A Incrível História do Garoto que Ofegava escrita por PepitaPocket


Capítulo 12
A Dama e o Cavalheiro




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— Gostaria muito de saber o que foi que você viu em mim. – Ukitake disse com sinceridade, olhando no fundo dos olhos de Unohana, que lhe deu um sorriso genuíno em troca.

— Você estava assustado, em clara desvantagem, mas ainda tentava dar a volta por cima, preciso dizer mais? – Ela disse com sua calma aparentemente inabalável.

Ukitake sabia que a amável mulher estava tentando animá-lo. Mas, ele naquele momento não continuava enxergar onde a sua teimosia em não desistir, o ajudaria a lidar com inimigos visivelmente com mais fôlego do que ele?

— Além do mais eu nunca vi alguém com olhos tão gentis quanto você.

Ela disse com a voz estranhamente rouca, enquanto segurava-se na barra do quimono.

— Todos os homens que eu conheci tinham olhos de um predador, eram brutos e cruéis, mas você... Juushirou, é seu nome, né? – Ela não esperou por resposta.

Fechou seus olhos e colocou seus beijos sobre os deles.

A sensação foi fantástica, ainda mais quando ela pedira passagem com a língua, e começara explorar vagarosamente sua boca, deixando que ele também fizesse o mesmo.

Diferente de Shunsui que tivera muitas namoradas, no curto, porém intenso período que eles tiveram vagando pela Soul Society, Ukitake mantivera-se casto.

Primeiro, por causa de seus problemas de saúde. Não se imaginava contraindo núpcias, para logo depois deixar sua esposa, e possíveis herdeiros sozinhos.

E, essa seriedade, que constantemente era alvo do deboche de Shunsui, revelava um homem sério, moralista, e com uma forte inclinação romântica.

Não acreditava em amores folhetinescos.

Pelo contrário. Achava que era possível ter uma relação em harmonia, como seus pais o tiveram. Mas, isso tinha de ser fruto de um trabalho mutuo e diário.

Além de muita afinidade, entre as duas partes.

Por causa, dessas nuances ele desacreditava totalmente que poderia encontrar alguém que se interessasse por ele, não apenas por causa de suas condições de saúde, mas por sua personalidade mais retraída, passiva e quieta.

Shunsui corria atrás, usava cantadas baratas, comprava presentes mais baratos ainda. Mas, Ukitake não se imaginava fazendo todas essas coisas, em parte porque não estava procurando uma garota, na verdade ele nem prestou atenção.

 Quando Shunsui saia com segundas intenções, ele ficava para trás, lendo, dormindo, pintando ou observando as estrelas. Talvez, se uma jovem quisesse dançar com ele, nem conseguisse fazer algo tão simples.

— Você é a primeira... – Ele admitiu logo que eles se separaram apenas para tomar fôlego, para recomeçar as sessões de carinhos e amassos. – A primeira de meu coração.

Ele disse com a voz falha, sendo tomado por uma emoção indistinguível para ele naquele momento. Tudo era tão novo, tão assustador... Que ele não sabia o que pensar nem o que falar.

— Você também. – Ela disse com um sorriso fraco, levando o dedo indicador a seus lábios.

Seus olhos azuis, fitando seu rosto com uma atenção tocante, o fazia querer olhá-la um pouco mais e mais.

O toque de suas mãos deslizando sua face, fazendo um contorno que lhe despertava sensações inimagináveis.

— Queria viver mais tempo... – Ele disse com seus olhos marejando-se. Não querendo estragar o encanto do momento, mas a aflição em seu peito o fazia vacilar.

Como se esperasse por esta súbita explosão, Unohana apenas firmou as mãos em seus ombros, e deixou que derramasse seu choro. Parte dele sentia que era vergonhoso, chorar perante a mulher que lhe despertava sentimentos ternos. Mas, ele não conseguia evitar. Não, naquele momento.

Unohana por sua vez, sentia-se comovida, por sua disposição em demonstrar o que estava sentido.

— Você terá o tempo que for necessário. – Ela disse calmamente. – Mas, se continuar hesitando, será como se não tivesse tempo algum.

Aquelas palavras pegaram-no de surpresa. E, penetraram em um lugar fundo, fazendo-o ofegar ainda mais.

Ele entendia bem o que Unohana estava querendo dizer-lhe.

Continuar se privando do que a vida tinha a oferecer, não ia fazê-lo durar mais. Apenas esvaziar seus dias de experiências gratificantes.

— Sei o que quer dizer. – Ele disse com ar solene. – Mas...

De novo ela levou os lábios ao dele, com delicadeza e suavidade.

— Intensidade também é uma forma de duração. – Ela continuou seu brevíssimo discurso.

—  Não quero que você continue com medo de viver as coisas, com medo do que vai acontecer.

Unohana dissera repousando a cabeça em seu ombro.

— Mas, eu não posso enganar a mim mesmo, Unohana. – Ele disse ainda com aflição. – Sou um homem doente, cujo máximo talento é ofegar...

— E, mesmo ofegante, você fez o que pode para me salvar. Não continue se menosprezando, Juushirou. – Ela disse entristecida, pelo modo que ele se referia a si mesmo, embora ela soubesse que ele tinha motivos de sobra, para sentir-se daquele modo consigo mesmo.

— Adoraria poder dizer, que posso aceitar de olhos fechados, a proposta de Yamamoto-dono! De ter um futuro, lutando e protegendo as pessoas... – Ele sabia que suas palavras estavam a deixando triste, mas sinceridade era um mal necessário, para o bem de qualquer relação, o que não deixava de ser contraditório.

— Acreditar que poderei ficar ao seu lado, tempo o bastante... – Interrompeu-se, pois não queria bancar o apressado.

Mas, a pressão da doença e a possibilidade da vida curta, tornaram Ukitake alguém pragmático, realista, do tipo que não fica fazendo rodeios, em suas vontades.

Com exceção, daquele momento.

Pegou as mãos dela, e beijou-as com delicadeza, como que pedindo desculpas, pelo incomodo que suas palavras poderiam estar causando.

— Porque se preocupa tanto com o amanhã, se temos o agora apenas? – Ela perguntou depois de um tempo de contemplação, enquanto eles mantinham as mãos entrelaçadas.

Ukitake até então estava sendo ligeiro para compreender suas palavras.

Mas, naquele momento, ele não estava conseguindo ser tão perspicaz.

— De certa forma, todos nós temos apenas esse dia, Juushirou. – Pouco, a pouco o olhar dele foi tornando-se descrença, a medida que ela falava.

— No nosso mundo, com monstros comedores de gente por toda parte. Segurando uma espada, ou não... Estamos com a vida sempre por um fio. – Ela disse com a calma de sempre.

— E, indo para a linha de frente, seja pelo motivo que for, os riscos tornam-se maiores. – Unohana continuou falando o que pensava, sem alterar nem por um momento a voz.

Quem a ouvia falando naquela mansidão, não imaginava a guerreira forte e poderosa, que se escondia por trás daqueles olhos angelicais.

— Você tem razão. – Ele disse com sinceridade. – Ainda assim... – Mas, ele não estava totalmente convencido.

— Ainda assim, você insiste em se boicotar. – Ela falara em meio a um sorriso. – Deixa a vida acontecer, seu bobo. – Ela falara com suavidade, enquanto o fitava com aqueles olhos lânguidos.

— Eu ainda posso ir antes de você, Shunsui, ou qualquer pessoa de boa saúde... – Aquela ideia foi tão chocante para Ukitake que ele quis refutá-la imediatamente.

— Deixa a vida acontecer. – Ela repetiu um pouco mais alto, enquanto desamarrava o obi do quimono.

Para surpresa do rapaz que ficou vermelho como um tomate.

— O que... O que... O... – Tentou falar, mas a voz morreu em sua garganta, e ele se via ofegante, mas de um jeito diferente do habitual, pois tinha sido muito bem medicado, pela bela moça de cabelos negros que se desnudava diante de seus olhos.

— Vou começar a lhe mostrar as coisas boas da vida, meu querido. – A mulher disse com simplicidade. Embora em seus lábios houvessem um sorriso matreiro.

— E, começa com A... – Ela disse puxando-o para mais um beijo mais intenso, e nunca  naquele momento Ukitake sentira-se tão vivo, como naquele instante.

Queria mais do que nunca ter a eternidade a sua disposição se fosse necessário, só para provar novamente os prazeres da carne, sobretudo nos braços daquela mulher.

...

No amanhecer Yamamoto estava a frente da casa, a espera de seus três prováveis aprendizes.

Estava quase amanhecendo, e não havia nem sinal deles.

Isso porque Shunsui, que havia bebido todas na noite passada, só para aliviar as dores do treinamento.

E, acabou ficando com uma p*** ressaca.

Mas, mesmo com a cabeça explodindo, ele sabia que Ukitake estava precisando de um empurrãozinho para aceitar a proposta.

Ele chegou a procura-lo na madrugada, mas certos gemidos denunciaram que Unohana tinha encontrado um método especial de convencimento.

Tanto que quando a porta estava aberta, Ukitake já estava com a mesma trouxa de sempre por sobre os ombros, e um sorriso genuíno nos lábios.

— Pronto?

Shunsui perguntou em um fôlego só, preocupado com o que seu amigo poderia ter decidido, mas logo veio o alívio, porque Ukitake parecia mais do que pronto.

— Sim. – Ele disse levando a mão do ombro do Shunsui, com quem trocou um olhar intenso naquele momento. E, naquela troca de olhares passava um filme, que começou quando eles eram crianças.

— Acho bom.

Unohana dissera levando a mão nas costas dos dois, e dando um sorriso bonito para os dois.

Mas, nenhum ficou mais abobalhado com esse sorriso do que Ukitake que sentia naquele momento que a mulher mais bonita do mundo, era a sua.

E, vendo os dois saírem de mãos dadas Shunsui pensou com um sorriso torto nos lábios...

— Ah, o amor... Doce amor!


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