Separados Por Uma Década escrita por KurtNiaboc


Capítulo 2
Capítulo 2 : A misteriosa garota




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Após o primeiro dia de aula, Jorge resolverá não contar para a mãe sobre a hippie que conhecera de manhã. Sua mãe foi uma grande ativista de esquerda, que lutou em defesa de minorias e pelos direitos das mulheres, ela sempre foi contra qualquer tipo de preconceito, mesmo assim, Jorge não sabia se ela aprovava ou não os hippies, mas para ele não fazia diferença. Katherine como não terá uma boa relação com seus pais, nem mesmo pensou em falar algo à eles, que sempre diziam, para ela não incomoda los com detalhes futeis, seu pai era um médico que sempre estava trabalhando, nunca deu muita atenção para Katherine, e não gostava do estilo hippie da filha, dizia que ela iria virar "um lixo comunista". Sua mãe ficava o dia todo em casa, fofocando e reclamando da vida; as vezes Katherine tinha medo de acabar tendo uma vida igual a da sua mãe, monótona e tediosa, prometeu para si mesma que não dependeria de nenhum homem e devoraria o mundo, conhecendo lugares incríveis.
A tarde vai avançando, Katherine decide encontrar alguns amigos hippies no " Café Anos 60", o velho bar, é um dos principais e poucos pontos de encontro da sua tribo. No caminho, encontra Jorge, sentado num dos bancos da Praça 1001, mas ela só o reconheceu, por que novamente teve seus olhos fuzilados. Ele não estava mais com o grande moicano, seu cabelo caía até os ombros, cobrindo alguns espinhos da jaqueta, ao seu lado estava uma garota loira de cabelo curto, também usava jaqueta, calça rasgada. E então Jorge e a garota começaram a se beijar, Katherine não sabia o que sentir, mas ela não deu importância, afinal Jorge não era nada feio, então devia ser normal ele beijar várias garotas, pensou. Mesmo assim, não viu motivo para se incomodar já que os dois se odiavam, então apenas sorriu para provocar, enquanto continuava a ser fuzilada. E caminhou normalmente para o bar.
Era um grande salão, que tinha as paredes brancas com tom ocre passando pelo meio, o chão marrom formava um grande e único quadrado principal, possuía um pequeno bar e uma danceteria, onde tocava rock psicodélico e clássicos dos anos 60, também possuía vários quadros de grandes revolucionistas e influências do mundo hippie. A direita do bar e a esquerda da danceteria ficavam algumas mesas com quatro a cinco banquinhos a sua volta. Hippies de todas as idades frequentavam o lugar, mais na sua maioria eram todos jovens, que sonhavam em ser revolucionários. Todos os tipos de estilos hippies ali, podia se encontrar, uma mulher com calça boca-de-sino outra com saia de cigana, um cara usando colar com o pé de galinha, alguns velhos, que possuíam a barba tão grande que dava para fazer tranças, eles eram muito respeitados, por terem vivido nos anos 60, o auge do movimento. Os jovem eram mais radicais na sua aparência, uma garota usava dread no cabelo, com uma blusa personalizada a tintas naturais e completando com a grande saia cigana que era moda no local. Um jovem usando colete, bota e uma camisa totalmente colorida das mais hippies possíveis e nas pernas o enorme jeans azul.
Aquele espaço, era o lugar ideal para Katherine, ela o visitava quase todos os dias. Por lá ficou até as 20:00; bebendo, rindo, ouvindo rock psicodélico e conversando com seus amigos. Bob um hippie ruivo, magro, olhos verdes e de rosto anguloso, conhecido como Irlandês, era considerado um dos melhores amigos de Katherine, ele frequentava aquele bar diariamente. Os dois passavam horas, discutindo sobre música, amor e guerra, até combinaram de sair viajando pelo mundo, Bob sempre foi apaixonado por Katherine, mas nunca tivera coragem de contar. Também estava por lá Janice uma hippie de pela escura, com seu grande cabelo de estilo black se destacava, sempre usava alguma bandana na cabeça, estava vestida com sua blusa roxa, um colete branco metálico por cima, e uma calça azul boca-de-sino; muito carismática e conhecida por todos no bar, era a melhor amiga de Katherine. Bob, Janice e Katherine, estavam conversando e bebendo numa mesa mais afastada das outras.

– Eu discuti com um punk hoje.

– Você não devia ter feito isso, eles são perigosos Kath.

– Bob, ele não me ameaçou de nada, talvez tenha me matado na sua mente, porém eu senti algo diferente, os punks podem não ser tão agressivos assim, apenas rebeldes.

– Hahaha, amiga passe no ninho punk, o covil deles, com essa roupa, eu duvido! Você sair viva de lá, eles nos odeiam.
Exclamou Janice!

Um dia, mas não hoje.
Respondeu serenamente Katherine.

Quando voltará Jorge, não estará mais na praça 1001, Deve estar no covil. Pensou.
E no piscar de olhos a noite passou, outro dia no colégio começaria. O vento soprava forte naquela fria manhã na grande cidade de São Paulo, vestiram suas típicas roupas hippie e punk.
Ao chegar na sala, novamente foi uma das primeiras, exceto pelo fato de quando chegará dessa vez, ele já estava lá. Sentou se na mesma carteira do dia anterior ao lado de Jorge e reparou que o símbolo de paz e amor que haverá desenhado no dia anterior, agora estava coberto por um grande A anarquista.

– Qual o seu problema! Por que fez isso com o meu símbolo!

– Hippie de merda! Não estou nem aí para o seu desenho.

– Punk isolente, se você acha que vou começar a trocar ofensas, pode esquecer isso nunca vai acontecer!

Respirou fundo e colocou para fora a energia ruim.

– Bem alunos, temos uma nova pesssoa na classe, por favor se apresente, Gabrielle!

A garota ficou parada na frente de todos por um minuto, sem se mexer ou dizer algo. Usava coturno nos pés, um pentagrama no pescoço, o vestido preto descia pelo seu corpo, sua pele branca ficava em contraste com seu cabelo liso escorrido.
Jorge parecia impressionado e admirado. Katherine olhou para ele e falou baixinho, Tenho medo de saber sobre o que ele está pensando. Ela não deu muita importância para a garota afinal seria outra punk na sala, para Jorge estar tão impressionado.

– Por favor me chame de Allya. Se você acha que sou louca! Acertou!

– Ótimo mais uma psicopata na sala.
Cochichou o Professor Fernando.

– Eu ouvi isso Fernando, não estou nem aí para o que você acha de mim, apenas gostaria de me sentar no fundo, ao lado daquela garota Hippie e daquele garoto Punk por favor.

Jorge deu um grito, a garota queria sentar ao seu lado. Enquanto Katherine bem, ela viajava no seu mundinho, não dando atenção.

– Mas, senhorita "Allya", por favor nos conte, por que veio para está escola?

– HEY! gritou Allya assustando alguns alunos inclusive Fernando.

– Eu fui expulsa do meu antigo colégio, eu discute com alguns alunos, e soquei a cara de dois colegas meus, e pixei "Deus é gay" numa das paredes da escola.

– E por que fez isso?
Disse o professor assustado.

– Por que sou bissexual! E alguns deles foram preconceituosos, foi uma forma de protesto.

– Estou comovido, bem pode se sentar na frente de Jorge o garoto "Punk".

Ela então caminhou em direção a sua mesa, se aproximando de Jorge, deu uma rápida olhada para Katherine, que ainda parecia estar viajando, não estranhou os olhos pervertidos de Jorge.

– Então você é bissexual? Uau! Topa....

Antes que Jorge terminasse de falar Allya o interrompeu.

– Nem pense nisso.

Katherine olhou para os dois sem, entender sobre o que falavam.

– Oi você é hippie não é? Eu me chamo Allya.

– Eu me chamo Katherine, você é Punk então deve me odiar.

– Eu? Punk?
Allya riu por algum tempo. Enquanto falava surpresa.

– Como não consegue ver a diferença eu sou uma GÓTICA!

– Hippie iludida, não confunda gótico com punk. Retrucou Jorge

– Alô quem tá falando ah não conheço! Oi menina gótica. Respondeu Katherine

– Que clima tenso aqui.

– Ele/Ela que me provoca!
Gritaram os dois ao mesmo tempo!

– Talvez a senhorita Katherine e seus amigos, tenham algo a compartilhar com a sala.
Disse o Professor Fernando num tom bravo.

Por incrível que pareça, Allya conseguiu se dar bem com Katherine e Jorge, mesmo os dois se odiando ela conversará normalmente, e foi assim pelo menos até o intervalo.

– Por que vocês gostam de ir à cemitérios. Perguntou Katherine curiosa.

– Porque é um lugar calmo, tranquilo e sereno.

– Emocionante...
Falou Jorge num tom entediante se intrometendo na conversa.

– Como se ser Punk fosse algo ''emocionante''.
Retrucou Katherine.

– Hippie Idiota. Continue se iludindo nessa sua vida de merda

– Argh! Não vou me contaminar.

Katherine se levantou e saiu para o intervalo dando as costas à Allya e Jorge.

– Por que és tão rude com ela?
perguntou Allya.

– Por quê? Você viu a ideologia que ela segue.

– Mas, Jorge vocês punks defendem tanto a liberdade, os hippies também defendem uma sociedade alternativa, livre do capitalismo. Não entendo o porque de vocês brigarem tanto.

E então Allya caminhou em direção à porta, deixando Jorge.

Katherine estava sozinha no intervalo, Allya sentou-se, ao seu lado.

– Como está ?

– Bem, apesar de tudo.

– Sente raiva dele?

– Não, se uma coisa que nos hippies aprendemos, e não guardar raiva de ninguém...

Pouco tempo se passou e então, Jorge senta ao lado das duas. Katherine da um pequeno sorriso para Jorge, que retribui, mas ela logo fecha a cara e ele também. Allya apenas revira os olhos sentada entre os dois, empurrando a mão boba de Jorge.


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