Biosphera - A Nação do Zodíaco escrita por snow Steps


Capítulo 2
A1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/641655/chapter/2

Suas pernas ágeis cortam as plantas rasteiras da Floresta de Sheratan, driblando com precisão as vigorosas raízes das árvores milenares que se erguem a incontáveis metros acima. O emaranhado de galhos cobertos de folhas forma uma rede que peneira a luz do Segundo Sol, fazendo com que A1 localize seu alvo entre os troncos com mais dificuldade. Mesmo não conhecendo aquele terreno tão bem quanto um sagitariano (inclusive não tendo permissão para invadir aquele território sem o consentimento da tribo Sagitarius) A1 corre com todas as suas forças reunidas atrás de L1, prometendo a si mesmo que desta vez ele não irá escapar.

Não é a primeira vez e não será a última que um leonino baterá de frente com um ariano, disso A1 muito bem sabe. Porém A1 é o líder-geral das tribos, e garante com firmeza de que é o responsável por tudo que acontece naquele planeta, dando-lhe o direito de ser nada mais que... o dono dela.

O esguio L1 se infiltra entre os galhos pontudos e até então a sorte está a seu favor, dando-lhe uns cem metros de distância do feroz A1 que ruge com ferocidade, espantando todos os pássaros da floresta. Contudo, o espinho de uma sorrateira planta escondida entre as folhagens mortas do solo penetra em cheio seu calçado, fazendo com que o rapaz dobre os joelhos em dor e capote em giros intermináveis, até que seu corpo seja freado por um tronco derrubado.

A1 sorri em deleite ao ver sua presa se contorcendo e estirada no chão, com as mãos segurando o pé sangrento. Caminha pomposamente até L1, pousando sobre a testa do garoto seu sapato de couro curtido.

_ Você poderia correr por todo esse planeta, mas jamais conseguiria escapar de mim. O que você tem nessa cabeça, L1, hã? – O líder das tribos esfrega a sola do sapato sobre o rosto da vítima, provocando uma enorme mancha de terra.

_ Tudo o que falta em você – Responde L1, com um sorriso desdenhoso.

De repente, num golpe tão ágil e rápido que nem mesmo os olhos do virginiano mais perspicaz poderiam acompanhar, L1 chuta a panturrilha de A1 que desequilibra e cai ao seu lado. No mesmo instante, o hábil leonino enlaça o pescoço do líder com os braços, fazendo com que o caçador vire sua caça.

_ Pare de achar que é o melhor do mundo, Aidiota. Se realmente fosse inteligente, já teria desertado do cargo há muito tempo – Provoca L1, os olhos azuis brilhantes em meio a face enlameada.

_ O problema L1 – Inicia A1, ofegante – é que a liderança vem da força, e não da inteligência – E em seguida o grande ariano empurra o corpo esguio do leonino com seus musculosos braços, e os braços magros do outro se desenroscam de seu pescoço com facilidade.

A1 se ergue e bate a terra da roupa, agora suas feições expressando que já está farto da desobediência de L1 naquele dia. É natural que eles vivam brigando, mas ultimamente a tribo leonina vem se mostrando fora do controle mais do que o comum.

_ Vou perguntar apenas uma vez: o que você veio fazer na Floresta de Sheratan? – Interroga A1 com firmeza, pisando bem forte sobre o pé ferido de L1, que solta um urro de desespero.

_ VAI SE FERRAR! – Brada o leonino, enterrando os dedos na terra.

_ Vamos pelo jeito difícil então? – Diz A1, soltando um arquejo. Ele caminha até a lateral do corpo estirado de L1, e lhe chuta a costela com tamanha força que a fratura no mesmo segundo.

_ AAAAAAAAAAH – Berra novamente L1, com seu grito ecoando pela floresta silenciosa ao passo que a gargalhada de A1 ressoa.

_ Fale logo o que eu quero, pelo amor da Nave Mãe. Sinto-me mal com tamanha covardia – Ironiza o líder, ainda mantendo o sorriso maléfico nos lábios. – Você não é autorizado para andar pelas regiões de Sheratan. O que veio fazer aqui?

_ Segundo as regras, os arianos também não são bem-vindos aqui – Surge uma terceira voz, por trás de A1.

O líder vira sobressaltado, e encontra S5. Rapidamente sua língua se enfesta com gosto amargo, ao se deparar com o olhar frio e cortante do líder de expedições em territórios inexplorados: o quinto sagitariano. O quinto sagitariano é uma referência para o povo da Biosphera, havendo mitos e lendas sobre os perigos e aventuras a qual já passou. Seu rosto é inconfundível – a enorme cicatriz que lhe atravessa a boca e a parte da orelha direita arrancada são os troféus de guerra que recebera depois de lutar com um troudo – uma fera gigante que ameaçou a destruição dos campi anos atrás.

_ Não se meta nisso, S5 – Revida A1 com sangue no olhar, entretanto em voz baixa.

_ Acho que finamente na história dessa humanidade os librianos gostarão de ajudar um leonino – Afirma S5, ao notar o pobre L1 jogado num canto e coberto de sangue. – Você pode ser o líder da Biosphera, porém isso não lhe dá o poder de invadir Sheratan e muito menos de espancar um de nós. Acho que você está com problemas, A1 – Continua o sagitariano em tom sério, porém é possível perceber um quê de prazer no fundo de sua voz.

_ Quem irá ouvir você, S5? Que tipo de poder acha que possui? Eu sou o seu líder, e o líder dos que seguem você.

_ S7 e S12, carreguem o L1 até o nosso acampamento. Lhe deem assistência básica e cuidem de seus ferimentos – Ordena S5, e sem hesitação os dois sagitarianos o obedecem. – Muitos me ouvem A1, mais do que você. Acho que seus conceitos estão ultrapassados. Você pode ser o líder geral segundo as regras, mas não significa que seja o único daqui.

_ Você não é ninguém, S5, está ouvindo? – Retruca A1, com tanta ferocidade que gotas de saliva atingem o rosto do sagitariano.

_ A1, eu o convido para uma reflexão. – Diz A5, entrelaçando as mãos nas costas e se dispondo a andar em círculos. – Aqui, neste instante, eu possuo uma equipe de oito sagitarianos os quais conhecem melhor do que toda a Biosphera os territórios da floresta de Sheratan. Não seria uma tarefa complicada assassiná-lo e esconder o seu corpo nas cavernas subterrâneas a oeste. Dariam você como um desaparecido, até as procuras desistirem e o declararem finalmente como morto.

_ De nada adiantaria, S5. A Nave-Mãe colocaria outro súdito meu como líder geral. A tribo ariana sempre prevalecerá – Declara S1 rispidamente, no entanto seu timbre vacila no final transparecendo um pouco do seu medo.

_ Sim, claro. Mas não se preocupe, A1. Os sagitarianos não agem assim tão descaradamente. – S5 não evita um sorriso de canto. – Agora faça-me o favor de se retirar do meu território.

_ Seu território? – Devolve A1, sarcástico.

S5 solta um arquejo, impaciente.

_ Sim, exatamente como ouviu. Aqui em Sheratan você nada lidera. As criaturas que aqui vivem obedecem somente a mim.

_ Criaturas? Como o quê, os passarinhos e peixinhos?

_ Não menospreze as forças que desconhece, ingênuo A1.

S5 lança novamente seu olhar penetrante, e uma quietude reina sobre a floresta de modo temeroso. De repente, um som de chacoalho predomina por todos os lados, e os galhos robustos das árvores que os circundam se movem de maneira lenta e ritmada em direção a eles, obstruindo todas as passagens de luz solar. A1 encara abismado o rosto cético de S5, que se mantém impassível e tranquilo.

_ O que está havendo?! – A1 interroga, olhando simultaneamente para as árvores que ganham vida e formam um emaranhado de galhos que os cercam.

_ Isso, meu caro A1, é a vida em Sheratan.

S7 e S12 colocam L1 em repouso sobre uma maca talhada em pétalas de Munilla, uma flor gigantesca cuja superfície sedosa é utilizada para forrar camas e cadeiras. Os olhos azuis do garoto já estão sem vitalidade, e sua pele está cada vez mais pálida.

_ Me veja o cantil de água das cavernas subterrâneas – Pede S12 para S7, que rapidamente lhe entrega o recipiente.

A sagitariana apanha um pano seco e o umedece com a água, cuja cor é de um azul vívido. Ela analisa o pé ensanguentado com o enorme espinho atravessando o peito, e então morde o lábio inferior.

_ Não sei se a água será o suficiente. O ferimento está bastante exposto. – Comenta S7, aguardando a opinião de S12.

_ Me... deixem... – Ofega L1, suas feições retraídas de dor. – Eu já estou... morto...

_ Não, não está – Contrapõe S12, decisiva.

S12 sempre teve um forte fascínio pelo corpo humano, e gostava de analisar feridas para descobrir o que havia dentro delas. No entanto, a única conclusão que ela chegou foi de que só havia sangue e mais sangue. As pessoas não costumavam se machucar gravemente na Biosphera, e as poucas que sofreram graves acidentes – como S5 – geralmente não sobreviviam para contar a história. S12 sabe que a ferida e a fratura na costela de L1 são grandes demais para que o corpo se recupere sozinho, e provavelmente dali alguns dias aquele machucado se tornará escuro e inchado, apodrecendo cada parte da carne de L1. Ela não faz ideia de como trata-lo, e o único “medicamento” que os sagitarianos dispõem é da água das cavernas subterrâneas, a qual não muito gera resultados positivos.

_ Me... mate... S12... me... mate e... diga aos librianos que... A1 me assassinou...

_ Você está delirando L1 – Ela interpõe, indignada. – O plano está sob controle. A1 será retirado do poder em breve e...

_ Não... não vai... é por isso que... vim até... aqui... – Persiste L1, aguentando as pontas para não cair em inconsciência. O futuro da Biosphera depende daquela informação. – A Nave-Mãe... sabe... há um... novo líder... esperando...

_ Como assim? – Indaga S12, perplexa.

_ Ele tem... a nossa... idade... está esperando... na incubadora...

_ Não é possível. A incubadora só desenvolve embriões. Não há como trazer alguém da nossa idade...

_ Mas eu vi, com os meus olhos... ele está escondido... numa incubadora confidencial...

_ Merda. – Ela xinga baixinho, colocando a mão na cabeça e digerindo as novas informações.

Todo o planejamento que a tribo Sagitarius e Leo haviam arquitetado acabara de ser demolido. Como um ser humano adulto pode ter sido desenvolvido numa incubadora? De onde ele veio? Como a Nave-Mãe soube de tudo?

_ Talvez ele tenha razão. – Sussurra S7, assombrado.

_ Em relação ao quê? – Pergunta S12.

_ Se A1 for julgado como culpado do assassinato de L1, a tribo de Áries perderá o direito de prosseguir com o mandato. Uma nova seleção precisará ser feita.

_ Se há um novo ariano do nosso tamanho na incubadora, é óbvio que a Nave Mãe já suspeita de um boicote. Nossa, eu ainda não consigo imaginar como isso está acontecendo...

_ Mas a Nave-Mãe segue as regras. Ela sempre seguiu. E a lei é clara: se o líder geral tirar a vida de um súdito na Biosphera, ele perderá o direito de liderança assim como a sua tribo não poderá assumir o cargo na próxima eleição.

_ Ele... está... certo...- Insiste L1. – Acabem logo... com isso...

S12 meneia com a cabeça, contraditória e indecisa. Matar L1 para retirar A1 do poder é algo muito radical e impreciso. No entanto, se antes eles estavam dispostos a matar várias vidas inocentes para tirar a liderança ariana, o que seria matar apenas uma...

_ Algum último desejo, L1? – S12 indaga, amargamente.

_ Sim... vinguem L3 por mim. Faça o A1 pagar por todos os seus pecados.

S7 sabe que a S12 não possui coragem para tomar tal atitude violenta. Então ele saca a pedra lapidada em forma de lança, a qual guarda no bolso para situações de perigo, e num golpe único acerta o coração de L1 no meio, fazendo com que o rapaz solte o seu último suspiro de agonia. Os dois sagitarianos observam a mão de S7 mergulhar em sangue, mantidos em estado de choque.

_ Vingaremos sim, L1. Eu prometo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Biosphera - A Nação do Zodíaco" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.