Twilight - a Magia do Amor escrita por Sol Swan Cullen


Capítulo 6
5º Capítulo - Convites




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(Bella POV)

 

No meu sonho, estava muito escuro e a luz esbatida que existia parecia irradiar da pele de Edward. Eu não conseguia ver-lhe o rosto, mas apenas as costas, à medida que se afastava de mim, deixando-me no negrume. Por mais depressa que corresse, não conseguia alcançá-lo; por mais alto que o chamasse, ele nunca se virava. Continuei a correr atrás dele, chamando o seu nome, até que no meio da escuridão surgiu um rectângulo de luz e Edward entrou por ele. Esperava que o som da minha voz fosse o único a preencher o ar, mas então um som muito mais alto e desesperado ecoou; era o choro de um bebé e Edward seguia na direcção do som. Segui-o para o rectângulo de luz e então encontrei-me num quarto de bebé com as paredes azuis claras, no meio do quarto estava o berço de onde provinha o som e ao lado do berço, Edward abaixava-se para pegar na pequena criança que chorava; aproximei-me querendo ver o rosto dele e da criança, quando ele começou a entoar uma canção de embalar para acalmar a criança. A voz de Edward dizia palavras que eu não percebia e quando eu estava quase a alcançá-lo e à criança… acordei. Depois disso, ele e aquela criança estiveram presentes nos meus sonhos praticamente todas as noites, sempre o mesmo sonho do berçário e eu nunca a conseguir ver o rosto de ambos.

O mês que se seguiu ao acidente foi intranquilo, tenso e, a principio, embaraçoso.

Para minha consternação, dei por mim a ser o centro das atenções durante o resto daquela semana, Tyler Crowley estava impossível, seguindo-me para todo o lado, obcecado com a ideia de me ressarcir de alguma forma. Tentei convencê-lo de que o que eu queria, acima de tudo, era que ele esquecesse tudo aquilo – dado que não me acontecera nada de grave – mas ele manteve-se insistente. Seguia-me nos intervalos das aulas e ao almoço sentava-se à nossa mesa, que estava agora apinhada de gente. Mike e Eric mostravam-se ainda mais hostis relativamente a ele do que um em relação ao outro, e preocupou-me com o facto de ter conquistado um novo admirador indesejado.

Ninguém parecia preocupado com Edward, embora eu tenha explicado repetidas vezes que fora ele o herói – como me afastara da trajectória da carrinha e quase fora também esmagado. Tentei ser convincente. Jessica, Mike, Eric e todos os restantes comentavam sempre que nem sequer o tinham visto lá até a carrinha ter sido removida.

Perguntei a mim mesma por que motivo é que ninguém o vira de pé a uma distância tão considerável antes de estar súbita e incrivelmente a salvar-me a vida. Com desgosto, apercebi-me da causa provável – mais ninguém estava tão atento a Edward como eu sempre estava. Ninguém o observava da mesma forma que eu. Que lástima!

Edward nunca esteve rodeado por multidões de curiosos espectadores ávidos do seu relato em primeira mão. Como de costume, as pessoas evitavam-no. Se ele realmente fosse um de nós, talvez ele tivesse feito um feitiço para manter as pessoas afastadas. Talvez eu devesse fazer o mesmo. Os Cullen e os Hale sentaram-se à mesma mesa, como sempre, não comendo, mas apenas conversando entre si. Nenhum deles, sobretudo Edward, voltou a relancear o olhar na minha direcção.

Quando se sentou a meu lado na aula, tão longe de mim quanto a bancada permitia, parecia totalmente alheio à minha presença. Só às vezes, quando os seus punhos se cerravam subitamente – com a pele esticada a ficar ainda mais branca sobre os ossos -, é que eu me interrogava se estaria tão absorto como aparentava.

Ele gostaria de não me ter afastado da trajectória da carrinha de Tyler – não havia outra conclusão a que eu pudesse chegar.

Queria muito conversar com ele e, no dia posterior ao acidente, tente. Da última vez que estivemos juntos, no quarto do hospital, estávamos ambos imensamente furiosos. Eu estava ainda zangada com o facto de ele se recusar a confiar-me a verdade, ainda que eu estivesse a cumprir à risca a minha parte do acordo. No entanto, ele salvara a minha vida, independentemente da forma como o fizera, e, de um dia para o outro, o calor da minha raiva extinguira-se para se transformar em temerosa gratidão.

Ele já estava sentado quando cheguei à aula de Biologia, olhando em frente. Sentei-me, esperando que se voltasse na minha direcção. Não evidenciou qualquer sinal de que se apercebera da minha presença.

- Olá, Edward! – Exclamei de forma amável, para lhe mostrar que eu iria portar-me bem.

Ele virou um pouco a cabeça na minha direcção sem cruzar o seu olhar com o meu, acenou uma vez com a cabeça e, em seguida, olhou no sentido oposto.

Este foi o último contacto que tivemos, embora ele estivesse ali, a trinta centímetros de distância, todos os dias. Por vezes, observava-o, não sendo capaz de o evitar – ainda que à distância, na cantina ou no parque de estacionamento. Via os seus olhos dourados tornarem-se perceptivelmente mais escuros a cada dia que passava. Na aula, todavia, eu não aparentava dar-lhe mais importância do que ele a mim. Estava infelicíssima. E os sonhos continuavam.

Apesar das minhas mentiras francas, o teor dos meus e-mails alertou Renée para a minha depressão e ela telefonou-me algumas vezes, preocupada. Tentei convencê-la de que era apenas o tempo que me fazia sentir desanimada.

Mike, pelo menos, ficou satisfeito com a manifesta frieza que existia entre mim e o meu parceiro de laboratório. Eu via que ele estava preocupado com a possibilidade de o ousado resgate que Edward protagonizara me ter impressionado e ficou aliviado por tal parecer ter surtido o efeito contrário. Tornou-se mais confiante, sentando-se na beira da minha bancada para conversar antes de a aula de Biologia ter início, ignorando Edward tanto quanto ele nos ignorava.

A neve desapareceu definitivamente depois daquele único e perigoso dia. Mike estava desiludido por não ter chegado a organizar a sua luta na neve, mas satisfeito pelo facto de a viagem à praia poder realizar-se em breve. A chuva, porém, continuava a cair copiosamente e as semanas foram passando.

Jessica informou-me acerca de um outro acontecimento que começava a surgir no horizonte – telefonou na primeira terça-feira de Março pedindo a minha permissão para convidar Mike para o baile da Primavera, que decorreria dentro de duas semanas, e para o qual eram as raparigas que escolhiam o seu par.

- Tens a certeza de que não te importas… não tencionavas convidá-lo? – Insistiu ela quando lhe disse que não me importava minimamente.

- Não, Jess, eu não vou. – Assegurei-lhe.

A dança não era propriamente um dos meus talentos.

- Vai ser extremamente divertido.

A sua tentativa no sentido de me convencer era desprovida de entusiasmo. Suspeitava que Jessica preferia a minha inexplicável fama à minha companhia propriamente dita.

- Diverte-te com o Mike. – Incentivei-a.

No dia seguinte, fiquei surpreendida com o facto de que Jessica não se mostrar efusiva como era seu hábito nas aulas de Trigonometria e Espanhol. Permaneceu calada enquanto caminhava ao meu lado nos intervalos das aulas e eu receava perguntar-lhe o motivo. Se Mike recusara o seu convite, eu era a última pessoa a quem ela quereria contar.

Os meus medos foram reforçados durante o almoço, quando Jessica se sentou tão longe de Mike quanto possível, conversando animadamente com Eric. Mike estava invulgarmente calado. Considerei, por momentos, lançar um feitiço em ambos mas então lembrei-me das lições de ética, dadas pelo meu pai, que tinham acompanhado as lições dos feitiços de controlar as acções.

E Mike continuava calado ao acompanhar-me até à aula, sendo a expressão de pouco à vontade estampada no seu rosto um mau sinal. No entanto, só abordou o assunto quando eu me sentei no meu lugar e ele se empoleirou na minha carteira. Como sempre, eu estava electricamente ciente da presença de Edward, sentado ao alcance do meu toque e tão distante como se fosse um mero fruto da minha imaginação.

- Pois. – Disse Mike, olhando para o chão. Mau sinal, péssimo sinal. Quando os humanos se sentiam demasiado envergonhados para falar era muito mau sinal. – A Jessica convidou-me para o baile de Primavera.

- Isso é óptimo. – Fiz com que a minha voz parecesse animada e entusiástica. – Vais divertir-te imenso com a Jessica.

- Bem… - Hesitou ao examinar o meu sorriso, nitidamente nada satisfeito com a minha reacção. De facto, eu sentia-me subitamente tentada a lançar-lhe um discurso ainda mais desanimador, parte de mim desejava fazê-lo, a outra desejava apenas que ele não fosse dizer o que eu julgava vir a seguir. – Eu disse-lhe que tinha de reflectir sobre o assunto.

A ideia de lhe lançar um feitiço ainda estava de pé.

- Porque farias isso?

Deixei que a reprovação marcasse o meu tom de voz, embora tivesse ficado aliviada com o facto de ele não lhe ter dado um não rotundo como resposta.

O seu rosto estava tingido de uma tonalidade vermelho-vivo ao baixar novamente o olhar. Ele definitivamente devia-me direitos de autor. Um sentimento de pena abalou a minha determinação.

Foca-te, Bella. Nem penses em sentires pena dele. Pensei afastando a pena.

- Estava a perguntar-me se… - Por favor, não digas o que eu estou a pensar. Por favor, não digas o que eu estou a pensar. – Bem, se estarias a pensar convidar-me. – Raios!

Detive-me por um momento, odiando o rapaz loiro à minha frente, mas vi, pelo canto do olho, a cabeça de Edward inclinar-se reflexivamente na minha direcção.

- Mike, acho que devias aceitar o convite dela. – Afirmei.

Tradução: Michael Newton, se não aceitas o convite dela, juro por tudo o que é mais sagrado que te lanço uma maldição!

- Já convidaste alguém?

Abelhudo.

Será que Edward reparou na forma como os olhos de Mike tremularam na sua direcção?

Boa ideia, Mike! Ou melhor, seria se eu pudesse… Pensei com pesar.

- Não. – Assegurei-lhe. – Nem sequer vou ao baile.

- Porque não? – Perguntou Mike.

Não queria correr os riscos de segurança que a dança representava, pelo que fiz rapidamente novos planos.

- Vou visitar uns familiares nesse sábado. – Expliquei. Porquê? Nem eu sei.

De qualquer modo, precisava de sair da cidade – subitamente, surgiu a altura ideal para o fazer.

- Não podes ir noutro fim-de-semana?

E perder a hipótese de me livrar de um baile? Estás a brincar?

- Lamento, mas não. – Respondi. – Não deves, portanto, fazer a Jess esperar mais. É falta de educação.

- Sim, tens razão. – Resmungou ele e voltou-se, abatido, para regressar ao seu lugar.

Fechei os olhos e exerci pressão com os dedos sobre as têmporas. Humanos. Porque é que tinham que tornar tudo tão mais complicado? O professor Banner começou a falar. Suspirei e abri os olhos.

Edward estava a fitar-me com um ar curioso, sendo agora aquele já conhecido laivo de frustração ainda mais distinto nos seus olhos negros.

Retribui-lhe o olhar, surpreendida, esperando que ele se apressasse a desviar o seu, mas, em vez disso, continuou a fixar os seus olhos nos meus com uma intensidade inquisidora. Não se colocava sequer a questão de eu desviar o olhar. As minhas mãos começaram a tremer com a força que eu estava a fazer para manter o monstro quieto.

- Mr. Cullen? – Chamou o professor, pretendendo a resposta a uma pergunta que eu não ouvira.

- O ciclo de Krebs – respondeu Edward, mostrando relutância ao virar-se para dirigir o olhar para o professor Banner

Olhei para o meu livro assim que os seus olhos me libertaram, tentando situar-me. Cobarde como sempre, coloquei o meu cabelo sobre o ombro direito para ocultar o rosto. Não conseguia acreditar na torrente de emoção que pulsava no meu íntimo – apenas porque, por acaso, ele me olhara pela primeira vez em meia dúzia de semanas. Não podia permitir que exercesse tamanha influência sobre mim. Era patético. Mais do que patético, era doentio. Isto no meu lado humano, já no meu lado bruxo, era uma tentação demasiado grande. E eu estava a conseguir controlar-me demasiado bem.

Esforcei-me enormemente por me alhear da sua presença durante o tempo que restava da hora da aula e, visto que tal era impossível, pelo menos por não dar a perceber que lhe dava importância. Quando a campainha finalmente tocou, virei-lhe as costas para reunir os meus pertences, esperando que ele saísse logo, como era habitual. Como uma rotina à qual ambos devíamos estar habituados.

- Bella? – Não, isto não fazia parte da rotina.

Eu não deveria estar tão familiarizada com a sua voz, como se tivesse conhecido o seu som durante toda a minha vida e não apenas durante umas escassas semanas.

Voltei-me lentamente, de má vontade. Não queria sentir o que sabia que iria sentir quando olhasse para a sua face demasiado perfeita. Tinha uma expressão de cautela estampada no rosto quando finalmente me virei para ele; a do seu era indecifrável. Ele nada disse.

- O que foi? Já voltaste a falar comigo? – Perguntei finalmente, com um laivo de petulância não intencional na minha voz. Arrependi-me instantaneamente pelo meu tom de voz.

Os seus lábios contorceram-se, tentando conter um sorriso.

- Não, nem por isso. – Confessou.

Fechei os olhos e inspirei lentamente pelo nariz, consciente de que estava a ranger os dentes. Edward Cullen, tu confundes-me profundamente! O que és tu?! Ele esperou.

- Então, o que queres, Edward? – Perguntei, mantendo os olhos fechados; assim, era mais fácil conversar de forma coerente.

- Desculpa. Eu sei que estou a ser muito indelicado, mas é melhor assim, a sério.

Porquê? Porque é que era melhor assim? Parecia sincero. Abri os olhos. O seu rosto estava extremamente sério.

Será que ele pensava que eu era humana como todos os estudantes desta escola? Será que ele não punha sequer a hipótese de estranhos acontecimentos como o incidente das janelas no primeiro dia serem causados por mim? Será que ele não desconfiava da minha humanidade?

- Não sei a que te referes. – Afirmei, com uma voz cautelosa, tentando disfarçar a minha incredulidade.

- É melhor que não sejamos amigos. – Explicou. – Confia em mim.

Sentir-se-ia ele tão tentado em relação aos meus poderes como eu me sentia em relação aos dele? Se ele fosse um bruxo, claro. Mas se assim fosse, porque quereria ele manter-me viva?

Semicerrei os olhos. Começava a ficar farta destas perguntas. E também já ouvira aquelas palavras antes.

- É pena que não tenhas percebido isso antes. – Disse, com raiva, por entre dentes. – Terias evitado todo esse arrependimento.

- Arrependimento?

O termo e o meu tom de voz apanharam-no desprevenido.

- Arrependimento em relação a quê?

- Em relação ao facto de não teres simplesmente deixado que o raio daquela carrinha me tivesse esmagado.

Ele ficou atónito. Olhava-me com um ar de incredulidade.

Quando finalmente falou, quase parecia enfurecido.

- Julgas que eu me arrependo de te ter salvado a vida?

- Eu sei que te arrependes de tê-lo feito. – Disse com brusquidão. Porque raio não podia ele ser mais directo e contar-me o que realmente era? Ou contar-me como conseguiu salvar-me?!

- Tu não sabes nada.

Estava, sem dúvida, enfurecido.

Virei-lhe a cara bruscamente, cerrando os maxilares para travar todas as desenfreadas acusações que queria dirigir-lhe. Reuni os meus livros e, em seguida, levantei-me e encaminhei-me para a porta. Queria realizar uma saída dramática da sala, mas, como é evidente, fiquei com a biqueira da bota presa na ombreira da porta e deixei cair os meus livros. Fiquei ali especada por um instante, pensando em deixá-los ali ou em fazê-los levitar para as minhas mãos. Se estivesse em Salem, poderia tê-lo feito, os humanos estavam habituados a ver a magia acontecer na sua frente e todos habitavam em harmonia, mas aqui não. Suspirei e curvei-me para apanhá-los. Ele estava ali; já os empilhara. Entregou-mos, com uma expressão dura no rosto.

- Obrigada. – Disse glacialmente.

- Não tens de quê. – Retorquiu ele.

Endireitei-me agilmente, tornei a voltar-lhe as costas e segui altivamente em direcção ao ginásio sem olhar para trás.

A aula de Educação Física foi brutal. Não sei se foi o efeito da raiva, que certamente me fez libertar magia involuntária pelo meu corpo, ou se pelo facto de que eu melhorava a cada dia a minha coordenação motora, mas consegui fazer uma aula inteira de basquetebol sem cair e ainda consegui que a minha equipa vencesse. Considerei a primeira hipótese a mais provável visto que não havia nada que conseguisse retirar Edward da minha mente e isso só me fazia ficar mais irritada.

Ir-me embora foi, como sempre, um alívio. Quase corri até à pick-up; havia tantas pessoas que eu queria evitar. A pick-up sofrera danos mínimos no acidente. Tivera de substituir os faróis traseiros e, se tivesse mandado pintá-la, teria retocado esses mesmos danos. Os pais de Tyler tiveram de vender a sua carrinha para que as peças fossem aproveitadas.

Quase tive um ataque quando contornei a esquina e vi uma figura humana alta e morena encostada à parte lateral da minha pick-up. Então, apercebi-me de que se tratava de Eric. Retomei a marcha.

- Olá, Eric! – Exclamei. O que me quereria ele?

- Viva, Bella.

- O que se passa? – Perguntei enquanto destrancava a porta.

Não estava a prestar atenção ao laivo de pouco à vontade patente na sua voz, pelo que as palavras que ele proferiu de seguida me apanharam de surpresa.

- Aah, estava apenas a pensar… se irias ao baile de Primavera comigo.

A sua voz falhou na última palavra.

- Pensei que eram as raparigas que escolhiam o seu par. – Disse eu, demasiado assustada para ser diplomática.

- Bem, e são. – Reconheceu, envergonhado.

Recuperei a compostura e tentei esboçar um sorriso caloroso.

Missão: Colocá-lo à vontade e muito habilmente recusar o seu convite.

- Obrigada por me convidares, mas eu irei visitar uns familiares nesse dia.

- Ah! – Exclamou ele. – Bem, talvez para a próxima.

- Claro. – Concordei, mordendo, em seguida o lábio. Não queria que ele levasse as minhas palavras demasiado à letra.

Afastou-se cabisbaixo, dirigindo-se novamente para a escola. Ouvi um riso abafado.

Edward estava a passar pela dianteira da minha pick-up, olhando em frente, com os lábios cerrados. Abri a porta com um puxão e saltei para o interior, batendo sonoramente com a mesma depois de ter entrado. Se tivesse tanta força como o meu pai ou como Emily ou até mesmo Ana, certamente teria partido os vidros da carrinha. Embalei o motor de forma ensurdecedora e fiz marcha-atrás até ao corredor de passagem. Edward já se encontrava no seu carro, a dois lugares de distância, recuando suavemente à minha frente, bloqueando-me a passagem. Parou ali – para esperar pela sua família; conseguia ver os quatro a encaminharem-se naquela direcção, mas ainda junto da cantina. Considerei a hipótese de arrancar a traseira do seu Volvo reluzente, mas havia demasiadas testemunhas. Talvez pudesse usar magia para lhe esvaziar os pneus… Nop! Demasiado fácil e estúpido. Olhei pelo espelho retrovisor. Começava a formar-se uma fila. Logo atrás de mim, no seu Sentra usado, recentemente adquirido, encontrava-se Tyler Crowley, a acenar. Eu estava demasiado exasperada para demonstrar que reparara na sua presença.

- Raios! Vá lá, Edward! Mexe-te! Tudo ok que me odeies e que estejas furioso comigo. – Disse olhando aflita para o seu carro. – Mas, por amor de Deus, mexe-te! Por favor, não deixes que aconteça o que eu tenho a certeza que vai acontecer!

Enquanto ali permanecia sentada, lançando o olhar do carro de Edward para os seus irmãos que se encaminhavam MUITO lentamente para o carro, ouvi bater na janela do lado do passageiro e assustei-me. Tarde demais, pensei. Olhei; era Tyler. Voltei a relancear o olhar pelo espelho retrovisor, amargurada. O motor do seu carro estava ainda ligado, tendo a porta ficado aberta. Inclinei-me para abrir o vidro. Estava perro. Consegui abri-lo até ao meio e, depois, desisti.

- Desculpa, Tyler, estou encurralada atrás do Cullen.

Estava aborrecida. Como era óbvio, não era eu a responsável pelo engarrafamento. E estava nada satisfeita com o motivo que certamente motivara a deslocação de Tyler até ali.

- Oh, eu sei; queria apenas pedir-te algo enquanto estamos aqui presos. – Talvez eu estivesse enganada, e eu desejava estar enganada, pelo menos desta vez.

Esboçou um sorriso rasgado. Mau sinal, péssimo sinal.

Isto não podia estar a acontecer-me.

- Convidas-me para o baile da Primavera? – Prosseguiu.

- Estarei fora da cidade, Tyler.

A minha voz parecia um pouco incisiva. Tinha de ter presente que ele não tinha culpa de Mike e Eric já terem esgotado a minha quota diária de paciência.

- Pois, o Mike falou nisso. – Confessou. Deixando-me totalmente estupefacta.

- Então, porque é que…

Ele encolheu os ombros.

- Estava com esperança de que estivesses apenas a recusar o convite dele de uma forma simpática.

Muito bem, a culpa era toda dele.

Eu até lhe poderia dizer que “recusar o convite dele de uma forma simpática” fora o que eu fizera com Eric, por ter muita consideração pela amizade que eu tinha pelo rapaz, o que eu fizera com Mike fora salvar a minha sanidade mental relativamente à minha amiga!

- Desculpa, Tyler. – Disse eu, esforçando-me por dissimular a minha irritação. – Eu vou mesmo sair da cidade.

- Tudo bem. Ainda temos o baile de finalistas.

Então, antes que eu pudesse replicar, já ele se dirigia novamente para o seu carro. Conseguia sentir a irritação estampada na minha cara.

- Não contes muito com isso! – Murmurei.

Olhei em frente para ver Alice, Rosalie, Emmett e Jasper a entrarem no Volvo. Através do espelho retrovisor, os olhos de Edward estavam pousados em mim. Estava indiscutivelmente a tremer de riso, como se tivesse ouvido cada palavra que Tyler pronunciara. O meu pé ansiava por pisar no acelerador… uma pequena colisão não iria magoar nenhum deles, mas apenas danificar aquela lustrosa pintura prateada. Embalei o motor.

No entanto, já todos haviam entrado no carro e Edward partia a grande velocidade. Conduzi até casa lenta e cuidadosamente, resmungando com os meus botões durante todo o percurso. Teria ele feito de propósito para que Tyler me viesse falar? Grr! Mais uma vez, o poder de ler mentes seria extremamente bem-vindo!

Quando cheguei, decidi preparar enchiladas de frango para o jantar. Tratava-se de uma preparação demorada e manter-me-ia ocupada. Enquanto as cebolas e as malaguetas cozinhavam em lume brando, o telefone tocou. Quase receei atendê-lo, mas podia ser Charlie, ou a minha mãe, ou até mesmo a Avó.

Era Jessica e estava jubilosa; Mike interpelara-a depois das aulas para lhe comunicar que aceitava o seu convite. Festejei com ela durante breves instantes enquanto mexia o preparado. Ela tinha de desligar, pois queria telefonar a Angela e a Lauren para lhes contar. Eu sugeri – com descontraída inocência – que talvez Angela, a rapariga tímida que tinha Biologia comigo, pudesse convidar Eric. Por sua vez, Lauren, uma rapariga reservada que sempre me ignorara à mesa do almoço, poderia convidar Tyler; eu ouvira dizer que ele estava disponível. Jess achou que era uma óptima ideia. Agora que a companhia de Mike estava assegurada, parecia efectivamente sincera ao afirmar que gostaria que eu fosse ao baile. Desculpei-me com a minha visita familiar.

Depois de ter desligado, tentei concentrar-me no jantar – sobretudo em cortar o frango em cubos; não queria arriscar uma nova ida ao serviço de urgência, mas a minha cabeça dava voltas, tentando analisar cada palavra que Edward proferira neste dia. O que queria ele dizer quando afirmou que era melhor que não fôssemos amigos? Muito provavelmente, ele pensava que eu era uma humana e não desejava magoar-me, ou então…

O meu estômago contorceu-se quando me apercebi daquilo que ele devia ter querido dizer. Ele devia ter percebido quão fascinada eu estava por ele; não devia querer dar-me falsas esperanças… logo, não podíamos sequer ser amigos… pois ele não estava minimamente interessado em mim.

É claro que ele não estava interessado em mim, pensei colericamente com os olhos a arderem-me – uma reacção retardada às cebolas. Eu não era interessante. E ele era. Interessante… e brilhante… e misterioso… e perfeito… e lindo… e, possivelmente, capaz de levantar carrinhas em peso com uma mão.

Bem, não havia problema. Eu podia deixá-lo em paz. Eu iria deixá-lo em paz. Iria cumprir a minha pena auto-imposta naquele purgatório e, seguidamente, com alguma sorte (para não dizer muita), alguma escola no Sudoeste ou, possivelmente no Havai oferecer-me-ia uma bolsa de estudos.

Uou! Pára, Bella! O que foi aquilo? Tu acabaste de ter pensamentos idênticos aos daquelas rapariguinhas adolescentes dos filmes, disse-me a minha consciência. Por Deus, Bella! Tu és uma bruxa. BRUXA! Não é um rapaz que te vai deitar abaixo!

A minha consciência tinha razão, mais uma vez. Eu não me podia deixar afectar por o que Edward ou qualquer outro rapaz ou rapariga pensassem sobre mim. Eu era superior a isso, tinha que ser. Numa fraca tentativa de afastar o rapaz de cabelos cor-de-bronze da minha cabeça, concentrei os meus pensamentos em palmeiras e praias soalheiras enquanto terminava as enchiladas e as colocava no forno. Pensando nisso, já que sairia de Forks no fim-de-semana do baile e iria a Salem, se estivesse Sol, poderia aproveitar para ir ao lago. Não era uma má ideia.

Charlie pareceu desconfiado quando chegou a casa e sentiu o cheiro de pimentos verdes. Não podia censurá-lo – a região mais próxima onde existia comida mexicana comestível era provavelmente o Sul da Califórnia. No entanto, ele era polícia, ainda que de uma cidade pequena, e filho de uma das maiores bruxas conhecidas, sendo, por conseguinte, suficientemente corajoso para comer a primeira garfada. Pareceu gostar. Era divertido ver como ele começava lentamente a confiar nos meus dotes culinários.

- Pai? – Interpelei quando ele estava quase a terminar a refeição.

- Sim, Bella?

- Hum, queria apenas informar-te de que vou passar o fim-de-semana a Salem de sábado a uma semana… se não houver problema.

Não queria pedir autorização – tal estabelecia um mau precedente. Mas senti que estava a ser descortês e, assim, acrescentei aquelas palavras no final.

Ele olhou para mim e sorriu. Deveria estar a prever o que é que eu iria fazer a Salem. E depois voltou a olhar para o prato.

- Creio que fazes bem, querida. Mas o que vais lá fazer?

Eu pude notar uma leve nota de surpresa na sua voz. Eu também estaria surpreendida caso a minha filha que já não visitava a avó há muito tempo, decidisse ir fazer uma visita à cidade natal assim de repente.

- Bem, queria ir visitar a Avó e os tios… Já lá não vou há muito tempo. E estava a pensar em comprar por lá umas roupas com a ajuda da madrinha.

Tinha mais dinheiro do que aquele a que estava habituada visto que, graças a Charlie, nada tivera de pagar para adquirir um automóvel, ainda que a pick-up me ficasse bastante cara em termos de despesas com combustível.

- Aquela pick-up deve consumir bastante combustível. – Afirmou ele, reproduzindo os meus pensamentos.

- Eu sei, farei uma ou mais paragens no caminho para lá.

- Vais sozinha? – Perguntou ele.

Não consegui perceber se desconfiava que eu tivesse um namorado secreto ou se estava apenas preocupado com a possibilidade de surgirem problemas mecânicos.

- Se pensas que tenho algum namorado, esquece, pai. E sim, vou.

- Eu só queria que te lembrasses que Salem é um lugar protegido, Bella. Mesmo acompanhados por um de nós, os humanos ou outras criaturas não devem ficar a saber daquele lugar. – Disse ele.

- Eu sei, pai. Eu nunca colocaria Salem em perigo.

- Queres que vá contigo?

Tentei ser astuta ao esconder o meu pavor. Se a viagem de Port Angeles para cá, que tinha sido curta, tinha sido estranhamente coberta por um silêncio incómodo, imaginemos uma viagem mais longa dentro da carrinha ou no carro do meu pai para Salem que ficava noutro estado.

- Não é necessário, pai. Até porque quando lá chegar deverei passar o tempo todo com a madrinha e com a Ella em lojas de roupa – será extremamente entediante.

- Oh, está bem.

A ideia de estar sentado em lojas de roupa feminina durante qualquer período de tempo com a sua adorada irmã e sobrinha demoveu-o imediatamente.

- Obrigada! – Exclamei, sorrindo-lhe.

- Tens a certeza de que queres ir? Assim vais perder o baile.

Grr. Só numa cidade tão pequena é que um pai saberia quando é que os bailes do liceu se realizam.

- Tenho, eu não danço, pai.

Justamente ele deveria compreender este facto, uma vez que não herdei os meus problemas de equilíbrio da minha mãe.

De facto, ele compreendeu.

- Oh, é verdade. – Percebeu. – Mas sabes que isso com o tempo vai passar. E já estás quase a chegar aos 18. Estás a melhorar de dia para dia. – Só mesmo o meu pai.

Na manhã seguinte, quando entrei no parque de estacionamento, estacionei o mais longe possível do Volvo prateado. Não queria deparar com uma excessiva tentação e acabar por ficar a dever-lhe um carro novo. Ao sair da cabina, atrapalhei-me ao pegar na chave e esta caiu numa poça aos meus pés. Ao curvar-me para apanhá-la, uma mão branca precipitou-se e agarrou-a antes de eu ter podido fazê-lo. Endireitei-me de súbito. Edward Cullen estava mesmo a meu lado, descontraidamente encostado à minha pick-up.

- Como é que fizeste isso? – Perguntei com espantada irritação.

- Como é que fiz o quê?

Erguia a minha chave no ar enquanto falava. Quando tentei alcançá-la, deixou-a cair na palma da minha mão.

- Aparecer vindo do nada.

- Bella, não tenho culpa de que tenhas uma excepcional falta de poder de observação.

A sua voz estava mais serena do que o habitual – aveludada, abafada.

Lancei um olhar mal-humorado ao seu rosto perfeito. Os seus olhos estavam novamente claros, tingidos de uma carregada cor de mel dourado. Então, tive de baixar os meus, para reordenar os pensamentos agora confusos e evitar usar magia para provar uma hipótese.

- Qual foi o motivo do engarrafamento da noite passada? – Interroguei, desviando ainda o olhar. – Pensei que andasses a fingir que eu não existo e não a matar-me de irritação.

- Foi pelo bem do Tyler, não pelo meu. Tinha de lhe proporcionar a sua oportunidade.

Soltou um riso algo reprimido.

- Seu!... – Exclamei, ofegante.

Não me ocorria uma palavra suficientemente desagradável. Tive a sensação de que o fervor da minha raiva poderia queimá-lo fisicamente, mas ele apenas aparentava estar mais divertido. E era nestes momentos em que eu me sentia realmente tentada a usar os meus poderes.

- E não ando a fingir que tu não existes. – Prosseguiu.

- Então, andas mesmo a tentar matar-me de irritação? Já que a carrinha do Tyler não se encarregou de o fazer?

A raiva passou como um raio pelos seus olhos de um tom amarelo-acastanhado. Cerrou os lábios numa linha dura, tendo todos os vestígios de humor desaparecido.

- Bella, és completamente absurda. – Afirmou ele, com frieza na sua voz grave.

Sentia formigueiros nas palmas das mãos – desejava ardentemente bater em algo. Fiquei surpreendida comigo mesma. Por norma, não era uma pessoa violenta. Voltei as costas e comecei a afastar-me, antes que fizesse algo de que me arrependesse.

- Espera! – Exclamou ele.

Continuei a andar, chapinhando colericamente debaixo de chuva, mas ele estava a meu lado, acompanhando facilmente o meu andamento.

- Desculpa, foi indelicado da minha parte. – Disse ele enquanto caminhávamos.

Eu ignorei-o.

- Não estou a dizer que não é verdade. – Prosseguiu. – Mas, de qualquer forma, foi indelicado da minha parte afirmá-lo.

- Porque é que não me deixas em paz? – Resmunguei.

- Queria perguntar-te algo, mas tu desviaste-me dos meus fins. – Declarou, soltando um riso abafado.

Parecia ter recuperado a boa disposição.

- Sofres de um distúrbio de múltipla personalidade? – Perguntei com severidade.

- Lá estás tu outra vez.

Suspirei.

- Então, muito bem. O que queres perguntar-me?

- Estava a pensar se, de sábado a uma semana, tu sabes, o dia do baile da Primavera…

Não, isto não podia estar a acontecer.

- Estás a tentar ser engraçado? – Interrompi-o, virando-me na sua direcção. O meu rosto ficou encharcado quando ergui a cabeça para olhar para o rosto dele.

Os seus olhos estavam malevolamente divertidos.

- Fazes o favor de me deixar terminar?

Mordi o lábio e uni as mãos, entrelaçando os dedos, de modo a que não pudesse tomar nenhuma atitude precipitada.

- Ouvi dizer que ias a Seattle nesse dia e estava a pensar se quererias boleia.

Desta não estava eu à espera.

- O quê? – Não sabia ao certo aonde ele pretendia chegar.

- Queres boleia para Seattle?

- De quem? – Perguntei, baralhada.

- De mim, obviamente.

Pronunciou cada sílaba como se estivesse a falar com alguém que possuísse uma deficiência mental.

Eu estava ainda aturdida.

- Porquê?

- Bem, eu tencionava ir a Seattle durante as próximas semanas e, para ser sincero, não sei se a tua pick-up resistirá à viagem.

- A minha pick-up funciona perfeitamente, muito obrigada pela tua preocupação. Mas, na verdade, eu não vou a Seattle.

Porque é que lhe estava a contar isto? Eu não lhe podia mostrar Salem! Nem sequer sabia se ele realmente era um de nós!

Comecei novamente a andar, mas estava demasiado surpreendida para manter o mesmo grau de raiva.

- Mas será que a tua pick-up consegue realizar a viagem consumindo um só depósito de gasolina? Para onde quer que vás?

Seguia novamente ao meu ritmo.

- Não vejo em que medida é que isso possa dizer-te respeito.

Estúpido proprietário de um Volvo reluzente.

- O desperdício de recursos limitados diz respeito a todos.

- Francamente, Edward – Senti um frémito perpassar-me quando proferi o seu nome e detestei tal sensação. -, não consigo acompanhar-te. Pensei que não querias ser meu amigo.

- Eu disse que era melhor se não fôssemos amigos e não que não queria que o fôssemos.

- Oh, obrigada, agora está tudo esclarecido.

Profundo sarcasmo. Apercebi-me de que parara novamente de andar. Estávamos agora abrigados sob o tecto da cantina, podendo eu, assim, olhar mais facilmente para o rosto dele, o que certamente não favorecia a minha clareza de raciocínio.

- Seria mais… prudente que não fosses minha amiga. – Explicou ele. – Mas estou farto de tentar manter-me afastado de ti, Bella.

O seu olhar tornou-se subitamente intenso ao proferir aquela última frase, com a voz a evidenciar sinais de raiva reprimida. Não conseguia lembrar-me de como se respirava.

- Vais comigo aonde fores? – Perguntou, ainda com intensidade.

Ainda não conseguia falar, pelo que me limitei a acenar com a cabeça.

Ele sorriu por breves instantes e, em seguida, o seu rosto ficou sério.

- Devias mesmo manter-te afastada de mim. – Advertiu. - Vemo-nos na aula.

Virou-se bruscamente e voltou para trás pelo mesmo caminho que havíamos trilhado.

 

 

(Edward POV)

 

Liceu. Já não era o purgatório, era o puro inferno. Tormento e fogo… sim, eu tinha ambos.

Eu agora estava a fazer tudo correctamente. Com os pontos todos nos “i” Ninguém podia queixar-se que eu estava a desleixar-me com as minhas responsabilidades.

Para agradar Esme e proteger os outros, fiquei em Forks. Retornei para o meu antigo horário. Não caçava mais que nenhum dos outros. Todos os dias, frequentava o liceu e fingia ser humano. Todos os dias, ouvia cuidadosamente por alguma coisa nova sobre os Cullen – nunca havia nada de novo. A rapariga não tinha falado uma única palavra das suas suspeitas. Ela apenas repetia a mesma história outra vez e outra vez – que eu estava com ela e a tinha afastado do caminho – até os seus ansiosos ouvintes se cansarem e pararem de procurar por mais detalhes. Não havia perigo. A minha impensada acção não tinha magoado ninguém.

Ninguém menos eu.

Eu estava determinado a mudar o futuro. Não era a tarefa mais fácil para uma única pessoa, mas não havia outra escolha com a qual eu pudesse viver.

Alice tinha dito que eu não seria forte o suficiente para ficar longe da rapariga. Eu provaria que ela estava enganada.

Pensei que o primeiro dia seria o mais difícil. Pelo fim do dia, eu estava certo que esse era o caso. Contudo, eu estava errado.

Agravou-se, sabendo que eu poderia magoar a rapariga. Confortei-me com o facto de que a sua dor seria nada mais que um mal-estar – apenas uma pequena pontada de rejeição – comparada com a minha. Bella era humana, e ela sabia que eu era algo mais, algo errado, algo assustador. Ela ficaria provavelmente mais aliviada do que magoada quando eu virasse a minha cara e fingisse que ela não existia.

- Olá, Edward. – Ela cumprimentou-me, naquele primeiro dia em biologia. A sua voz estava agradável, amistosa, 180º graus desde a última vez que eu tinha falado com ela.

Porquê? O que significaria aquela mudança? Ela tinha-se esquecido? Teria decidido que tinha imaginado todo aquele episódio? Teria ela me perdoado por não ter cumprido a minha promessa?

As questões tinham-me queimado como a sede que me atacava sempre que respirava.

Apenas um momento para olhar nos seus olhos. Apenas para ver se podia ser as respostas lá…

Não, eu não podia permitir-me isso. Não se eu iria mudar o futuro.

Movi o meu queixo um centímetro na sua direcção sem desviar o meu olhar da frente da sala. Acenei uma vez, e então voltei-me para a frente.

Ela não me falou outra vez.

Naquela tarde, assim que a escola acabou, o meu papel cumprido. Corri para Seattle como tinha feito no dia anterior. Parecia que conseguia suportar a dor um pouco melhor quando estava a voar sobre o chão, tornando tudo em meu redor num borrão verde.

A corrida tornou-se no meu hábito diário.

Eu amava-a? Não achava. Ainda não. Os vislumbres de Alice daquele futuro tinham-se prendido a mim, todavia, e eu podia ver quão fácil era apaixonar-me por Bella. Seria exactamente como cair: inevitável. Não me deixar apaixonar por ela era o contrário de cair – era puxar-me por uma falésia a cima, mão ante mão, a tarefa tão horrível como se eu não tivesse mais que a força de um mortal.

Passou-se mais de um mês, e cada dia tornava-se mais difícil. Não me fazia sentido – eu continuava à espera para ultrapassar isto, para que se tornasse mais fácil. Isto devia ser ao que Alice se referia quando ela tinha previsto que eu não seria capaz de ficar afastado da rapariga. Ela tinha visto o aumento da dor. Mas eu conseguia suportar a dor.

Eu não destruiria o futuro de Bella. Se eu estava destinado a amá-la, então não seria evitá-la o mínimo que eu poderia fazer?

Evitá-la era mais ou menos o limite do que eu podia suportar, contudo. Eu podia pretender ignorá-la, e nunca olhar para ela. Eu podia pretender que ela não tinha nenhum interesse para mim. Mas isso era o alcance, apenas a pertença e não a realidade.

Eu continuava a segurar cada fôlego que ela dava, cada palavra que ela dizia.

Dividi o meu tormento em quatro categorias.

As duas primeiras eram familiares. O seu cheiro e o seu silêncio. Ou, melhor – aplicar a responsabilidade em mim mesmo onde ela pertencia – a minha sede e a minha curiosidade.

A sede era o principal dos meus tormentos. Já era meu hábito apenas não respirar nas aulas de Biologia. Claro, havia sempre as excepções – quando eu tinha que responder a uma pergunta ou algo do género, e precisaria do meu fôlego para falar. Sempre que prova o ar à volta da rapariga, era o mesmo que o primeiro dia – fogo e necessidade e violência bruta desesperada por se libertar. Era difícil unir-me até mesmo um pouco para raciocinar ou restringir-me nesses momentos. E, tal como naquele primeiro dia, o monstro em mim rosnaria, tão perto da superfície…

A curiosidade era o mais constante dos meus tormentos. A questão nunca estava fora da minha mente: Em que está ela a pensar agora? Quando eu ouvia os seus silenciosos suspiros. Quando ela retorcia um cacho do seu cabelo distraidamente à volta do seu dedo. Quando ela poisava os seus livros com mais força do que o normal. Quando ela chegava atrasada às aulas. Quando ela batia com o seu pé impacientemente no chão. Cada movimento apanhado na minha visão periférica era um mistério eloquente. Quando ela falava com outros estudantes humanos, eu analisava cada palavra sua e tom. Estaria ela a dizer o que pensava, ou o que ela pensava que devia dizer? Às vezes parecia-me que ela tentava dizer o que a sua audiência esperava ouvir, e isso relembrou-me da mim e da minha família e a nossa ilusória vida diária – nós éramos melhores nisso que ela. A não ser que eu estivesse errado acerca disso, apenas a imaginar coisas. Porque teria ela que encenar um papel? Ela era uma deles – uma adolescente humana.

Mike Newton era o mais surpreendente dos meus tormentos. Quem poderia alguma vez ter sonhado que tal comum e aborrecido mortal poderia ser tão enfurecedor? Para ser justo, eu deveria sentir alguma gratidão para com o irritante rapaz; mais que os outros, ele mantinha a rapariga a falar. Aprendera tanto sobre ela através dessas conversas – eu continuava a compor a minha lista – mas, contrariamente, a assistência de Mike com este projecto apenas me enfurecia mais. Eu não queria que fosse Mike a desvendar os segredos dela. Queria ser eu a fazê-lo.

Ajudava que ele nunca reparava nas pequenas revelações dela, os seus pequenos deslizes. Ele não sabia nada acerca dela. Ele tinha criado uma Bella na sua cabeça que não existia – uma rapariga tão comum como ele. Ele não tinha observado o altruísmo e a coragem que a separavam dos outros humanos, ele não tinha ouvido a anormal maturidade dos seus pensamentos falados. Ele não se apercebia que quando ela falava da sua mãe, ela soava como uma mãe a falar da sua criança do que o contrário – amorosa, indulgente, levemente divertida, e ferozmente protectora. Ele não ouvia a paciência na sua voz quando ela fingia interesse nas histórias das excursões dele, e não adivinhava a bondade por detrás daquela paciência.

Através das suas conversas com Mike, eu era capaz de adicionar a mais importante qualidade à minha lista, a mais relevante de todas, tão simples como rara. Bella era boa. Todas as outras coisas, adicionadas àquele todo – bondade e auto-arriscar e altruísmo e carinhosa e corajosa – ela era boa outra vez e outra vez.

Estas contribuintes descobertas não me amoleciam para com o rapaz, de qualquer maneira. A maneira possessiva como ele via Bella – como se ela fosse uma aquisição a ser feita – provocava-me quase tanto como as suas imperfeitas fantasias com ela. Ele estava a tornar-se mais confidente dela, também, enquanto o tempo passava, pelo que ela parecia preferi-lo acima dos outros que ele considerava seus rivais – Tyler Crowley, Eric Yorkie, e até mesmos, esporadicamente, eu. Ele sentava-se rotineiramente ao lado dela na nossa mesa antes de a aula começar, conversando com ela, encorajado pelos seus sorrisos. Apenas sorrisos educados, dizia-me a mim mesmo. Tudo do mesmo, eu frequentemente divertia-me ao imaginar-me a empurrá-lo através da sala na outra parede… Isso provavelmente não o magoaria fatalmente…

Mike não pensava em mim muitas vezes como um rival. Depois do acidente, ele ficou preocupado que Bella e eu tivéssemos criado um laço pela experiência partilhada, mas obviamente o contrário tinha acontecido. Naquela altura, ele tinha continuado aborrecido que eu tivesse afastado Bella dos seus colegas por atenção. Mas agora que eu a ignorava tanto como os outros, e ele tinha se tornado complacente.

Em que estava ela a pensar agora? Gostaria ela da atenção dele?

E finalmente, o último dos meus tormentos, o mais doloroso: a indiferença de Bella. Tal como eu a ignorava, ela ignorava-me. Ela nunca tentou falar comigo outra vez. De tudo o que eu sabia, ela nunca pensava sobre mim.

Isto poderia ter-me enlouquecido – ou até abalado a minha determinação para mudar o futuro – excepto que ela às vezes olhava para mim como antes. Eu não vi isso por mim, como eu não me podia permitir olhar para ela, mas Alice sempre nos avisava quando ela olhava; os outros continuavam alertados pelo problemático conhecimento da rapariga.

Amaciava a dor que ela olhasse para mim à distância de vez em quando. Claro, ela poderia estar apenas a perguntar-se que tido de anormal eu era.

- A Bella vai olhar para o Edward num minuto. Pareçam normais. – Alice disse numa terça-feira de Março, e os outros foram cuidadosos em inquietar-se e a trocar o seu peso como humanos; a quietude absoluta era um marco da nossa espécie.

Prestei atenção para a quantidade de vezes que ela olhava na minha direcção. Agradava-me, ainda que não devesse, que a frequência não tivesse diminuído com o passar do tempo. Não sabia o que significava, mas isso fez-me sentir melhor.

Alice suspirou. Gostava…

- Mantém-te fora disso, Alice. – Disse sob a minha respiração. – Não vai acontecer.

Ela fez beicinho. Alice estava ansiosa para formar a sua prevista amizade com Bella. De uma estranha maneira, ela sentia a falta da rapariga que ela nem conhecia.

Vou admitir que és melhor do que eu pensava. Tens o futuro todo confuso e sem sentido outra vez. Espero que estejas contente.

- Isso faz pleno sentido para mim.

Ela resmungou delicadamente.

Tentei bloqueá-la, demasiado impaciente para conversar. Não estava de bom humor – mais tenso do que eu os deixava ver. Apenas Jasper estava ciente de quão apertadamente lesado eu estava, sentindo o stress emanar de mim com a sua habilidade única de ambos sentir e influenciar os humores dos outros. Ele não compreendia as razões por detrás dos humores, todavia, e – visto que eu estava constantemente num humor hediondo nestes dias – ele menosprezava isso.

Hoje seria um dia difícil. Mais difícil que o dia anterior, como um padrão.

Mike Newton, o odioso rapaz com quem eu não me podia rivalizar, ia convidar Bella para sair.

Um baile em que as raparigas escolhiam os pares aproximava-se, e ele estava muito esperançoso de que Bella o convidasse. Coisa que ela não tinha feito e que tinha abalado a confidência dele. Agora ele estava num precipício desconfortável – eu apreciava esse desconforto mais do que devia – porque Jessica Stanley tinha-o convidado para o baile. Ele não queria dizer “sim”, ainda esperançoso que Bella o fosse escolher (e provar-lhe a sua vitória sobre os seus rivais), mas ele não queria dizer “não” e acabar por perder o baile tudo junto. Jessica, magoada pela hesitação dele e adivinhado a razão por detrás disso, estava a pensar maldade de Bella. Outra vez, eu tive o instinto de me pôr entre os pensamentos zangados de Jessica e Bella. Eu compreendia o instinto melhor agora, mas isso tornava-se apenas mais frustrante quando não podia agir por isso.

Pensar que eu tinha chegado a isto! Eu estava totalmente fixado nos piedosos dramas de liceu que eu já tinha desprezado.

Mike estava a afinar a sua coragem enquanto encaminhava Bella para biologia. Ouvi as suas tentativas enquanto esperava que eles chegassem. O rapaz era fraco. Ele tinha esperado propositadamente por este baile, com medo de fazer a sua afeição conhecida antes que ela tivesse demonstrado uma visível preferência por ele. Ele não se queria tornar vulnerável à rejeição, preferindo que ela fizesse esse salto primeiro.

Cobarde.

Ele sentou-se na nossa mesa outra vez, confortável com a longa familiaridade, e eu imaginei o som que faria se o seu corpo atingisse a parede oposta com força suficiente para partir a maioria dos seus ossos.

- Pois. – Ele disse para a rapariga, os seus olhos no chão. – A Jessica convidou-me para o baile de Primavera.

- Isso é óptimo. – Bella respondeu imediatamente e com entusiasmo. Era difícil não sorrir assim que o tom dela foi notado pela consciência de Mike. Ele tinha esperado por desânimo. - Vais divertir-te imenso com a Jessica.

Ele esforçou-se pela resposta certa. - Bem… - Ele hesitou, e quase se acobardou. Então ele continuou. - Eu disse-lhe que tinha de reflectir sobre o assunto.

- Porque farias isso? – Ela exigiu. O seu tom era um de reprovação, mas havia uma leve pontada de alívio lá também.

O que queria aquilo dizer? Uma inesperada e intensa fúria fez as minhas mãos fecharem-se em punhos.

Mike não ouviu o alívio. A sua cara estava vermelha com sangue – feroz como eu subitamente me senti, isto parecia um convite – e ele olhou para o chão outra vez enquanto falou.

- Estava a perguntar-me se… Bem, se estarias a pensar convidar-me.

Bella hesitou.

Naquele momento de hesitação dela, eu vi o futuro mais claramente que Alice alguma vez tinha.

A rapariga poderia dizer sim às perguntas não faladas de Mike agora, ou poderia dizer não, mas de qualquer das maneiras, algum dia em breve, ela iria dizer sim a alguém. Ela era carinhosa e interessante, e os homens humanos não eram cegos para esse facto. Quer ela assentasse com alguém desta fraca multidão, ou esperar até que ela estivesse livre de Forks, o dia viria em que ela poderia dizer sim.

Vi a vida dela como já tinha visto antes – faculdade, careira… amor, casamento. Vi-a no braço do seu pai outra vez, vestida toda de branco, a sua cara corada com felicidade enquanto ela avançava ao som da marcha de Wagner.

A dor era maior do que algo que eu já tinha sentido antes. Um humano teria que estar à beira da morte para sentir esta dor – um humano não sobreviveria a isto.

E não apenas a dor, mas sincera raiva.

A fúria doía por algum tipo de saída física. Ainda que este insignificante e não merecedor rapaz pudesse não ser aquele a que Bella dissesse sim, eu ansiava por esmagar o seu crânio na minha mão, para deixá-lo servir como representante para quem quer que fosse.

Eu não compreendia esta emoção – era um tal enredo de dor e raiva e desejo e desespero. Nunca tinha sentido isto antes; eu não conseguia dar um nome a isto.

- Mike, acho que devias aceitar o convite dela. – Bella disse numa voz gentil. Embora por detrás daquele tom eu conseguisse detectar um certo tom de ameaça, como se ela quisesse fazer um aviso que passou despercebido ao rapaz.

As esperanças de Mike caíram por terra. Eu teria apreciado isso sob outras circunstâncias, mas eu estava perdido no pós-choque da dor – e o remorso pelo que a dor e a raiva tinham feito comigo.

Alice estava certa. Eu não era forte o suficiente.

Neste exacto momento, Alice deveria estar a ver o futuro rodar e contorcer-se, tornar-se acetinado outra vez. Iria isso agradar-lhe?

- Já convidaste alguém? – Mike perguntou taciturnamente. Ele olhou para mim, desconfiado pela primeira vez em muitas semanas. Percebi que tinha traído o meu interesse; a minha cabeça estava inclinada na direcção de Bella.

A selvagem inveja nos seus pensamentos – inveja por quem quer que esta rapariga preferisse a ele – subitamente pôs um nome na minha inominada emoção.

Eu estava com ciúmes.

- Não. – A rapariga disse com um traço de humor na sua voz. - Nem sequer vou ao baile.

Através de todo o remorso e raiva, senti-me aliviado com as suas palavras. Subitamente, eu estava a considerar os meus rivais.

- Porque não? – Mike perguntou, o seu tom quase rude. Ofendeu-me que ele tinha usado aquele tom com ela. Resisti a um rosnado.

- Vou visitar uns familiares nesse sábado. – Ela respondeu.

A curiosidade não era tanta como tinha sido antes – agora que eu estava totalmente interessado em encontrar respostas para tudo. Eu saberia os ondes e os porquês desta nova revelação muito em breve.

O tom de Mike tornou-se desagradavelmente lisonjeiro. - Não podes ir noutro fim-de-semana?

- Lamento, mas não. – Bella estava mais brusca agora. – Não deves, portanto, fazer a Jess esperar mais. É falta de educação.

A sua preocupação com os sentimentos de Jessica soprou as chamas do meu ciúme. Esta visita a uns familiares era claramente uma desculpa para dizer não – teria ela rejeitado puramente por lealdade para com a sua amiga? Ela era mais que altruísta para isso. Teria ela realmente querido dizer sim? Ou estavam ambas as sugestões erradas? Estaria ela interessada em alguém?

- Sim, tens razão. – Murmurou Mike, tão desmoralizado que eu quase senti pena dele. Quase.

Ele retirou os seus olhos da rapariga, cortando a minha vista do rosto dela nos seus pensamentos.

Eu não ia tolerar isso.

Virei-me para ler o seu rosto eu mesmo, pela primeira vez em mais de um mês. Era um enorme alivio permitir-me isto, como um fôlego de ar para há muito submersos pulmões humanos.

Os seus olhos estavam fechados, e as suas mãos pressionadas contra os lados da sua cara. Os seus ombros curvados para o interior defensivamente. Ela abanou a sua cabeça tão levemente, como se ela estivesse a tentar afastar algum pensamento da sua mente.

Frustrante. Fascinante.

A voz de Mr. Banner tirou-a da sua distracção, e os seus olhos lentamente se abriram. Ela olhou para mim imediatamente, talvez sentindo o meu olhar nela. Ela olhou-me nos meus olhos com a mesma expressão assustada que me tinha assombrado por tanto tempo.

Eu não senti o remorso ou a culpa ou a raiva naquele segundo. Eu sabia que eles viriam outra vez, e viriam em breve, mas por este momento eu senti uma estranha e contagiante leveza. Como se eu tivesse triunfado em vez de ter perdido.

Ela não afastou o seu olhar, ainda que eu olhasse com inapropriada intensidade, tentando em vão ler os seus pensamentos através dos seus líquidos olhos castanhos. Eles eram cheios de questões, em vez de respostas.

Eu podia ver o reflexo dos meus próprios olhos, e eu vi que eles estava pretos com sede. Já fazia quase duas semanas desde a minha última viagem de caça; este não era o dia mais seguro para a minha vontade se rebelar. Mas a escuridão não pareceu assustá-la. Ela continuou a não afastar o olhar, e um leve, devastadoramente apetitoso rosa começou a colorir a sua pele.

Em que estava ela a pensar?

Eu quase fiz a pergunta em voz alta, mas naquele momento Mr Banner chamou o meu nome. Recolhi a resposta correcta da cabeça do professor enquanto olhava brevemente na sua direcção.

Tomei um rápido fôlego. – O ciclo de Krebs.

Sede queimou a minha garganta – apertando os meus músculos e enchendo a minha boca com veneno – e eu fechei os meus olhos, tentando concentrar-me através do desejo pelo seu sangue que se revoltava dentro de mim.

O monstro estava mais forte que antes. O monstro estava a rejubilar. Ele abraçou este duplo futuro que lhe dava um igual, cinquenta-cinquenta hipótese do que ele queria tanto. O terceiro e trémulo futuro que eu tentava construir por força de vontade tinha caído – destruído por comum ciúme, de todas as coisas – e ele estava tão mais perto do seu objectivo.

O remorso e a culpa queimaram com a sede, e, se eu tivesse a habilidade de produzir lágrimas, elas teriam enchido os meus olhos agora.

O que tinha eu feito?

Sabendo que a batalha já estava perdida, parecia não haver razões para resistir ao que eu queria; virei-me para olhar para a rapariga outra vez.

Ela tinha-se escondido no seu cabelo, mas eu conseguia ver através de uma parte das suas mechas que as suas bochechas estavam de um profundo vermelho agora.

O monstro gostava disso.

Ela não encontrou o meu olhar outra vez, mas ela torceu uma mecha do seu escuro cabelo nervosamente entre os seus dedos. Os seus delicados dedos, o seu pulso frágil – eles eram tão quebráveis, aparentando para todo o mundo como se apenas a minha respiração os pudesse partir.

Não, não, não. Eu não podia fazer isto. Ela era demasiado quebrável, demasiado boa, demasiado preciosa para merecer este destino. Eu não podia permitir que a minha vida colidisse com a dela, destruindo-a.

Mas eu também não podia ficar longe dela. Alice estava certa acerca disso.

O monstro em mim silvou com frustração enquanto eu hesitei, seguindo primeiro um caminho, depois o outro.

A minha breve hora com ela passou depressa demais, enquanto eu vacilei entre a pedra e o sítio duro. A campainha tocou, e ela começou a recolher as suas coisas sem olhar para mim. Isto desapontou-me, mas eu dificilmente poderia esperar o contrário. O modo como a tinha tratado desde o acidente era imperdoável.

- Bella? – Disse, incapaz de me impedir. A minha força de vontade já estava em pedaços.

Ela hesitou antes de olhar para mim; quando ela se virou, a sua expressão era cuidadosa, desconfiada.

Recordei-me de que ela tinha toda a razão em desconfiar de mim. Que ela devia.

Ela esperou que eu continuasse, mas eu apenas olhei para ela, lendo a sua face. Inspirei fôlegos superficiais em intervalos regulares, lutando com a minha sede.

- O que foi? – Ela finalmente disse. - Já voltaste a falar comigo? – Havia uma pontada de ressentimento no seu tom que era, tal como a sua raiva, enternecedor. Isso fez-me querer sorrir.

Não sabia bem como responder à sua pergunta. Estava eu a falar com ela outra vez, no sentido a que ela se referia?

Não. Não se eu pudesse evitar. E eu tentaria evitar.

- Não, nem por isso. – Disse-lhe.

Ela fechou os seus olhos, o que me frustrou. Isso cortava o meu melhor acesso aos seus sentimentos. Ela inspirou fundo e lentamente se abrir os seus olhos. O seu maxilar estava cerrado.

Ainda de olhos fechados, ela falou. Certamente esta não era uma maneira humana normal de conversar. Porque o fazia ela?

- Então, o que queres, Edward?

O som do meu nome nos seus lábios fazia coisas estranhas ao meu corpo. Se eu tivesse pulsação, ela teria acelerado.

Mas como lhe responder?

Com a verdade, decidi. Eu seria tão verdadeiro como podia com ela de agora em diante. Eu não queria merecer a sua desconfiança, mesmo que ganhar a sua confiança fosse impossível.

- Desculpa. – Disse-lhe. Essa era mais verdade do que ela iria saber alguma vez. Infelizmente, eu apenas podia seguramente desculpar-me pelo trivial. - Eu sei que estou a ser muito indelicado, mas é melhor assim, a sério.

Eu seria melhor para ela se eu conseguisse manter assim, continuasse a ser indelicado. Conseguiria eu?

Os seus olhos abriram-se, a sua expressão ainda alerta.

- Não sei a que te referes.

Tentei passar-lhe tanto aviso quanto era permitido. - É melhor que não sejamos amigos. – Certamente, ela sentiria isso. Ela era uma rapariga inteligente. - Confia em mim.

Os seus olhos estreitaram-se, e eu relembrei-me que lhe tinha dito aquelas palavras antes – mesmo antes de quebrar uma promessa. Encolhi-me quando os seus dentes se cerraram – ela claramente também se lembrava.

- É pena que não tenhas percebido isso antes. – Ela disse furiosamente. - Terias evitado todo esse arrependimento.

Olhei para ela em choque. O que sabia ela dos meus arrependimentos?

- Arrependimento? Arrependimento em relação a quê? – Exigi.

- Em relação ao facto de não teres simplesmente deixado que o raio daquela carrinha me tivesse esmagado. – Ela atirou.

Congelei, admirado.

Como poderia ela pensar aquilo? Salvar a vida dela foi uma das coisas aceitáveis que eu já tinha feito desde que a conheci. A coisa de que eu não me envergonhava. A única coisa que me fazia feliz de existir. Eu tinha lutado para a manter viva desde o momento em que apanhei o seu cheiro. Como poderia ela pensar isto de mim? Como se atrevia ela a questionar a minha boa acção nesta confusão toda?

- Julgas que eu me arrependo de te ter salvado a vida?

- Eu sei que te arrependes de tê-lo feito. – Ela respondeu.

A sua estimação das minhas intenções deixou-me a ferver. - Tu não sabes nada.

Quão confusos e incompreensíveis os funcionamentos da sua mente eram! Ela não deve pensar do mesmo modo que os outros humanos de todo. Essa deve ser a explicação por detrás do seu silêncio mental. Ela era inteiramente outra.

Ela virou o seu rosto, rangendo os seus dentes outra vez. As suas bochechas estavam coradas, com raiva desta vez. Ela atirou os seus livros todos num monte, agarrou-os nos seus braços, e marchou para a porta sem encontrar o meu olhar.

Até mesmo irritado como eu estava, era impossível não achar a raiva dela um pouco divertida.

Ela andou duramente, sem olhar para onde ia, e o seu pé foi apanhado na ombreira da porta. Ela tropeçou, e as suas coisas caíram todas no chão. Em vez de se baixar para as apanhar, ela ficou rigidamente direita, sem mesmo olhar para baixo, como se ela não estivesse certa que os livros valiam a pena o esforço.

Consegui não me rir.

Ninguém estava aqui para me observar; voei para o seu lado, e coloquei os seus livros em ordem antes de ela olhar para baixo.

Ela baixou-se a meio, viu-me, e então congelou. Entreguei-lhe os seus livros, certificando-me de que a minha pele gelada nunca tocava a dela.

- Obrigada. – Ela disse numa fria e severa voz.

- Não tens de quê. – Disse do mesmo modo.

Ela arrebatou-se direita e seguiu para a sua próxima aula.

Observei-a até já não ver a sua zangada figura.

Espanhol passou num borrão. Mrs. Goff nunca questionou a minha distracção – ela sabia que o meu Espanhol era superior ao dela, e ela deu-me um grande acordo de latitude – deixando-me livre para pensar.

Então, eu não podia ignorar a rapariga. Esse tanto era óbvio. Mas teria isso que significar que eu não teria outra escolha a não ser destrui-la? Esse não podia ser o único futuro disponível. Tinha que haver outra escolha, algum delicado equilíbrio. Tentei pensar numa maneira…

Não prestei muita atenção a Emmett até a hora estar quase acabada. Ele estava curioso – Emmett não era muito intuitivo acerca das marcas dos humores dos outros, mas ele podia ver a óbvia mudança em mim. Ele perguntou-se o que teria acontecido para remover o implacável olhar ameaçador da minha cara. Ele lutou para definir a mudança, e finalmente decidiu que eu parecia esperançoso.

Esperançoso? Era isso que parecia de fora?

Ponderei a ideia de esperança enquanto andámos para o Volvo, perguntando-me pelo que exactamente eu deveria esperar por.

Mas eu não tinha muito tempo para ponderar. Sensitivo como eu sempre estava para pensamentos sobre a rapariga, o som do nome de Bella na cabeça dos… dos meus rivais, supôs que tinha que admitir, apanhou a minha atenção. Eric e Tyler, tendo ouvido – com muita satisfação – do falhanço de Mike, estavam a preparar-se para fazerem os seus avanços.

Eric já estava a postos, posicionado contra a carrinha dela onde ela não podia evitá-lo. A aula de Tyler estava a demorar mais para entregarem um trabalho, e ele estava numa pressa desesperada para apanhá-la antes que ela escapasse.

Essa eu tinha que ver.

- Espera pelos outros aqui, está bem? – Murmurei para Emmett.

Ele olhou-me desconfiado, mas então encolheu os ombros e assentiu.

O miúdo perdeu a cabeça, ele pensou, divertido pelo meu estranho pedido.

Vi Bella no seu caminho para fora do ginásio, e esperei onde ela não me veria ao passar. Enquanto ela se aproximava da emboscada de Eric, eu avancei, metendo o meu passo para que eu pudesse passar por ela no momento certo.

Vi o corpo dela tremer quando ela apanhou vista do rapaz a esperar por ela. Ela congelou por um momento, então relaxou e avançou.

- Olá, Eric! – Ouvi-a dizer numa voz amigável.

Eu estava abruptamente e inesperadamente ansioso. E se este rapaz rufia com a sua pele pouco saudável lhe agradasse de algum modo?

Eric engoliu audivelmente, a sua maçã-de-adão oscilando. - Viva, Bella.

Ela parecia não estar consciente do nervosismo dele.

- O que se passa? – Ela perguntou, destrancando a carrinha sem olhar para a expressão assustada dele.

- Aah, estava apenas a pensar… se irias ao baile de Primavera comigo. – A sua voz falhou.

Ela finalmente olhou para cima. Estaria ela assustada ou satisfeita? Eric não conseguia olhar para ela, então eu não podia ver a cara dela na sua mente.

- Pensei que eram as raparigas que escolhiam o seu par. – Ela disse, soando perturbada.

- Bem, e são. – Ele concordou infelizmente.

Este rapaz merecedor de pena não me irritava tanto como Mike Newton irritava, mas eu não conseguia simpatizar com ele até depois de Bella lhe ter respondido numa voz gentil.

- Obrigada por me convidares, mas eu irei visitar uns familiares nesse dia.

Ele já tinha ouvido isso; ainda assim, era uma decepção.

- Ah! – Ele murmurou, mal se atrevendo a erguer os seus olhos ao nível do nariz dela. - Bem, talvez para a próxima.

- Claro. – Ela concordou. Então ela mordeu o seu lábio inferior, como se ela se tivesse arrependido de lhe deixar uma abertura. Eu gostei disso.

Eric enterrou-se em frente e afastou-se, encaminhando-se na direcção errada do seu carro, o seu único pensamento escapou-me.

Passei por ela nesse momento, e ouvia-a suspirar aliviada. Gargalhei.

Ela rodopiou ao som, mas eu olhei em frente, tentando manter os meus lábios de se torcerem com divertimento.

Tyler estava atrás de mim, quase a correr na sua pressa de apanhá-la antes que ela pudesse conduzir para longe. Ele era mais arrojado e mais confiante que os outros dois; ele apenas tinha esperado para se aproximar de Bella tanto tempo porque ele respeitava a proclamada prioridade de Mike.

Eu queria que ele tivesse sucesso em apanhá-la por dois motivos. Se – como eu começava a desconfiar – toda esta atenção estava a irritar Bella, eu queria apreciar observar a sua reacção. Mas, se não estava – se o convite de Tyler era aquele que ela estava à espera – então eu queria saber isso também.

Eu media Tyler Crowley como um rival, sabendo que era errado fazê-lo. Ele parecia tediosamente comum e irretractável para mim, mas o que sabia eu das preferências de Bella? Talvez ela gostasse de rapazes comuns…

Retrai-me com esse pensamento. Eu nunca podia ser um rapaz comum. Quão tolo foi colocar-me como rival para as suas afeições. Como poderia ela alguma vez preocupar-se com alguém que era, por qualquer estimação, um monstro?

Ela era boa demais para um monstro.

Eu deveria tê-la deixado escapar, mas a minha imperdoável curiosidade impediu-me de fazer a coisa certa. Outra vez. Mas e se Tyler perdesse a sua oportunidade agora, apenas para a contactar mais tarde quando eu não poderia saber o resultado? Puxei o meu Volvo para a curta passagem, bloqueando-lhe a saída.

Emmett e os outros estavam no seu caminho, mas ele tinha lhes descrito o meu estranho comportamento, e eles estavam a andar lentamente, observando-me, tentando decifrar o que eu estava a fazer.

Observei a rapariga pelo meu espelho retrovisor. Ela olhou ameaçadoramente para a traseira do meu carro sem encontrar o meu olhar, parecendo como se ela desejasse estar a conduzir um tanque em vez de uma rústica Chevy.

Tyler apressou-se para o seu carro e pôs-se em linha atrás dela, grato pelo meu inexplicável comportamento. Ele acenou-lhe, tentando apanhar a sua atenção, mas ela não reparou. Ele esperou um momento, e então saiu do seu carro, vagueando para a janela do lado do passageiro dela. Ele bateu no vidro.

Ela saltou, e então olhou para ele em confusão. Depois de um segundo, ela rolou a janela para baixo manualmente, parecendo ter problemas com aquilo.

- Desculpa, Tyler – Ela disse, a sua voz irritada. - Estou encurralada atrás do Cullen.

Ela disse o meu apelido numa voz dura – ela continuava zangada comigo.

- Oh, eu sei. – Tyler disse, cego ao humor dela. - Queria apenas pedir-te algo enquanto estamos aqui presos.

O seu sorriso era enviesado.

Eu estava gratificado pelo modo como ela recuou perante a sua óbvia intenção.

- Convidas-me para o baile da Primavera? – Ele perguntou, nenhum pensamento de derrota na sua mente.

- Estarei fora da cidade, Tyler. – Ela disse-lhe, a irritação clara na sua voz.

- Pois, o Mike falou nisso.

- Então, porque é que… - Ela começou a perguntar.

Ele encolheu os ombros. - Estava com esperança de que estivesses apenas a recusar o convite dele de uma forma simpática.

Os seus olhos brilharam e então acalmaram-se. - Desculpa, Tyler. – Ela disse, não soando nada arrependida. – Eu vou mesmo sair da cidade.

Ele aceitou aquela desculpa, a sua auto-confiança intocada. - Tudo bem. Ainda temos o baile de finalistas.

Ele voltou para o seu carro. Deixando-a sozinha.

- Não contes muito com isso! – Ouvi-a dizer e não pude evitar rir.

Eu estava certo em ter esperado por isto.

A expressão horrorizada na cara dela era impagável. Ela disse-me aquilo que eu não devia tão desesperadamente necessitar de saber – que ela não sentia nada por nenhum destes rapazes humanos que desejavam cortejá-la.

Também, a expressão dela era possivelmente a coisa mais engraçada que eu já tinha visto.

Então a minha família chegou, confusa pelo facto de que eu, pela mudança, estava a balançar com riso em vez de estar a olhar de modo assassino para tudo à vista.

O que é tão engraçado? Emmett quis saber.

Eu apenas abanei a minha cabeça enquanto eu também abanava com uma nova onda de riso assim que Bella embalou o seu barulhento motor furiosamente. Ela parecia estar a desejar o tanque novamente.

- Vamos embora! – Rosalie silvou impacientemente. – Pára de ser um idiota. Se conseguires.

- Rose, tenho uma coisa para te contar quando chegarmos a casa! – Disse Alice, mas eu ignorei-a.

As palavras de Rosalie já não me irritavam – eu estava demasiado entretido. Mas fiz como ela me pediu.

Ninguém falou comigo no caminho para casa. Continuei a rir-me de vez em quando, pensando na cara de Bella.

Assim que virei no caminho – acelerando agora que não havia testemunhas – Alice arruinou o meu humor.

- Então já posso falar com a Bella agora? – Ela perguntou subitamente, sem considerar as suas palavras primeiro, não me dando nenhum aviso.

- Não. – Atirei-lhe.

- Não é justo! Pelo que é que estou à espera?

- Eu ainda não decidi nada, Alice.

- Como queiras, Edward.

Na sua cabeça, os dois destinos de Bella estavam claros outra vez.

- Qual é o interesse em conhece-la? – Murmurei, subitamente melancólico. – Se eu vou apenas matá-la?

Alice hesitou por um segundo. – Tens razão. – Ela admitiu.

Eu levei o carro aos noventa quilómetros por hora na última volta, e então fiz uma paragem a um centímetro da parede do fundo da garagem.

- Aprecia a tua corrida. – Rosalie disse presumidamente enquanto eu me lançava para fora do carro.

Mas eu não ia correr hoje. Em vez disso, eu ia caçar.

Os outros combinaram ir caçar amanhã, mas eu não podia permitir-me a ter sede agora. Eu exagerei no limite, bebendo mais do que necessário, enchendo-me outra vez – um pequeno grupo de veados e um urso negro, eu estava com sorte em me cruzar com um tão cedo este ano. Eu estava tão cheio que era desconfortável. Porque é que isso não era suficiente? Porque é que o cheiro dela tinha que ser tão mais forte do que qualquer outra coisa?

Eu tinha caçado em preparação para o dia seguinte, mas, quando eu já não conseguia caçar mais e o sol ainda estava a horas e horas de nascer. Eu sabia que o próximo dia não estava breve o suficiente.

A contagiante leveza escorreu através de mim outra vez quando me apercebi que eu ia encontrar a rapariga.

Discuti comigo mesmo todo o caminho para Forks, mas o meu lado menos nobre ganhou a discussão, e eu segui em frente com o meu indefensável plano. O monstro estava inquieto mas bem-acorrentado. Eu sabia que manteria uma distância segura dela. Eu apenas queria saber onde ela estava. Eu apenas queria ver a sua cara.

Já passava da meia-noite, e a casa de Bella estava escura e silenciosa. A sua carrinha estava estacionada contra o passeio, o carro da polícia do seu pai no caminho. Não havia pensamentos conscientes em nenhum lugar na vizinhança. Eu observei a casa por um momento da escuridão da floresta que circundava a casa a este. A porta da frente estaria provavelmente trancada – não seria um problema, excepto que eu não queria deixar uma porta partida como evidência atrás de mim. Decidi tentar as janelas de cima primeiro. Não eram muitas as pessoas que se incomodariam a instalar uma fechadura lá.

Atravessei o jardim aberto e escalei a face da casa em meio segundo. Balançando na goteira por cima da janela por uma mão, olhei através do vidro, e a minha respiração parou.

Era o quarto dela. Eu conseguia vê-la na pequena cama, as suas cobertas no chão e os seus lençóis torcidos à volta das suas pernas. Enquanto eu observava, ela retorceu-se inquietamente e atirou um braço sobre a sua cabeça. Ela não dormia sonoramente, pelo menos não esta noite. Sentiria ela o perigo perto dela?

Eu estava repulsado por mim mesmo enquanto a vi mexer-se outra vez. Como era eu melhor que qualquer doentio perseguidor? Eu não era nada melhor. Eu era muito, muito pior.

Relaxei os meus dedos, prestes a largar-me. Mas primeiro permiti-me um longo olhar para a sua cara.

Não era serena. A pequena ruga estava lá entre as suas sobrancelhas, os cantos dos seus lábios virados para baixo. Os seus lábios tremeram, e então afastaram-se.

- Ok, Mãe. – Ela murmurou.

Bella falava no seu sono.

Curiosidade tremulou, dominante auto-repugnância. O chamariz daqueles desprotegidos, inconscientemente falados pensamentos era impossivelmente tentador.

Eu tentei a janela, e não estava trancada, ainda que estivesse perra pela falta de uso. Eu deslizei-a levemente para o lado, encolhendo-me a cada leve rosnado da estrutura de metal. Eu teria que encontrar um pouco de óleo para a próxima vez…

Próxima vez? Abanei a minha cabeça, repugnado outra vez.

Forcei-me silenciosamente através da meia aberta janela.

O quarto dela era pequeno – desorganizado mas limpo. Havia livros empilhados no chão ao lado da cama dela, as suas capas longe da minha vista, e CD’s espalhados ao pé do seu portátil – o que estava no topo era apenas uma clara caixa de jóias. Montes de papéis rodeavam o computador. Sapatos dotavam o chão de madeira.

Eu queria muito ir ler os títulos dos seus livros e CD’s, mas eu tinha-me prometido que eu iria manter a minha distância; em vez disso, eu sentei-me na velha cadeira de baloiço no canto mais afastado do quarto.

Tinha eu realmente pensado que ela tinha uma aparência comum? Pensei naquele primeiro dia, e a minha repugnância pelos rapazes que ficaram tão imediatamente intrigados com ela. Mas quando eu me lembro da cara dela nas mentes deles agora, não conseguia perceber porque não a tinha achado linda imediatamente. Isso parecia uma coisa óbvia.

Neste momento – com o seu escuro cabelo emaranhado e selvagem à volta da sua cara, usando uma t-shirt de fibra usada cheia de buracos com umas velhas calças de fato de treino, as suas feições relaxadas na inconsciência, os seus lábios carnudos levemente separados – ela deixava-me sem ar. Ou teria deixado, pensei divertidamente, se eu estivesse a respirar.

Ela não falou. Talvez o seu sonho tivesse acabado.

Olhei para a cara dela e tentei pensar numa maneira de tornar o futuro tolerável.

Magoá-la não era tolerável. Significaria isso que a minha única escolha era tentar partir outra vez?

Os outros não podiam discutir comigo agora. A minha ausência não colocaria ninguém em perigo. Não haveria suspeitas, nada para ligar os pensamentos de alguém ao acidente.

Hesitei como tinha feito esta tarde, e nada parecia possível.

Eu não podia esperar rivalizar-me com os rapazes humanos, quer estes específicos rapazes a atraíssem ou não. Eu era um monstro. Como poderia ela ver-me como outra coisa? Se ela soubesse a verdade sobre mim, isso iria assustá-la e repulsá-la. Como a vítima pretendida num filme de terror, ela fugiria, gritando com medo.

Eu relembrei-me do seu primeiro dia em Biologia… e sabia que esta era exactamente a reacção certa para ela ter.

Era uma tolice imaginar que se tivesse sido eu a convidá-la para o estúpido baile, ela teria cancelado a sua visita aos familiares e aceitado ir comigo.

Eu não era aquele a quem ela estava destinada a dizer sim. Era outra pessoa, alguém humano e quente. E eu nem podia deixar-me – algum dia, quando aquele sim fosse dito – caçá-lo e matá-lo, porque ela merecia-o, quem quer que ele fosse. Ela merecia felicidade e amor com quem quer que ela escolhesse.

Eu devia-lhe isso para fazer a coisa certa agora; eu já não podia fingir que eu estava apenas em perigo de me apaixonar por esta rapariga.

Depois de tudo, não importava realmente se eu partisse, porque Bella nunca me veria como eu gostava que ela visse. Nunca me veria como alguém que valesse a pena amar.

Nunca.

Seria possível um coração morto e congelado partir-se? Parecia que o meu podia.

- Edward. – Bella disse.

Congelei, olhando para os seus olhos fechados.

Teria ela acordado e apanhado me aqui? Ela parecia adormecida, mas a sua voz tinha sido tão clara…

Ela suspirou um silencioso suspiro, e então moveu-se inquietamente outra vez, rolando para o lado – ainda rapidamente a dormir e a sonhar.

- Edward. – Ela murmurou suavemente.

Ela estava a sonhar comigo.

Seria possível que um coração morto e congelado pudesse voltar a bater? Parecia que o meu estava prestes a fazê-lo.

- Fica. – Ela suspirou. – Não vás. Por favor… não vás.

Ela estava a sonhar comigo, e nem era um pesadelo. Ela queria que eu ficasse com ela, no seu sonho.

Eu esforcei-me para encontrar palavras para nomear os sentimentos que flutuavam através de mim, mas eu não tinha palavras fortes o suficiente para os nomear. Por um longo momento, afoguei-me neles.

Quando emergi, eu não era o mesmo homem que tinha sido.

A minha vida era uma interminável e imutável meia-noite. Tinha que, por necessidade, sempre ser meia-noite para mim. Então como era possível que o Sol estivesse a nascer agora, no meio da minha meia-noite?

No momento em que me tinha tornado um vampiro, trocando a minha alma e mortalidade pela imortalidade na excruciante dor da transformação, eu tinha sido verdadeiramente congelado. O meu corpo tinha-se tornado em algo mais como pedra do que carne, endurecido e imutável. O meu eu, também, tinha congelado como era – a minha personalidade, os meus gostos e os meus desagrados, os meus humores e os meus desejos; tudo tinha-se fixado no lugar.

Era o mesmo para o resto deles. Estávamos todos congelados. Pedras vivas.

Quando a mudança vinha para um de nós, era uma coisa rara e permanente. Eu tinha visto isso acontecer com Carlisle, e então uma década mais tarde com Rosalie. O amor tinha-os mudado numa maneira eterna, numa maneira que nunca desaparecia. Mais de oitenta anos se tinham passado desde que Carlisle tinha encontrado Esme, e ainda assim ele continuava a olhar para ela com os olhos incrédulos do primeiro amor. Seria sempre assim para eles.

Seria sempre assim para mim também. Eu iria sempre amar esta frágil rapariga humana, pelo resto da minha interminável existência.

Olhei para a sua cara inconsciente, sentindo este amor por ela assentar em cada porção do meu corpo de pedra.

Ela dormiu mais tranquilamente agora, um leve sorriso nos seus lábios.

Sempre observando-a, comecei a projectar.

Eu amava-a, e então eu devia tentar ser forte o suficiente para deixá-la. Eu sabia que não era assim tão forte agora. Teria que trabalhar nisso. Mas talvez eu fosse forte o suficiente para circundar o futuro de outra maneira.

Alice tinha visto apenas dois futuros para Bella, e agora eu percebia ambos.

Amá-la não me impediria de matá-la, se eu me deixasse cometer erros.

Ainda assim eu não conseguia sentir o monstro agora, não conseguia encontrá-lo em nenhum lugar dentro de mim. Talvez o amor o tivesse silenciado para sempre. Se eu a matasse agora, não seria intencional, seria apenas um horrível acidente.

Eu teria que ser invulgarmente cuidadoso. Eu não poderia nunca, nunca baixar a minha guarda. Teria que controlar cada respiração minha. Teria que manter sempre uma distância cautelosa.

Eu não cometeria erros.

Finalmente compreendi aquele segundo futuro. Eu tinha sido enganado por aquela visão – o que poderia possivelmente acontecer que resultasse em Bella a tornar-se uma prisioneira desta meia-vida? Agora – devastado por ansiar pela rapariga – eu conseguia compreender como poderia, no meu imperdoável egoísmo, pedido a meu pai esse favor. Pedir-lhe que tirasse a vida dela e a sua alma para que eu pudesse ficar com ela para sempre.

Ela merecia melhor.

Mas eu vi mais um futuro, um pequeno fio em que eu poderia caminhar, se eu mantivesse o meu equilíbrio.

Conseguiria fazê-lo? Estar com ela e deixá-la humana?

Deliberadamente, respirei fundo, e então outro, deixando o seu cheiro correr por mim como fogo. O quarto estava espesso com o perfume dela; a sua fragrância estava pousada em cada superfície. A minha cabeça flutuou, mas eu lutei contra o rodopiar. Eu teria que me habituar a isto, se eu iria tentar qualquer tipo de relacionamento com ela. Tomei outro profundo e ardente fôlego.

 

Fui para casa pouco depois dos outros terem saído para a escola. Troquei de roupa rapidamente, evitando os olhos questionantes de Esme. Ela viu a fervorosa luz na minha cara, e ela sentiu ambos preocupação e alívio. A minha longa melancolia tinha-a magoado, e ela estava feliz por parecer que tinha acabado.

Corri para a escola, chegando poucos segundos depois dos meus irmãos. Eles não se voltaram, embora Alice pelo menos deve ter sabido que eu estava aqui nos espessos bosques que circundavam a escola. Esperei até ninguém estar a olhar, e então vagueie casualmente por entre as árvores para o parque cheio de carros estacionados.

Ouvi a carrinha de Bella rosnar na esquina, e parei atrás de um Suburdan, onde podia observar sem ser visto.

Ela conduziu para o parque, olhando para o meu Volvo por um longo momento antes de estacionar num dos lugares mais distantes, uma careta na sua face.

Era estranho lembrar-me de que ela provavelmente ainda estava zangada comigo, e com muita razão.

Eu queria rir-me – ou pontapear-me. Toda a minha projecção e planeamento era inteiramente inútil se ela não se importasse comigo, também, não era? O seu sonho poderia ter sido sobre algo completamente estúpido. Eu era um tolo tão arrogante.

Bem, era tão melhor para ela se ela não se importasse comigo. Isso não me impediria de persuadi-la, mas eu dar-lhe-ia um justo aviso enquanto a persuadisse. Eu devia-lhe isso.

Avancei silenciosamente, perguntando-me como me deveria aproximar dela.

Ela tornou-o mais fácil. A chave da sua carrinha escorregou-lhe por entre os dedos assim que ela saiu, e caiu numa poça funda.

Ela baixou-se, mas eu cheguei lá primeiro, alcançando-as antes que ela tivesse que pôr os seus dedos na água fria.

Encostei-me contra a sua carrinha conforme ela olhou e então se endireitou.

- Como é que fizeste isso? – Ela exigiu.

Sim, ela continuava zangada.

Ofereci-lhe as suas chaves. - Como é que fiz o quê?

Ela esticou a sua mão, e eu deixei cair as chaves na sua palma. Inspirei fundo, inspirando o seu cheiro.

- Aparecer vindo do nada. – Ela esclareceu.

- Bella, não tenho culpa de que tenhas uma excepcional falta de poder de observação. – As palavras eram torcidas, quase uma piada. Havia algo que ela não visse?

Teria ela ouvido como a minha voz se enroscou à volta do seu nome como uma carícia?

Ela olhou para mim, não apreciando o meu humor. O seu batimento cardíaco acelerou – de raiva? De medo? Depois de um momento, ela olhou para baixo.

- Qual foi o motivo do engarrafamento da noite passada? – Ela perguntou sem encontrar o meu olhar. – Pensei que andasses a fingir que eu não existo e não a matar-me de irritação.

Ainda muito zangada. Teria que fazer algum esforço para pôr as coisas bem com ela. Relembrei-me da minha decisão de ser verdadeiro com ela…

- Foi pelo bem do Tyler, não pelo meu. Tinha de lhe proporcionar a sua oportunidade. – E então ri-me. Não consegui evitar, pensando na sua expressão ontem.

- Seu!... – Ela ofegou, e então afastou-se, parecendo furiosa de mais para terminar. Ali estava – aquela mesma expressão. Evitei outra gargalhada. Ela já estava demasiado furiosa.

- E não ando a fingir que tu não existes. – Terminei. Era bom manter esta provocação casual. Ela não compreenderia se eu a deixasse ver como eu realmente me sentia. Eu iria assustá-la. Eu tinha que manter os meus sentimentos recolhidos, manter as coisas ao de leve…

- Então, andas mesmo a tentar matar-me de irritação? Já que a carrinha do Tyler não se encarregou de o fazer?

Um rápido relampejo de raiva pulsou por mim. Conseguia ela honestamente acreditar nisso?

Era irracional para mim ser tão afrontado – ela não sabia da transformação que me tinha acontecido na noite passada. Mas eu estava zangado na mesma.

- Bella, és completamente absurda. – Atirei.

A sua cara corou, e ela virou-me as costas. Ela começou a afastar-se.

Remorso. Eu não tinha motivo para estar zangado.

- Espera! – Implorei.

Ela não parou, então eu segui-a.

- Desculpa, foi indelicado da minha parte. Não estou a dizer que não é verdade. – Era absurdo imaginar que eu a queria magoada de qualquer maneira. - Mas, de qualquer forma, foi indelicado da minha parte afirmá-lo.

- Porque é que não me deixas em paz?

Acredita em mim, queria dizer. Eu tentei.

Oh, e também, eu estou infelizmente apaixonado por ti.

Manter leve.

- Queria perguntar-te algo, mas tu desviaste-me dos meus fins. – Um curso de acção tinha-me ocorrido, e gargalhei.

- Sofres de um distúrbio de múltipla personalidade? – Ela perguntou.

Devia parecer assim. O meu humor era erradico, tantas novas emoções a correrem por mim.

- Lá estás tu outra vez. – Apontei.

Ela suspirou. - Então, muito bem. O que queres perguntar-me?

- Estava a pensar se, de sábado a uma semana… - Vi o choque atravessar a sua cara, e segurei outra gargalhada. - Tu sabes, o dia do baile da Primavera…

Ela cortou-me, finalmente os seus olhos retornando aos meus. - Estás a tentar ser engraçado?

Sim. - Fazes o favor de me deixar terminar?

Ela esperou em silêncio, os seus dentes pressionando-se no seu suave lábio inferior.

Aquela vista distraiu-me por um segundo. Estranhas e desconhecidas reacções mexeram profundamente no meu esquecido interior humano. Tentei abaná-las para poder interpretar o meu papel.

- Ouvi dizer que ias a Seattle nesse dia e estava a pensar se quererias boleia. – Ofereci. Apercebi-me de que, melhor do que apenas lhe perguntar pelos seus planos, eu podia partilhá-los.

Ela olhou-me vagamente - O quê?

- Queres boleia para Seattle? – Sozinho num carro com ela – a minha garganta ardeu com o pensamento. Inspirei fundo. Habitua-te.

- De quem? – Ela perguntou, os seus olhos arregalados e confusos outra vez.

- De mim, obviamente. – Disse suavemente.

- Porquê?

Era realmente um grande choque que eu quisesse a sua companhia? Ela deve ter aplicado o possível pior significado ao meu comportamento anterior.

- Bem, - Disse o mais casualmente possível, - eu tencionava ir a Seattle durante as próximas semanas e, para ser sincero, não sei se a tua pick-up resistirá à viagem. – Parecia mais seguro provocá-la do que permitir-me ser sério.

- A minha pick-up funciona perfeitamente, muito obrigada pela tua preocupação. – Ela disse na mesma voz surpreendida. - Mas, na verdade, eu não vou a Seattle. – Ela começou a andar outra vez. Eu acompanhei-lhe o passo.

Ela não tinha realmente dito não, então eu pressionei essa vantagem.

Iria ela dizer não? O que é que eu faria se ela dissesse?

- Mas será que a tua pick-up consegue realizar a viagem consumindo um só depósito de gasolina? Para onde quer que vás?

- Não vejo em que medida é que isso possa dizer-te respeito. – Ela resmungou.

Aquilo ainda não era um não. E a sua pulsação estava a bater mais depressa outra vez, a sua respiração a vir mais acelerada.

- O desperdício de recursos limitados diz respeito a todos.

- Francamente, Edward, não consigo acompanhar-te. Pensei que não querias ser meu amigo.

Uma emoção atravessou-me quando ela disse o meu nome.

Como manter leve e ainda assim ser honesto ao mesmo tempo? Bem, era mais importante ser honesto. Especialmente neste ponto.

- Eu disse que era melhor se não fôssemos amigos e não que não queria que o fôssemos.

- Oh, obrigada, agora está tudo esclarecido. – Ela disse sarcasticamente.

Ela parou, debaixo do telhado da cantina, e encontrou o meu olhar outra vez. Os seus batimentos cardíacos aceleraram. Estaria ela com medo?

Escolhi as minhas palavras cuidadosamente. Não, eu não podia deixá-la, mas talvez ela fosse esperta o suficiente para me deixar, antes que fosse tarde demais.

- Seria mais… prudente que não fosses minha amiga. – Olhando nas profundidades de chocolate derretido dos seus olhos, perdi a minha segurança no leve. - Mas estou farto de tentar manter-me afastado de ti, Bella. – As palavras arderam com muito, demasiado fervor.

A sua respiração parou e, no segundo que lhe levou a recomeçar, isso preocupou-me. Quanto é que a tinha assustado? Bem, eu iria descobrir.

- Vais comigo aonde fores? – Perguntei, ponto exposto.

Ela assentiu, o seu coração batendo sonoramente.

Sim. Ela tinha-me dito sim.

E então a minha consciência feriu-me. O que lhe custaria isto?

- Devias mesmo manter-te afastada de mim. – Avisei-a. Teria ela me ouvido? Escaparia ela ao futuro a que eu a estava a ameaçar? Poderia eu fazer algo para a salvar de mim?

Mantém ao de leve, gritei-me. - Vemo-nos na aula.

Eu tinha que me concentrar para evitar correr enquanto me fui embora.


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Notas finais do capítulo

Obrigada pelos coments!
Mas será que é mau de mais pedir mais alguns?
Bjs



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