Eu me levantei, procurei o despertador no criado mudo com a mão, sem realmente olhar para o que estava fazendo. Por fim derrubei meu quadro, meu abajur e meu diário antes de conseguir por fim pegar o celular e desligar o despertador. Me sentei de forma cansada, com a cabeça baixa, os cabelos cobriam minha face, não fiz o mínimo esforço para tirá-los de lá, apenas aceitei o fato que ficariam assim até eu estar plenamente acordada e ter energia para mover os mesmos.

Inclinei-me para levantar o que tinha derrubado e tive que recolocar as letras do meu nome de volta no porta-retratos, aliás, meu nome é Alice. Depois de colocar tudo no lugar eu criei coragem para caminhar até o banheiro e passar uma água no rosto, o que pareceu levar uma eternidade, e então fui tomar um banho.

Saindo do banho eu parecia uma nova pessoa, meus cabelos se assentaram para trás, e mesmo com a umidade escurecendo eles, ainda se podia notar o castanho claro que eles eram, minha expressão era alegre, meu sorriso brotava sempre que pensava que hoje teria coragem para falar com o garoto, que eu descobri se chamar Davi. Destruí meu armário atrás de alguma roupa legal, mas no fim fiquei só no uniforme da escola.

Depois de tomar café da manhã e escovar os dentes, peguei o ônibus para escola, ele não estava lá, mas esperei pacientemente enquanto pensava no que falaria com ele.

Dentro da escola procurei caminhar rápido para a sala, para poder pegar o melhor lugar e poder dormir se eu quisesse. A aula passou devagar, eu já tinha todo o diálogo pronto na minha cabeça, mas aquela maldita aula me fazia querer sangrar até a morte de tédio. Por fim aquilo acabou e tínhamos um intervalo.

Dessa vez me sentei ao lado dele, meio longe do resto de alunos, e tentei conversar com ele.

"Olá, seu nome é Davi né?"

Ele olhou para mim, o seu olhar tinha a mesma expressão de antes; seu interesse voltou a ser o chão, que ele fitava com tanta intensidade que eu mesma comecei a procurar alguma coisa especial naquele piso.

"Então, eu já vi você voltando pra casa no mesmo ônibus que eu, e nas vezes em que te vi, você sempre saiu apressado de lá, não se importando que os outros zoem com você. Por que faz aquilo?"

Essa frase pareceu ter ofendido profundamente ele, ao tempo em que também despertou sentimentos de tristeza. Vi lágrimas brotarem em seus olhos, mas foram logo apagadas por suas mangas, enquanto ele se levantava e mais uma vez ia para a sala.

"Isso não interessa à você, Alice."

Por mais que ele tivesse sido grosso, o que mais me espantou foi o fato de ele saber meu nome, mesmo sem nunca ter ao menos demonstrado interesse por mim. Voltei para as aulas seguintes e apesar de o tempo ter passado rápido eu pensava no que poderia fazer para convencer Davi a falar comigo. Nada parecia que capturaria a atenção dele, então pensei algo que tinha certeza que me faria descobrir mais sobre ele.

Liguei para minha mãe e avisei que chegaria atrasada em casa, subi no ônibus e mantive minha atenção nele o tempo todo, então quando sua parada chegou e ele se preparou para sair, eu me preparei para ir junto com ele.