Escuros Como A Meia-Noite escrita por moonday


Capítulo 2
Livros & Sonhos


Notas iniciais do capítulo

Este ficou ficou pequeno, mas pretendo fazer capítulos maiores. Obrigada pelos comentários no capítulo anterior, espero poder continuar respondendo todos vocês!
Boa leitura à todos! ;D



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11 DE JUNHO DE 2014

– Só vencedores narram histórias ou tem opinião. - murmurou Austin enquanto amassava e jogava mais uma folha de papel na lata de lixo.

O loiro estava se sentindo um lixo (não que nunca se sentisse assim). Seus tios James e Grace sempre o trataram como um prêmio, até a chegada de Victor, filho dos dois. O garoto ruivo de seis anos conseguiu roubar toda a atenção dos tios de Austin, mas sempre que se sentia excluído se lembrava: ele é o filho de verdade deles. Além do mais, já sou grande o suficiente para sentir ciúmes de uma coisa tão insignificante como atenção. No entanto, ele continuava sentindo raiva do primo.

Correu os olhos brevemente pelo diário que encontrara no porão dos tios. Ele pertencera a uma garota que já morara com eles, há sessenta anos atrás. Austin se perguntava todos os dias como os tios diziam ter setenta e poucos anos se aparentavam se quarenta e cuidaram de uma criança, teoricamente, aos dez anos de idade.

O loiro abriu seu caderno novamente e pegou outra folha. Seu professor e melhor amigo, Peter, ordenou que todos os alunos criassem uma história, onde todos os personagens fossem pessoas que conhecessem, não fictícios. Mas o problema de Austin era que ele quase não tinha amigos, e que seu melhor amigo era ninguém mais ninguém menos que seu professor. E os problemas não paravam por aí. Também tinha o olhar de Peter sobre o loiro e sua grande esperança no rapaz. Às vezes Austin gostaria de dizer eu desisto, mas desapontar Peter não era uma coisa muito boa.

Austin deu uma última olhada para o relógio e sorriu. Faltavam exatamente três minutos para o fim da aula.

– Bom, galera - Peter se levantou da cadeira confortável de professor e olhou diretamente para Austin. - Sei que muitos aqui não vão terminar esta redação agora, então considerem o trabalhinho de casa de vocês. - o moreno sorriu.

Houve uma onda de suspiros seguidas de palavrões por toda a sala; Austin estava entre as pessoas que suspiraram.

Assim que o sinal tocou, metade dos estudantes saiu da sala. Os outros ainda estavam arrumando a mochila, mas já estavam bem mais adiantados que Austin. Ele jogou seus livros na mochila e, sem fechá-la, saiu da sala correndo. Ser o último a sair era algo perturbador para os alunos, pois muitas pessoas diziam que uma entidade do mal o trancavam na sala 201, sala de Austin. Se ele acreditava? Não. Mas queria experimentar? De jeito nenhum!

O loiro de dezoito anos se sentou à sombra de uma árvore e ficou observando os alunos saírem correndo das salas. Avistou duas cabeleiras, uma ruiva e outra morena, saindo entre a multidão. Dez e Dallas estudavam na mesma sala e sempre saíam juntos. Logo, os três já estava juntos na árvore, babando pelas garotas e dizendo o futuro com elas.

Dez era o tipo de nerd que passa vinte e três horas jogando videogame e uma dormindo. O ruivo um ano mais novo que Austin nunca namorou, assim como o loiro, mas pelo já havia dado seu primeiro beijo.

Dallas era o nerd de verdade do grupo. Prodígio em matemática, história e geografia, o moreno só está no terceiro ano do ensino médio porque resolveu ficar com os amigos.

– Aquela ali se casará comigo em oito meses de namoro. - fala Dez, apontando para uma loira bonita que estava sentada com seu namorado. - Claro que terá que terminar com aquele cara primeiro. Mas isso não vai impedir nosso amor por muito tempo.

Austin deu uma mordida em seu sanduíche natural preparado por sua tia Grace. Dallas estava ao seu lado, comendo um burrito. Eca!, pensou. Austin era vegetariano desde que foi a um matadouro.

– Não sei, cara. - Dallas falou. - Acho que ela é muito certinha para casar com você em oito meses. Eu diria que passariam dois anos namorando, sete meses de noivado e ela veria o erro que estava cometendo na hora do "sim", e então vocês nunca mais se encontrariam. - deu outra mordida em seu burrito, e então continuou: - Para falar a verdade, a única chance que você tem com alguém nesta escola é com ela. - o moreno apontou para a maior inimiga da infância de Austin, Allycia Dawson. Todos na escola conheciam o passado da garota, mesmo ela não tento contado a ninguém. Com apenas duas semanas de vida, perdeu o pai para o álcool. Sua mãe é uma ex-psicóloga de quarenta e três anos que quase surtou por falta de dinheiro após a morte do marido. Em alguns meses o dinheiro voltou à casa, alimentando os rumores de que Penny, mãe de Allycia, começara com a carreira de garota de programa. Allycia Dawson, ou só Ally, como prefere, teria tudo para ser uma garota depressiva, que se cortava, mas não; Ally é a garota mais incrivelmente corajosa que Austin já conhecera (não que conhecesse muitas garotas), mas também era incrivelmente chata.

Austin e Ally não se suportaram desde que seus olhos se encontraram. Peter os incentivava a brincar todos os dias, mas algo ruim sempre acontecia. Árvores incendiadas, pessoas encharcadas de água, ossos quebrados, entre outras coisas piores.

– Não sei se você percebeu o que acabou de dizer - falou Dez. - Ela detesta qualquer tipo de pessoa que dedique boa parte de seu tempo jogando em um Xbox, ou seja, ela me odeia. - Dez pegou uma rosquinha com maionese e um iogurte de sua mochila. Austin não se surpreendeu. Era típico de Dez trazer lanches inusitados.

Austin comia em silencio, apenas observando os dois discutirem que tipo de pessoa não gosta de jogar Xbox ou PS4. O loiro ficou mais um tempo ali, então seu tio chegou com o carro mais antigo que já vira, batizado pelo mesmo de CAPC (Cavando A Própria Cova). Se o tio soubesse o que CAPC significava, provavelmente Austin nunca ganharia o carro que tanto pedia. O loiro se despediu de seus amigos e correu até o CAPC.

– Boa tarde, Austin! - falou seu tio, James. - Como foi o dia?

– Do mesmo jeito, tio. - respondeu baixinho, sem encará-lo. O loiro colocou o sinto de segurança e disse ao tio que não queria conversar.

Todo o caminho foi silencioso para Austin. Mesmo com o som do rádio, mesmo com as cantorias do tio, mesmo com todas as bandas de escola ensaiando, ele não percebeu nada. Sua cabeça estava concentrada em apenas uma coisa: os sonhos que vinha tendo. Tudo começou com a imagem de uma garota foi formada por cabeça, quando ele tinha apenas oito anos. Então a imagem ficou mais clara e ele pôde ver a quem era a garota com quem vinha sonhando: era Allycia Dawson bebê. O loiro passou dez anos tendo o mesmo sonho com a garota, até que tudo começou a ficar mais estranho. O bebê estava no dentro de um círculo de fogo, e uma voz ecoava pela sala em que estava. "A guerra está próxima. Temos que matá-lo para evitá-la" Então o sonho mudava. Dessa vez era ele o bebê, mas dentro de um círculo de água, sob a terra. A mesma voz ecoou pela caverna, dizendo a mesma frase. E então ele sempre acordava quando chegava aí.
– Tio... - Austin começou, mas se conteve a continuar falando. - Não, esquece.

James o encarou. Austin afundou no banco do carro, sentindo-se desconfortável pelo novo olhar. Praguejou em silêncio por quase contar seu segredo para a pessoa mais fofoqueira da face da terra. Se tem alguém que precisava saber disso é Peter, pensou Austin.

O carro parou em frente a uma residência branca de dois andares. A casa dos tios de Austin era simples, mas bem aconchegante. O loiro passou por Victor e sua tia e murmurou um "oi", e então subiu para seu quarto. Austin estava aprendendo a não confiar mais em seus tios a cada linha que lia no diário que encontrara um mês antes. Ele não contou para nenhum dos dois que havia encontrado o livro no porão, achava que eles tomariam deles, e na verdade iriam.

Trancou a porta, arremessou a mochila em sua cama e tirou o diário da mesma. Procurou onde havia parado de ler.

– Achei!

"31 de Agosto de 1954

Hoje foi o pior dia de minha vida! Meus tios estão cada dia mais estranhos. Todas as noites, quando estou indo dormir, um deles aparece em meu quarto e diz que esta poderia ser a última vez que dormia naquela cama, e que estavam tristes por eu ter que ser entregue tão novo. Esta noite tive outro sonho esquisito com uma guerra. Meus tios estavam entre os feridos, mas tinham um sorriso nos lábios. Eu estava atrás deles, então alguma coisa me levou e eles ficaram me olhando partir."

Austin se deitou em sua cama e fechou o livro. Estava cansado e sua cabeça doía. As pessoas que o criaram desde pequeno não seriam realmente as pessoas que diziam ser? Na verdade eram maníacos ou algo assim? Será que não foram eles que mataram seus pais? Essas perguntas rondavam a cabeça de Austin até que ele conseguiu dormir. E então ele sonhou com Ally Dawson.

Ela já estava com sua idade atual, mas pálida demais. Austin tentou caminhar até a garota, porém um abismo se abriu sob os pés dos dois, e eles caíram em uma caverna escura. Estavam presos. Os sons de batalha foram ouvidos à distancia, mesmo de dentro da caverna. Dawson o encarou com os olhos arregalados e derreteu em cinzas.

Austin acordou assustado e ofegante. Já era a segunda vez que acordava assim na semana. Saiu de sua cama e foi até o banheiro; precisava relaxar. Entrou debaixo do chuveiro e deixou que a água realizasse o trabalho de tirar todo o suor do corpo do loiro. A imagem de Ally derretendo em cinzas ainda vagava na mente do garoto.

Saiu do banheiro à procura de uma roupa casual e adequada o bastante para se encontrar com a velha inimiga. Se todos os sonhos eram com Ally, pelo menos ela teria que saber.


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