PEWTER

Blue demorou uma semana para chegar à cidade de Pewter, ela era a maior cidade que a garota já tinha visto, tão enorme e cheia de prédios.

Assim que ela entrou no Centro Pokémon, viu seu irmão Red sentado na fila de espera. Ele agora estava não só com Charmander ao seu lado, mas também com um Pikachu em suas costas.

–Blue! – Ele a abraçou.

–Oh, Red! Que surpresa te encontrar! – Disse se soltando dele, ela não gostava muito de demonstrações melosas de afeto.

–A fila de espera está enorme, vamos conversar lá fora!

Os dois se dirigiram a uma praça que havia em frente ao Centro. Sentados em um banco, Red começou a contar tudo o que lhe acontecera desde que se viram pela última vez: Os pokémon que capturou nas rotas 101 e 22, a batalha que perdeu para Green, o Pikachu e o Caterpie que capturou na floresta, como destruiu a bicicleta de uma menina chamada Misty e como perdeu para Brock, o líder de ginásio da cidade, quatro vezes desde que chego à Pewter.

–Wow! Você teve uma semana bem movimentada!

–E como está a sua aventura? Aconteceu algo?

–Hmm... Nada demais.

Red ficou meio cabisbaixo, pois sabia que com certeza algo tinha acontecido com a irmã. Blue, percebendo que o decepcionara, resolveu contar um pouco.

–Eu achei um Pikachu brilhante. – Ela o invocou. – O nome dele é Pika.

–Que maneiro! Eu quero um também!

–Eu tenho que achar alguém para cuidar desse aqui...

–Eu posso ficar com ele?

–Você não entendeu Red, preciso de alguém para cuidar e não para treinar. Esse Pikachu odeia lutar. Toda vez que tentei batalhar com ele, ele parecia se machucar a cada golpe que dava.

–Por que você não deixa ele com o Professor Carvalho na PokeFazenda?

–É uma boa... Vou falar com ele quando formos ao Centro Pokémon. A propósito, por que está carregando esse Pikachu nas costas e não na PokeBola?

–Eu tentei, mas ele não entra na PokeBola de jeito nenhum!

Charmander não parecia gostar muito de dividir a atenção de Red com o Pikachu. Muitas vezes o Pokémon tentava chamar a atenção do treinador, mas era em vão. Isso lembrava Blue de sua infância, de como sempre sentiu que sua mãe gostava mais de seu irmão, de como sempre sentiu que todos gostavam mais de seu irmão.

Os dois continuaram conversando por meia hora enquanto o Centro Pokémon esvaziava pouco-a-pouco. A enfermeira rapidamente cuidou dos seis Pokémon de Red e dos seis de Blue. Em seguida, eles foram em direção ao computador e entraram em contato com o Professor.

–Moshi moshi, Carvalho desu.

–Quê? – Os dois não entenderam nada.

–Eu só estou brincando, como vão vocês?

–Bem. Professor, preciso te pedir um favor. Você pode cuidar de um Pikachu para mim? – Perguntou Blue.

–Você não pretende treiná-lo? Você é a que menos capturou Pokémon até agora.

–Ele não gosta de batalhas, não posso fazer nada.

–Bem, então por que o capturou?

–Para... Completar a minha PokeAgenda! – A garota mentiu, não queria que o Professor soubesse que ela não planejava capturar todos os Pokémon.

–Eu sabia que você iria se esforçar Blue! Eu cuido do seu Pikachu. Agora eu preciso falar com seu irmão.

–Claro. – Disse dando espaço para Red.

–Oi Professor! – Red sorria.

–O que você estava pensando? Onde ela está? Ela não tem nem uma licença! Vocês dois são apenas crianças! Eu já alertei os pais dela e se ela não estiver aqui em no máximo duas semanas... – O Professor disse neurótico.

–Calma! Calma! Calma! – Interrompeu Red. – Do que você está falando?

–Da Yellow! Ela não está com você?

–Não e por que estaria? Acha mesmo que eu a levaria comigo?

–Blue, isso é verdade?

–Sim, eu também achei que eles iriam fazer isso, mas eu vi os dois se despedindo. Eu não acho que ele é tão irresponsável assim.

–Essa é a impressão que vocês têm de mim? Acham mesmo que eu fugiria com a Yellow?

–Sim. – Responderam os dois em uníssono.

–Quando estávamos nos despedindo de Yellow, pisei no seu pé porque achei que ia a chamar para ir com você. – Falou Blue.

–Então foi por isso? Pois saibam que não! Ela até veio com esse papo louco pra cima de mim, disse até que já estava com as malas arrumadas, mas...

–Você sabia e não me contou? – Interrompeu o Professor.

–Que coisa horrível Red. – Disse Blue balançando a cabeça em desaprovação. – Bem, vamos mudar de assunto... Como vão as pessoas aí, professor?

–Vamos muito bem! Mas sua mãe e Daisy parecem estar sentindo muita saudade de vocês.

–Daisy está com saudade de mim? – Red corou.

–Claro, mas acho que o que mais parte o coração dela é ficar sem o irmão, depois de três anos morando sozinhos.

–Você acha que a Daisy vai voltar a treinar Pokémon agora? – Blue ficou feliz com a ideia, Daisy abandonara a vida de treinadora depois que seus pais morreram.

–Não sei, é um assunto complicado para ela. Falando de Daisy, ela deu dois Pokémon para Gary.

–Deu? Quais? Quando? – Red perguntou.

–Há três dias, um Scyther e um Eevee.

–Wow! Eevees são pokémon muito raros! – Blue estava impressionada.

–Os de vocês já devem ter chegado, são os Pokémon que eram de sua mãe. Falem com uma recepcionista no segundo andar.

Os olhos dos dois brilharam.

–Agora me digam, por que me ligaram?

–Por causa do meu Pikachu. – Respondeu a garota.

–Que Pikachu?

–Deixe para lá professor, se virmos Yellow te avisaremos.

–Isso me lembra! Red, como se atreveu a levar Yellow embora?

–Mas eu não fiz nada!

–Tchau Professor! – Disse Blue fechando a guia de comunicação.

–Ele não está tomando os remédios...

Os dois enviaram o Pikachu e mais três Pokémon que Blue não contou quais eram à PokeFazenda e subiram ao segundo andar. Red ganhou um pokémon chamado Poliwhirl, uma espécie de sapo azul escuro com um espiral em sua barriga branca, e Blue um Jigglypuff, o pokémon balão, um ser rosa e redondo de olhos azuis.

Depois os irmãos ficaram conversando até que foram interrompidos por uma menina. Ela era ruiva, de um cabelo liso preso de lado. Usava um top amarelo, mini shorts e suspensórios vermelhos que combinavam com seus tênis. Seus olhos eram azuis e sua pele rosada, suas pernas eram finas e sem nenhum sinal de cicatriz. Parecia mais velha já que era um pouco mais alta que os treinadores de Pallet.

–Red!

–Misty!

Blue apenas a encarou de cima a baixo.

–Oh! – Red enfim percebeu que deveria apresentá-las. – Essa é minha irmã, Blue. Blue essa é Misty.

–É um prazer conhecê-la. – Misty sorria de maneira simpática.

–Igualmente. – Os olhos e a expressão da garota eram tão frios que Misty ficou até com um pouco de medo.

“Esse Red... Parece que arranja uma menina a cada esquina, o que Yellow acharia disso?”, pensava a irmã.

Os dois começaram a conversar sobre assuntos que não tinham interesse nenhum para a treinadora de azul, cansada daquilo, ela resolveu continuar logo com sua jornada.

–Foi bom ter encontrado vocês, mas agora eu vou desafiar o líder de ginásio.

–Eu vou com você! – Disse o garoto.

Ela não gostava de ficar tão colada com Red, mas não disse nada. Os três caminharam até o ginásio de Pewter. Era uma enorme construção feita inteiramente de pedras, parecia que se uma delas se movesse o prédio inteiro iria abaixo, mas era muito mais resistente que isso. Havia algumas crianças da idade de Red e Blue treinando, todas usavam pokémon tipo pedra.

–Ah não! Você de novo Red? – Disse o líder Brock tirando sarro.

Ele era um garoto moreno, de cabelos castanhos arrepiados e olhos pequenos, quase fechados. Parecia ter cerca de quinze anos. Usava calça jeans e um colete verde por cima de uma camiseta laranja.

–Oh! Uma garota! – O líder caminhou na direção de Blue.

Ele se aproximou e pegou a mão de Blue para beijá-la em cortesia, mas ela a removeu num gesto brusco.

–Ivysaur! – O Pokémon apareceu rugindo para Brock.

–Vênus? Eu já disse para não ficar saindo assim da PokeBola!

–Saur!

–Seu inicial já evoluiu? – Red sentiu inveja.

–Eu gostaria de desafiá-lo. – Disse a treinadora de Pallet ignorando o irmão e o pokémon ciumento. – Apenas assista Red – Ela sorria como uma criança travessa.

–Hmm, certo. Imagino que, como seu irmão, ainda não tenha nenhuma insígnia.

Ela assentiu com a cabeça.

–Nós, líderes de ginásio, não apenas em Kanto, mas em todo o mundo, escolhemos nossos pokémon de acordo com o número de insígnias do desafiante. Então, mesmo que me vença, saiba que não usei todo o meu potencial. Ainda lhe falta muita experiência de batalha, mas quem sabe um dia batalhamos dando tudo de nós? Mesmo assim, não pense que pegarei leve. Venham.

Blue, Red e Misty o seguiram até uma sala mais ao fundo, um campo de batalha que simulava uma montanha pedregosa, onde havia uma estátua de Onix e em baixo um painel escrito “Lista de treinadores que derrotaram Brock”. Em baixo de vários nomes estava escrito “Green” e em seguida “Yellow”.

–Veja Red!

–Green já nos passou! Droga!

–Brock, essa menina chamada Yellow... Há quanto tempo esteve aqui?

–Faz só dois dias... Aquela garota tem talento! Dei a ela um Graveler de presente.

–Ela não tem uma licença Pokémon ainda.

–Você, como líder de ginásio, não deveria ter batalhado com ela, certo? – Reclamou Misty, parecendo conhecer muito do assunto.

–Sim, mas ela insistiu muito em me desafiar, não achei que ela fosse vencer então aceitei. Vocês a conhecem?

–Sim – Disseram os dois.

–Ela é nossa amiga e estamos à procura dela. – Acrescentou Red.

–Vocês ainda podem conseguir alcançá-la, ela deve ter ido para Cerulean.

Misty estremeceu ao ouvir o nome da cidade, mas ninguém percebeu.

Os dois irmãos se entreolharam e tiveram a mesma ideia.

–Tchau Brock! Iremos para Cerulean! – Disseram dando as costas e caminhando em direção à saída.

–Esperem! Vocês não podem ir embora assim! – Misty contestou. – Para ir a Cerulean é necessário passar pelo Monte Lua.

–E qual é o problema? – Perguntou Red.

–Vocês não leem o jornal não? Lá está cheio de Rockets. A polícia bloqueou as entradas, ninguém pode entrar nem sair. – Explicou a ruiva.

A ideia de Yellow presa sozinha numa caverna escura junto com a Equipe Rocket fez com que os dois perdessem totalmente o ânimo e caíssem em preocupação.

–O amigo de vocês, Green, deve estar lá também. – Acrescentou o líder de ginásio.