Ele tem 18 anos escrita por Hanna Martins


Capítulo 14
Nem todas as almas gêmeas estão destinadas a ficar juntas


Notas iniciais do capítulo

Capítulo novo chegando saindo quentinho do forno ;)



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Katniss rodou o chaveiro em sua mão.

— O que eu faço com você? — suspirou.

Por que ela tinha sempre que se meter em coisas complicadas? Seria algum tipo de carma?

Finnick ocupou o lugar vago em sua frente na mesa do refeitório. Eram os únicos no refeitório àquela hora. Katniss havia se atrasado para o almoço devido a alguns testes que estava realizando.

— Belo chaveiro — disse Finnick. — Isso é um dente-de-leão?

— É — respondeu, guardando rapidamente o chaveiro no bolso de sua calça.

A curiosidade de Finnick era notória. E ela não queria responder a perguntas. Finnick a olhou. Guardar o chaveiro daquele modo, certamente não fora uma boa ideia. Isso só havia atiçado mais a curiosidade dele.

— Foi um... presente — explicou, antes que ele pudesse falar qualquer coisa.

— Eu não disse nada... — às vezes, ela odiava sua capacidade de tornar as coisas muito embaraçosas.

— Como vão as aulas na universidade? — mudou rapidamente de assunto.

— Bem — respondeu, colocando uma garfada de comida na boca. — Nada de especial...

O analisou por alguns segundos, seria impressão sua ou ele estava um tanto nervoso? Seu sempre falante chefe, agora estava calado. Aquilo era uma novidade e das grandes.

— Você está bem?

— Estou, por que? — disse como se ela tivesse acabado de o pegar em um momento constrangedor. — Estou muito bem, hoje! — tentou soar despreocupado, mas aquilo só reafirmou que havia algo de errado com ele.

Finnick comeu por tempo em silêncio. Um silêncio bem estranho, pois vinha de Finnick!

— Escuta... Katniss — falou repentinamente. — Se você... digamos que se interessasse por uma pessoa que em hipótese nenhuma você pode se interessar...

Katniss quase cuspiu a Coca-Cola que estava tomando.

— Como?

— Eu estou falando hipoteticamente, é claro. É apenas uma hipótese — riu, sem jeito.

— Como se envolver com alguém mais novo que você? — aquilo saíra quase automaticamente. Ela não havia planejado falar aquilo de forma alguma.

Foi a vez de Finnick quase cuspir sua Coca-Cola.

— Não... é... não... seria muito estranho... imagina sair com alguém mais novo... muito estranho..

Muito estranho. Muito estranho. Muito estranho. As palavras ressoavam em sua cabeça como um lembrete. Todos que soubessem de sua relação com Peeta, provavelmente pensariam que ela havia enlouquecido. Como uma mulher de 27 anos poderia sair com um cara de 18 anos? A mãe de Peeta... certamente, estaria entre esse grupo de pessoas.

— Mais novo... e quanto seria esse mais novo? — perguntou, brincando com a latinha de Coca-Cola.

— Imagine... sair com alguém de 18 anos, na nossa idade, isso seria uma grande loucura, não? — falou Finnick, mais para si mesmo do que para ela.

Katniss levantou uma das sobrancelhas.

— Você?

— Eu só estou expondo uma ideia — falou Finnick na defensiva. — Suponhamos que eu... que Gale começasse a sair com uma aluna... uma estagiária de 18 anos — Finnick tomou um grande gole de Coca-Cola.

Ela levantou ainda mais a sobrancelha.

— E?

— Você o julgaria como irresponsável, não? Gale estaria cometendo uma grande irresponsabilidade em sair com uma aluna, digo, estagiária de 18 anos.

Katniss o encarou.

— Gale até que não teria tantos problemas. Homens saem com garotas de 18 anos aos montes e ninguém vê nenhum problema nisso, já mulheres mais velhas se saírem com caras de 18 anos... elas não são bem vistas — Katniss tomou um grande gole de Coca-Cola. — O mundo é injusto.

Finnick a analisou com aqueles profundos olhos verdes.

— Ei... eu só estou levantando uma hipótese aqui... — se defendeu. — Por que você sempre entra nos debates para ganhar? Sempre foi assim, desde os tempos da faculdade. Eu lembro quando você era uma caloura. Uma aluna promissora. Se não compreendia alguma coisa na aula, se afundava nos livros até apreender. Perder era inadmissível para você. Nós, veteranos, sabíamos que você seria alguém para ficar de olho no campo científico.

Katniss não pode evitar rir do modo que Finnick falava.

— Não! Eu não era assim...

Finnick a encarou com a sobrancelha arqueada.

— É... talvez, um pouquinho assim... — admitiu.

— Você e Gale estavam entre os cinco melhores alunos da sua turma. Acho que foi isso que os aproximou tanto — ponderou Finnick. — Vocês dois eram parecidos. Muito parecidos. Andavam sempre juntos. Pareciam até que um podia ler a mente do outro. Era curioso observar vocês juntos. Escreviam artigos juntos, apresentavam trabalhos juntos. Tinham uma amizade invejável. Quando, vocês começaram a sair, para mim não foi nenhuma surpresa. Eu já esperava por aquilo. Achei até que demorou. Surpresa veio quando vocês terminaram. Eu nunca consegui compreender... Vocês eram um casal perfeito. Combinavam tão bem... vocês dois são praticamente almas gêmeas!

— Nem todas as almas gêmeas estão destinadas a ficar juntas... — a voz de Gale fez Katniss se sobressaltar.

Finnick olhou para Gale. O olhar de Finnick dizia mais coisas que qualquer palavra poderia expressar.

— Tem certeza?

— Absoluta. Nem todas as almas gêmeas podem ficar juntas, por mais que desejem — ele lançou um discreto olhar para Katniss, que Finnick (por sorte) não captou.

— Vocês dois são... um grande problema. Um problema que eu não quero resolver, porque certamente não tem solução. Já tenho meus problemas — Finnick pegou sua bandeja de comida. — Vou voltar ao mundo dos problemas que eu posso resolver.

Katniss e Gale acompanharam com os olhos o chefe sair do refeitório.

Gale ocupou o lugar vago deixado por Finnick.

— Você também pensa que somos um problema sem solução? — perguntou ele, a observando.

Katniss tomou um gole de Coca-Cola que desceu borbulhante por sua garganta, antes de dar uma resposta.

— Talvez... — respondeu por fim.

— Nós...

— Não daríamos certo — completou Katniss. — Nós não demos certo — reformulou sua afirmação. — Somos parecidos, mas... temos desejos diferentes.

Levou mais uma vez a latinha de Coca-Cola a boca. No entanto, estava vazia. Colocou com lentidão a lata vazia em cima da mesa. A relação deles havia se esvaziado como aquela latinha de Coca-Cola. E não havia possiblidade encher novamente. O tempo deles havia passado.

— Você vai falar sobre eu e Peeta com sua mãe? — perguntou cautelosa.

— Não... vocês dois devem contar isso a ela. Eu posso até não concordar com o relacionamento de vocês, mas eu não tenho o direito de falar isso para minha mãe. Isso é uma decisão de vocês — disse entre um suspiro e outro. — Mas, eu acho que vocês devem contar o mais rápido possível... — aconselhou. Ele não estava zangado. Estava preocupado.

— Você acha que sua mãe... — não terminou a pergunta. E Gale não fez menção de querer a escutar. — Vou voltar para o trabalho — levantou-se rapidamente da mesa.

No corredor, encontrou Rue com uma montanha de papéis.

— Você precisa revisar isso — disse lhe entregando os papéis.

— Para hoje?

Rue assentiu.

Pelo menos, trabalho não faltava e assim manteria sua mente bem distante de certo chaveiro que estava em seu bolso.

Quando terminou o trabalho, já havia passado e muito o horário de ir para a casa. Gale e ela eram os únicos no laboratório. Estava tão concentrada no trabalho que nem se dera conta disso. Era como nos velhos tempos, quando eles quase sempre eram os últimos a saírem. Já haviam os chamados de Marie e Pierre Curie do laboratório entre as piadinhas dos colegas. No entanto, aqueles tempos haviam ficado no passado. Bem, no passado.

Retirou seu jaleco.

— Estou indo... — falou apenas para dizer algo.

Gale levantou os olhos dos papéis que tinha em sua frente.

— Certo... — voltou novamente a baixar os olhos, os detendo nos papéis.

— Tchau... — disse, voltando as costas para ele.

— Tchau.

Será que um dia eles poderiam retomar a sua velha amizade? Ela sentia falta das conversas que tinha com Gale. Mas, agora, as coisas estavam complicadas demais entre eles. Talvez, eles fossem exatamente como Finnick havia descrito, um problema sem solução.

Peeta não percebeu sua presença, quando ela chegou ao apartamento. Ele tinha uma expressão concentrada, estava cercado por um muro de revistas em quadrinhos e olhava para o notebook constantemente. Às vezes, Peeta se refugiava em seu mundo próprio e era impossível chegar até ele. Seu cabelo estava bagunçado. Sorriu ao constatar que se parecia com um dente-de-leão. Katniss tomou um longo banho. A exaustão a dominava. Também estava com muita fome. Não comera nada desde o almoço. Não sabia o que tinha mais, fome ou cansaço.

Vasculhou a geladeira e encontrou um sanduíche. O devorou em instantes.

Peeta ainda continuava concentrado em seu mundo. Estava sentado de uma forma desconfortável na cadeira.

Ela sorriu e se aproximou dele. Abraçou-o por trás, o surpreendendo.

— Katniss, como?

— Você estava muito concentrado — ela deu um beijo demorado na bochecha dele. — Não quis te atrapalhar.

Descansou o cabeça em seu ombro. Sentiu seu aroma. Ele tinha um cheiro que lhe lembrava vagamente algo como canela. Gostava de seu cheiro. Era muito bom.

— O que está fazendo?

— Hoje, iniciei o blog... — respondeu, acariciando a mão dela, que descansava no peito dele.

— E como está indo?

— Até o momento... nada bem.

Katniss riu baixinho. Ele fez beicinho igual a um garotinho.

— O que foi?

— Não seja impaciente! Você apenas começou hoje, seu blog não vai ter milhares de acesso do nada. É preciso um pouco de trabalho duro! — ela depositou um beijo na base do seu pescoço, em um ponto sensível, o que causou um arrepio nele.

Katniss se atirou no sofá.

— Você já jantou?

— Comi um sanduíche que encontrei na geladeira — respondeu, um tanto sonolenta, começava a sentir o sono a querer fechar suas pálpebras.

— Quer que eu prepare alguma coisa para você?

— Não precisa. Você está ocupado.

— Já terminei aqui. Vou fazer um bife para você.

Ela assentiu. Acompanhou Peeta até a cozinha. Se ficasse deitada no sofá, tinha certeza absoluta que cairia no sono.

Sentou-se no balcão. Era bom vê-lo preparar os alimentos. Seus dedos longos apanhavam cada alimento como se estivesse os acariciando.

— Sou grata por você saber cozinhar.

Peeta riu. Sua risada era algo doce.

— Você não tem muitas habilidades culinárias, não é mesmo?

— Nenhuma! — garantiu. — A cozinha é um mistério para mim. Um mistério indesvendável.

Peeta riu e lhe depositou um beijo nos lábios.

— Não se preocupe, estou aqui. Você não irá morrer de fome.

Ela acariciou o seu belo rosto. Ele era tão perfeito. Sua pele era macia e delicada. Contornou seu rosto com as pontas dos dedos. Segurou o queixo, o apertando suavemente, como se aperta um pêssego maduro.

— Tenho sorte! — o puxou para outro beijo. — Além de cozinhar, ainda beija muito bem.

— Minhas especialidades...

Suas línguas se encontraram em uma mistura de ânsia e delicadeza. Ela soltou um suspiro. Entrelaçou suas pernas no quadril dele para diminuir o espaço entre seus corpos.

Perderam-se em suas carícias.

Entretanto, tiveram que se separar, pois o bife começou a queimar.

— Minha mãe esteve aqui hoje — falou, servindo o bife a ela.

— Esteve? — franziu a testa. — Vocês discutiram de novo?

Desde que Melinda havia chegado, não era incomum Peeta e ela terem algumas discussões. E pelo visto essa era mais uma daquelas vezes, já que Peeta desviou o olhar.

— Minha mãe nunca vai me entender...

— Mães só querem o melhor para seus filhos — falou, cortando o bife em pequenos pedaços. — A sua mãe não é exceção. Ela está preocupada com você.

— Eu sei...

Katniss começou a comer o bife. Peeta lavou a louça.

— Quer mais? — pergunto, assim que ela terminou de comer.

— Não, obrigada. Me mostre o seu blog, eu ainda não o vi.

Peeta assentiu com um sorriso. Era perceptível o quanto estava orgulhoso de iniciar uma nova fase em sua carreira.

Katniss se acomodou em sua cama, repousando a cabeça sobre o ombro de Peeta. Ele falava empolgado, mostrando o blog para ela. Escutou-o falar com um sorriso no rosto. Quando Peeta ficava animado, era como um pequeno sol, cheio de energia e quente. Se aconchegou ainda mais nele, deixando que aquele sol a aquecesse.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo?
Tenho uma novidade para vocês. Há algum tempo estou querendo escrever algo divertido e leve, assim como Tempo de estrelas ou Boa Sorte, Katniss (eu amo uma comédia) e também queria escrever algo na categoria original, me aventurar por esse mundo desconhecido. E assim, surgiu minha nova fic "Sobre Príncipes e Princesas". Vou simplesmente surtar de felicidade, se ver vocês por lá, me acompanhando nessa nova e desconhecida jornada.
https://fanfiction.com.br/historia/671087/Sobre_Principes_e_Princesas/



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