Todos riram do garoto que tropeçou ao sair do ônibus e disparou em direção à sua casa. Foi a primeira vez que prestei atenção nele. Magro, pálido, altura mediana, mãos agitadas para segurar seu material enquanto corria.

Meu pensamento permaneceu nele durante toda a noite, eu não sabia o porquê. No dia seguinte acordei cansada e me arrumei para escola.

Cheguei alguns minutos atrasada, mas consegui assistir a aula. Durante o intervalo me sentei próxima ao garoto do ônibus. Pude notar que seus olhos eram de um profundo castanho claro, seus cabelos eram escuros, mas fios brancos saltavam aqui e ali, um detalhe no mínimo interessante para um jovem de quinze anos, mas minha análise foi interrompida por seu olhar ao mesmo tempo frio e carente.

Então ele se levantou e andou para sua sala, deixando-me a pensar sobre ele mais do que o pouco tempo que o conhecia parecia permitir. Esses pensamentos ocuparam meu subconsciente durante todo o fim do período enquanto eu assistia às aulas.

Eu entrei no ônibus e guardei um lugar para ele, mas o garoto se sentou em um banco diferente e parecia ansioso para que seu ponto chegasse, para ele descer.

O caminho foi longo, eu via todos conversando, até mesmo vi um dinheiro passando de uma mão para outra enquanto riam e apontavam para ele, todos no ônibus tinham amigos ou alguém com quem falar, menos ele que parecia perdido em seus pensamentos enquanto seus pés balançavam apoiando apenas a ponta dos mesmos no chão.

Algum tempo depois o ônibus parou em uma rua movimentada, com residências dos dois lados, as conversas se dissiparam em poucos segundos e a atenção de todos se voltou para o garoto, que mais uma vez correu para fora do veículo, mas um dos meninos colocou o pé na sua frente e fez ele cair.

Isso não pareceu atrapalhá-lo, ele apenas juntou suas coisas do chão e continuou seu caminho, enquanto todos riam dele, todos menos eu.

Mais um dia se passou desde a primeira vez que o notei, e decidi que falaria com ele no dia seguinte.