia uma pobre velha pedindo esmolas. Os bolsos do jovem estavam repletos de dinheiro, nem ele mesmo sabia de onde havia saído tudo aquilo. Teve vontade de ajudar a pobre velhinha, mas sabia que deveria agir como um audacioso e então seguiu seu caminho.

Rapidamente o cenário foi se modificando, ele estava no alto de um prédio.

—E então Eaton?! Vai amarelar? –Aquela voz o despertou de seus pensamentos e então olhou pela janela. No outro prédio estava Tris e no meio dos edifícios havia uma corda que os ligava. Ele sabia o que tinha que fazer, mas não tinha coragem o suficiente. Mas era preciso se quisesse que tudo aquilo acabasse o mais rápido possível. Quando percebeu já estava quase no meio da corda e a vontade de olhar para baixo era quase incontrolável. Então assim o fez. A altura vez a sua cabeça girar, o fazendo desiquilibrar. Mas rapidamente recuperou o equilíbrio e tornou a caminhar, chegando assim até o outro prédio, mas ao tentar abrir a janela à mesma não cedeu. Sem entender o que de fato estava acontecendo, rapidamente olhou através do vidro. A sala estava sendo tomada por chamas enormes de fogo e ao centro, amarrada em uma cadeira estava Beatrice. Eaton não pensou duas vezes antes de quebrar o vidro e arremessar-se para dentro indo ao encontro de Tris. A fumaça embaraçava sua visão e o calor era imenso. Rapidamente achou uma faca em sua cintura. Fez bem ao escolher aquela arma no começo do teste. Logo começou a cortar as cortas libertando assim a morena que estava um pouco zonza. Tobias a pegou no colo e foi até a janela onde desamarrou a corda e a passou sobre a sua cintura e a de Tris. Ao perceber o que ele estava pensando em fazer, a jovem arregalou os olhos.

—Não se preocupe, confie em mim. –Disse antes de jogar seu corpos ao vento.

***

Tobias acordou atordoado e olhou para os lados. Estava na sala de simulação. Peter estava ali, e o encarava.

—Você está bem? –Perguntou o instrutor.

—Sim. –Respondeu.

—Você foi bem, mas deveria ter enfrentado os seus pais, é isso que a Audácia quer que você faça. Está dispensado. –Avisou Peter. –Ah, Tobias! –O chamou assim que o jovem já estava de frente à porta. –Por que ela?

Eaton sabia exatamente a quem ele se referia e com toda a sinceridade respondeu.

—Eu não sei.

—Cara, você tá lascado. –Riu Peter passando na frente de Tobias e abrindo a porta. –Hellen. Venha, é a sua vez.

***

—Tori, é sério não ri! –Repreendeu Tris enquanto a amiga não parava de rir. –Eu estou perdida! Ele me beijou!

—Ele te beijou? Falando assim até parece que você não queria né Tris. –Disse a morena risonha.

—Mas é claro que eu não queria. –Se defendeu.

—Tanto que correspondeu né. –Falou fazendo Tris ficar quieta. –Mas e ai, ele tem pegada? –Piscou.

—Tori! –Repreendeu a líder.

—Ah qual é amiga, você já viu aqueles braços? Mas é claro que já, até ganhou um beijo daquele gato. Mulher, você tem uma baita de uma sorte! Afinal, todas aqui suspiram só de ouvir falar no Eaton.

—Por que eu vim falar com você mesmo em? –Se perguntou Prior. –Você não está me ajudando em nada. Eu preciso esquecer tudo isso!

—Trade de mais Tris. –Alertou Tori atraindo a atenção da amiga. –Você já está apaixonada.

***

—Gente, que sinistro esses testes né? –Disse Chris para os amigos.

—E ai Tobias, o que você achou? Tá quieto desde que saiu de lá. –Observou Will.

—Eu só estou pensado, nos meus pais. Eles pareciam tão decepcionados. –Respondeu. Ele havia contado o que havia acontecido na sua simulação, apenas havia ocultado de que era Tris a garota a quem salvou no prédio.

—Era só uma simulação, eles pegam os seus maiores medos e colocam de cara com você. Nada é de verdade. –Explicou Christina.

Seus maiores medos. Mas o que Tris estava fazendo lá. Então ele percebeu. Um de seus maiores medos era perdê-la.

***

Tris se encontrava na sacada de seu quarto. Bem a sua frente o sol estava já se pondo logo dando lugar a bela lua que ficaria ali pelo resto da noite. Ouviu o barulho da porta abrindo e se fechando, pensou ser Peter, mas logo que se virou Tobias estava a olhando.

—O que está fazendo aqui? Não deveria vir. –Falou Tris rapidamente.

—Por que está fugindo? –Indagou Eaton.

—Eu não estou fugindo. –Garantiu a morena, mas ela mesma sabia que aquilo era mentira.

—Está sim. –Afirmou o rapaz.

—E por que e fugiria?

—Medo.

—Medo? Medo do que Eaton? –Desafiou a morena ficando cara a cara com o homem

—Medo de se apaixonar.—Disse Tobias, prosseguindo logo em seguida. –Medo de se entregar. Medo de voltar a ser como antes. Medo de ficar ansiosa esperando uma ligação. Medo de sofrer antecipadamente. Você tem medo de viver um amor. Medo de se tornar dependente de outra pessoa. Medo de perceber que até o som da respiração de alguém lhe faz flutuar. Medo de se pegar pensando em outro alguém várias vezes ao dia. Medo de sorrir feito boba ao receber uma mensagem de boa noite. Medo de não ser interessante o suficiente para atrair o olhar da pessoa que ama. Medo de enlouquecer de amor. Medo de ser você mesma. Medo de se permitir amar. Medo de viver a felicidade e nem ao menos perceber porque a única coisa que prenderá a sua atenção é aquela pessoa que tanto se importa.

Beatrice ficou alguns instantes parada, refletindo sobre o que escutou.

—Você tem razão. –Concordou a jovem. –Tenho medo de ficar dependente de alguém. Medo que essa pessoa não ligue ou mande mensagem. Medo de que eu não seja tão interessante. Medo de não ser correspondida. E mais medo ainda de ser correspondida. Medo de tudo não passar de um romance passageiro. Medo de ser deixada e me sentir impotente e sozinha. Medo de sofrer e chorar por alguém que me deixou, mais uma vez.

Tobias ao escutar os desabafos da mulher rapidamente chegou mais perto e ergueu seus olhos. E pela primeira vez havia lágrimas ali.

—Eu nunca irei te fazer sofrer. –Prometeu alisando o rosto da instrutora.

—Eu tenho medo de estar apaixonada por você Tobias. Ainda mais porque tenho certeza que estou. –Confessou a morena fazendo Eaton sorrir.

—Não precisa, eu estou aqui, e vou ser merecedor desse amor. –Disse selando os lábios da morena aos seus e então teve certeza. Ali era o seu lugar. Não a Audácia em si, mas ao lado de Tris.

“É possível que lar seja uma pessoa e não um lugar?”

“Você me tem nas mãos

Nem sabe o tamanho do seu poder

Eu me posto como um gigante

Mas caio quando estou perto de você”   -Shawn Mender, Mercy.

TRAILER: https://www.youtube.com/watch?v=lutFj5IUf5U