Born To Die escrita por Galak


Capítulo 6
Arrested




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Observei o sol nascer da minha varanda, não havia conseguido pregar os olhos a noite inteira, eu estava numa espécie de êxtase, não sentia nada além da vontade de me jogar da varanda.

O céu passava do azul escuro para um alaranjado e da laranja para um azul mais claro, como um sorvete napolitano. Meus ouvidos estavam entupidos e minhas pernas tremiam, toda vez que fechava os olhos podia ver o desespero no olhar de Edith, na forma como ela implorava piedade ao Bieber.

— Samantha? — Marie falou entrando no quarto com uma bandeja, virei-me para ela e a observei. Como ela conseguia viver limpando todos os dias o sangue de alguém no piso? Ouvindo os gritos e tendo que ser cúmplice em todos os assassinatos que presenciou — Como estás?

— Péssima. — Respondi simples sentando-me na cama — Você sabia, não é?

— Perdão?

— Quando veio me buscar aqui, você sabia que eu não voltaria a mesma. — Falei destampando a bandeja, havia um prato com ovos e bacon — Comida de verdade?

— Não deixe o patrão saber disso. — Sorriu — Quando vim te buscar passou pela minha cabeça que seria você no lugar daquela mulher, achei que seria um fim para nossa agonia e o seu sofrimento. — Beberiquei um pouco do suco também trazido e assenti — Se me da licença...

— Tchau. — Sibilei. Marie saiu e fechou a porta, joguei meu corpo para trás tendo um encontro com o travesseiro, senti as primeiras lágrimas escorrerem pelos cantos dos meus olhos e se desintegrarem em meus cabelos. Comecei a ouvir os gemidos bruscos de Justin no quarto ao lado, ele estava fodendo alguma puta.

— Sam? — Pulei da cama ao ver Chaz entrar por uma pequena fresta da porta.

— O que está fazendo aqui? Vai embora! — Gritei batendo pé, ele avançou até mim e tampou minha boca.

— Ta louca? Justin tá no quarto do lado, se ele nos ouvir estou morto! — Sussurrou soltando-me aos poucos — Só vim saber como você está, o que está passando pela sua cabeça.

— Ódio. O ódio está passando na minha cabeça, agonia, ressentimento, lástima, rancor... — Sussurrei sentando-me novamente e ele me acompanhou — Alívio pelo meu fim estar próximo.

— Não diga isso. — Murmurou tocando minha bochecha, recuei um passo com o seu toque — Nós éramos amigos, lembra?

Tentei conter o riso, mas não consegui. Soltei uma gargalhada barulhenta o assustando.

— Você ajudou a matar a mãe do meu irmãozinho, a mulher que vem satisfazendo meu pai nos últimos anos, você esta apenas contribuindo para que isso — Gesticulei com o dedo — seja um pesadelo.

— Sam o que você quer que eu faça? Eles mandam e eu cumpro, é isso. — As veias em seu pescoço saltavam — Eu tentei fazer o Bieber mudar de ideia e sabe o que isso me custou? — Chaz levantou-se rapidamente e virou-se de costas para mim, ele tirou sua camisa e a jogou em algum canto do quarto. Levei minhas mãos até minha boca pra reprimir o grito, suas costas estavam em carne viva, como se alguém tivesse o chicoteado e jogado sal em suas feridas, aproximei-me com passos lentos e toquei a pele quente.

— Chaz... — Murmurei, ele gemeu de dor com o meu toque — Desculpa.

— No final valeu a pena, certo? — Falou colocando sua camisa novamente — Eu já falei, você é diferente das outras e eu tenho vontade de te ajudar.

— Então me ajude! — Falei quase que desesperada, pulei em cima dele e o agarrei pelo colarinho de sua blusa — Me ajude a fugir daqui antes que seja tarde demais, meu pai quando descobrir sobre Edith vai achar que fizeram o mesmo comigo e Deus sabe lá como ele vai reagir quanto a isso. — Falei já sentindo as lágrimas retornando a cair — Eu tenho que sair daqui antes que seja tarde para mim, para ele.

— E você acha que eu não faria se pudesse? — Perguntou segurando meus pulsos — Eu ouço seu choro e fico pensando como te ajudar, mas não tem como.

— Tem que ter! Você faz parte da gangue, certo? Deve ter alguma chave, alguma saída que você conheça...

— Tinha, mas... Eu já quebrei a confiança do Bieber ajudando uma refém e ele começou a me deixar por fora de tudo, há pouco tempo que recuperei sua confiança mas as chaves eu ainda não tenho.

— Droga. — Falei chutando o ar, Chaz riu — Ta rindo do que?

— Vamos mudar de assunto, aproveitar o tempo que temos... O que acha?

— Acho ótimo. — Sorri.

xXx

Eu e Chaz conversávamos sobre nossa infância, sobre momentos únicos que passamos e sobre nosso dia-a-dia, era como conversar com um amigo em uma aula chata de história, ele me fazia rir, mas eu me repreendia na mesma hora por fazer aquilo. Eu era fraca e já havia aceitado isso, eu não conseguia resistir a uma boa conversa e risadas com o Chaz.

— Ele nem sempre foi assim. — Chaz falou quando o assunto chegou ao Bieber.

— Como você pode saber?

— Crescemos juntos eu, ele, o Chris e o Ryan. E por incrível que pareça ele sempre foi o mais viado entre nós! — Falou e rimos — Eu lembro que na primeira vez que ele usou uma arma ele chorou, chorou e chorou.

— Ele tinha matado alguém?

— Não, mas ele sabia que o próximo passo seria esse. — Respondeu e deu um longo suspiro. Seus olhos focaram-se em mim por alguns segundos e ele riu — Quando o Justin fez o primeiro roubo, que foi numa loja de Cd’s — Riu — Ele foi xingado de tudo quanto é nome, por que ele era Justin Bieber o garoto que ia a igreja todos os sábados e era aluno nota 10.

— Isso é horrível. — Murmurei e fui surpreendida ao sentir o braço de Chaz rodear meus ombros e puxar-me para mais próximo de si na cama.

— Ele perdeu a esperança, sabe? Ele já estava rotulado pela sociedade, que mal tinha?

— E foi então que tudo começou? — Arrisquei e ele assentiu — Então o Bieber já teve coração?

— Eu adoraria dizer que ele ainda tem, mas não. — Também sorriu. Sentamo-nos na cama e ficamos em um silencio agradável, eu não tinha mais o que contar e nem ele, agora era a vez de nossas respirações conversarem entre si.

— Ahn... Acho melhor você ir. — Falei e ele concordou.

— Te vejo mais tarde. — Falou levantando-se. Concordei com a cabeça e esperei até ele sair para afundar na minha cama.

O que eu estava fazendo? Eu só poderia estar maluca...

Você não sente nada pelo Chaz!

E se... Eu estiver?

A seca ta grande ai dentro, só isso!

Sim, só isso.

xXx

Acordei sentindo meu estomago roncar, deveria ser em torno de 14h. Coloquei-me de frente a um espelho e senti vontade de chorar só de ver minha aparência, eu estava péssima! Minhas bochechas já eram grandes por si com o rosto inchado então... Nesses momentos eu entendia o porquê de Bruna sempre ter me chamado de trakinas.

Saí do quarto e dei de cara com os seguranças que logo me perguntaram aonde eu iria.

— Cozinha. — Falei me direcionando para as escadas, ao passar pelo quarto “Putinhas do Bieber” Justin a abre, fazendo com que eu de um pulo de susto e ele também, Bieber puxou sua arma na cintura e a apontou para mim.

— Porra é só você. — Murmurou guardando a arma novamente — Ta fazendo o que aqui?

— Ela ta indo comer patrão. — Um segurança falou tomando minha frente.

Justin coçou a nuca e olhou para dentro do quarto, havia uma garota atrás dele sentada na cama com os seios de fora.

— Levem a puta até a saída. — Falou para os seguranças — Eu cuido da Jones.

Justin posicionou-se do meu lado, seu braço agarrou minha cintura e guiou-me escada a baixo, ele assobiava alguma musica conhecida por mim.

— Matar te deixa de bom humor? — Perguntei enquanto descíamos as escadas.

— Cala a boca porra.

Continuamos em silencio até a cozinha, Justin trancou a porta e se posicionou em uma das cadeiras do bar, ele tinha duas pílulas em mãos que escorregaram até um copo cheio d’água, peguei qualquer coisa comestível dentro da geladeira e depois peguei um facão. Justin seguia-me com o olhar enquanto manuseava a arma branca em minhas mãos, ele virou o copo em apenas um gole assim que as pílulas se dissolveram como arco íris no líquido transparente.

Você poderia apenas ataca-lo.

Meu subconsciente berrava, entupindo meus ouvidos, a faca deslizava pelos meus dedos queimando minha pele, Justin ainda me analisava com os olhos, esperando por uma ação minha.

Eu não tinha nada a perder, minha sentença de morte ja havia sido decretada a muito tempo, não tinha mais nenhum arrependimento.

Em um impulso avancei até ele com a faca em sua mira, Justin pulou do banco e recuou até a parede, minhas pernas agiam por conta própria, eu não controlava mais nada, Justin segurou meu punho que ia diretamente em seu peito e o empurrou. Ele parecia zonzo, sem forças. Continuei empurrando a faca em sua direção até que senti uma dor alucinante em meu pé ferido, Justin havia pisado no mesmo aparentemente com todas as suas forças, o curativo antes branco começou a surgir respingos avermelhados de sangue. Senti a faca escorregar da minha mão na hora, ouvi o barulho do inox batendo no chão e me debrucei em cima do meu pé, esperando a dor aliviar um pouco.

— Você é maluca? — Subi meu olhar até o Bieber que apontava sua arma para mim, deixei um riso debochado escapar de meus lábios.

— Por favor, atire. — Falei abrindo meus braços — Faça esse favor para mim.

— Você acha mesmo que eu vou facilitar tanto assim pra você? — Perguntou rindo balançando a arma, como se fosse de brinquedo — No dia que eu te matar Samantha, você vai implorar de joelhos por piedade.

— Espera sentado o dia que eu te implorarei qualquer coisa de joelhos. — Falei levantando-me em sua altura, estávamos a metros de distancia, metros que se transformaram em centímetros graças a mim — Perdi a fome, quero ir para o meu quarto.

— Sabe o caminho. — Sibilou olhando fixamente para a porta. Manquei até a mesma e puxei a maçaneta, por um segundo pensei que todas as minhas forças haviam sido gastas na rídicula briga contra o Bieber, mas ao tenta-la puxar novamente e novamente conclui o que eu mais temia.

— Não ta abrindo. — Falei recuando alguns passos até a bancada de mármore. Uma parte de mim queria implorar por mais tempo de vida ao Bieber, tempo o suficiente apenas para ligar para o meu pai e dizer que está tudo bem, mas essa mesma parte sabia que ficar presa em um cubículo com Justin BIeber armado não terminaria bem.

— Merda. — Murmurou ao tentar abrir a porta, ele começou a esmurra-la numa tentativa de chamar a atenção de quem estivesse lá fora.

— Vamos pular a janela. — Falei indo até a mesma.

— Esquece. É blindada, uma vez fechada no sistema continuará até ele abri-la. — Falou dando de ombros, ele sentou-se no banco do bar novamente e ficou alisando sua arma — Na próxima vez que der uma de Tarzan e tentar me atacar, você vai morrer. — Falou sem desviar seus olhos da arma.

xXx

Já devem ter passado umas duas horas desde a ultima vez que tentamos abrir a porta, Justin permanecia em seu canto contanto e recontando as balas de sua arma, ele também brincava com uma faca enquanto eu apenas o observava. Havia caído no sono umas duas vezes nesse meio tempo, o silencio so era quebrado pelo som da arma sendo travada e destravada.

— Então... Por que odeia o meu pai? — Perguntei em uma tentativa de puxar assunto.

— Não é da sua conta.

Eu não aguentava mais o silencio, fechei os olhos e imaginei que Bruna estivesse do meu lado, com um sorriso reconfortante no rosto perguntando o que me perturbava.

— Você matou a Edith e eu te odeio por isso, também te odeio por estar me mantendo presa aqui, mas ainda mais pelo fato de tê-la matado. — Falei ainda com os olhos fechados — Ela era uma vadia, mas meu pai gostava dela. Como vocês as trouxeram para cá?

Eu não esperava por uma resposta, apenas um “Foda-se” ou qualquer outra coisa brutal.

— Ela havia saído pra comprar alguma coisa, estávamos esperando pelo seu pai, mas ela veio a calhar. Nós apenas a amordaçamos e a jogamos dentro de um carro exatamente como fomos com você. — Aquilo de certo modo havia me dado um certo conforto — E sim, ela é uma vadia que sentou no pau duro do Chris. — E nojo.

Permaneci quieta, fazendo uma dança com meus dedões, minhas pernas tremiam assim como meus lábios, o ar começava a ficar gelado.

— Por que ficou tão frio? — Perguntei esfregando-me tentando aquecer meus braços.

— É o sistema de resfriamento.

— E quem controla o sistema?

— É automático. — Deu de ombros agora brincando com uma faca mais parecida com um canivete.

A cada minuto o ar ficava mais gelado, sentia minha pele enrijecer com o frio, meu queixo batia. Senti algo quente encostar em meus ombros e deslizar por todo o meu braço, Justin havia posto seu moletom em cima de mim.

— Esse som ta me irritando. — Falou sentando-se um pouco mais próximo de mim.

— Que som? — Perguntei o vestindo — O som da morte provavelmente se aproximando de mim? Pra mim esse som é de esperança.

— Mas que merda Jones! — Gritou jogando algo no chão, fazendo um grande barulho — Por que você quer tanto morrer ein? — Suas mãos contornaram meus braços puxando-me para cima. Sua respiração batia em meu rosto o aquecendo minimamente.

— Por que entre ter que olhar pra sua cara todo o dia e morrer, eu prefiro morrer. Eu não vou ser uma dessas suas vítimas ridículas que imploram por piedade, que preferem perder braço e perna só pra não ter que morrer. Eu não sou tão patética assim, você quer se vingar do meu pai? Vá enfrente, me mate e acabe com o pesadelo que a vida de todo mundo que eu conheço se tornou. — Falei tentando manter a calma que não tinha, tudo havia saído tranquilamente, como ensaiava em frente ao espelho, ele me encarava incrédulo, mas logo um sorriso debochado tomou seus lábios.

— O que seria pior do que ver a filha trabalhando com seu maior inimigo?

Merda.


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